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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

831) Concurso do Itamaraty 2008: Correio Braziliense

Transcrevo abaixo matéria publicada nesta quarta-feira, 23 de janeiro de 2008, no jornal de Brasília, Correio Braziliense:

Diplomacia
Itamaraty espera recorde de inscritos em concurso

Correio Braziliense, 23 de janeiro de 2008, seção "Mundo".

Instituto Rio Branco anuncia novidades na prova de admissão para a carreira e prevê que mais de 8,6 mil candidatos façam o exame
Claudio Dantas Sequeira
Da equipe do Correio

Política de democratização do acesso ao Palácio do Itamaraty recebe críticas de diplomatas

O lançamento do edital do Concurso de Admissão da Carreira Diplomática (CACD) de 2008, na semana passada, reanimou a polêmica sobre o peso ideológico na formação dos novos quadros do Itamaraty. Diplomatas e acadêmicos consultados pelo Correio divergem sobre o caminho escolhido pelo chanceler Celso Amorim para “democratizar” o acesso a uma das carreiras mais elitistas do serviço público brasileiro. Nunca se ofereceram tantas vagas (115), e a cúpula ministerial espera bater o recorde de candidatos, superando os de 2007, quando 13.137 se cadastraram e 8.657 confirmaram a inscrição. Diplomatas estão sendo enviados a 20 capitais onde as provas serão aplicadas, para divulgar o concurso. Com a inscrição a R$ 120, a expectativa é que o Instituto Rio Branco (IRBr) arrecade R$ 1 milhão.

A surpresa também está no formato e no conteúdo das provas. Trata-se da sexta vez que o IRBr propõe mudanças no concurso. Começou com o fim do teste de francês, que voltou após protestos. Em 2005, a prova de inglês deixou de ser eliminatória. Todas as etapas apresentam novidade, como a redução da nota de corte da terceira fase: de 60% para 50%. Há quem diga que baixar a média nivela “por baixo” os candidatos. Outra alteração está no teste de segunda língua estrangeira, no qual o candidato poderá escolher entre sete idiomas.

Se no ano passado foram cobrados apenas francês e espanhol, agora sairá na frente quem tiver conhecimentos de alemão, árabe, chinês (mandarim), japonês ou russo — num esforço para cobrir o déficit de diplomatas com domínio dessas línguas. A primeira fase, ou Teste de Pré-Seleção (TPS), por exemplo, comporta sete matérias, em vez das quatro do ano passado. Recupera, dessa maneira, um perfil de provas aplicado na década de 1990. Na terceira, provas discursivas de história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público, e noções de economia. O candidato poderá ser aprovado com aproveitamento menor em uma disciplina, desde que o rendimento seja compensado em outra.

“As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame”, esclarece o diretor do IRBr, embaixador Fernando Guimarães Reis (leia entrevista). A orientação de Amorim é para evitar os “concurseiros de plantão”. “A idéia é afastar quem não conhece a carreira a fundo ou não tem interesse”, avalia o diplomata Fábio Simão Alves, que entrou para o Rio Branco no concurso de 2007. Ele concorda com a democratização da carreira. “O Itamaraty está selecionando pessoas de diferentes origens sociais e de fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília.”

Internet
Simão criou o blog dialogodiplomatico.blogspot.com, com dicas para candidatos. Na internet, os futuros diplomatas têm ferramentas para estreitar experiências. No Orkut, a comunidade “Coisas da Diplomacia” reúne 8,7 mil membros. O principal tópico é o Guia de Estudos, divulgado na segunda-feira pelo Rio Branco. Todos concordam que houve mudanças na bibliografia, algumas para evitar acusações de anti-americanismo ou ideologização contra o ministério. Um exemplo foi a retirada do livro Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula, de Paulo Vizentini. A obra era considerada “petista”.

“Celso Furtado, por exemplo, é uma referência metodológica, mas não serve para fundamentar uma história econômica”, disse à reportagem um diplomata. Doutor em história e professor do curso preparatório Clio, João Daniel Lima de Almeida não vê componente ideológico na escolha dos livros, mas acha que há títulos superados. “Os livros de Edgar Carone sobre história estão ultrapassados, têm mais de 30 anos e já foram revistos por outros historiadores”, avalia. Lima de Almeida considera infundadas as críticas sobre ideologização e cita a presença de autores considerados de direita, como José Murilo de Carvalho.

Entrevista - Fernando Guimarães Reis
Mudanças favorecem aposta na inteligência


Diretor do Instituto Rio Branco, o embaixador Fernando Guimarães Reis tem sido responsável por executar as polêmicas diretrizes emanadas pela cúpula do Itamaraty para a carreira diplomática. Em entrevista ao Correio, ele rebate as críticas às constantes mudanças no concurso de admissão. “O objetivo é tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático”, argumenta. Para Reis, a diplomacia brasileira precisa de “talento e conhecimento”.

O que há de novidade no concurso deste ano?
Ele mantém os traços fundamentais dos concursos anteriores, mas incorpora modificações que visam a torná-lo mais equilibrado e eqüitativo. Incorporaram-se à primeira fase todas as disciplinas cobradas na segunda (português) e na terceira (história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público e noções de economia). As notas dessas provas passaram, a partir de 2005, a ser contabilizadas de forma conjunta. Isso favorece candidatos com formação mais ampla, permite que eventuais debilidades em alguma matéria sejam compensadas por desempenho acima da média em outras. Na terceira fase, houve redução do número de questões, do tempo de duração e da média para aprovação (de 60% para 50%). A prova da segunda língua estrangeira virou uma quarta fase, classificatória. Busca-se estimular e valorizar o domínio de diferentes línguas, sem enfraquecer o critério da isonomia.

Desde 2003, nenhum concurso foi igual ao anterior. Qual o objetivo dessas constantes mudanças?
As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame. Assim, pode-se afirmar que o concurso atual mantém alto grau de previsibilidade e, há décadas, concentra-se essencialmente no mesmo núcleo de disciplinas, que não diferem muito das que foram estabelecidas ainda no tempo do Império, no primeiro exame público para ingresso na carreira (1852). Por outro lado, a preocupação em conservar os traços básicos do concurso não deve redundar em imobilismo. As mudanças recentes têm o objetivo de tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático.

O concurso está mais difícil ou mais fácil?
O nível de exigência continua o mesmo. O que se tem buscado é uma sintonia fina na avaliação dos candidatos, de modo a torná-la cada vez mais adequada ao nível acadêmico do Curso de Formação do instituto e às futuras atribuições profissionais do diplomata. Para além da quantidade e da qualidade das informações cobradas nas provas, a avaliação privilegia a capacidade de raciocínio e argumentação dos candidatos, seu espírito crítico e sua maturidade intelectual. Não é por acaso que vem aumentando paulatinamente o número de candidatos com pós-graduação.

Na prática, o que significa “democratizar” a carreira?
A idéia foi a de ampliar o acesso para todos aqueles que tenham talento e conhecimento — é do que precisa a diplomacia brasileira. Exemplo: a ampliação de opções para a segunda língua estrangeira demonstra a importância dessas outras línguas nas atividades diplomáticas, seja como línguas de trabalho das Nações Unidas (árabe, chinês, russo), seja como línguas de importantes parceiros do Brasil no panorama internacional (japonês, alemão). No exame, o candidato deve demonstrar, sobretudo, que é capaz de pensar, isto é, de juntar idéias, que é o sentido etimológico da palavra inteligência. (CDS)

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