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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

957) simpósio O Brasil em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento

O Brasil em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento
Ciclo de seminários na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro
(Rememorando a obra de Josué de Castro e o pensamento brasileiro de sua era no centenário de nascimento desse grande interprete do Brasil)

Rio de Janeiro, julho de 2008

1 – Objetivos
Organizar e realizar um simpósio em rememoração ao centenário de nascimento do Josué de Castro (1908 – 2008) – destacado intelectual brasileiro contemporâneo – e discutir sua obra e a produção intelectual dos intérpretes do Brasil das décadas de 1950 / 1960;
Organizar e editar um livro com os trabalhos apresentados durante o simpósio O Brasil em Evidência.

2 – Justificativa
O simpósio O Brasil em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento se enquadra no elenco de atividades do Projeto O Espaço Organizacional na Literatura Interpretativa do Brasil do Programa de Estudos de Administração Brasileira – ABRAS da EBAPE/FGV, e objetiva a difusão e reflexão da obra de importantes e destacados interpretes do Brasil.
O Simpósio discutirá, através da idéia de colocação do Brasil em evidência, o fenômeno ocorrido, nomeadamente nos anos 50 e 60 do século passado, e cuja preocupação central com a questão nacional foi ganhando força até a ruptura institucional de 64.
Com foco na importância de destacar a interrupção da construção de um projeto de nação e do Brasil como um problema a ser equacionado, por um lado pelas reformas de base e, por outro, pela valorização de manifestações culturais numa era de intensa criação no cinema, na poesia, na literatura, no teatro, nas artes plásticas, na arquitetura, na música etc.
A tradição republicana em mais de um século tem sido hegemônica e revelado intelectuais radicais e modernistas. Josué de Castro foi um dos destaques em meio a uma academia marcada pela conciliação e pelo desprezo diante das classes menos favorecidas. Cabe ressaltar que esse autor foi um dos muitos intelectuais cuja obra é pouco conhecida em sua terra natal, ainda que muito discutida nos grandes centros acadêmicos mundiais.
Ao tempo de Josué de Castro houve uma concentração de saberes que se articularam em torno de um projeto de nação absolutamente original, colocando o País em evidência e confrontando, cada vez mais, o cosmopolitismo de doutrinas e escolas que jamais compreenderam o Brasil e a América Latina, com nossas singularidades sociais. A relação entre o contexto social brasileiro e o pensamento crítico da época constitui-se a base do quadro teórico para a inserção de intelectuais de diversas tendências. Começa a ser construída uma nova categoria de pensadores, tais como, além do notável médico pernambucano homenageado, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, Milton Santos, Nelson Werneck Sodré, Octavio Ianni, Paulo Freire, Ruy Mauro Marini e tantos outros,
É importante destacar que na discussão intelectual daquelas duas décadas ampliava-se a idéia de sobreposição de um Brasil moderno a outro atrasado. Com isso, o sentimento de uma superação necessária foi reforçado durante os anos 60 e tentou, de alguma forma, adaptar dependência com autonomia, lutando por uma forma mais humana para o modelo do capitalismo brasileiro. Assim, esse cenário econômico e social foi fundamental para o entendimento do marco teórico da Teoria da Dependência – talvez a grande síntese desse pensamento.
A inserção da intelectualidade no governo mostrou ser possível auxiliar o Estado na construção de uma nova sociedade, através da atualidade de suas propostas e da tentativa de compreender o País, não apenas a partir de visões externas e de conceitos distantes da realidade nacional, mas também da conexão do pensamento de nossos intelectuais com o desenvolvimento da sociedade brasileira.

3 – Estratégia de Operacionalização, Metodologia e Produtos acadêmicos
Na última década, a FGV tem aumentado significativamente o seu campo de atuação incorporando ao elenco de suas atividades tradicionais, novos cursos, novas áreas de estudo e novos especialistas, ampliando, desse modo, seu espectro de atuação social, que hoje conta com programas de pós-graduação (lato e stricto sensu) com destacada avaliação e imagem acadêmicas e uma marcante atuação no desenvolvimento de quadros de especialistas em diversas áreas do conhecimento.
Como estratégia/metodologia de operacionalização deste Projeto propõe-se a organização e realização de um simpósio nacional e interinstitucional, sediado na EBAPE/FGV, com a participação de pesquisadores da Universidade das Nações Unidas – UNU, Universidade Federal Fluminense – UFF, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (como organizadores do evento), Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e IESs convidadas, e posterior publicação de um livro com o mesmo título: O Brasil em Evidencia: A Utopia do Desenvolvimento, iniciando, assim, a primeira fase do projeto acadêmico.

4. Público Alvo
Os simpósio e livro, objeto deste projeto, são especialmente dirigidos aos acadêmicos de Ciências Humanas e Sociais e estudiosos do Brasil.

5. Programação Preliminar/Temário dos Evento/Livro

24 de novembro de 2008
SESSÃO DE ABERTURA às 10:00h

1ª Seção – Abertura: Rememorando a Obra de Josué de Castro
Coordenador(a): Profa. Drª. Anna Maria Castro (UFRJ)

Josué de Castro entendia o subdesenvolvimento como um produto ou um subproduto do desenvolvimento, derivado da política econômica colonial ou neocolonial, de exploração das regiões dominadas sobre a forma de colônias políticas diretas ou de colônias econômicas. Neste contexto, Josué de Castro em sua principal obra Geografia da Fome, alerta para a conseqüência mais drástica do subdesenvolvimento, a subnutrição, que é o principal fator de degradação do potencial humano. Para este pensador brasileiro só haveria um tipo de verdadeiro desenvolvimento: o desenvolvimento do homem, portanto, somente com a erradicação da fome poderíamos projetar uma estratégia de desenvolvimento para todos os brasileiros. Principais obras: Geografia da Fome (1946), Geopolítica da Fome (1951), Sete Palmos de Terra e Um Caixão (1965).

25 de novembro de 2008
2ª Seção – Paulo Freire: Uma Pedagogia para Transformação do Brasil.
Coordenador (a): Profª. Drª. Maria Ceci Araujo Misoczky (UFRGS)

Considerado um dos grandes pedagogos da atualidade e respeitado mundialmente, Paulo Freire acreditava que a educação tem papel imprescindível no processo de conscientização nos movimentos de massas. Revelou ao mundo uma educação para além da sala de aula, da educação formal, capaz não só de ensinar conteúdos e comportamentos socialmente esperados e aceitos, mas também capaz de conscientizar a todos. Na pedagogia do oprimido, a educação surge como prática da liberdade e é designada como um instrumento de colaboração pedagógica e política na organização das classes sociais subordinadas, e por isso, deve ser considerada como questão política.
Principais obras: Alfabetização e Conscientização (1963); Educação como prática da liberdade (1967); Pedagogia do Oprimido (1970).

26 de novembro de 2008
3ª Seção – Darcy Ribeiro e a Utopia de uma Nova Civilização
Coordenador: Prof. Dr. Fernando de Almeida Sá (PUC/RJ)

Político, antropólogo e pedagogo Darcy Ribeiro dizia-se discípulo de dois grandes personagens de nossa história Anísio Teixeira e Marechal Rondon. Com relação ao primeiro, Darcy Ribeiro herdou a idéia de ensino da Nova Escola, porém deu um salto em suas formulações pedagógicas colocando a necessidade da educação para o povo como aspecto fundamental para a construção de uma Nova Civilização. Do segundo, Darcy destacou a sua ênfase na idéia de integração do Brasil, que seria essencial para o processo de formação de nossa civilização, em conjunto com o ataque as causas do desenvolvimento desigual do povo brasileiro.
Principais obras: Processo Civilizatório - Etapas da Evolução Sócio-Cultural (1968), A Universidade Necessária (1969), O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil (1995).

27 de novembro de 2008
4ª Seção – Teoria da Dependência: O Brasil na Era da Globalização
Coordenador: Prof. Dr. Theotônio dos Santos (UFF)

A Teoria da Dependência constitui-se como uma fonte de entendimento da história das populações marginalizadas e dos países mantidos sob a forte tutela institucional e controle econômico/militar dos países do centro da economia mundial. Um dos eixos da teoria da dependência é a análise do modelo rígido de desenvolvimento que aprofundou as relações de dependência e acentuou a prosperidade do sistema financeiro internacional. Se considerarmos a realidade brasileira, A Teoria da Dependência nunca foi tão atual e pertinente. Esta aponta para o desenvolvimento e o subdesenvolvimento como o resultado histórico do desenvolvimento do capitalismo como um sistema mundial. Nos marcos da globalização, permanece o hiato entre países desenvolvidos e países periféricos e semiperiféricos, sendo os últimos, impedidos de desenvolverem um modelo que aponte para a autonomia de suas economias. No escopo analisado, destacam-se as obras de Ruy Mauro Marini como: A Dialética da Dependência (1973); Subdesenvolvimento e Revolução (1970); América Latina: dependência e integração (1992) e Theotônio dos Santos: Imperialismo y Dependência (1978); O Caminho Brasileiro para o Socialismo; Evolução Histórica do Brasil.

01 de dezembro de 2008
5ª Seção – A Sociologia Engajada de Octavio Ianni: os Rumos do Brasil
Coordenador: Prof. Dr. Claudio Gurgel (UFF)

A diversidade de temas trabalhados ao longo da sua carreira possui como unidade à preocupação em trabalhar a sociologia como ferramenta de questionamento dos dados reais. Comprometido com a questão nacional, Octávio Ianni concentrou os estudos na realidade brasileira, tendo ainda importante contribuição nas áreas da questão racial, globalização e Estado Nacional. O pensador manteve o posicionamento crítico e sua análise do desenvolvimento e das contradições da sociedade brasileira permanecem atuais e são referências fundamentais no campo das Ciências Sociais. Dentre as principais obras, podemos destacar: Estado e capitalismo no Brasil (1965); O colapso do populismo no Brasil (1968) e A sociedade global (1992).

02 de dezembro de 2008
6ª Seção – Celso Furtado e o Mito do Desenvolvimento Econômico
Coordenador: Prof. Dr. Marcelo Milano Falcão Vieira (EBAPE/FGV)

Celso Furtado foi um dos fundadores do pensamento econômico contemporâneo e teve participação no desenvolvimento político e econômico do Brasil. Como Ministro Extraordinário de Planejamento no governo João Goulart em 1962, estabeleceu o Plano de Política Econômica, com o nome de Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. O Plano Trienal inaugurou o planejamento de objetivos de crescimento, distribuição de renda e estabilização nacional, assim como a demarcação da autonomia da economia. No campo acadêmico, a obra de Celso Furtado analisou problemas específicos dos países subdesenvolvidos e abordou temas como a dependência externa, os desequilíbrios regionais e a inflação.
Principais obras: A Formação Econômica no Brasil (1959); Desenvolvimento e Subdesenvolvimento (1961) e o Mito do Desenvolvimento Econômico (1974).

03 de dezembro de 2008
7ª Seção – Milton Santos e A Natureza do Espaço
Coordenador: Prof. Dr. Oswaldo Munteal Filho (UERJ, PUC-Rio, FACHA,EBAPE/FGV)

Herdeiro do pensamento de Josué de Castro, Milton Santos dedicou seus estudos para análise dos problemas urbanos acarretados pelo subdesenvolvimento e o processo de globalização no Terceiro Mundo. Sua obra representa um marco teórico-metodológico para os estudos geográficos do Brasil e do mundo. Refletiu sobre a natureza do espaço geográfico e sua inter-relação com a formação dos territórios sócio-econômicos, analisando o presente como uma dialética entre uma ordem local e uma ordem global. Milton Santos lutava para a construção de uma globalização não-excludente e mais humanizada, aonde os países subdesenvolvidos deveriam atuar como protagonistas para consolidação deste ideal.
Principais obras: Por uma Geografia nova (1978), O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos (1979), e Por uma outra globalização (2000).

04 de dezembro de 2008
8ª Seção – Florestan Fernandes e o Pensamento da Escola Paulista
Coordenador: Prof. Dr. José Paulo Netto (UFRJ)

Fundador da sociologia crítica no Brasil, Florestan foi fundamental para consolidação desta ciência no país. Através de seus estudos, desenvolveu análises nas quais agregava toda a contribuição dos pensadores clássicos e os instrumentos de pesquisa para o estudo empírico de nossa realidade, tendo como referencial o pensamento marxista. Como professor da USP foi orientador de varios cientistas sociais de relevo como Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso entre outros. É um dos principais responsáveis pela formação da chamada “Escola Paulista” aonde o rigor metodológico e as análises empíricas contribuiram para o avanço das ciências humanas em nosso país.
Principais obras: Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1967), Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968) e A revolução burguesa no Brasil (1975).

08 de dezembro de 2008
9ª Seção – Nelson Werneck Sodré: da Nova História à Micro-História
Coordenador: Prof. Dr. Francisco José Calazans Falcon (UERJ)

Teve importante atuação no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) como fundador e Diretor do Departamento de História, defendendo a corrente nacionalista desenvolvimentista. No ISEB, a problemática do desenvolvimento brasileiro delineou a existência de duas tendências: a que sustentava a participação de capitais estrangeiros na economia brasileira para acelerar o ritmo de sua expansão, e a que defendia o caráter autônomo do processo de industrialização no país, admitindo a presença do capital estrangeiro apenas sob o rígido controle do Estado.
Principais obras: História da Burguesia Brasileira (1964); História da Imprensa no Brasil (1966); História da Literatura Brasileira (1940).

09 de dezembro de 2008
10ª Seção – Guerreiro Ramos e a Sociologia em Mangas de Camisa
Coordenador: Prof. Dr. Paulo Emílio Matos Martins (EBAPE/FGV)

Guerreiro Ramos combate duramente a importação de teorias estrangeiras para análise direta de nossa realidade social, pois estas teorias não davam conta da especificidade de nossa formação histórica, isto é, de nossa vivência nacional e existência cultural própria. Portanto, para o conhecimento de nossa realidade seria necessário assimilar criticamente as contribuições teóricas estrangeiras dentro de uma reflexão sociológica da estrutura social brasileira, refazendo métodos e objetivos. Guerreiro Ramos destaca que conhecimento sociológico está vinculado com a nossa realidade prática, dele derivam-se responsabilidades com a sociedade e, portanto, deve ter o objetivo de conceber e projetar as transformações necessárias para o desenvolvimento nacional. Dentre suas principais obras estão: A Redução Sociológica (1958), O Problema Nacional do Brasil (1960), Mito e Realidade na Revolução Brasileira (1963) e a Nova Ciência das Organizações (1981), esta última publicada originalmente em inglês.
Alberto Guerreiro Ramos foi professor da EBAP/FGV, onde produziu parte dessa obra, nas décadas de 1950/60.

6. Programação
O simpósio O Brasil em Evidência: A Utopia do Desenvolvimento será realizado de 24 de novembro a 9 de dezembro de 2008, de segundas às quintas feiras, das 14 às 18 h, com sua Sessão de Abertura e homenagem a Josué de Castro programada para a manhã do dia 24/11/08 das 9 às 12 h.
Caso se confirme o interesse das instituições contatadas (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Instituto João Goulart, Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro) no sentido de apoiarem financeiramente este projeto na co-edição do livro com o temário do Evento, programa-se a edição desta obra até o final de 2009.


Coordenação:
Prof. Dr. Paulo Emílio Matos Martins (EBAPE / FGV)
Prof. Dr. Oswaldo Munteal Filho (UERJ)
Comissão Acadêmica Organizadora:
Carlos Eduardo Rosa Martins (UFF)
Denize Goulart (Inst. Presidente João Goulart-IPG)
Fernando de Almeida Sá (PUC/RJ)
Marcelo Milano Falcão Vieira (EBAPE/FGV)
Maria Ceci Araujo Misoczky (UFRGS)
Octavio Penna Pieranti (EBAPE/FGV)
Tânia Fischer (UFBA)
Theotonio dos Santos (REGGEN/UNU)

Coordenação Executiva:
Patrícia Nóbrega

Auxiliar de Pesquisa:
Tahirá Endo Gonzaga

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