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quarta-feira, 8 de julho de 2009

1201) Perolas do preconceito: sobre o Enem

Recebi o texto abaixo de um correspondente, depois de eu ter transcrito aqui, alguns posts atras, um desses exemplos de besteirol educacional, consistindo na seleção de frases particularmente estropiadas de alunos do secundário, para deleite ou horror dos incautos.
Penso que o autor está correto, mas tampouco deixo de reconhecer a responsabilidade dos próprios alunos pela sua incultura e ignorância. Afinal de contas, qualquer pessoa medianamente interessada em seu próprio futuro aperfeiçoa o seu domínio do Português pela leitura constante de bons livros.
Passar a mão na cabeça dos alunos e dizer que eles são vítimas de uma escola medíocre é achar que todo mundo é coitadinho, que todo coitadinho é vítima do meio e que deve ser sempre ajudado, em quaisquer circunstancias.
Não retiro o mérito individual e sobretudo a responsabilidade pessoal de qualquer aspecto da vida.
PRA

Pérolas do preconceito
Cesar Ribeiro

O humor é uma arte de resistência. Muitos defendem que o humor não pode ter limites. Pessoalmente, sou bastante libertário neste assunto, acho que o humor pode muito, mas não pode tudo.

Recebi alguns e-mails com o título de “Pérolas do Enem”. O Enem é o Exame Nacional do Ensino Médio, uma prova que o Ministério da Educação aplica para diagnosticar a educação brasileira. Algumas incorreções, sobretudo gramaticais, viram peças de humor, não apenas de internautas, mas de gente como Jô Soares, que já abriu o programa diversas vezes com as “pérolas” dos alunos.

Não consigo rir. Acredito que, nesse assunto, o humor atravessou a fronteira do bom senso. Para mim, o humor só é válido quando a “vítima” ri de si, ou, mesmo que não goste, sabe exatamente por que estão escrachando seu comportamento. Acho difícil que alguém que tenha escrito “O serumano no mesmo tempo que constrói também destrói, pois nos temos que nos unir para realizarmos parcerias” consiga rir de suas inadequações, tanto gramaticais quanto de coerência.

É neste ponto que o humor deixa de ser uma peça de resistência e passa a ser instrumento da opressão. Meia dúzia de pretensos donos da língua pegam frases descontextualizadas e humilham aqueles que não têm domínio sobre a norma culta. Humilhação pura e simples. Afinal, os estudantes que prestaram o exame não são celebridades fajutas, nem políticos fanfarrões nem novos-ricos ridículos. São pessoas que, de uma forma ou outra, estão se expressando como podem, e se escrevem “errado” (bem entre aspas, mesmo) é muito mais por culpa de um sistema educacional excludente e indiferente do que por falta de interesse ou coisa que o valha.

Rir da ignorância gramatical alheia é reforçar ainda mais o abismo social que separa as classes sociais deste País, é reforçar toda uma estrutura política, social, ideológica que permanece no poder. A cada gargalhada que a platéia do Jô Soares dá quando ele repete as frases do Enem; a cada e-mail transmitido com as “pérolas” e com os comentários infames dos “sabedores da língua” (bem entre aspas, mesmo), aumenta mais a exclusão e, principalmente, diminui a força do humor como arte, pois ele passa a servir para uma minoria se divertir, quando a maioria segue seu próprio rumo, virando-se num analfabetismo funcional, que tem lá o seu próprio humor.

Normalmente, quem usa o “não-saber” do outro para rir e sentir-se superior tem a certeza de que a sua inteligência nunca vai ser questionada. Pura balela. Na mesma proporção que alguém tece um comentário torpe sobre a ignorância alheia, pode receber de volta um comentário torpe sobre a própria ignorância. O humor é uma estrada perigosa. Num dia você atropela, no outro é atropelado. Rir daquilo que o outro não sabe é fácil. Quero ver é rir daquilo que você mesmo não sabe, rir da própria ignorância. E isso, os que organizam e repassam as “peroras do Enem”, parecem não conseguir.

http://ciadeorquestracaocenica1.zip.net/arch2007-09-16_2007-09-30.html

Um comentário:

Renato Byrro disse...

Caro Paulo Roberto,

Gostei muito o seu post!

Acredito que você irá se interessar por um artigo que fala sobre este mesmo tema:

"No afã desmedido de se colocar em situação de privilégio perante os demais, o homem se crê no direito de julgar tudo de um plano mais alto, diminuindo, é claro, o tamanho moral daqueles a quem não pode suportar, por terem uma altura maior que a sua. Assim, a crítica se torna, em geral, exagerada, e a boa dose de inveja que em muitos casos a alimenta, satisfaz plenamente sua medida.

A nosso juízo, esta particularidade psicológica é uma das causas, talvez a principal, de grande parte dos seres humanos fracassarem na vida, pois o mesmo mal que esses seres fazem se volta inevitavelmente contra eles, convertendo a intolerância que os consome em implacável verdugo de suas próprias existências. E isto ocorre, precisamente, porque ninguém busca dentro de si as causas que concorrem para submergi-lo em tão inquietantes situações."

O artigo está disponível na íntegra em: http://files.getdropbox.com/u/1070121/Critica.doc

Um abraço,
Renato Byrro