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terça-feira, 28 de julho de 2009

1243) A mediocrizacao do Brasil: crescendo


Minha contribuicao para a tentativa de desmediocrizacao do Brasil (acredito que falharei, como falharam tantos educadores e estadistas). Aparentemente o Brasil está condenado (pelo menos nos próximos anos) à mediocridade, à incultura galopante, à deterioração intelectual, ao rebaixamento do mérito e à promoção da corrupção, via premiação dos mais espertos, da minorias ativas, dos promotores de políticas "sociais", enfim desse bando de deseducadores que comandam atualmente aos destinos do país (com p minúsculo).
O que posso fazer para melhorar o quadro é colaborar para a elevação intelectual de outras pessoas, mas para isso é preciso fazer primeiro que elas tomem consciência do esforço deliberado de mediocrização que os "espertos" vêm promovendo.
Uma forma possível é divulgar materiais interessante (ainda que desesperantes) como este novo livro de Luciano Pires.
Eu já tinha lido o anterior, Brasileiro Pocotéo, assim que voltei ao Brasil, em 2003, e confesso que fiquei tremendamente assustado.
Parece que a coisa piorou desde então...

“NÓIS” É O NOVO LIVRO DE LUCIANO PIRES

Em 2003, ao lançar o livro BRASILEIROS POCOTÓ- REFLEXÕES SOBRE A MEDIOCRIDADE QUE ASSOLA O BRASIL, Luciano Pires iniciou uma luta pela “despocotização”do Brasil. O autor explica o que é uma pessoa “pocotó”:

“Criei esse neologismo a partir do funk “Eguinha Pocotó” que infestou as rádios e televisões do Brasil em 2002 e 2003. Uma pessoa pocotó é um bovino resignado que vive em manadas e é levado para onde os mais espertos querem. Alguém decide o que ela vai ler, comer, ouvir, vestir e... eleger! Sempre conformado e obediente, o pocotó não tem espírito crítico. Mesmo tendo a oportunidade de escolher, prefere seguir a multidão. O pocotó é o representante da mediocridade. Da mesma mediocridade que faz parte da natureza humana e existirá enquanto existir um ser humano vivo. O desafio é saber reconhecê-la e lutar para escapar dela.”

Passados seis anos, milhares de manifestações de apoio e algumas críticas, Luciano Pires diz que a coisa piorou. “Os pocotós ficaram mais desinibidos, mais poderosos e perigosos. O Brasil mergulhou numa mistura de ideologia com comércio que está empurrando o país para um buraco intelectual de onde penará para sair”.

E é a partir dessa contestação que Luciano Pires lança seu novo livro: NÓIS. O título fica mais expressivo se for acompanhado do subtítulo: NÓIS QUI INVERTEMO AS COISA.

“No Brasil de hoje não é mais o mérito que determina o valor das pessoas, mas sua ideologia. Sua cor. Sua raça. Falar bem o idioma é motivo de piada. Ser elite é quase uma maldição. Música de sucesso é aquela que for mais escatológica. O homem honesto aparece na televisão como se fosse algo inédito. Roubar é normal. Bala perdida é normal. Corrupção é normal. Vivemos uma inversão de valores sem precedentes e é contra esse estado das coisas que devemos gritar” diz o autor.

NÓIS foi editado em parceria pelo Café Brasil Editorial e Anadarco Editora, sob o selo ISCAS INTELECTUAIS, que se propõe a publicar reflexões sobre temas diversos como filosofia, ciências, educação e outros que tem sido tornados inacessíveis para o leitor não iniciado.

Sobre o título do livro Luciano Pires diz: “O ‘nóis’ que escolhi como título não é apenas a primeira pessoa do plural. Não é o termo de designa um grupo de pessoas unidas pelo mesmo sonho, mesmo objetivo, mesmo ideal. O ‘nóis’ que escolhi não é aquele curioso jeito de falar do matuto, inocente e representativo de uma cultura. O ‘nóis’ que escolhi é resultado de um longo processo de incompetência educacional, indigência cultural e desfaçatez política. Escapa dos domínios do informal para invadir o formal. Traz consigo atitudes, valores e convicções rasas. Abriga o pior do popular.
O ‘nóis’ que escolhi é aquele que vulgariza, diminui e empobrece. É o ‘nóis’ transformado em ferramenta ideológica, em ícone de luta entre classes, em padrão de dignidade. Não é o ‘nóis’ humilde. É o ‘nóis’ burro. O ‘nóis’ que revela a verdadeira miséria do Brasil: a intelectual.
Este livro trata do emburrecimento nacional. É minha peça de resistência, para compartilhar com outros brasileiros as angústias e perplexidades que mantém nosso gigante eternamente adormecido.”

Coube a Roberto Szabunia, que fez a revisão do ‘Nóis’, o texto da orelha do livro:

“Luciano, ‘Nóis’ é, como dizemos nos meios jornalísticos, de ficar puto de inveja por não ter escrito isso. Mas um dia eu chego lá. A obra é instigante, as crônicas são um verdadeiro soco no estômago da hipocrisia que grassa por este país de contradições. Tanta beleza natural, tanta espontaneidade
e tanto cinismo, tudo convivendo, tudo formando uma sopa por vezes difícil de ser engolida. Não há como, ao ler estas crônicas, não nos remetermos ao Febeapá do saudoso Sérgio Porto. O que se percebe, lendo ‘Nóis’ é que o festival de besteiras que assola o país foi incrementado, ganhou novos e mais
sofisticados recursos e participantes mais renhidos. ‘Nóis’, por outro lado, é mais ferino, expõe a chaga e aperta com força. Mas aí está a função do cronista: não ter medo de dizer que vossa excelência está com a bunda suja por baixo do armani. Parabéns, meu caro Luciano, por brindar o público com uma obra tão instigante”.

Com 284 páginas ilustradas com cartuns de autoria do próprio Luciano Pires o livro é pura provocação, dividido em capítulos que abrangem o dia a dia profissional; a educação e cultura; o comportamento; a mídia fazendo a cabeça e a política no Brasil. Questões relacionadas à corrupção; escândalos políticos; baixaria na televisão; como fazer para votar consciente; o ambiente de trabalho; a importância da educação; como desenvolver uma visão crítica da sociedade; a manipulação da informação; a cultura refém do comércio e outros temas provocativos estão presentes em cada página do “Nóis”. O livro é encerrado com um capítulo otimista discutindo se temos ou não jeito.

E Luciano completa: “A maioria dos textos são revisões e atualizações de artigos que publiquei desde 2004 e que, quando colocados em conjunto, ilustrados e contextualizados, formam um painel destes tempos sob a ótica ‘Luciânica’. São textos curtos. Apenas ‘iscas’ cuja pretensão, repito, é fazer você refletir. Só. Quer ir mais fundo? Vire-se. Pesquise, leia, vá atrás dos grandes pensadores, estude, invista seu tempo enriquecendo seu repertório. Eu só levanto poeira.
No mais, concorde, discorde, fique puto, ria, desdenhe, reflita... Qualquer reação que minhas reflexões provocarem em você será lucro.
Só a indiferença é perigosa. É ela que alimenta os Pocotós.”

Deguste o Nóis clicando aqui.

6 comentários:

Vinícius Portella disse...

Muito obrigado pela dica de leitura, Paulo. Ela propõe algo muito importante a se refletir. Basicamente, discordo penso que somente em um ponto: não acredito nesta "inversão de valores". Não creio numa "era de ouro" quando as pessoas eram mais virtuosas em contraposição à degradação moral presente. Os espíritos medíocres não mudaram muito em relação ao passado e sempre se apresentaram como constituindo a maioria. O preocupante, no Brasil, é que assistimos à derrocada de muitas das ilhas de excelência que, por ventura, tivéramos. E penso que o símbolo máximo disso fora a transformação da escola pública em sucata. Como em tantas vezes em nossa história, o país não se preparou devidamente, não investiu seus recursos corretamente e no afã de universalizar a educação, depredou o que havia de bom e expandiu um sistema capenga, péssimo. E nossa dita "elite", que talvez pudesse fazer alguma coisa, como de costume não se preocupou em investimentos capitais para o desenvolvimento do país, como a já citada educação. Assim, ficou o espaço vago para movimentos e líderes carismáticos e suas doutrinas de salvação - algo também recorrente em nossa história. Em suma, essa incultura galopante, em grande parte, não é tanto uma deterioração, mas sintoma de um crescimento populacional desmesurado sem investimentos de meios que lhe dessem suporte. Além do fato de as novas tecnologias de comunicação terem dado voz, ou maior visibilidade, a certas "bestialidades", outrora com menor expressão. Para concluir, padecemos por nossa mediocridade histórica que tem seus efeitos agravados pelas condições, conjuntura, de nosso tempo.

Abraços,

P.S: Sei que é algo mais complexo e que não desenvolvi tão bem meu comentário, mas não creio que esteja de todo errado ou reducionista.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro Vinicius,
Confesso a voce, sinceramente, que nao admiro, nem a forma, nem o conteudo desses livros do Luciano Pires. Por uma razao muito simples. Eles constituem simplesmente o reconhecimento, factico, objetivo, de nosso fracasso enquanto sociedade organizada, educada, voltada para o bem comum, para a educacao de qualidade, para a elevacao geral dos padroes de qualidade de vida, de convivencia respeitosa entre os cidadaos, de democracia e de cidadania, enfim, de um minimo respeito pela coisa publica (evidenciada na continuidade, persistencia e talvez ate elevacao da corrupcao), enfim, de um progressivo aumento e melhoria do bem estar quantitativo e qualitativo da populacao brasileira.
Nao gosto dos livros dele tambem porque se trata de explorar uma realidade triste, sob o tom do escandalo, da catastrofe, um pouco como nesses programas de baixissimo nivel que apenas divulgam miserias e infelicidades, talvez para protestar contra a situacao existentes, mas certamente tambem para explorar (inclusive comercialmente) a curiosidade morbida da populacao media por tudo o que constitui deformacao, desastres, assassinatos, enfim, um espetaculo de voyaeurismo social condenavel sob todos os aspectos.
Sou contra tudo isso, e acho que a exploracao do que é mediocre, desprezivel, contribue tambem paraa preservacao das mesmas realidades. Eu nao vejo programa de auditorio de baixa qualidade, nem para constatar o que ja sei, para nao contribuir para a elevacao da audiencia desses programas. Alias, simplesmente nao vejo TV, a nao ser para me informar em pouquissimos programas de noticias e debates de nivel. Pelas mesmas razoes nao vou promover demonstracoes do que é mediocre e desprezivel na sociedade brasileira.
Apenas que resolvi transcrever essa noticia sobre esse livro, porque me parece que atingimos um tal nivel lamentavel de rebaixamento moral, social, cultural e politico que algo, qualquer coisa, precisa ser feito para evitar essa continua queda no abismo da mediocrizacao social.
Nao sei se me expliquei bem, mas é isso que sinto neste momento...
Paulo Roberto de Almeida

Vinícius Portella disse...

Caro Paulo Roberto,

Creio que te explicaste bem. Talvez eu não tenha lido a matéria com atenção para detectar indícios de tudo isso a que te referiste. Eu nunca li nada de Luciano Pires, nada que lhe fizesse menção nem sequer sabia de sua existência. Pelo teu comentário, seu livro é expressão de uma das coisas que mais abomino. Por sorte, nem tive tempo para gastar indo atrás disso e vi teu comentário antes de esboçar alguma ação nesse sentido: de certa forma, eu ficaria desapontado em constatar tudo o que mencionaste pensando que fosse recomendação tua.

Mas aproveito a ocasião também para expressar uma idéia, uma sugestão, um elogio - não saberia classificar ao certo: penso que estes teus comentários são muito importantes, principalmente quando confrontas textos de outros autores com as tuas concepções e apresentas os aspectos com que concordas ou aqueles que refutas. Sei que tempo é um problema, mas todos que consultam teu(s) blog(s) seriam beneficiados com uma frequência maior desses teus comentários e contribuirias ainda mais para o enriquecimento de um debate que, grosso modo, é tão pobre nos meios de comunicação nacionais. Isso me veio à mente agora, pois me lembrei de ter visto o "plano de aula" - me esqueci o nome daquele documento em que consta os objetivos da disciplina, a bibliografia, etc. Era de uma disciplina de economia que ministras, ou ministravas, para a graduação na UnB. O que achei muito interessante foi o fato de explorares as principais visões sobre aquele objeto, assunto, e confrontá-las. Na universidade, não tenho observado tal procedimento que, a despeito de doutrinações, possibilita aos próprios alunos que formulem suas convicções, que escolham racionalmente no que acreditar. Eu realmente queria ser teu aluno. Assim, minha proposta é que amplies ainda mais o debate, o confronto de idéias neste teu blog pela maior exploração de comentários teus. Por fim, eu me sinto, de certa forma, amparado pelo que escreves aqui, pois, de resto, me vejo envolto por tantos medíocres agindo religiosamente segundo alguma ideologia...

Abraços,

Paulo Roberto de Almeida disse...

Hoje, no Brasil, é muito difícil escapar da mediocridade ambiente, inclusive nos mais altos escalões, infelizmente. Vai demorar para consertar, pois o Estado está infestado por gente despreparada e apenas preparada para se aproveitar das benesses do Estado. O Brasil é um dos poucos países em que um funcionário público ganha melhor do que seu equivalente funcional na iniciativa privada, o que já é um indício de distorsão, mas os problemas estão bem mais entranhados na cultura do serviço público.
Junto com a deterioração da educação no país, acabamos caindo na mediocridade geral que se vê por aí, inclusive e sobretudo no parlamento.

Quanto a minhas aulas, já não dou aula na UnB há muito tempo. Estou atualmente no Mestrado em Direito do Uniceub, cadeira de Economia Política Inrternacional.
Neste link você encontra o programa, temas, bibliografia:
http://pracademia.blogspot.com/
O abraco do
Paulo Roberto de Almeida

Vinícius Portella disse...

Realmente, sobretudo no Parlamento. Como se conserta isso? É endêmico o problema da mediocridade e o da corrupção que frequentemente vem associado àquele. Como mudar as regras do jogo se quem se beneficia delas está no comando? Corruptos só fazem reproduzir mais corrupção. Eu me lembrei de um certo poema do Neruda, apesar de estar bem distante de suas convições. Podemos dizer: Brasil pobre por causa desses medíocres vampiros do dinheiro público, por esses ensimesmados a fazer sempre mais do mesmo e não produzir nada de grande valor...

Um grande abraço,
muito obrigado.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Como se conserta isso? Nao tem conserto, quando setenta por cento do eleitorado brasileiro tem um baixissimo grau de educacao politica e quando voce tem um terco da populacao oficialmente vivendo da assistencia publica e grande parte do resto desejando tambem repousar nos bracos do Estado providencia. Isso nao tem conserto, apenas no medio, e longo prazo, talvez uma geracao. Ate'la'a mafia sindical, as quadrilhas parlamentares, os industriais prebendalistas, os sanguessugas do Estado vao continuar se alimentando das rendas do terco que trabalha e produz riquezas no Pais,
Nao tenha nenhuma ilusao: o Brasil nao e'"consertavel" antes de uma geracao ou duas...