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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

1490) A maioria dos brasileiros quer mais Estado

Um visitante, ou leitor, deste blog me sugere um tema para desenvolver neste espaço, ou em qualquer outro, relevante pelo seu próprio título"

No Brasil, 64% querem maior controle do governo na economia
BBC Brasil, 09/11/2009 - 06h48

A pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta segunda-feira revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do país.

Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no país, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.

A insatisfação dos brasileiros com o capitalismo de livre mercado chamou a atenção dos pesquisadores, que qualificaram de "impressionante" os resultados do país.

"Não é que as pessoas digam, sem pensar, 'sim, queremos que o governo regulamente mais a atividade das empresas'. No Brasil existe um clamor particular em relação a isso", disse Steven Kull, o diretor do Programa sobre Atitudes em Políticas Internacionais (Pipa, na sigla em inglês), com sede em Washington.

O percentual de brasileiros que disseram que o capitalismo "tem muitos problemas e precisamos de um novo sistema econômico" (35%) foi maior que a média mundial (23%).

Enquanto isso, apenas 8% dos brasileiros opinaram que o sistema "funciona bem e mais regulação o tornaria menos eficiente", contra 11% na média mundial.

Para outros 43% dos entrevistados brasileiros, o livre mercado "tem alguns problemas, que podem ser resolvidos através de mais regulação ou controle". A média mundial foi de 51%.

"É uma expressão de grande insatisfação com o sistema e uma falta de confiança de que possa ser corrigido", disse Kull.

"Ao mesmo tempo, não devemos entender que 35% dos brasileiros querem algum tipo de socialismo, esta pergunta não foi incluída. Mas os brasileiros estão tão insatisfeitos com o capitalismo que estão interessados em procurar alternativas."
A pesquisa ouviu 835 entrevistados entre os dias 2 e 4 de julho, nas ruas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Globalização
O levantamento é divulgado em um momento em que o país discute a questão da presença estatal na economia.

Definir para que caixa vai a receita levantada com a exploração de recursos naturais importantes, como o petróleo da camada pré-sal, divide opiniões entre os que defendem mais e menos presença do governo no setor econômico.

Steven Kull avaliou que esta discussão não é apenas brasileira, mas latino-americana. Para ele, o continente está "mais à esquerda" em relação a outras regiões do mundo.

A pesquisa reflete o "giro para a esquerda" que o continente experimentou no fim da década de 1990, quando o modelo de abertura de mercado que se seguiu à queda do muro de Berlim e à dissolução da antiga União Soviética dava sinais de esgotamento.

Começando com a eleição de líderes como Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, o continente viu outros presidentes de esquerda chegarem ao poder, como o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

Mas Kull disse não crer que o ceticismo dos brasileiros na pesquisa "seja necessariamente uma rejeição do processo de abertura dos anos 1990".

"Vimos em pesquisas anteriores que os brasileiros não são os mais entusiasmados com a globalização", disse.

"Eles ainda são bastante negativos em relação à globalização, e o que vemos aqui (nesta pesquisa) é mais o desejo de que o governo faça mais para mitigar os efeitos negativos dela, melhorar a distribuição de renda e colocar mais restrições à atividade das empresas."

Mas ele ressalvou: "Lembre-se de que a resposta dominante aqui é que o capitalismo tem problemas, mas pode ser melhorado com reformas. A rejeição ao atual sistema econômico e à abertura econômica não é dominante, é que há um desejo maior de contrabalancear os efeitos disto".

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Meu comentário preliminar (PRA):
Eu não tinha nenhuma dúvida quanto a isso: os brasileiros amam o Estado, acham o estado o máximo, querem mais Estado, querem estar no Estado, viver no Estado, morrer no Estado (de preferência tornar-se imortais no Estado).
Eles não se dão conta de que estão pagando tudo isso. Não todos claro.
Hoje mesmo uma pesquisa informa que o setor público ganha o dobro do setor privado, para tarefas iguais. Os brasileiros talvez não saibam disso, pois do contrário a maioria que é do setor privado se revoltaria. Ou não?
Pode ser que isso os incite a fazer concurso e a viver no Estado, com o dobro de salário do que ganham atualmente. Pode ser...
Enfim, vou escrever sobre isso, certamente.

4 comentários:

Brasil disse...

"O estado é um péssimo patrão para a economia"- uma máxima liberal que compartilho afinidade; em contrapartida, gostaria de ver uma atuação mais "atuante" na educação e saúde, principalmente na primeira que é em alguns aspectos irrisória e muito aquém dos padrões dos países de IDH elevado.

JD

Reginaldo Macêdo de Almeida disse...

Começo a me perguntar se é com estes brasileiros que eu quero viver, e menos ainda sustentar.

Voltamos ao ame-o ou deixe-o.

Pedro P. Palazzo disse...

Eis um exemplo "de cartilha" de como não fazer uma pesquisa de opinião. Dificilmente alguém responde objetivamente a uma pergunta nesse grau de abstração, principalmente se não é da sua especialidade ponderar sobre os prós e os contras da intervenção estatal. Faria muito mais sentido apresentar perguntas objetivas e concretas como "você acha que o Estado deve se meter em contratos entre particulares?"

Anônimo disse...

Nós brasileiros somos um povo interessante. Há pouco tempo li sobre o resultado de uma pesquisa sobre a confiabilidade do brasileiro nos políticos. De acordo com os números, mais de 80% dos entrevistados disseram não acreditar em políticos. No entanto, mais da metade dos brasileiros não gosta de privatizações. Curioso: achamos que os políticos são corruptos, mas queremos que eles tomem conta de nossas empresas. Existe alguma expressão ou teoria nos livros acadêmicos como "sadomasoquismo político-econômico"!?! Não dá pra entender essa Estadolatria. Vargas morreu há mais de meio século!!!

ECS