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domingo, 27 de dezembro de 2009

1626) Estado forte, mas ausente, onde deveria estar...

Ausência do Estado
Editorial O Estado de S.Paulo
Domingo, 27 de Dezembro de 2009

Elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o objetivo explícito de mostrar a importância do papel do poder público na vida da população brasileira, o recém-divulgado estudo Presença do Estado no Brasil: Federação, suas unidades e municipalidades é, em vários aspectos, uma comprovação da inexistência de serviços públicos em muitas localidades, ou de sua insuficiência, em outras.

Apesar do alto custo que a sustentação do seu enorme aparato impõe a todos os cidadãos - como deixa claro o próprio estudo do Ipea, ao registrar o imenso contingente de funcionários públicos espalhados pelo País -, o Estado não cumpre adequadamente seu papel em parte significativa do território nacional. Em milhares de municípios faltam serviços públicos essenciais, e os mais prejudicados são justamente os que mais precisam deles, pois suas populações não dispõem de recursos para pagar pelos serviços privados.

O objetivo do trabalho, como afirma em seu prefácio o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, foi "destacar como ocorre a presença do Estado ao longo do território brasileiro, com ênfase especial nas municipalidades, onde, de fato, vivem e convivem os brasileiros e as brasileiras". O que se destaca, porém, é o contrário desse enunciado - ou seja, a ausência do Estado.

A carência da ação pública é notável especialmente na área da saúde, o que mostra, mais uma vez, a limitada eficácia do Sistema Único de Saúde (SUS), cujos princípios foram estabelecidos em 1990, cumprindo determinação constitucional. Entre esses princípios estão a universalidade, a integralidade (atender às necessidades das pessoas, ainda que não sejam iguais às da maioria) e equidade (todos devem ter igual oportunidade de usar o sistema público de saúde). De um total de 5.564 municípios, 1.867 (33,5%) não dispõe de estabelecimentos de atendimento de urgência do SUS e um número ligeiramente maior (1.875 municípios) não tem estabelecimentos de atendimento de internação do SUS. Em 938 municípios, as unidades do SUS não dispõem de equipamentos para diagnóstico e terapia.

Ainda na área da saúde, a pesquisa constatou que os moradores de 428 localidades não dispõem de médico que atendam pelo SUS. Em 2.780 municípios não há unidades de vigilância epidemiológica e sanitária de qualquer ordem. Obtidos a partir de informações dos três níveis de governo, esses dados são bastante recentes, referindo-se a abril deste ano.

É uma deficiência socialmente perversa, pois prejudica mais os mais pobres. Com razão, o presidente do Ipea observa que "quem mais sofre com a ausência do Estado é aquele contingente da população que não tem recursos próprios para utilizar os serviços privados, e depende do setor público". Ou seja, a ineficácia do serviço público atinge mais duramente a base da pirâmide social.

Na área da cultura, a pesquisa constatou que, em 2.953 municípios (ou 53% do total), não existem estabelecimentos públicos de cultura, como museus e teatros. Em 1.560, não existe serviço de cultura com patrocínio público em nenhum nível de governo.

Dados como esses poderiam ser utilizados como argumento para aumentar os gastos dos três níveis de governo, sobretudo com a contratação de pessoal. Mas, na maioria dos casos, não se trata de falta de pessoal ou de recursos, e sim de má distribuição dos serviços públicos. Uma mudança nos critérios de montagem dos orçamentos, sobretudo os da União e dos Estados, para o atendimento prioritário dos municípios carentes, por exemplo, reduziria rapidamente esses indicadores negativos sobre a distribuição dos serviços públicos de saúde e de cultura.

Quanto a funcionários públicos, seu número é mais do que suficiente para prestar serviços à população em todos os municípios. Só na área de educação e saúde, o poder público emprega 4,2 milhões de pessoas. No total, havia, em 2008, 8,2 milhões de funcionários públicos, o equivalente a 20,8% do total de brasileiros com emprego formal. Ou seja, um entre cinco trabalhadores registrados estava empregado no serviço público. A maior parte deles (4,4 milhões) era formada por funcionários municipais; os governos estaduais empregavam 3,1 milhões de pessoas e o federal, os demais 676 mil funcionários.

Um comentário:

Glauciane Carvalho disse...

O Marco Aurélio Garcia deu uma entrevista, ontem à noite, ao Canal Livre da Rede Bandeirantes. (Além de ser o assessor para assuntos estratégicos, ele é o cabeça da campanha da Dilma).
Esta concepção de Estado “+forte” é dele. Quem está trabalhando o marketing da desastrosa campanha da Dilma é ele. Inclusive, ele afirmou que é o coordenador da campanha dela. (Não como burocrata do governo, mas sim como militante do PT)
Ele falou algumas pérolas, que eu adoro pescar como, por exemplo, quando o Mitre perguntou a ele sobre a precariedade da Educação no Brasil, ele disse que não há.
Quando se perguntou sobre a questão do MST ser repudiado pela maior parte da sociedade, conforme a Revista Veja trouxe esta semana, ele disse que: “o clima é muito violento e toda violência deve ser criticada, sobretudo, em uma sociedade democrática como a nossa. (descobriu a pólvora), contudo não devemos criminalizar os movimentos sociais. No campo brasileiro, há uma impunidade muito grande. (ele não estava se referindo aos baderneiros do MST, mas sim aos fazendeiros que possuem terras produtivas).
Quando foi perguntado sobre a ausência de Estado no campo e se o governo era culpado com sua incapacidade. Ele disse que a culpa era do governo sim, mas não só esse, os anteriores também.
Se em uma simples entrevista, ele se contradiz, como pode pensar em criar um projeto de desenvolvimento social que atenda aos anseios da sociedade brasileira ?
Eu não costumo perder a classe, mas se colocam um semi-analfabeto na presidência, um burro na assessoria de assuntos estratégicos e uma anta para se candidatar à presidência, só temos uma opção: sentar no meio fio e chorar de raiva...