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sábado, 30 de janeiro de 2010

1887) Venezuela: a "revolucao" engole seus filhos

Clássica essa frase, e no entanto verdadeira: processos revolucionários são de certa forma incontroláveis, pois que a vontade de poder de um, o caudilho, digamos assim, se choca com a vontade de poder de outros, ou com a simples realidade ambiente (nem todo mundo está a favor da "revolução", por exemplo). Começam então os choques e controvérsias, e logo o caudilho, eventualmente convertido em tirano, está sozinho. Pode até ter sucesso em consolidar seu poder, como Stalin, à base do terror. Mas, também pode ser derrocado, no bojo de uma guerra -- como Mussolini, em 1943 -- ou de uma revolução democrática, como Ceausescu, na Romênia, em 1989.
Enfim, tudo pode acontecer na Venezuela.
Este é o retrato do momento, triste, por certo...

Com expurgo da velha-guarda, Chávez busca reafirmar liderança
Roberto Lameirinhas
O Estado de S.Paulo, Sexta-Feira, 29 de Janeiro de 2010

Nova geração de chavistas nomeados para o governo é menos resistente às decisões do presidente, dizem analistas

Especialista em metalinguagem, o presidente Hugo Chávez enviou seu recado no discurso que fez, no sábado, encerrando a marcha de seus partidários em Caracas. "A disciplina é fundamental para o avanço da revolução e essa revolução tem um líder", afirmou. "Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!"

Ao mesmo tempo, no Palácio de Miraflores, a sede da presidência, assessores trabalhavam num plano de contenção de danos para o anúncio oficial, na segunda-feira, da renúncia do vice-presidente e ministro da Defesa, general Ramón Carrizález - camarada de Chávez na fracassada tentativa de golpe contra Carlos Andrés Pérez, em fevereiro de 1992. Figura discreta da velha-guarda do chamado "chavismo duro", Carrizález teria divergido de Chávez em algumas decisões das últimas semanas, como a desvalorização do bolívar forte, no dia 8, a expropriação da cadeia franco-colombiana de supermercados Êxito e o excessivo protagonismo do presidente em seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

No fim da semana passada, a direção do partido decidiu que não haveria primárias para a escolha dos candidatos para a eleição legislativa de 26 de setembro. Os aspirantes a deputado serão indicados por Chávez. Além disso, a mulher de Carrizález, Yubiri Ortega, ministra do Meio Ambiente, também vinha recebendo críticas veladas por parte da chamada "nova geração" da revolução, que lhe responsabilizava em parte pela falta de ação em prevenir a crise energética - que obriga o governo a impor um rodízio de apagões programados no interior do país e corrói a popularidade de Chávez. Na última pesquisa do Datanálisis, no fim de 2009, a aprovação do presidente não passava de 46,5%.

Oficialmente, Carrizález e Yurubi renunciaram por "estrita razão pessoal". Mas a saída de cena repentina de mais um "histórico" do chavismo deu margem a uma série de interpretações. Incluindo a de que Carrizález teria se rebelado contra a intenção de Chávez de promover cinco coronéis cubanos para o nível de comando das Forças Armadas venezuelanas.

"O processo de expurgo de figuras da primeira geração do chavismo começou com a saída de José Vicente Rangel (então vice-presidente desde 2002) em 2007, quando Chávez decidiu aprofundar o caráter socialista da revolução bolivariana", diz ao Estado Anibal Rodríguez, analista da Universidade Central. "Ao contrário da velha-guarda, os líderes da chamada nova geração são muito menos resistentes às decisões do presidente e restringem-se a cumprir as ordens. A mensagem é a de que Chávez não abre mão de avançar com sua revolução à sua imagem e semelhança."

As mudanças obedeceriam a um plano de Chávez para reafirmar sua liderança, reforçar o fervor revolucionário do governo e promover o que os analistas venezuelanos chamam de "renovação generacional".

Os novos escolhidos fazem questão de tornar pública sua lealdade a Chávez e à sua revolução. Nomeado ministro da Defesa, o general Carlos Mata Figueroa deve manter, por enquanto, seu cargo de comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o mais alto da cúpula militar. Foi o responsável por quebrar a resistência dos militares ao lema imposto por Chávez: "Pátria, Socialismo ou Morte! Venceremos!"

"Hoje podemos falar com firmeza que o homem das Forças Armadas está comprometido com a revolução. Aqui não há outro caminho que não seja o da revolução", disse o general ao ser nomeado.

Elías Jaua, o novo vice-presidente, era líder estudantil em 1992 e liderou os piquetes na Universidade Central, em apoio a Chávez. Durante o anúncio de sua nomeação, ele se deixou ser visto anotando atentamente as recomendações do presidente. Vai acumular o cargo com o anterior, de ministro de Agricultura e Terras.

O presidente da Hidraven - órgão também responsabilizado pela crise de energia -, Alejandro Hitch, outro representante da segunda geração de chavistas, ocupará o lugar de Yubirí na pasta do Meio Ambiente.

Outra teoria para as mudanças é que os líderes chavistas mais conhecidos não resistiram ao desgaste de quase 11 anos de poder e estariam sendo vistos pela população como as principais figuras do que a oposição qualifica de "boliburguesia" - os novos burgueses bolivarianos que estariam se aproveitando do poder para enriquecer ilicitamente. Em dezembro, Jesse Chacón, jovem tenente que tomou os estúdios da emissora Venezuelana de Televisão (VTV) durante a tentativa golpista de 1992, renunciou ao Ministério de Ciência e Tecnologia após a Justiça abrir um inquérito contra seu irmão, Arné Chacón, acusado de fraude bancária.

MUDANÇAS
A demissão do ministro de Energia Elétrica, Ángel Rodríguez, há três semanas - após anunciar que Caracas estaria incluída no rodízio de cortes de energia -, abriu a possibilidade de mudança que tirou parte significativa do poder de outro chavista histórico, Ali Rodríguez. Outro veterano da intentona de 1992, Ali Rodríguez perdeu o poderoso Ministério da Economia para assumir a pasta de Energia Elétrica. As pastas de Economia e Planejamento foram unificadas, sob o comando de Jorge Giordani, nomeado para tentar fazer o PIB do país crescer de novo (em 2009, a economia venezuelana encolheu pela primeira vez em seis anos) e debelar a inflação, oficialmente estimada em 25,1% no ano passado.

ALIADOS
VELHA-GUARDA CHAVISTA
José Vicente Rangel: Advogado e jornalista, foi chanceler, ministro da Defesa e vice-presidente. Foi o primeiro chavista de peso afastado do governo, em 2007

Ramón Carrizález: Foi camarada de Chávez na tentativa de golpe de 1992. Além da vice-presidência, chefiava a pasta de Defesa. Era responsável pela supervisão das nacionalizações e programas sociais do governo. Caiu esta semana

Yubiri Ortega: Mulher de Carrizález, ocupava desde 2007 a pasta de Meio Ambiente. Também renunciou junto com o marido

Jesse Chacón: Esteve à frente dos Ministérios de Comunicação e do Interior e Justiça. Renunciou em 2009 após seu irmão ser preso por acusações de fraude bancária

Alí Rodríguez: especializado em petróleo, foi presidente da PDVSA, chanceler e secretário-geral da Opep. Continua no governo, mas perdeu o poderoso Ministério de Economia e assumiu a pasta de Energia Elétrica

OS NOVOS NOMES
Elías Jaua: O novo vice acompanha Chávez desde que ele chegou ao poder, em 1999. Encabeçou as principais desapropriações de terras improdutivas nos últimos anos

Carlos Mata Figueroa: Chefe do Comando Estratégico Operacional do Exército, ficou conhecido por conter rebeliões internas

Alejandro Hitcher: Presidente da estatal responsável pelo saneamento e pelo racionamento de água causado pela seca, que afetou a produção de eletricidade

Tarik al-Aissami: Ministro do Interior e Justiça, vem de família síria, mantém laços com o Oriente Médio e a comunidade de 1,5 milhão de origem árabe que vive na Venezuela

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