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domingo, 14 de fevereiro de 2010

1341) Sobre a responsabilidades dos intelectuais: comentário de um leitor

Recebi, a propósito do meu ensaio divulgado no post imediatamente anterior (ver abaixo), um longo comentário de um leitor, um estudante de ciências sociais do Rio de Janeiro, cujo nome omito por razões óbvias, mas que me parece refletir, inclusive na linguagem, os sentimentos de uma enorme parcela de nossa juventude universitária, tendo de suportar, atualmente, professores totalmente ineptos, despreparados e, adicionalmente (o que me parece mais grave), politicamente engajados num esforço doutrinário absolutamente irrelevante para a realidade em que vivem esses jovens. Esses professores, que se enquadram naquele comportamento que eu qualifiquei de desonestidade intelectual, continuam a oferecer aulas de pura embromação sociológica, ou de mistificação histórica, sem qualquer conexão com o mundo real.
Não creio que esse quadro seja "consertado" any time soon, ou seja, teremos de conviver com a empulhação acadêmica durante muito tempo mais...
Segue a mensagem (preservo totalmente a linguagem original, mesmo com os erros de Português e os pequenos equívocos de linguagem cometidos):

On 14/02/2010, at 01:42, R. M. wrote:

Boa Noite. Doutor Paulo Roberto de Almeida. Tudo bem com o senhor? Eu sou R., formando em Ciências Sociais da Uerj, e estou mandando-lhe este e-mail a fim de comentar o seu texto "sobre a responsabilidade dos intelectuais e se devemos cobrar-lhes os efeitos práticos de suas prescrições teóricas". Não tenho dúvida de que não devemos [sic], pois não só o Sociólogo alemão Ralf Dahrendorf, mas os próprios Sartre e Gramisci tinham em vista essa questão da responsabilidade do intelectual quanto a sociedade que fazem parte.
Eu devo relatar-lhe que nos meus anos na Uerj, vi de muito dos descalabros que foram descritos em seu ensaio. Eu estava refletindo com o meu irmão gêmeo que estuda História nessa mesma Universidade sobre as concepções que você encherga que são defendidas por determinados intelectuais dentro dos bancos das acadêmias que nós dois poderiamos julgar que no passado estavam presentes na sua realidade seja como professor ou estudante Universitário ou quem sabe nos circulos diplomáticos que o senhor esteve ao longo de sua carreira, mas, eu vejo que ela está presente na nossa realidade estudantil em fins da década de 2000 e principios da década de 10.
Quando eu entrei na Universidade em idos do ano de 2007, eu admito que entrei de forma ingenua pensando que a "solução" para as grandes questões de nossa sociedade estavam na Universidade e o curso de Ciências Sociais era o seu motor de combustão para essas mudanças, eu admito que me desiludi com o que vi no primeiro semestre e em muito me chateou a ponto de cogitar abandonar o curso.
No primeiro ano de curso nas aulas de Sociologia tive um semestre inteiro de Marx, estudamos as seguintes obras: "A Questão Judaica", "Crítica a Economica Política", "A Ideologia Alemã" e o "Manifesto Comunista" , vou ser honesto com o senhor que me senti desencontrado (e enojado), pois, o que estava sendo ensinado pela professora num tom de catequese (pois ela dedicou um semestre exclusivo para o estudo dessas obras) não correspondiam com a mesma perspectiva de vida e experiência pessoal de trabalhador assalariado que eu tinha de fora da Universidade e até mesmo porque, nas aulas de Ciência Política nesse mesmo semestre indo de encontro com os clássicos gregos como Platão e Aristóteles, se vê que as coisas sempre foram constituídas com base onde enquanto uns mandam, outros devem obedecer. Então, ficava a questão na minha cabeça: o que pensar? Será que estão me "enrolando" na acadêmia?
Então, com o passar desses dois anos (eu procurei antecipar a minha formatura e defender monografia em algo relacionado as Relações Internacionais e o Mercosul em particular, inclusive utilizando alguns textos seus, pois, não dava para pensar em compor nenhum projeto de monografia com Sociologos "Marquissistas" ou Antropologos "democratas raciais", pois a sintonia com os professores era muito diferente da minha vivência), a insistência principalmente em defender de forma tão incontestável essa concepção ideologica como projeto viável em pleno século XXI em termos sociais e até mesmo economico soava de um anacrônismo enorme para não dizer como você mesmo tinha colocado em seu ensaio "como pura desonestidade intelectual" por parte de acadêmico que não conseguem reconhecer o óbvio nas entrelinhas da História.
E o que isso tudo tem ligação com o seu ensaio? Que de fato a Universidade tem uma parcela de responsabilidade (e os seus acadêmicos) com os rumos que a sociedade vai de fato, pois, muitos desses professores pensam que estão numa "redoma de vidro" contra qualquer tipo de responsabilidade tanto com o teor dos artigos que escrevem quanto as aulas que ministram nas acadêmias e a defesa de idéias e teorias de forma dogmática que defendem com tanto afinco.

Então, Doutor Paulo Roberto de Almeida. Eu fico por aqui, não vou lhe escrever um testamento, pois, sei que o senhor é bastante ocupada.

Obrigado e desde já aguardo uma resposta do senhor quando lhe for possível responder.

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Meu caro R,
Muito grato por seu enorme comentario ao meu texto, que buscava apenas e tao somente tratar de um problema que eu ja detectei ha muito tempo, e que voce constatou agora por sua própria experiencia.
Sou reconhecido pela sua atencao em escrever-me e se voce me permitir vou partilhar seu texto com outros, sem revelar sua identidade, pois creio que nao convem personalizar o fato do seu lado.
O abraco do
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Paulo Roberto de Almeida
(14.02.2010)

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Addendum:
Depois que eu postei o que vai acima, o mesmo comentarista, escreveu o que segue:

On 14/02/2010, at 17:53, R. M. wrote:

Prezado Doutor Paulo Roberto de Almeida, muito obrigado pela atenção quanto a essa questão citada em seu ensaio. É algo que estou sempre compartilhando e refletindo com os meus colegas de cursos que possuem alguma lucidez quanto a questão que se segue analisando de forma crítica esse modelo de Universidade que tem um papel muito mediocre partindo dos seus próprios acadêmicos e quanto àquilo que o senhor mesmo classificou como "desonestidade intelectual".

Gostaria de saber se o senhor têm propostas para a questão que está imersa a Universidade Brasileira nesse contexto com base na vivência que o senhor possui viajando para outros países e por ter estudado no exterior também? Eu tenho algumas idéias, mas, eu como simples graduando não me arriscaria a propor exceto no caso de uma conversa informal e troca de e-mails como essa que estamos tendo.
Pois, eu converso com algumas pessoas de algumas Universidades do exterior e as coisas não são desse jeito definitivamente partindo do principio da "desonestidade intelectual" como o senhor fez questão de expor.
Pois, é uma questão que possui uma grande influência nos rumos que o País dá (para o bem ou para o mal).
Aguardo respostas. Um abraço e mais uma vez muito obrigado.
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Prometi selecionar alguns trabalhos meus e enviar...
Paulo Roberto de Almeida (14.02.2010; 18h44)

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