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terça-feira, 25 de maio de 2010

Como afundar a economia de um pais - Venezuela

Again, and again. É que o coronel-presidente, não especialmente graduado em alguma área acadêmica, é o melhor professor de economia que possamos ter, al revés, como sempre digo.

SOCIALISMO DE CHÁVEZ NIVELA POR BAIXO

EDITORIAL
O GLOBO, 23/5/2010

No mundo de Hugo Chávez, a luta contra o capitalismo continua intensa..
Caudilho se enreda no modelo bolivariano às portas das eleições

“Tremei burguesia, nós iremos atrás de vocês”, bradou o coronel, depois de tirar das corretoras e casas de câmbio privadas, e passar ao Banco Central, a tarefa de administrar o mercado paralelo de dólares na Venezuela. No mundo real, o dólar saltou para oito bolívares no paralelo — cerca do dobro das taxas oficiais — e o mercado está parado enquanto o BC tenta se organizar para sua nova atribuição de gerir o câmbio negro, tarefa inexequível.

Como as empresas recorrem a esse mercado para obter divisas, pois no oficial o dólar anda escasso, a cambaleante economia do país entrou em parafuso. Já existia um forte desabastecimento de produtos alimentícios, e a piora é inevitável, pois a Venezuela importa 70% do que consome.

A quatro meses das eleições legislativas de setembro, a popularidade do caudilho caiu abaixo de 50% (44,4%). A população critica fortemente a gestão — melhor dizer nacionalização — do setor alimentício pelo governo.

O slogan chavista “Tanto Estado quanto possível, tanto mercado quanto inevitável” só podia resultar em desabastecimento, pois é notória a falta de eficiência das estatais, e não só as venezuelanas.

— Já votei em Chávez, hoje não voto mais. Como é possível eu demorar tanto para conseguir comprar farinha de milho para preparar as minhas arepas? — indagou o aposentado Benjamin Cornejo Ugarte, de 75 anos, ouvido semana passada pelo GLOBO na fila de um supermercado no centro de Caracas. A arepa, uma espécie de panqueca recheada, é o alimento mais popular na mesa venezuelana. Um dos grandes problemas de Chávez é que a falta de produtos nas prateleiras do país e a carestia (a inflação é a mais alta da América Latina, 5,2% em abril) atingem mais fortemente o eleitorado chavista — as classes D (38% da população) e E (41%), além da classe média. Os 3% no topo da pirâmide social são, por óbvio, menos afetados.

Os áureos tempos do petróleo ao redor dos US$ 100 o barril passaram. Enquanto durou a bonança, Chávez construiu seu “socialismo bolivariano do século XXI” com um grande programa assistencialista que assegurou seu prestígio junto às classes menos favorecidas. E passou a exportar o modelo, mergulhado em barris de petróleo, para países que entraram em sua órbita de influência, como Bolívia, Equador e Nicarágua.

Mas os bons tempos acabaram e o “socialismo bolivariano” deu com os burros n’água, só tendo agora a oferecer prateleiras vazias, cortes de luz e a perspectiva de a Venezuela ser o único país latino-americano cuja economia não crescerá este ano (ela encolheu 3,3% em 2009).

Ainda assim, não se pode minimizar a capacidade já amplamente demonstrada por Chávez de vencer eleições. Ao menos, este ano, a oposição não repetirá o grande erro de 2005, quando boicotou o pleito e acabou sem representação legislativa, entregando a faca e o queijo ao coronel. O problema é que a oposição venezuelana ainda não conseguiu produzir um líder capaz de enfrentar e derrotar o caudilho.

Um comentário:

JGould disse...

Caro PRA,

Minhas preocupações vão além. Segundo consta, há 100 mil "Kalashnikovs" nas mãos de milicianos, o Exército está impregnado de militares cubanos (ou seriam mercenários?). O caudilho já afirmou que: "a revolução não tem volta". Portanto, acredito que muito sangue irá correr, infelizmente. O que realmente interessa é, como os países da região vão atuar em caso de derramamento de sangue.

Abs