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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Delfim Neto está ficando gaga: demorou, mas ficou...

Bem, o velho czar da economia está batendo pino, se me permitem a expressão. Ele está preocupado com um produto altamente estratégico para o desenvolvimento brasileiro: o minério de ferro.
Reparem bem: ele não se preocupa com a educação das crianças, nem com a produção de patentes pelas indústrias brasileiras.
Ele só quer defender matéria-prima: "O minério é nosso!", poderia ele gritar.
Que coisa mais triste: poderia encerrar a carreira defendendo a inteligência brasileira, e resolve apoiar a burrice.
Ele é um dos muitos que acha que o futuro brasileiro está na defesa do nosso minério, contra os cúpidos chineses.
Que barbaridade, os chineses quererem comprar nosso minério...
Ele é mais um dos que se enrolam na bandeira e sobem numa pilha de minério para proclamar: ele é nosso, ninguém toca.
Não pensei que além de cínico, ele fosse ficar gagá, e lutar contra a racionalidade econômica...
Paulo Roberto de Almeida

Compras da China e soberania brasileira
Antônio Delfim Netto
DCI, 24.05.2010

As exportações brasileiras para os países da África estão perdendo terreno, e atribui-se essa queda principalmente à concorrência de produtos chineses.

No geral, as vendas brasileiras em 2009 foram 15% mais fracas que em 2008, e isso apesar do esforço oficial para ampliar as relações com os países do Continente.

Não é novidade o fato de que as exportações chinesas vêm ocupando espaços de produtos brasileiros no mercado mundial, e isso não se limita aos países africanos.

A China tem uma política de exportações e câmbio favorecido, e o Brasil, por outro lado, mantém um câmbio perverso, sem uma política agressiva de exportações há 25 anos.

Basta lembrar: no período 1980/84, as vendas chinesas representaram 1,2% das exportações mundiais, o Brasil, 1,2%, e a Coreia do Sul, idem.

No ano passado, o Brasil tinha praticamente a mesma participação, com 1,3% das exportações mundiais, enquanto a China passava de 10% e a pequenina Coreia representava quase 3%.

A realidade é que nós deixamos o caminho livre aos nossos concorrentes no mercado mundial.

A agressividade chinesa não se resume, atualmente, à conquista de mercados para suas exportações.

A China é um país que vive uma expansão econômica enorme. O país acumulou, por exemplo, reservas da ordem de 2,4 trilhões de dólares.

Neste montante estão 800 milhões de dólares investidos em papéis dos Estados Unidos.

Os chineses estão claramente procurando uma diversificação deste portfólio, saindo de aplicações financeiras em busca de coisas físicas.

A China tem hoje uma presença externa semelhante à dos europeus nos bons tempos coloniais: ela invadiu praticamente o continente africano.

Seus empreendimentos na África adquiriram tal dimensão que eu suspeito que daqui a 20 anos haverá problemas de ordem política nesses investimentos.

Mas ela vai prosseguir com a política colonial porque precisa resolver o seu problema interno.

É um país altamente produtivo, com uma população gigantesca de 1,3 bilhões de habitantes (oito vezes a do Brasil), um território imenso, mas de terras degradadas em 5.000 anos de exploração, com uma falta de água muito importante (é por isso que não pode abrir mão do Tibete), com dificuldades e carências de abastecimento muito sérias.

Portanto, para manter a sua sociedade funcionando, a China precisa suprir-se de minerais, de alimentos e de energia, onde puder buscá-los.

No Brasil, operadoras chinesas têm procurado entrar no etanol e participar da exploração de petróleo.

Em princípio não teria maior problema, nestes ou em outros ramos, se se tratasse de negócios entre entes privados e sem as exigências (compra de equipamento chinês etc.) como habitualmente se apresentam.

Recentemente, porém, essa presença chinesa vem suscitando questões que precisam ser observadas com muito cuidado.

O Brasil não deve admitir, por exemplo, (e eu creio mesmo que existe impedimento constitucional a que isso aconteça) que empresas estatais da China comprem nossas jazidas de ferro, manganês, ou o que seja, e passem a abastecer de minério as suas siderúrgicas.

Da mesma forma o Brasil deve proceder em relação à aquisição de enormes porções de terra por empresas do Estado chinês para a produção de alimentos, com a construção de ferrovia até os portos de exportação para a China !

É o mesmo que está acontecendo em diversos países africanos.

Essa situação envolve questões de cessão de território a um poder estatal estrangeiro e não tenho dúvida de que se for permitido vamos ter problemas de soberania entre os dois países nos próximos anos.

O Brasil não deve admitir que empresas estatais da China comprem nossas jazidas de minério.

3 comentários:

Rafael Kafka disse...

Mas a nossa participação no comércio internacional diminuir é algo vergonhoso...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Rafael,
Os chineses não tem nenhuma culpa de que nossa participação no comércio internacional está caindo. Quem compra, quem importa, o faz de quem pode fornecer produtos de qualidade a preços competitivos. Ninguém está fazendo favor aos chineses, contra o Brasil, ao importar mais da China. Só se compra deles porque eles têm algo a vender.
Tampouco a razão é a falta de minério de ferro.
Aliás, se vingarem as recomendações ridículas de Delfim Netto, o Brasil vai exportar menos ainda.
Vai ficar com o seu glorioso minério de ferro para si mesmo.
Um pouco de senso do ridículo não faria falta ao velho gagá da economia...
Paulo Roberto de Almeida

Rafael Kafka disse...

Concordo, integralmente, com sua crítica.

Apenas procurei ressaltar o fracasso do governo Lula em relação ao comércio exterior.

Sou um firme defensor do livre comércio.