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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Desconstruindo alguns mitos: Premios Nobel de economia tambem dizem bobagens

O problema de alguns prêmios Nobel é que, depois que ganham, viram "vacas sagradas" e ai começam a escrever, sob demanda dos jornais, e passam a falar bobagens seguidas. Não todos, claro: gente de laboratório continua fazendo suas experiências, tratando dos seus tubos de ensaio, ou suas máquinas complicadas.
Isso acontece mais frequentemente com economistas e literatos, que, depois de ganharem um Prêmio Nobel, se acham no direito, e até no dever, de escreverem e falarem sobre qualquer coisa, mesmo as mais improváveis, e aquelas coisas que, segundo o Peter principle, se situam no limite ou além de sua capacidade.
Saramago é um exemplo típico: já falava bobagem antes, mas com o Prêmio Nobel passou a falar muito mais bobagens, em quantidades industriais.
Economistas são outra espécie: ganham o prêmio por suas pesquisas e inovações juvenis na ciência econômica, geralmente alguma nova "lei" ou equação complicada que "explica" (assim dizem) alguma relação complexa no mundo real: eles simplificam um pouco a coisa, metem tudo dentro de uma regressão linear, e zut, voilà, extraem uma fórmula mágica que parece explicar a realidade durante certo tempo (não importa se mais adiante ela deixa de funcionar, mas o ato os deixa famosos por alguns anos).
Eles passam então a agir como políticos, personalidades públicas que se permitem opinar sobre tudo, abandonando a pesquisa e até o bom senso econômico.
Paul Krugman é um desses, que levou seu militantismo "liberal" (no sentido americano, isto é, social-democrata, o que lá é considerado esquerdista, até um xingamento) aos limites da irracionalidade econômica (deveria talvez devolver o Prêmio Nobel.
Joseph Stiglitz é outro, que levou o seu combate contra o FMI aos limites das bobagens fiscais keynesianas.
Nos dois posts seguintes, com a ajuda de especialistas, vou tentar desmantelar essas duas vacas sagradas da economia.
Mas, antes vou postar um artigo de Krugman, justamente criticado no post seguinte.
Reparem que tudo o que ele diz não tem o mínimo apoio em demonstrações econômicas. É política pura. Seria reprovado num exame de primeiro semestre de Economics 101.

ANÁLISE
EUA não são a Grécia, mas podem virar um Japão
PAUL KRUGMAN - DO "NEW YORK TIMES"
Folha de S.Paulo, 22.05.2010

Deflação sugere que país pode estar a caminho de uma década perdida em estilo japonês, aprisionado em uma era longa de desemprego elevado e crescimento lento

A despeito do coral que alega o contrário, não somos a Grécia. Mas estamos cada vez mais parecidos com o Japão.
Nos últimos meses, boa parte dos comentários sobre a economia vem repetindo um tema central: as autoridades econômicas estão fazendo demais. Os governos precisam parar de gastar, é o que nos dizem.
A Grécia é usada como exemplo cautelar, e cada pequena alta nos juros que incidem sobre os títulos do Tesouro norte-americano é tratada como indicação de que os mercados estão se voltando contra os EUA devido aos nossos deficit.
Enquanto isso, há alertas contínuos de que a inflação está a caminho e que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) precisa recuar em seus esforços de apoiar a economia e dar início à chamada "estratégia de saída", apertando o crédito por meio da venda de ativos e elevação das taxas de juros.
E quanto ao desemprego quase recorde, com um dos piores índices de longa duração desde os anos 30? E quanto ao fato de que os avanços no emprego dos últimos meses, ainda que bem-vindos, até o momento recuperaram menos de 500 mil dos 8 milhões ou mais de empregos perdidos depois da crise financeira? Ah, preocupar-se com os desempregados é tão 2009...
Mas a verdade é que as autoridades econômicas não estão fazendo demais; estão fazendo menos do que deveriam.
Dados recentes não sugerem que os EUA estejam se encaminhando a um colapso da confiança dos investidores, em estilo grego. Em lugar disso, sugerem que podemos estar a caminho de uma década perdida em estilo japonês, aprisionados em uma era longa de desemprego elevado e crescimento lento.

Juros
Falemos primeiro sobre as taxas de juros. Em diversas ocasiões, ao longo dos 12 últimos meses, fomos informados, depois de alguma alta modesta nos juros, de que o mercado estava começando a reagir e que os EUA precisavam reduzir seu deficit imediatamente ou sofreriam as consequências.
Mais recentemente, muito se falou sobre a alta nos juros dos títulos de dez anos do Tesouro norte-americano, de 3,6% para quase 4%. "Medo quanto à dívida causa alta dos juros" foi a manchete do "Wall Street Journal", embora não existisse indício real de que o medo quanto à dívida fosse responsável pela alta.
Desde então, os juros recuaram para abaixo da marca que mantinham antes da alta mais recente. Na quinta-feira, os juros sobre os títulos de dez anos eram de 3,3%.
Eu gostaria de dizer que a queda nos juros reflete otimismo quanto às finanças federais americanas. Mas o que ela reflete é uma alta no pessimismo quanto às perspectivas de recuperação econômica, um pessimismo que fez os investidores fugirem de qualquer coisa que possa ser considerada arriscada -o que explica a queda no mercado de ações- e optassem pela segurança de uma aposta nos títulos de dívida pública norte-americana.

Europa
O que justifica esse novo pessimismo? Em parte ele reflete os problemas da Europa, que se relacionam menos do que temos ouvido às dívidas dos governos. Os líderes europeus impuseram uma moeda única a economias que não estavam preparadas para essa mudança.
Mas também houve sinais de alerta em casa, o mais recente dos quais no relatório da quarta-feira sobre os preços ao consumidor, que mostrava um indicador crucial de inflação em queda para menos de 1%, sua marca mais baixa em 44 anos.
Isso não deveria surpreender, na verdade: a expectativa é que a inflação caia diante de desemprego em massa e capacidade produtiva excedente. Mas é uma má notícia ainda assim.
Inflação baixa, ou pior, deflação, tende a perpetuar as crises econômicas, porque encoraja as pessoas a acumular dinheiro em lugar de gastar, o que mantém a economia deprimida e conduz a mais deflação.
O círculo vicioso que descrevi não é hipotético: pergunte aos japoneses, que entraram em uma armadilha deflacionária nos anos 90 da qual, a despeito de episódios ocasionais de crescimento, ainda não conseguiram sair. A mesma coisa poderia acontecer nos EUA.
Por isso, o que deveríamos estar realmente perguntando agora não é se vamos nos transformar na Grécia. Em lugar disso, deveríamos estar perguntando que medidas estão sendo tomadas para evitar que nos transformemos no Japão. E a resposta é: nenhuma.

Instinto de aperto
Não que é o risco não seja compreendido. Suspeito fortemente de que alguns dos dirigentes do Fed percebam com clareza o paralelo com o Japão e desejem fazer mais em apoio à economia.
Mas, na prática, tudo que podem fazer é conter o instinto de aperto monetário de seus colegas, os quais (como os dirigentes dos bancos centrais na década de 30) continuam a temer desesperadamente a inflação, a despeito da ausência de qualquer indício de alta de preço.
Suspeito, também, que os economistas do governo Obama gostariam muito de ver um novo plano de estímulo. Mas sabem que um plano como esse não teria chance de aprovação em um Congresso que foi levado ao medo pelas palavras da linha dura quanto ao deficit.
Em resumo, o medo de ameaças imaginárias impediu qualquer resposta efetiva ao verdadeiro perigo que nossa economia está correndo.
O pior vai acontecer? Não necessariamente. Talvez as medidas econômicas já adotadas bastem para realizar a tarefa e dar impulso a uma recuperação capaz de se sustentar sem ajuda. Com certeza é isso o que todos nós esperamos. Mas esperança não é plano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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