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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Voce compraria acoes de uma empresa estatal pouco transparente?

Talvez sim, pelo menos por certo tempo.
Afinal de contas, o governo já fez as ações dessa companhia se valorizarem mais de 3 mil por cento, por manobras de certos "espertos" (ou bandidos) interessados justamente nisso.
Mas, você confiaria na palavra desse presidente de companhia que disse que vai apresentar lucros em apenas dois anos de funcionamento, subsidiando conexões baratas para o povinho miudo?
Talvez, pois o governo, mais uma vez, está colocando mais de 3 bilhões de reais na companhia, ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro. Fica fácil, assim, fazer caridade com o dinheiro alheio, como sempre acontece.
Em todo caso, acredito que o governo poderia tratar do que é verdadeiramente estratégico: colocar crianças em escolas de boa qualidade o dia inteiro.
Oferecer conexões de internet, isso o setor privado pode fazer e o setor privado não vai fazer escolas primárias de boa qualidade, funcionando o dia inteiro...
Acho que falta foco, e faltam prioridades a esse governo.
Não esperem a educação melhorar de qualidade pelo futuro previsível: os analfabetos vão poder continuar escrevendo errado em alta velocidade...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 7 de maio de 2010)

Sem subsídios, estatal vai ter lucro a partir de 2013, prevê novo presidente
Valor Econômico, São Paulo, 7 de Maio de 2010

De Brasília, 06/05/2010 -- O maior entusiasta da restauração da Telebrás ao longo das discussões do Plano Nacional de Banda Larga, Rogério Santanna, será seu novo presidente. Segundo ele, nos moldes do plano apresentado ontem, a partir de 2013 a Telebrás começará a apresentar lucro e, daqui a dez anos, apresentará um Ebitda (receita operacional líquida) de 51%. "Não será uma empresa subsidiada, que vai onerar os cofres públicos", diz Santanna. "Será uma empresa eficiente, que focará mais em inteligência do que na operação de serviços."

O fato relevante divulgado na terça-feira pela Telebrás indicava que a empresa poderá oferecer serviços de acesso onde a oferta não for considerada adequada, o que significa baixa atratividade econômica para empresas privadas. Para Santanna, porém, no resultado final, haverá bom lucro.
Foto Destaque

Ontem, a ação PN da empresa subiu 19,5% com a notícia da sua retomada como protagonista do PNBL. Nas contas do assessor especial da Presidência, César Alvarez, a Telebrás terá receita de R$ 5,7 bilhões daqui a dez anos.

Para ter fôlego para esta missão, a estatal - que perdeu qualquer atividade operacional com a privatização do setor em 1998 -, será capitalizada em R$ 3,22 bilhões. Santanna destaca, porém, que essa operação não precisa ocorrer no curto prazo, porque, para atingir as metas definidas para 2010, os cerca de R$ 280 milhões que a empresa tem em caixa seriam suficientes.

"O investimento (capitalização) será do Tesouro Nacional, mas os acionistas minoritários poderão acompanhar", diz Santanna. Para ele, está descartada a possibilidade de a Telebrás fechar o capital. "Isso nos obriga a ter bons critérios de governança corporativa e transparência." Além de operar a rede de 30,5 mil km de fibras ópticas que o governo quer ter até 2014, a Telebrás terá garantia de fornecimento de serviços a órgãos públicos federais, como a Receita Federal e a Previdência Social, sem necessidade de licitação.

Santanna é atualmente secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento. Ele substituirá Jorge da Motta e Silva, que foi indicado à presidência da Telebrás pelo ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira, hoje deputado federal do PMDB do Ceará.

Para Santanna, em cerca de dois meses a empresa poderá ser reativada. Hoje, a Telebrás tem 226 funcionários, dos quais mais da metade está alocada na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em 2020, o governo prevê que a empresa chegará a ter 400 funcionários. (DF)

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Addendum:
O governo é um especulador (como eu sempre desconfiei). (PRA)

O especulador
Miriam Leitão
O Globo - 06/05/2010

Durante mais de dois anos o governo soltou balões de ensaio, fez declarações, desmentidos, informações contraditórias sobre Telebrás, apesar de ser uma empresa com ações em bolsa. O resultado foi o que se viu: as especulações produziram uma violenta volatilidade, uma alta espetacular das ações. Altas e quedas produziram ganhos aos mais espertos.

A notícia que saiu aos pedaços foi confirmada: a Telebrás será a gestora do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A forma correta de fazer isso era o governo decidir primeiro e anunciar depois. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deveria ter visto isso.

Manipular o mercado dessa forma é crime.

O governo Lula nada fez em matéria de telecomunicação.

Tudo o que aconteceu foi decorrente da privatização.

A telefonia estatal tinha 20 milhões de clientes dos serviços de telecomunicações. Agora, 12 anos depois, são 235 milhões. O número é maior do que a população porque alguns são consumidores de diversos produtos.

As empresas, como disseram ontem em nota, investiram R$ 180 bilhões nestes 12 anos. Nada disso seria possível se o setor permanecesse estatal.

O governo Lula não conseguiu sequer usar o fundo criado na venda das empresas, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, que tem hoje R$ 10 bilhões depositado lá pelas empresas do setor. Esse fundo era exatamente para ampliar serviços como a banda larga.

Depois de sete anos sem fazer coisa alguma, o governo Lula, a sete meses do seu fim, lança um plano para investir R$ 13 bilhões em cinco anos e reintroduzir o Estado no setor. E o faz com óbvias fanfarras eleitoreiras.

Não há dúvida que o serviço de banda larga tem que ser ampliado, mas para isso o governo tem recursos dos fundos setoriais (Fust e Funtel) e muito a fazer. Há oito anos, a Anatel não oferece uma licença de TV a cabo. A última oferta de novas frequências (espectro radioelétrico) para utilização de serviços sem fio foi feita no final de 2008. Os serviços de telecomunicações pagam mais impostos que perfumes, bebidas e armas. Só para usar um exemplo: no modem de internet móvel há 75% de impostos.

O ex-ministro das comunicações Juarez Quadros não tem dúvidas que é preciso ampliar os serviços de banda larga no Brasil, mas acha que o governo reativar uma empresa em processo de liquidação é o caminho errado.

— Uma estatal depende de procedimentos burocráticos, como restabelecimento de um quadro de pessoal, aprovação da proposta do Executivo pelo Legislativo.

Tem amarras para investir — diz ele.

A Telebrás quando funcionava era uma holding de prestadores de serviço, ela em si não prestava serviço ao público. A própria lei que criou a estatal tem que ser mudada. Isso sem falar na Lei Geral de Telecomunicações, que definiu os participantes do mercado.

O economista William Alves, da XP Investimentos, explica que a Telebrás era uma massa falida, com patrimônio líquido negativo de R$ 400 milhões. Ou seja, possuía dívidas maiores do que o valor da própria empresa.

Se ela fosse vendida, ainda assim não haveria dinheiro para pagar tudo. Os prejuízos trimestrais eram constantes, com pagamentos de passivos trabalhistas, pensões e aposentadorias.

Como mostra o gráfico abaixo, até o final de 2007 as ações da Telebrás negociadas em bolsas não tinham valorização, ficavam encostadas com preço baixo. Mas após as primeiras declarações do então ministro Helio Costa e do presidente Lula, de que queria usar a empresa no PNBL, teve início a especulação: — Quem comprou esse papel não foi o investidor, mas o especulador. Esse é um papel totalmente especulativo porque não é possível projetar nada sobre a empresa, até porque ela não oferece mais nenhum tipo de serviço, é apenas uma massa falida.

Não gera receita, apenas despesa. Tudo essa alta aconteceu em função das declarações do governo — explicou William.

Somente este ano, as ações subiram mais de 160%. Ontem, após o anúncio oficial do Plano, as ações chegaram a subir mais de 40%, e o pregão teve que ser interrompido por conta da forte volatilidade.

Se quisesse ampliar e aumentar o acesso, o governo poderia retirar barreiras, regular, ampliar licenças e frequências, fazer desonerações para os serviços que considera prioritário ou faixas de renda, e usar os fundos para subsidiar a baixa renda. Poderia ter atuado na oferta e na demanda ao longo dos últimos sete anos, mas escolheu o caminho de injetar gás numa estatal falida e quebrando todas as regras de respeito ao mercado de capitais.

Um comentário:

Paulo Henrique disse...

"Sem subsídios, estatal vai ter lucro a partir de 2013, prevê novo presidente

"a Telebrás terá garantia de fornecimento de serviços a órgãos públicos federais, como a Receita Federal e a Previdência Social, sem necessidade de licitação."

Não seriam as afirmações acima incoerentes?
Isto é, não seria isso uma forma mascarada de subsídio?