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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 8 de agosto de 2010

Um curral eleitoral: o Bolsa Familia

Muitos leitores não gostam de certas palavras, ou conceitos, que eu emprego neste meu blog. Um aviso talvez seja importante. Não faço posts, ou mantenho um blog, para agradar leitores, nem pretendo ser politicamente correto.
Apenas pretendo retratar certos aspectos da realidade, e acrescentar se possível certos comentários que espero inteligentes.
Fico em paz com minha consciência ao prestar um serviço público de inspiração cidadã.
Por isso mesmo não hesito em chamar as coisas pelos nomes que elas devem ter: demagogia é demagogia, mau uso do dinheiro público (aliás, privado...) é exatamente o que se leu algumas palavras atrás...
Sinto muito aos incomodados, mas vou continuar postando matérias que me parecem importantes. Os incomodados que se retirem.
Comentários a este post só os pertinentes e dirigidos ao objeto em causa.
Não vale atirar contra o pianista...
Paulo Roberto de Almeida

Família de bolsas: escola, gás, bandido e eleição. Bela tática para atrair votos
Claudio Carneiro
Opinião e Notícia, 5/08/2010

A olho nu, o Bolsa Família é um programa eficaz de inclusão social e superação da indigência.

Demanda da sociedade brasileira para a redução da desigualdade, os programas de transferência de renda – criados já no Governo FHC como o Bolsa Escola e ainda no Governo Lula rebatizando-o como Bolsa Família – integram um pacote de benefícios que visa quebrar o ciclo de miséria que atormenta famílias por gerações. Aquelas em situação de extrema pobreza – com renda per capita até R$ 70 – podem acumular – segundo as regras do programa – o benefício básico (R$ 68 por família) e o variável (R$ 22 por filho de zero a quinze anos até o máximo de R$ 66 ou ainda de R$ 33 por filho de 16 a 17 até o máximo de R$ 66) totalizando R$ 200 por mês.

Para garantir o direito, as famílias devem manter filhos e dependentes na escola e com carteira de vacinação em dia. O senador Cristóvam Buarque, um dos criadores do Bolsa Escola teme que a troca do termo “Escola” por “Família” tenha dado um indesejado tom assistencialista ao programa. Ao Bolsa Família foram incorporados, além do Bolsa Escola, o Cartão Alimentação, o Auxílio Gás e o Bolsa Alimentação.

A olho nu, o Bolsa Família é um programa eficaz de inclusão social e superação da indigência. Quando se vestem os óculos do clientelismo político tudo pode mudar. Há os que temem que se trate de um Bolsa Eleição – como já denunciou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que chama o programa de “um vício que cria dependência e desestimula a busca por emprego”.

Quando era um longevo candidato a presidente, lá pelo ano 2000, Lula declarou que lamentava o fato de o voto não ser ideológico: “Você tem uma parte da sociedade que, pelo alto grau de empobrecimento, é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica. É por isso que se dá tanto tíquete de leite. Porque isso, na verdade, é uma peça de troca, em época de eleição. Assim – dizia ele – você despolitiza o processo eleitoral”. Dez anos depois, esse discurso dele mudou muito. O Governo Lula gasta mais de R$ 15 bilhões por ano – 0,4% do PIB – somente com este programa.

O impacto do Bolsa Família nas últimas eleições presidenciais foi bastante superior ao gerado pelo desempenho da economia. Segundo o pesquisador Maurício Canêdo Pinheiro, da FGV, o programa foi responsável por um aumento de aproximadamente três pontos percentuais na votação de Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 2006, acima, portanto, do impacto do crescimento do PIB, de 0,34 ponto percentual. Já naquele ano, segundo Canêdo, ocorrera uma migração da base eleitoral para regiões menos desenvolvidas. Estas regiões são justamente as mais dependentes do estado e mais beneficiadas pelo programa – instituído pelo Governo em 2004 e que atende mais de onze milhões de famílias em todos os municípios brasileiros.

Bolsa Bandido é outro benefício

Muitas vezes, os beneficiários da Rede de Proteção Social acabam nas malhas de outra rede: a de candidatos que buscam se eleger a qualquer preço. Atento ao voto fácil que os benefícios podem trazer, o Tribunal Superior Eleitoral cassou, em 2009, o governador da Paraíba Cássio Cunha Lima – e seu vice. Durante campanha, Cássio distribuía dinheiro em cheques com o bilhetinho: “Esse é um presente do governador, lembre-se dele. Com os cumprimentos, Cássio Cunha Lima, governador”. Graças ao Ficha-Limpa, o “governador” está fora das próximas eleições e deverá ficar de molho até 2014. Provavelmente, ele não precisará do Bolsa Família pra sobreviver até lá.

Embora tenha alardeado que não era bandido, o “governador” correria o risco de ser preso se não estivesse num país tão benevolente com quem pisa na bola. Mas somente aqui, se preso fosse, ele poderia contar, num futuro próximo com a Bolsa para egressos do Sistema Prisional – já aprovado nas comissões do Senado – mas ainda sem data para ser votado. Uma bolsa-desemprego durante seis meses, no valor de um salário mínimo – ou cerca de três vezes o valor máximo do Bolsa Família. O projeto prevê ainda o prolongamento do benefício por mais três meses.

Para quem não está encarcerado, resta apenas trabalhar. Afinal, alguém tem que produzir para que os presos continuem usando seus telefones celulares livremente sem qualquer programa de capacitação ou trabalho. Não sabemos com quem falam ao telefone. Mas tem muita gente trabalhando para eles: O Governo Federal, por exemplo, criou o Auxílio Reclusão, uma “mesada” – outro salário mínimo – que a Previdência Social paga aos dependentes dos presos. Tem gente que prefere chamar de Bolsa Bandido ou Auxilio Criminoso. Segundo o site Consultor Jurídico, o Brasil tem 473.626 presos. Considerando que cada um deles tenha uma família de quatro pessoas podemos chegar a uma conta de quase dois milhões de potenciais eleitores. Nada mal. Um alerta: as vítimas de seus crimes não gozam do mesmo direito.

8 comentários:

Anônimo disse...

Caro Roberto Paulo,
com os predicados que voce informa nesta página, pode me informar se existe alguma experiência de "bolsa família" ou algo parecido em países europeus?
grato

Alberto

Lívia disse...

Adoro seus textos. Tenho 17 anos e moro em Manaus. Pretendo fazer Rel na UnB (estou estudando muito para isso). O que fazer depois, bom, ainda nao sei. Eu quero estudar muito e fazer muito, minha unica certeza.

Cria-se no Brasil um estado de pao e circo. A democracia eh defendida. Mas o que eh a democracia quando se troca a cidadania pelo pao? pao que lhe dah sustento, que lhe dah a vida.

(meu notebook nao tem acento, por isso o "eh", etc.)
voltarei mais vezes!
otima semana.

C@rlos Andr£ disse...

A implantação do Bolsa Família é questionável por muitos e aplaudidos por outros. A questão é o Brasil tinha um dos piors índices de Gini do mundo. Índice este que mede a distribuição de renda no país. Ao meu ver a implantação desse projeto é de bom grado para muitos brasileiros de baixa renda. Os presidenciável deveriam se preocupar em colocar em suas campanhas projetos pioneiros que ajudem a melhorar mais ainda o bem-estar da população. Outro assunto que o doutor PRA deveria abordar, talvez a posteriori é sobre a questão dos concursos.

Anônimo disse...

Os porcos não ficaram apenas tão ruins quanto os humanos. Eles os superaram. Os antigos coronéis que distribuiam pares de sapatos são amadores perto deles.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Tentando responder ou comentar todos os comentarios postados aqui:

1) Alberto:
Os paises europeus, social-democratas ou conservadores, criaram, desde as experiências pioneiras de Bismarck, mas especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, programas e mecanismos de complementação de renda, de serviços sociais, de compensação por "desvantagens sociais" que começaram muito generosos -- o que não era difícil, pois as economias estavam crescendo e havia poucos dependentes -- e foram se acumulando com distorções diversas.
Vários desses países tiveram de revisar, para baixo, esses mecanismos de transferência de renda sem condicionalidades, pois a dívida pública vem se acumulando, a população tem ficado mais velha (e aumenta, portanto, o número de dependentes, que sobrevivem longos anos na aposentadoria e nos cuidados médicos) e a crise fiscal desses Estados se aprofunda).
Considere, no entanto, que todos esses países tem populações altamente educadas, dotadas de equipamentos sociais já instalados, população imigrante (que faz trabalhos que os nacionais já não querem fazer) e sobretudo dispõem de alta produtividade do trabalho, ou seja, podem pagar, de certa forma, por esses benefícios, ainda assim cada vez mais problemáticos.
Inevitavelmente, os europeus vao ter de revisar esses programas, fazer todo mundo trabalhar mais, se aposentar mais tarde e diminuir os benefícios sociais.
Não existe milagre: como se diz, não tem almoço grátis.
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida disse...

Continuando a comentar ou responder:

2) Liv.:
O Brasil está criando um sistema simplesmente inviável. Com base numa taxação de 40pc do PIB, uma carga fiscal sobre os pobres ainda maior (nao de impostos diretos, mas de indiretos), um mercado de trabalho com alta informalidade (e portanto sem contribuições previdenciarias e outros recolhimentos sociais), o Brasil está criando um sistema "europeu" de benefícios sociais com uma população seis vezes mais pobre e sem produtividade para sustentar essas prodigalidades.
A consequencia é inevitável: a Previdência vai quebrar (aliás já quebrou, só não parou ainda de distribuir benefícios porque repassa a conta para o Tesouro, ou seja, deixa a conta para você mesma).
Mais ainda, o governo está criando dois Brasis: o que trabalha no mercado formal e paga a conta, e o que está fora do mercado formal e que, sendo "pobre", recebe uma mesada mensal para consumir.
Não creio que seja um sistema sustentável ou moralmente sadio.
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida disse...

Vai o último dos comentarios, por enquanto:

3) Carlos André:
Que o Brasil tenha um coeficiente de Gini pornográfico isso já é sabido. Que o Bolsa Familia corrija isso é questionável. Ele tranfere renda de uma fração da população para outra. Se ele por acaso deixar de existir, o indice volta a se concentrar e a população beneficiária deixa de ser pobre e volta a ser miserável. Ou seja, ela não é uma solução, apenas um expediente que mascara um problema real, que é a falta de qualificação educacional e técnico-profissional da maioria da população para exercer uma atividade "normal", de mercado, e auferir sua renda via emprego, salários e outros ganhos, e não via transferência administrada por políticos oportunistas.
Não se trata de atribuir a políticos a tarefa de "melhorar o bem-estar da população" e sim estabelecer políticas universais que qualifiquem a mão-de-obra, para que cada um tenha sua própria fonte de renda.
Assistencialismo demagógico é a pior desgraça que pode acontecer na vida de uma nação.
Eles estão criando um exército de assistidos, um quarto, talvez um terço da população na fila da assistência social.
Se você acha isso normal, eu não acho, aliás acho isso uma vergonha nacional.
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida disse...

Tinha mais um:

4) Anônimo que leu George Orwell:

Você está certo quanto ao Animal Farm (Revolução dos Bichos, na edição brasileira), mas a fábula não tem tanto a ver com a questão do Bolsa Família quanto com a questão do poder.
Os porcos superaram de fato os antigos donos da fazenda, mas isso tem a ver com a essência do totalitarismo, que é inerente aos porcos mais graduados, e guarda pouca relação com as políticas que estão sendo implementadas para a conservação do poder.
Digamos que nossos porcos tenham três neurônios a mais que os porcos de uma fazenda vizinha, que simplesmente estão inviabilizando (e só pode ser por estupidez congenital, burrice da grossa) o sistema produtivo que permitiria ao continuismo autoritário se manter no poder.
Nossos porcos se instruiram um pouquinho mais, digamos que constituiram uma "associação para delinquir", escapando do caudilhismo barato e ordinário...
Paulo Roberto de Almeida