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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Malthusianos: nao proliferam mas persistem...

Não existe tribo mais errada, e no entanto tão persistente, quanto a dos malthusianos, de todos os tipos. Os ecologistas atuais são, com raras exceções, os modernos representantes da espécie.
Abaixo um dos melhores artigos que já li sobre a questão nos últimos cem anos (bem, estou contando com folga para pegar os malthusianos do começo do século 20 também).
Paulo Roberto de Almeida

Cornucopianos vs. malthusianos
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 10 de janeiro de 2011 - Opinião - Economia

Paul Krugman publicou, no final do ano passado, um artigo no The New York Times, intitulado “O Mundo Finito”, o qual foi reproduzido por alguns jornais brasileiros, entre eles O Globo e O Estado de São Paulo. Baseado no recente aumento dos preços de algumas commodities no mercado internacional, Krugman vaticinou que, por vivermos num mundo cada vez mais escasso de recursos naturais, precisaremos “mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida à realidade”. Tal afirmativa resume, com clareza ímpar, o mantra preservacionista.
No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas enquanto a produção de alimentos e outros recursos não coseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.

Atualmente, vivem no mundo quase 7 vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos - e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar.

Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os “malthusianos” não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que "em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas coasteiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos." Em um discurso de 1971, ele previu que "até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos."

De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970. Mais: pelos dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante há quatro décadas, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.

Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Como Krugman, Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.

Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas - o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.

No próximo dia primeiro de janeiro, mais um “malthusiano” terá perdido uma aposta. Cinco anos atrás, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário.

Em artigo publicado no The New York Times no último dia 27-12-2010, Tierney explica por que ganhou a aposta:

“Novos campos gigantes de petróleo foram descobertos nas costas da África e do Brasil. Novas reservas no Canadá fornecem agora mais petróleo para os Estados Unidos do que a Arábia Saudita. A produção doméstica americana também aumentou ano passado e o Departamento de Energia projeta mais aumentos para as próximas duas décadas.”

“Mas a verdadeira boa notícia é a descoberta de vastas quantidades de gás natural, cujo preço é hoje menos da metade do que era há cinco anos.”
“Pode ser que algo inesperado mude estas boas tendências, mas por enquanto eu diria que o conselho de Julian Simon permanece válido: é fácil fabricar notícias com vaticínios apocalípticos, mas você pode ganhar um bom dinheiro apostando contra elas” .

Artigo publicado pela versão digital folheável do Diário do Comércio em 10/01/2011

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