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sábado, 19 de fevereiro de 2011

"Progressos" da educacao brasileira (e como...)

Sem comentários (e precisa?)...

O professor que levou o narcotráfico, a cocaína e o tráfico de armas para dentro da escola!
Reinaldo Azevedo, 19/02/11

Um professor de matemática da escola João Octávio dos Santos, que fica no Morro do São Bento, em Santos, resolveu aplicar uma estranha prova, conforme vocês verão abaixo. Leiam com atenção. Volto em seguida:

Por Talita Bedinelli, na Folha:
“Zaroio tem um fuzil AK-47 com um carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas ele poderá disparar?”

A questão acima fazia parte de uma avaliação diagnóstica voltada para alunos de 14 anos de uma escola estadual de Santos (litoral de São Paulo), segundo pais e estudantes ouvidos pela Folha. O professor queria testar os conhecimentos em matemática dos alunos do ensino médio no primeiro dia de aula, na última segunda-feira.

Além da questão, eles deveriam responder a outros cinco problemas que versavam sobre a fabricação de cocaína e o lucro com a sua venda, o consumo de crack, a venda de heroína “batizada” e o dinheiro recebido por um assassinato encomendado. A prova, que teria conteúdo quase idêntico ao de mensagem que circula pela internet satirizando o crime organizado no Rio, teria sido aplicada em ao menos duas salas (uma de 3º ano e outra de 1º), com cerca de 80 alunos.

A Secretaria Estadual de Educação diz que o professor de matemática foi afastado e o caso será investigado. A prova deveria ser respondida e entregue ao professor, mas uma das alunas, de 14 anos, sem entender os enunciados, levou para a casa e pediu ajuda aos pais. “Fiquei chocada. Nas questões o crime só dá lucro”, diz a mãe da menina que procurou a direção da escola e registrou um boletim de ocorrência na polícia.

Segundo os estudantes, o professor dá aulas na escola há pelo menos cinco anos e já foi vice-diretor. Os estudantes dizem considerá-lo bom. “A gente viu as questões e deu risada. Se fosse algo mais suave ninguém teria prestado atenção”, diz Renato dos Santos Menezes, 18, estudante da sala do 3º ano que também fez a prova.

Uma aluna diz que em 2010 ele aplicou um exercício com conteúdo parecido. A questão, vista pela Folha, pedia para os estudantes calcularem quantas rotas de fuga teria uma quadrilha que vai assaltar uma joalheria em um shopping center.

A escola João Octávio dos Santos fica no Morro do São Bento, região com problemas de criminalidade. A Folha não localizou o professor, que pode ser indiciado por apologia ao crime.

Voltei [Reinaldo Azevedo]
E aí? Uma das cascatas mais vigaristas e influentes da educação reza que o “educador” deve respeitar o “universo do educando”, usando elementos do seu cotidiano para, a partir daí, fazer uma reflexão política. É coisa de esquerdopata, é óbvio. Seu maior teórico foi Paulo Freire, secretário da educação de Luíza Erundina na prefeitura de São Paulo e homem que introduziu em São Paulo o que ficou conhecido como “progressão continuada” — sim, é obra do PT!

Eis aí… Se o professor não é só um vapor barato do narcotráfico ou maluco, então tem na cabeça um monte dessas titicas paulo-freirianas. Ainda voltarei a esse assunto em outros posts: o dito-cujo é apenas a expressão mais pontualmente escandalosa de mal mais geral.

8 comentários:

Mário Machado disse...

Nunca entendi essa maluquice da experiência do aluno. Claro, quando possivel um exemplo cotidiano é de muita valia. Um pipoqueiro pode ser um belo exemplo para ensinar os fundamentos da economia, por exemplo.

E receitas e coisas assim ajudam na matemática e por ai vai. Mas, focar só nisso é míope por que se vai a escola para alargar os horizontes.

Ou por acaso um aluno do Brasil não pode aprender a física de uma nevasca por que elas não ocorrem no território nacional, exceto alguns poucos municípios do sul.

Se focam no anexo e esquecem o principal. Eu tive professor de matemática famoso por suas anedotas e outras técnicas para manter os zumbis adolescentes despertos. Mas, nunca deixou de ensinar as equações como elas tem que ser ensinadas.

Abs,

Anônimo disse...

Caro Prof. PRA,

O texto citado é de um primarismo assombroso. Reduzir a obra de Paulo Freire ao comentário acima chega às raias do criminoso.
Obviamente, a prova administrada e o professor citado na matéria são os verdadeiros problemas, não a obra de Paulo Freire, um dos educadores mais respeitados no mundo todo, inclusive nos EUA, a julgar por várias universidades americanas e pelas edições das obras de Paulo Freire.
A ideia de trabalhar a partir da experiência do aluno remonta não a Paulo Freire apenas, mas tb a Anisio Teixeira (outro de nosso maiores e mais respeitados educadores), que foi buscá-la justamente no sistema educacional americano, e em seus precursores.
O verdadeiro debate a ser feito é sobre a qualidade do ensino oferecido pela rede estadual de SP, comandada pelo PSDB a 16 anos. Por favor, peço que considere a possibilidade de promover em seu blog uma reflexão menos matizada do universo da educação e seus expoentes.
Agradeço como seu leitor que, como educador, sentiu-se ofendido com tamanho primarismo do colunista e da reportagem. O nível do seu blog e de suas discussões é muitos e muitos degraus acima disso.
Abraços.

Anônimo disse...

Prof. PRA,
Cumpre esclarecer que, no inicio de meu comentário, não me referia ao que foi postado pelo Sr. Mario Machado, logo acima do meu.
Desculpe se pode ter aparentado dessa forma.
Referia-me, isso sim, ao comentário do jornalista Reinaldo Azevedo que, ao invés de discutir a falência da educação do PSDB em SP, tenta desviar a responsabilidade para o saudoso e respeitadíssimo Paulo Freire, que nem entre nós está para poder responder a tamanha injustiça.
E que falta ele nos faz...
Um país que tem Paulo Freire entre seus pensadores na Educação deveria se orgulhar, independente da orientação política...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo,
Não vou comentar agora, justamente por você ser Anônimo, e não me cabe discutir com desconhecidos.
Se voce quiser debater a questão, em lugar de xingar jornalistas, exponha claramente seus argumentos, dizendo por que você acha Paulo Freire genial, e assine com seu próprio nome.
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Caro Prof. Paulo Roberto,
Não xinguei o jornalista, como se pode verificar pelos meus dois comentários. E lamento que tenha lhe parecido desta forma.
Apenas considerei indigno o expediente usado no texto dele para desviar a atenção do que realmente se deveria estar discutindo: o estado calamitoso da educação pública em SP.
E mantenho a opiniao de que o argumento usado por ele é furado, ainda mais ao atacar um intelectual como Paulo Freire, respeitadíssimo, e cuja obra transcende seu viés político.
Apesar de todo o seu engajamento em movimentos populares, a obra de Paulo Freire é reconhecida e respeitada por educadores de todos os matizes políticos, exatamente porque seus pressupostos e propostas são inovadores, de extrema singeleza e ainda assim tremendamente eficazes.
De todo modo, peço desculpas por postar de forma anônima em seu blog.
De maneira alguma era com a intenção daninha.
Apenas prefiro discutir de forma reservada, se o senhor me permite.
Mas se lhe incomoda o anonimato, respeito o seu espaço e a sua decisão.
Agradeço a sua abertura e continuo um leitor fiel do seu blog, ainda que discorde de alguns posts, como este do R.A.
Mas que chato seria conversar somente com quem pensa como a gente...
Boa semana!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anônimo retraído,
Não se trata de discutir apenas com quem pensa como a gente, ao contrário. Só se pode debater argumentos opostos, contraditórios ou diferentes.
A questão é que você não apresenta argumentos, apenas adjetivos:
1) "Estado calamitoso da educação em SP": onde estão os seus números para provar isso? Você não consulta os dados nacionais e não vê que SP está à frente de todos os demais estados da federação, com uma única exceção?
Isso apenas revela "ânimo partidário", justamente atacado pelo jornalista que você detesta. Pois eu vou postar mais um comentário desse jornalista que não vai deixar você feliz...
2) "intelectual como Paulo Freire, respeitadíssimo, e cuja obra transcende seu viés político"
Onde está isso? PF é justamente seguido pelas pedagogas brasileiras desde meio século e se você me provar que nossa educação é primorosa, ganha um prêmio de má fé...
3) "Tremendamente eficazes"???!!!
Só posso responder assim: ???!!!
Poderia também acrescentar: *#$%@+&!!!

Você está querendo ofender a inteligência dos leitores desse blog?

Se você continuar assim, com adjetivos em lugar de explicativos, você não vai muito longe.
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Olá, Professor.

Infelizmente, apesar de concordar com o sr., o que mais se vê hoje em dia, especialmente na internet, são "debates" entre pessoas que pensam exatamente da mesma forma, umas reforçando o preconceito das outras. E isso vale para a "esquerda" e também para a "direita"...
Da minha parte, penso que o front oriental já nos deu trincheiras o suficiente...

Por isso, considero seu blog um espaço propício para se travar debates trans-versais.

Respondendo às questões colocadas:

1) "estado calamitoso" é a única forma de se descrever uma rede educacional onde o caso narrado ocorre... Veja que P.F. foi secretário de ed. da capital, nos idos dos anos 80. Computar um caso aberrante do presente como responsabilidade do pobre velhinho já falecido é injusto, muito injusto...

2) Não só pelas pedagogas brasileiras. PF é estudado e respeitado por teóricos como H. A. Giroux e P. Perrenoud, de espectros ideológicos bastante distintos (um marxista roxo e o outro consultor de governos "liberais"), o que - para mim - já demonstraria a relevância do pensamento freireano. O fato de muitos de seus pressupostos integrarem o arcabouço educacional brasileiro, forjado nos anos 90 (em plena era dita "neoliberal" - sempre com aspas, por favor!)) me parece outro indicativo forte.

Um estudo mais detalhado exigiria um mergulho mais detido no campo da Educação. Com tempo, poderia até realizá-lo, mas, por ora, parece-me suficiente.

3)Não é preciso se exaltar, prof. :-))))) Ao estudar o método de alfabetização de adultos de Paulo Freire, por exemplo, já é possível constatar sua inegável eficácia (bastante documentada, aliás). panaceia não existe, claro.

Quanto a "ir muito longe", lembro que Kant passou a vida inteira sem nunca ter saído de sua cidade natal de Könisgberg. Mas Deus me livre e guarde de tamanha petulância! Fica apenas a anedota, por favor... :-)

E como o exemplo de Odisseus já nos ensina, quem vai longe demais, muitas vezes acaba se perdendo...

Abraços retraídos.

Gustavo Mendonça disse...

Paulo Freire nada mais é do que um mais esquerdista adepto da estratégia gramcista de dominação cultural. Antigamente tínhamos em plena produção Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meirelles, Graciliano Ramos, Herberto Sales, Antonio Olinto, João Guimarães Rosa, Nélson Rodrigues,Miguel Reale,Gilberto Freyre, José Guilherme Merquior, Otto Maria Carpeaux, etc. Quem nós temos hoje em dia?

Cadê a tal "eficaz educação freiriana". Nada mais mendaz.