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domingo, 26 de junho de 2011

Um inimigo do governo, que horror -- sempre vendo o lado ruim das coisas

Esse jornalista não tem jeito e não tem equilíbrio: em tudo ele vê uma coisa ruim do governo (ou várias coisas ruins ao mesmo tempo).
Vai ser pessimista assim lá em... Pasárgada!

Petista venceu disputa para a FAO. Pior para a FAO!
Reinaldo Azevedo, 26/06/2011

Posso até decepcionar alguns amigos e admiradores com certas opiniões que tenho. Acontece com freqüência. Como não penso por bloco — isto é, rejeito idéias que vêm em pacotes —-, muitos me esperam mais conservador onde posso ser um tanto ousado; outros cobram alguma ousadia onde me mostro inamovível, e assim vai… Costumo pensar cada coisa em sua natureza. Jamais me obrigo a gostar do que não gosto para que não me achem “incoerente”. Mas me desviei um pouco. Eu queria dizer o seguinte: posso até decepcionar alguns amigos e/ou admiradores às vezes. Mas jamais decepcionarei um petralha! Nunca! Eles não gostarem de mim é um imperativo ético… para mim!!! Por que isso?

O petista José Graziano venceu a disputa para o cargo de diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). E lá veio a petralhada: “Quero ver você falar mal disso também…” Como??? “Disso também???” Mas essa é uma das tarefas mais fáceis que tenho. Graziano responde por um estonteante fracasso do governo Lula: o Fome Zero. Quem ainda se lembra daquela patacoada? Durante quase um ano, o Apedeuta insistiu na sua “revolução”. E acabou fazendo o que os petistas sempre fazem: copiar tucano. Juntou todos os programas sociais do governo Fernando Henrique Cardoso no Bolsa Família.

Eu posso provar o que digo, entendem? No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, Lula fez um discurso no semi-árido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois não! Segue em vermelho.

Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.

Voltei
Viram só? Para Lula, o Bolsa Família tirava do pobre a vontade de plantar macaxeira. O Fome Zero era uma bagunça sem solução. Assim, no dia 20 de outubro de 2003, o Apedeuta, segundo quem os programas de renda geravam vagabundos, editou uma Medida Provisória criando o Bolsa Família, que juntava, entre outros programas, o Bolsa Escola (criada por Paulo Renato) e o Programa Nacional de Renda Mínima, criado por Serra no Ministério da Saúde. Não acreditem em mim. Acreditem no texto da MP, de que segue um trecho:
(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação - “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde - “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.

Isso quer dizer que o programa de Graziano tinha ido para a cucuia. E daí? Os estrangeiros não sabem disso, e o Brasil fez uma campanha intensa, opondo um tantinho os países pobres contra o ricos — e se fazendo representante dos pobres, claro. Por 92 votos a 88, Graziano venceu Miguel Ángel Moratinos, ex-ministro de Relações Exteriores da Espanha. Para sorte dos países que dependem da FAO, torço sinceramente para que ele não demonstre naquele organismo a incompetência comprovada que demonstrou no Brasil.

Primeira vitória em meio a derrotas
Eu estou entre aqueles que não vêem grandes avanços de conteúdo na política externa brasileira. Por enquanto, acho que a diferença é mais de retórica, de estilo, o que não deixa de ser, vá lá, uma manifestação positiva. O fato é que o Brasil obteve a primeira vitória na disputa por um organismo multilateral em nove anos de petismo, o que dá prova da incompetência do Itamaraty nesse tempo. Abaixo, a listinha que vocês conhecem com as derrotas e as besteiras feitas pelo ministério. Volto para encerrar:

LISTA DE BESTEIRAS E DERROTAS DE CELSO AMORIM:

NOME PARA A OMC
Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!! Culpa do Itamaraty, não de Seixas Corrêa.

OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil - do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócos há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur - mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio anti-semita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranqüilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconheceu o governo.

AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como uma democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio! A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a seqüestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

CUBA, PRESOS E BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinejad e comparado os protestos das oposições contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.

Encerro
A coisa não deixa de ter sua graça. De todos os candidatos que o Brasil apresentou para disputar cargos em organismos multilaterais, Graziano é, sem dúvida, o pior, uma vez que é de incompetência comprovada. E foi justamente com ele que venceu.

Pronto! A petralhada não tem por que se decepcionar!

5 comentários:

Rozenbaum disse...

Paulo,
O reinaldo azevedo cai em uma falácia:
Argumentum verbosium (prova por verbosidade):
A partir de um único exemplo, ele generaliza todas as pessoas/famílias que ganham o bolsa família como vagabundas, que param de trabalhar após ganhar essa ajuda.
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Certo é que o FHC em seu governo criou o bolsa escola e outros fomentos.
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Certo também é o fato que o govenro petista expandiu a níveis consideráves essas políticas que são de suma importância para tirar muitas famílias da pobreza. Mas para o RA isso é desconsiderável né
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Certo também é que essa políticas a curta prazo são ótimas. Mas que a médio e longo prazo não podem se tornar cristalinas e duradouras.
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É necessário portanto, que aprimoremos as políticas de cunho social, preservando princípios de parcimônio fiscal, cobertura do público, efetividade de resultados e foco n os mais pobre de forma a superar estruturalmente o círculo de miséria e da desigualdade. Nesa medida, o aprimoramento das política ssociais - especialmente aquelas vocacionadas a transferência direta de renda e as voltadas a educação - deve ter como prioridade o combate a misériae a elevaçãodos níveis educacionais dos jovens, de modo a garantir a superação estrutural da pobreza e da elevada desigualdade.
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Veja, não sou petista, mas do mesmo jeito que muitos petistas acham que o brasil surgiu em 2003, o RA acha que tudo foi criação do FHC.. Ou você discorda?
abs e boa semana!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Um comentário que desapareceu, inadvertidamente, mas que coloco aqui:

amauri deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Um inimigo do governo, que horror -- sempre vendo ...":

Bom dia Paulo!
O argumento do Reinaldo sobre o fome zero está errado? abs

Aproveito, também, para responder ao Rozembaum:

Não, o Reinaldo não está errado.
Quem está errado é quem acha que o Fome Zero, ou o Bolsa-Família acabam com a miséria, ou a pobreza.
Não acabam.
Eles apenas subsidiam o consumo dos pobres, dando uma renda para eles gastarem em comida ou qualquer outra coisa.
Se terminar a fonte da benesse, eles voltam ou continuam na pobreza, provavelmente em pior situação do que antes, pois antes tinham alguma atividade de produtividade marginal ou de subsistência, que abandonaram (como biscate, emprego volante, etc.) para viver de "renda".

Só que conhece pouco economia pode acreditar que é normal um país colocar um quarto de sua população na assistência pública.
Isso pode até ser caridoso, mas NÃO RESOLVE nenhum problema estrutural, porque simplesmente distribuição de renda não é criação de riqueza.
Esqueçam Lula ou FHC.
O que se está fazendo é apenas má economia, simplesmente isso.
Paulo Roberto de Almeida

Rozenbaum disse...

Só alguém de muita má fé e desosnestidade intelectual para acreditar que o bolsa família resolve pobreza. Não disse isso em nenhum momento.
Concordo com tudo que foi dito. MAs vocês há de concordarem que o programa é necessário em um país como o nosso.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Rozembaum,
Nao o acusei de má fé, apenas de desvio econômico.
Nao creio que era absolutamente necessário. Nao creio que o Brasil tinha, antes de 2003, 45 milhões de pessoas morrendo de fome.
Acredito que havia problemas, mas não com essa extensao.
Paulo R Almeida

Rozenbaum disse...

Infelizmente não podemos postar gráficos e tabelas de excel aqui. Mas achei uma tabela interessante quanto ao percentual de pobres (Ie: linha de pobreza de R$ 196,00 em 2009) na população brasileira
1995/1998 - 38,24
1999/2002 - 38,65
2003/2006 - 35,09
2007/2009 - 25,79
Fonte: IETS com base em microdados da PNAD/IBGE.
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Retirei esses dados do livro 2022, propostas para um Brasil melhor dos economistas Fabio Giambiagi e Claudio Porto. O gráfico se encontra na página 7 do livro
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Quanto ao desvio ou despêndio econômico: A própria The Economist já provou que o custo financeiro é baixo: 0,4% do PIB.
http://mansueto.files.wordpress.com/2011/03/the-future-of-the-state.pdf
Páginas 19 e 20.
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Veja, defendo essa política a curto prazo. A médio e longo ela é burra!
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abs
ps: Apesar de vir normalmente M vir de B, Rozenbaum é com N mesmo. Sobrenome polonês!