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domingo, 2 de outubro de 2011

Rio Grande do Sul de hoje = Brasil de amanha; ou vice-versa...


Não nos enganemos: o Rio Grande do Sul não está pior do que o Brasil. Como outrora estado mais desenvolvido da federação, o de maior IDH, ele simplesmente chegou na frente de outros estados porque sua população imigrante, seu espírito empreendedor, suas virtudes de trabalho habilitaram o estado a dar um salto à frente dos demais, durante muito tempo.
Não nos esqueçamos que os grandes surtos de modernização nacional, na era Vargas e durante o regime militar, foram impulsionados sobretudo por gaúchos, militares ou civis, em todo caso comprometidos com a causa do progresso social, o desenvolvimento material, a boa gestão da coisa pública via políticas racionais, de corte positivista.
Tudo isso acabou, na redemocratização e na "nordestinização" do Brasil que se seguiu (não tenho nenhum preconceito contra o Nordeste, apenas constato fatos, de cultura e de organização social e política, por isso não me venham com bobagens politicamente corretas; eu sou politicamente incorreto, e digo as coisas como as coisas são).
O Brasil virou um antro de espertezas políticas, de prebendalismo, de patrimonialismo, de fisiologismo, de corrupção, de cultura de bondades estatais e de assistencialismo vagabundo, com políticos medíocres a alimentar tudo isso.
Não se trata apenas de que o RS foi "contaminado" por essa mentalidade; ela já existia, apenas se pode desenvolver mais livremente pós-1985. Não só o RS, mas SP também sofreu com a mesma mentalidade.
Portanto, não se trata de que o RS ficou atrás do Brasil, ao contrário: ele parece cada vez mais com o Brasil. Ele apenas antecipa o que vai ocorrer, já está ocorrendo, aliás, com todo o Brasil. A mediocridade política leva o país para a decadência econômica.
Só ficou visível no RS agora, porque o estado estava muito ¡a frente do Brasil. Agora já está mais "normal", mais parecido com o Brasil.
Bem-vindo à decadência...
Paulo Roberto de Almeida 

Economia
PIB desacelerado não tira a majestade do Rio Grande

Ana Clara Costa, de Porto Alegre
Veja online, 1/10/2011

Rio Grande do Sul sofre as mazelas de um estado que não investe
Economia gaúcha cresceu abaixo da média nacional nos últimos anos, prejudicado pela concorrência asiática, por problemas climáticos e, sobretudo, pelo baixo investimento do estado

É ponto pacífico entre os próprios gaúchos que a economia do Rio Grande do Sul poderia estar melhor. Pouco a pouco, o forte orgulho das raízes, que sempre foi característico da população, dá lugar a uma visão cada vez mais crítica que tem tudo para estimular a melhora do estado. Prejudicado por um cenário externo desfavorável e pela falta de investimento público, o Rio Grande do Sul tenta mudar. A missão exigirá uma atuação forte da sociedade junto aos políticos locais e ao governo federal, cobrando investimentos e boa gestão. Para os gaúchos que desbravaram muitas fronteiras brasileiras, vencer mais um obstáculo não deverá ser impossível.

Duas palavras resumem hoje o sentimento da população gaúcha ao olhar o passado, constatar o presente e vislumbrar o futuro: indignação e impotência. O estado que por décadas figurou como exemplo de desenvolvimento econômico, educação e saúde perde cada vez mais espaço para outras regiões. E não se trata apenas de bravata de números e minúcias de institutos de pesquisa. A questão é profunda. A economia do Rio Grande do Sul, de fato, expande-se menos que a média nacional. Entre 2002 e 2010, enquanto o avanço estadual foi de 25,1%, o Brasil cresceu 36,5%. O estado migrou, na última década, da 1ª para a 4ª posição no ranking de educação no país, além de perder duas posições no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Na prática, isso significa que o Rio Grande do Sul, um dos estados com maior potencial para surfar a onda de crescimento que vive a economia brasileira, não consegue fazê-lo.

Para entender o fenômeno da estagnação – e, em alguns casos, retrocesso – que o Rio Grande do Sul vive, o site de VEJA percorreu cidades gaúchas, conversou com lideranças econômicas e políticas e traçou um cenário dos principais desafios que impedem o estado de prosperar como deveria, compondo um especial de quatro matérias que serão publicadas a partir deste domingo.

Os problemas detectados são tanto de origem doméstica como  de origem externa. Os primeiros são velhos conhecidos de todos os brasileiros: os efeitos das mudanças climáticas na agricultura, a apreciação do real ante o dólar e o forte aumento das importações. O setor do agronegócio, por exemplo, responde por mais de 10% da economia do estado e 12% da produção agrícola nacional. Cerca de 13% do que é produzido é exportado. Com o dólar mais barato nos últimos anos, o valor recolhido em reais com as vendas externas ficou menor, prejudicando os investimentos. O mesmo ocorre com os embarques ao exterior de produtos industriais, como calçados, móveis e máquinas agrícolas, que amargam progressiva perda de competitividade. No mercado doméstico, o espaço perdido pelos produtos gaúchos é preenchido pelas importações.  “O Rio Grande do Sul é o estado mais meridional do país e exporta acima da média nacional. Com o real valorizado, ele acaba perdendo mais”, afirma Heitor José Müller, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

Desvantagens – Todos os estados brasileiros compartilham dessa problemática da baixa competitividade – que o câmbio só faz ficar mais evidente – em relação, sobretudo, aos produtos asiáticos. Há fatores próprios do Rio Grande do Sul, no entanto, que ampliam essa desvantagem. Após a pujança industrial dos anos 1990, o governo gaúcho fechou os olhos para investimentos em todo tipo de infraestrutura: de estradas a hidrovias, de ferrovias a portos, e também nos aeroportos. Enquanto São Paulo, por exemplo, concedeu à iniciativa privada a maior parte de suas estradas e hoje possui a maior rede de rodovias duplicadas do país, o Rio Grande do Sul tem menos de 20% de sua malha duplicada. Os rios que desaguam na Lagoa dos Patos formam um complexo de hidrovias que funciona muito abaixo de seu potencial. Já o porto de Rio Grande, no extremo sul do estado, passou por reformas, mas ainda assim é incapaz de suprir toda a necessidade de escoamento de mercadorias. Em Porto Alegre, o trânsito em horários de pico nada fica a dever ao da capital paulista.

Não que o resto do Brasil tenha feito sua “lição de casa” de maneira exemplar. As deficiências na infraestrutura são um mal que afeta a maior parte dos municípios brasileiros, ainda que em escalas diferentes. O que chama a atenção, no entanto, é que o Rio Grande do Sul, ao longo de décadas, muniu-se de armas econômicas e sociais suficientes para voar alto. Sem investimentos mínimos do governo, entretanto, o que poderia ser uma viagem às alturas está prestes a virar um voo de galinha. “O setor empresarial gaúcho sempre procurou fazer as coisas por si só, sem esperar a iniciativa do governo. Mas chega um momento em que não se pode avançar se não houver um mínimo de estrutura”, afirma o empresário Glademir Ferrari, que atua no setor moveleiro e preside o Sindicato das Indústrias do Mobiliário (Sindmóveis) de Bento Gonçalves, o principal polo moveleiro do estado.

Política difícil – Os problemas políticos que levaram o Rio Grande do Sul a esse ponto inserem-se num amplo contexto. Em primeiro lugar, diferentemente de alguns estados do Nordeste beneficiados pelo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), a economia gaúcha ficou para trás nos últimos anos. Em parte, por não precisar de obras consideradas urgentes, como as de saneamento básico, mas também por não abrigar um governo aliado ao Partido dos Trabalhadores. Durante as duas gestões do ex-presidente Lula, Germano Rigotto (PMDB) e Ieda Crusius (PSDB) compuseram um governo estadual pouco articulado com seus opositores e falharam em brigar por benefícios ao estado em Brasília. “O governo passado saneou as contas, embora tenha sido pilotado por uma governadora politicamente truculenta”, afirma o presidente da Fecomércio gaúcha, Luiz Carlos Bohn, ressaltando que o estado pode, agora, voltar a tomar empréstimos internacionais.

Atualmente, com o petista Tarso Genro à frente do governo estadual, a expectativa de alguns é que as coisas mudem de figura. Genro tem, inclusive, flertado com a oposição – em um movimento poucas vezes visto no Rio Grande. No entanto, nada de concreto aconteceu até o momento, a não ser promessas de um metrô para Porto Alegre – um projeto pilotado, sobretudo, pelo prefeito da cidade, José Fortunati (PDT). Apesar de nove meses de mandato sem nenhuma grande realização, o sentimento geral é positivo em relação à gestão de Genro.

Por fim, parte da culpa pela situação atual pode estar numa característica própria do gaúcho, transferida para a política, que é o gosto por uma boa briga. Essa preferência pode ser, em tese, pródiga. De uma boa discussão surgem, às vezes, ótimas ideias, que traduzidas em ação, podem se transformar em políticas bem-sucedidas. Infelizmente, dizem os especialistas, não que é tem sido visto. O poder público local tem dedicado muito tempo às “peleias” sem que as realizações venham a contento com as necessidades do estado. O chamado grenalismo – termo criado para denominar a rivalidade entre gremistas e colorados e que ganhou um sentido maior, de uma dicotomia muito acentuada – faz com que a própria população tenha dificuldade em adotar posições neutras sobre quaisquer temas, prejudicando a convergência de ideias e a criação de consensos. Sem isso, nenhum alinhamento político será suficiente para fazer o Rio Grande do Sul voltar a engrenar.

Leia amanhã: Gosto pela “peleia” nem sempre traz resultado

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