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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Industria brasileira nos anos 90 (livro) - resenha de Mario Salerno

Mais uma reprodução de um livro que pode ter sua importância para analisar a indústria brasileira em épocas passadas, numa resenha feita por acadêmico então trabalhando no Ipea:


Um balanço dos anos 1990ImprimirE-mail
Mario Sergio Salerno
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O livro - uma coletânea de oito capítulos precedidos por breve e genérica introdução -realiza um balanço da abertura da economia brasileira ao comércio internacional e ao investimento direto externo (IDE) realizada nos anos 1990 para sustentar o processo de privatizações e os desequilíbrios na balança comercial que se seguiram à paridade cambial introduzida pelo plano Real. Para tanto, analisa as conseqüências do IDE, os impactos da abertura sobre o conteúdo importado na indústria, a inserção internacional das grandes empresas de capital nacional, os padrões de integração comercial das filiais de empresas transnacionais, as características e impactos das empresas estrangeiras no comércio exterior brasileiro, o papel do Mercosul no processo de internacionalização comercial do Brasil e o Mercosul em si, finalizando com considerações sobre política industrial.

Um problema comum em coletâneas é a heterogeneidade das contribuições. A obra em análise não foge à regra. Ela poderia ser muito potencializada se houvesse uma amarração entre os capítulos - por exemplo, numa introdução ou num capítulo final que fizesse um balanço crítico, comparasse resultados e análises em que as discussões se repetem.

Os autores discutem a literatura que considerava que as transnacionais incrementariam as exportações e a competitividade da economia, sendo as importações um movimento passageiro, que cessaria quando os investimentos industriais se concretizassem. Levantam dados empíricos para contestar tal movimento "virtuoso". Esse é o ponto alto do livro. Os dados mostram que o aumento do IDE não se refletiu na taxa de investimento, pois uma parte considerável foi destinada à compra de ativos já existentes, ao contrário do que ocorreu na China, onde 95% do IDE foi canalizado para novos ativos. O peso das empresas estrangeiras passou de 27% para 42% do faturamento total da indústria brasileira; as filiais de empresas estrangeiras não exportaram proporcionalmente mais e importaram 26% mais do que as nacionais de mesmo tamanho e setor. O processo de abertura dos anos 1990 não resultou em maior presença mundial das empresas nem dos produtos brasileiros, mas aumentou o passivo externo e o consumo de bens intermediários produzidos alhures. Para os mercados centrais eram enviadas fundamentalmente commodities, ao passo que o Mercosul contribuiu para melhorar a inserção de produtos manufaturados.

Se os autores obtêm sucesso nas suas teses sobre as características e o efeito da abertura nos anos 1990, nada falam sobre o ímpeto exportador nos anos 2000, que abre um caminho alternativo de pesquisa. A desvalorização cambial e o regime de câmbio flutuante introduziram um novo cenário, mas há evidências de que as empresas remanescentes saíram fortalecidas, o que, aliado ao incentivo às exportações, principalmente a partir de 2003, promoveu uma forte mudança no quadro externo brasileiro.

Mario Sergio Salerno

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