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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Guantanamera... Yo soy un hombre sincero...

De donde cresce la palma...
Homens sinceros, e corajosos, só tem uma palavra, e nunca se dobram à conveniência e à acomodação com quem ocupa (temporariamente, se espera) o poder.
Quem o ocupa, pode ordenar muita coisa e, claro, espera contar com a obediência dos passivos.
Mas não pode contar, pelo menos não em todos os casos, com que os homens de Guantanamo -- os da canção e mesmo os atuais ocupantes -- pensem exatamente como pensa o poder. Isso nenhum poder superior consegue assegurar, mesmo sob ameaça de fuzilamento, ainda que virtual.
Homens sinceros conservam autonomia de pensamento, mesmo em condições adversas.
Nunca se deve esperar hipocrisia de quem não depende de favores ou de concessões.
Acho que fui claro...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 1/02/2012
Revejam esta foto:

Aquele que aparece com ar quase infantil amarrando a venda do condenado à morte é Raúl Castro. Pelo menos 17 mil pessoas foram assassinadas assim na ilha. Estima-se em 83 mil as que morreram afogadas tentando fugir do país! Adiante.
Em janeiro do ano passado, o presidente da China, Hu Jintao, visitou os EUA. Ele e Barack Obama concederam uma entrevista coletiva conjunta. O americano afirmou com todas as letras:
“A história mostra que as sociedades são mais harmônicas, as nações são mais bem-sucedidas, e o mundo é mais justo quando os direitos e as responsabilidades de todos os países e todos os povos são cumpridos, incluindo os direitos de cada ser humano. Os EUA vêem os direitos humanos como um valor universal, até mesmo para a China”.
Não parou aí. Defendeu o diálogo do governo daquele país com o Dalai Lama, líder religioso do Tibete. Obrigou Jintao a sair do silêncio: “A China fez um enorme progresso na área de direitos humanos. Reconhecemos e respeitamos a universalidade dos direitos humanos. Ainda há muito o que fazer em matéria de direitos humanos. Mas devemos ter em conta as diferenças e o princípio da não intervenção”.
No Estadão de hoje, Maria Aparecida de Aquino, petista que é professora de história da USP, fala como membro de partido, não como acadêmica — que é o que fazem todos os professores universitários brasileiros ligados à legenda, o que evidencia má destinação do dinheiro público: comportam-se como esbirros da organização, como meros “apparatchiki”. Segundo a preclara, se Dilma cobrasse respeito aos direitos humanos, “estaria ferindo todas as normas diplomáticas”. Como se vê pelo exemplo que abre o texto, esta senhora não sabe o que diz e põe a sua reputação acadêmica a serviço da causa. Trata-se de uma fala vergonhosa. Essa gente tem coragem de encarar os alunos no dia seguinte?
Pergunto a Maria Aparecida — e, se ela tiver uma boa resposta, publico: Jimmy Carter “feriu todas as normas diplomáticas” quando defendeu os direitos humanos em sua visita ao Brasil em 1978? Fez mal? Não que as duas ditaduras se igualassem, é claro! Numa contagem bastante alargada, já informei aqui, morreram 424 pessoas durante o regime militar brasileiro; a tirania cubana responde pela morte de 100 mil. E ainda não parou de matar. No Chile, a ditadura de Pinochet (que serve como o ”Judas de direita” a Maria Aparecida e a seus amiguinhos de esquerda) matou três mil pessoas. Mesmo a carnificina argentina, com escandalosas 30 mil vítimas, perde feio dos irmãos Castro, os tarados por cadáveres.
Estou fazendo campeonato de mortes ou livrando a cara das ditaduras latino-americanas? Eu não! Que vão todas elas para a lata do lixo. Eu tenho compromisso é com a vida. São bem poucas as pessoas que se atrevem a defender esses regimes. Se o fazem, tendem a ser severamente combatidas como partidárias da violência e da truculência. E é justo. O que me pergunto é por que temos de considerar respeitáveis algumas vozes que se alinham com os porcos  da esquerda. Não gostamos de assassinos porque assassinos ou porque “de direita”? Se forem “companheiros”,  tudo bem? É por isso que essa escória matou 25 milhões na antiga URSS, 70 milhões na China, 3 milhões no Camboja, para citar os casos mais escandalosos. Dêem-me uma boa razão para um comunista ser considerado uma pessoa mais decente do que um nazista — nem do discurso anti-semita essa escória escapou.

Guantánamo
A fala de Dilma que foi divulgada pelo jornalismo online não fazia jus à delinqüência da política externa por ela vocalizada, que segue sendo a de Celso Amorim — só mudou o gerente da padaria, mas o serviço continua péssimo. Vamos ver.
“Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo”.

Pouco treinado que anda o jornalismo em análise de discurso, poucos se deram conta de que Dilma se nega a cobrar de Cuba respeito aos direitos humanos, mas se acha no direito de cobrar dos EUA, ainda que em solo cubano. Uma coerência  mínima, então, deveria levá-la a silenciar também sobre Guantánamo, certo? Mas este é um governo que segue, nesse particular, o brilhante raciocínio do sambista Chico Buarque: fala grosso com os EUA e fino com ditaduras. O que Dilma sugere? Aquele anão homicida que governa Cuba, Raúl Castro, pode, então, fazer o que bem entender enquanto existir Guantánamo e enquanto perdurar o embargo — que já não embarga, de fato, coisa nenhuma? Essa é só uma das fantasias da esquerdopatia sobre Cuba. Então que se registre: a Dilma que não se mete na realidade de outros países acha-se, no entanto, em condições de questionar os EUA.

Não que as questões se igualem, é bom deixar claro. Os leitores antigos sabem — e os mais recentes podem procurar em arquivo — que escrevi aqui dezenas de vezes que Barack Obama não iria desativar a prisão de Guantánamo porque se criou, de fato, um nó jurídico e tanto, decorrente de uma situação inédita. Os presos que lá estão eram mercenários ou militantes religiosos oriundos de diversos países que foram “defender” o regime do Taliban, no Afeganistão. Há muitos casos, pesquisem, de prisioneiros que deixaram a base e voltaram para os campos de treinamento terroristas. É o que vai acontecer com uma boa parcela se forem devolvidos a seus respectivos países. Se levados a julgamento em solo americano, há uma boa possibilidade de que sejam soltos.
Então Guantánamo é uma maravilha e deve continuar lá indefinidamente? As repostas são “não” e “não”, mas Dilma incorre em estupidez semelhante a seu antecessor ao evocar Guantánamo. Em visita a Cuba em fevereiro de 2010, questionado sobre Orlando Zapata, prisioneiro que morrera no dia de sua chegada à ilha em decorrência de uma greve de fome, o Apedeuta afirmou: “Imaginem se todos os bandidos presos em São Paulo fossem fazer greve de fome”… Lula, que já havia comparado a oposição iraniana a uma torcida que perde o jogo, não via diferença ente oponentes do regime e marginais. Agora chegou a vez de Dilma fazer uma escolha entre os cidadãos comuns de Cuba, que anseiam por liberdade, e cento e poucos presos que restaram em Guantánamo, que lá não estão porque gostem de brincar de amarelinha… A exemplo do Babalorixá, Dilma tripudia sobre um cadáver ainda fresco. O opositor Wilmar Villar Mendoza morreu, também de greve de fome, no dia 19 de janeiro.
Encerrando
É evidente que o Brasil não pode impor a sua pauta a países com os quais mantém relações. Não é isso o que se está a cobrar do Itamaraty ou de Dilma Rousseff. Nem mesmo se esperava que a presidente censurasse Cuba. O que se está a pedir é bem menos do que isso: só uma defesa enfática, clara, insofismável e sem ressalvas dos direitos humanos, como Carter fez ao regime militar brasileiro em 1978 e como Obama fez à China no ano passado.

Mas isso não vai acontecer. O coração dos companheiros ainda dispara de emoção quando vê um inimigo de olhos vendados, pronto para ser executado. É o que teriam feito a milhões no Brasil se tivessem vencido a batalha e implementado o regime dos sonhos, ainda vigente em Cuba. Dilma, afinal, não consegue ir contra esta outra ilha de sua antiga utopia.
Como seu discurso dá a entender, se pudesse escolher, A Soberana soltaria todos os presos de Guantánamo e manteria prisioneiro o povo de Cuba, com Raúl a lhes vendar os olhos e a atar os braços. Em nome do sonho!
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Reinaldo Azevedo
As declarações de Dilma sobre os direitos humanos, feitas em Cuba, chegam a ser mais vergonhosas do que as do Apedeuta, seu antecessor. Ele, com a grossura teórica peculiar, decidiu ignorar a questão e pronto! Ela ameaçou criar uma espécie de teoria, segundo a qual todos os países, em certa medida, Brasil inclusive, têm telhado de vidro. Sim, sempre há transgressões — a situação dos presos comuns no Brasil, por exemplo, é detestável.
Mas há uma diferença considerável entre países que têm instituições em defesa das liberdades públicas e das liberdades individuais, como o Brasil — e que devem fazer um esforço cotidiano para que sejam respeitadas —, e aqueles que têm na tirania e na violência o seu modo ótimo de fazer política. Num caso, a justiça é um norte a ser perseguido; no outro, tem-se a morte da esperança.
Por que Dilma e os seus não reconhecem essa distinção? Porque têm a ditadura entranhada na alma, ora essa! Ela é presidente de um país democrático, mas pertence a uma corrente de pensamento que, a despeito de algumas dissensões internas (irrelevantes), atua cotidianamente para eliminar o adversário, para apagar o passado, para reescrever a história.
O que estou afirmando é que o norte moral da presidente, no fim das contas, continua a ser aquele vigente em Cuba, onde uma elite de iluminados decide os destinos da sociedade — condenando-a, como se sabe, ao atraso. O Brasil teve a sorte de manter essa gente longe do poder por um bom tempo. O Brasil teve o bom senso de recusar em 1989, 1994 e 1998 os métodos que o PT propunha. Quando chegou ao poder, em 2003, já estava mais domesticado, e as instituições democráticas já haviam avançado o suficiente para dificultar a tarefa de construção do partido único.
Não obstante, no 10º ano do poder petista, vemos a) as oposições com as pernas quebradas — também em razão de sua ruindade, já que não entenderam até agora como funciona o petismo; b) boa parte da imprensa ou rendida ou experimentando uma espécie de esquizofrenia, que exalta as qualidades interventoras de Dilma em seu próprio governo; c) um rebaixamento contínuo e sistemático do padrão ético na vida pública; d) o uso descarado na máquina do estado para difamar personalidades e políticos considerados incômodos; e) uso do dinheiro público para financiar as diversas formas de subjornalismo a soldo, cuja tarefa é difamar os, vejam vocês!, “inimigos do regime”; f) uso de juros subsidiados para transformar o empresariado em clientela do governo — os cordatos ganharão o leite de pata…
Trata-se do mesmo espírito ditatorial, só que exercido por outros meios — os meios possíveis num sistema ainda democrático, mas exibindo cada vez mais a musculatura de um regime ditatorial.
O que Dilma fez em Cuba? Resolveu generalizar a transgressão aos direitos humanos — seria um problema universal — para, na prática, poder endossar as práticas vigentes em Cuba. Alinhou-se com a ditadura e cuspiu em cada um dos presos políticos da ilha, que sofrem lá, de modo comprovado, as mesmas agruras que ela diz ter sofrido quando presa no Brasil. Membro então de uma organização terrorista, a detenção fez dela uma heroína; simples opositores pacíficos do governo, os que estão presos em Cuba ou são “bandidos”, como comparou o Babalorixá de Banânia, ou merecem ser evocados ao lado dos terroristas da Al Qaeda.
Querem saber? É puro lixo moral!



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