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quinta-feira, 29 de março de 2012

Itamaraty: luta de classes ou regime de castas?; ou apenas elitismo besta...

Um comentário à propos: vejam o que me escreveu um amigo, depois que eu postei esta simples "notícia":

Pensando bem essa medida se coaduna com os elevadores reservados pra autoridades. Agora imagina se não fosse uma casa ungida pelos donos atuais do poder o tanto de manifestação de sindicatos e da UNE veríamos... 
Mario Machado

Pois é, parece que até a indignação, no Brasil, virou seletiva...
Paulo Roberto de Almeida 


Pela porta dos fundos do Itamaraty / Primeira Página
Correio Braziliense, 29/03/2012

Uma medida polêmica do Ministério das Relações Exteriores determinou a entrada de 1.700 estagiários, contínuos e terceirizados pelo subsolo do prédio, na Esplanada. Com problema no joelho, a estudante Thabata Norrana foi barrada na portaria e teve que descer a escada até a garagem. O Itamaraty alega questões de segurança
O estágio no Itamaraty começa pelo subsolo
Estudantes, contínuos e terceirizados só podem entrar no Ministério das Relações Exteriores por um acesso na garagem. A restrição atinge quase a metade dos funcionários do órgão, com a justificativa de garantir a segurança do prédio
Guilherme Amado
O Ministério das Relações Exteriores proibiu estagiários, contínuos e funcionários terceirizados de usarem o acesso principal do Itamaraty, obrigando-os a só entrarem no prédio pelo subsolo, em uma entrada ao lado da garagem. A discriminação é exclusiva para esse grupo de pessoas, que corresponde a cerca da metade do total de trabalhadores do ministério. Entre os terceirizados estão faxineiros, motoristas e recepcionistas. Ouvidos pelo Correio, os funcionários criticaram a decisão, tomada há um mês, quando o Itamaraty mudou as regras do acesso de pessoas ao prédio.
As três categorias que agora só podem entrar pelo subsolo totalizam, segundo o ministério, 1.700 pessoas. Embora tenham que passar o crachá e colocar a digital no sistema de identificação, que existe em qualquer entrada do Itamaraty, os funcionários relacionados têm sido barrados em todas as outras portarias. Além da inconveniência, por ser uma entrada mais distante das paradas de ônibus próximas, a mudança fez com que alguns estagiários se sentissem discriminados. "Eu tentei entrar pelo acesso principal e fui barrada. A segurança perguntou se eu era estagiária. Quando disse que sim, ela me respondeu que minha entrada era pela garagem. Questionei que aquilo era discriminação. Ela disse que sim, era discriminação mesmo", critica a estagiária de tradução Carolina Santana.
Estudante de administração, a estagiária Thabata Norrana também reclamou da medida. Na semana passada, com o joelho machucado, ela tentou usar o acesso superior do Anexo I para não ter que descer a escada que liga o nível da Esplanada com o subsolo pelo qual os estagiários devem entrar. Impedida pelo segurança, apesar da alegação de que não podia flexionar o joelho, a estagiária teve que entrar pela garagem. "Isso é um apartheid. Estão segregando alguns funcionários, dizendo ser por segurança, mas não tem lógica alguma, já que, lá dentro, continuamos tendo acesso aos mesmos lugares", defendeu a estagiária.
Alguns funcionários também reclamam do fato de terem que sair pelo subsolo à noite. "Tem dias que eu saio às 21h, está tudo escuro e tenho que ir andando até a parada de ônibus. Fico com medo. Pela outra entrada, era mais simples", lamentou uma terceirizada que não quis se identificar. O MRE tem pelo menos outras três entradas públicas de acesso. Uma, inclusive, no único prédio em que estagiários, contínuos e terceirizados podem entrar, só que em andar superior. Há também os acessos exclusivos a autoridades.
Entre os funcionários terceirizados, o clima é de conformismo. Duas recepcionistas que também pediram para não terem seus nomes divulgados acharam normal a medida do ministério. "Em outras empresas, é comum que nós entremos pela entrada de serviço. Já estou acostumada", afirmou uma delas.
Sem transparência
Uma das críticas mais recorrentes em relação à mudança é sobre a falta de transparência do ministério ao tomar a medida. Embora os estagiários tenham um e-mail funcional da pasta, não foi enviado nenhum comunicado sobre a alteração. "Só ficamos sabendo quando os servidores nos avisaram porque não temos acesso à intranet. Na prática, quase todo mundo só soube quando foi barrado em outra portaria. Foi constrangedor", contou outra estagiária que também pediu anonimato.
A insatisfação com a situação dos colegas também chegou aos diplomatas e oficiais de chancelaria, inconformados com a situação. "Fui estagiário por dois anos aqui no Itamaraty e isso nunca aconteceu. Sempre entramos por qualquer lugar e sempre fomos tratados da mesma forma que todos os funcionários. Isso é ridículo", afirmou um assistente de chancelaria.
Sindicato não vê problema
O Sindicato de Empresas de Asseio do Distrito Federal não viu problemas na regra do Ministério das Relações Exteriores. Segundo a diretora executiva do sindicato, Isabel Maria Donas, não caberia ao sindicato falar sobre as condições de trabalho da categoria. "O Itamaraty é quem faz as regras dele, eu não tenho que palpitar. Acho normal porque todo lugar tem acesso social e acesso de serviço, não é? Qual é o problema?", perguntou Isabel.

Livre acesso em outros órgãos 
O Itamaraty negou que haja qualquer discriminação contra estagiários, contínuos ou terceirizados. Segundo a assessoria de imprensa, o novo procedimento de entrada entrou em vigor com o objetivo de melhorar a segurança dos prédios que compõem o ministério. Todos os dias, cerca de 3.400 pessoas frequentam a pasta, sendo metade delas de servidores com vínculo permanente. Somente esses, de acordo com a nova regra, estão autorizados a entrar por qualquer portaria.
Em outros ministérios, como o da Justiça, e no Palácio do Planalto, não existe a diferenciação. Todos os funcionários, de qualquer condição social ou vínculo empregatício, podem entrar por todos os acessos, exceto os privativos da presidente ou dos ministros.
"Os estagiários, contínuos, motoristas e funcionários de limpeza, que são uma camada mais volátil, que não têm vínculo permanente com o ministério, muitas vezes chegam sem crachá e têm que fazer um provisório. Por isso, eles têm uma entrada específica", explicou a assessoria de imprensa do Itamaraty. Segundo funcionários, a afirmação não se sustenta diante do fato de todos eles terem crachá e digitais registradas no ministério. A entrada poderia, portanto, ocorrer em qualquer portaria.
O ministério alega ainda que os estagiários demoram algumas semanas para receberem um crachá. Por isso, devem entrar pelo subsolo, onde há estrutura para emitir um crachá provisório. Novamente, estagiários confrontam a afirmação. "Nós poderíamos entrar só nesse período pelo subsolo, e não para sempre", critica uma estagiária que pediu anonimato.
O ministério rebateu a afirmação sobre falhas ao comunicar as mudanças. "Avisamos as chefias para que avisassem seus subordinados e enviamos e-mails", justificou a assessoria de imprensa. Sobre o relato da estagiária machucada, o Itamaraty negou, mesmo sem consultar a segurança predial, e afirmou que "exceções são abertas a todo o tempo". (GA)

2 comentários:

Mário Machado disse...

Professor,

Pensando bem essa medida se coaduna com os elevadores reservados pra autoridades. Agora imagina se não fosse uma casa ungida pelos donos atuais do poder o tanto de manifestação de sindicatos e da UNE veríamos...

Anônimo disse...

Diplomacia de "punhos de renda" e "abotoaduras de chumbo"; ou trocando em miúdos:"topeiras de cassaca"!

Vale!