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quarta-feira, 7 de março de 2012

Reciclagem diplomatica - Editorial O Globo

Reciclagem é uma atividade difícil: sempre é preciso separar o que presta do que não presta, jogar fora o que entrar nesta última categoria e retrabalhar a primeira, limpar, remoldar, avaliar, aproveitar.
Enfim, coisas que devem ser feitas de modo profissional, sem considerações ideológicas muito comuns em certos tipos de catadores de lixo...
Paulo Roberto de Almeida

A necessária reciclagem na diplomacia
Editorial - O Globo, 7/03/2012

Antes de assumir, Dilma Rousseff, em entrevista ao “Washington Post”, criticou o Irã por desrespeitar os direitos humanos. A afirmação se referia ao caso da viúva Sakineh Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento, acusada de adultério. Foi o primeiro sinal de alguma mudança na “diplomacia companheira”, seguida nos oito anos de Lula em Brasília.
Esta política externa foi, de fato, um ponto fora da curva na tradição do Itamaraty, por anacrônica: terceiro-mundista, quando o mundo avançava, e avança, na globalização; e preconceituosa no antiamericanismo, quando o comércio e parcerias econômicas já contavam muito mais que ideologias.
A posição de Dilma ganhou importância também pelo fato de o Brasil de Lula, na incessante busca por alianças com inimigos declarados do Ocidente em geral e dos Estados Unidos em particular, ter se aproximado do Irã e, numa operação desastrada com a Turquia, tentado intermediar um acordo em torno do suspeito programa nuclear de Teerã.
Conseguiu apenas ser usado pela teocracia de Khamenei e Ahmadinejad para ganhar tempo e avançar no programa.
O GLOBO de ontem revelou a encomenda de Dilma de uma política externa ajustada a um novo cenário mundial, em que há a Primavera Árabe e séria crise europeia. Sensata decisão, embora seja preciso aguardar definições claras desta diplomacia.
Afinal, a influência lulopetista continua forte no Planalto. Haja vista o comportamento decepcionante de Dilma na viagem oficial a Cuba, quando, em declarações à imprensa, tentou equiparar crimes contra direitos humanos cometidos pelos Estados Unidos na base de Guantánamo, na ilha, denunciados e debatidos com liberdade pelos americanos, com a extensa lista de barbaridades cometidas há 50 anos neste campo pela opressora ditadura cubana.
A Primavera Árabe requer, mesmo, uma revisão da política seguida na região pela “diplomacia companheira”. Mesmo porque um dos aliados do lulopetismo, o “irmão” Kadafi, é peça fora do tabuleiro, assassinado por rebeldes.
A diplomacia brasileira esteve no lado certo dos debates na ONU ao condenar o regime líbio devido aos ataques à população civil. Mas, numa demonstração de insegurança para assumir uma postura clara ao lado do grupo de países desenvolvidos do qual deseja participar, foi leniente quando a ditadura síria dos Assad começou a bombardear cidades.
A reaproximação com os Estados Unidos será um ingrediente desta reciclagem. Nada mais natural, pois virar as costas ao maior mercado importador do mundo — e em fase de recuperação — é pura cegueira ideológica. Além do que o novo grande parceiro comercial brasileiro, a China, está em desaceleração.
Outro fator a impulsionar a revisão na política externa é a situação da América Latina, na qual a Venezuela parece entrar em tempos ainda mais tumultuados. Será um teste para esta nova política externa.
O Itamaraty, diferentemente da Era Lula, terá de firmar uma posição de equidistância para mediar uma solução pacífica e pactuada da grave crise em que poderão mergulhar os venezuelanos.
O Brasil se destaca cada vez mais como uma nação confiável num continente de Kirchner, Morales, Chávez e Correa, todos herdeiros da pior tradição populista e autoritária latino-americana.
Mas é pouco. São necessários atos concretos para que não pairem dúvidas sobre a volta da política externa aos trilhos do tradicional profissionalismo do Itamaraty.

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