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segunda-feira, 28 de maio de 2012

A fragil posicao externa do Brasil - The Drunkeynesian


Atrás deste nome curioso se esconde um economista do setor financeiro, que sabe fazer contas -- bem, mas isso é o mínimo que se espera de um economista --, mas que sabe também e sobretudo ir buscar os números para suas contas lá onde eles se escondem.
O Brasil sempre teve crises por dois motivos: desequilíbrios fiscais e inflação, ou balanço de pagamentos, via transações correntes. Parece que podemos ter primeiro a segunda, já que a posição se deteriora mais rapidamente do que a primeira, e também porque o governo, incapaz de fazer qualquer reforma significativa, vai levando com a barriga. No caso dos desequilíbrios internos, ele sempre pode jogar a conta para o contribuinte, produzindo mais inflação, mais endividamento interno, mais descontrole fiscal. No caso dos externos, não há o que fazer: chega um momento em que os capitais, alertados para a magnitude do problema, podem preferir sair a esperar para ver as consequências. Aí, não tem outra solução: desvalorização e ajuste são inevitáveis.
Poderia ser de outro modo, mas aí precisaria ter outro governo...
Paulo Roberto de Almeida 


Bastiat e as contas externas do Brasil

Provavelmente a citação que os leitores frequentes deste blog estão mais cansados de ver repetida por aqui é a mais famosa do pioneiro liberal Frédéric Bastiat, que diz que o economista deve levar em conta tanto o que se vê quanto o que não se vê. Bem, aqui está ela de novo. Os dados de conta externas do Brasil não podem ser qualificados exatamente como "não vistos" (basta uma meia dúzia de cliques no site do banco central para encontrar as tabelas), mas são frequentemente esquecidos em nome de alguma conveniência ou pura ignorância.
Falou-se muito nos últimos dias que o Brasil está preparado para uma eventual nova crise (em graus que vão de 200% a 300%, dependendo da autoridade consultada), que as condições são melhores que as de 2008, que temos mais reservas internacionais, etc. Neste caso, as reservas internacionais são "o que se vê"; o outro lado é o inevitável passivo externo acumulado no período, posto que o Brasil, desde 2007, deixou de ter superávit em conta corrente. Vejamos os dados:

Notem que ambas as séries estão na mesma escala, e que há um grande espaço em branco na parte de cima do eixo. Desde o final de 2008, as reservas aumentaram em US$ 160 bilhões, enquanto o passivo externo líquido cresceu US$ 450 bilhões. Essa é, a meu ver, a principal fragilidade da economia brasileira, que, ao contrário do que se prega, só aumentou nos últimos anos. Parte significativa desse aumento no passivo externo correspondeu à entrada de investimento estrangeiro direto, que tende a ser mais resiliente a choques globais de curto prazo (desde que, claro, não consista de investimento em carteira disfarçado, para evitar tributação). O restante do financiamento, porém, foi feito via endividamento (privado) e investimento em carteira. Um episódio de aversão a risco poderia provocar saída de parte desse enorme volume de capital e causar uma forte depreciação no câmbio - talvez já estejamos vendo o início desse movimento, com o real tendo perdido neste ano mais de 10% do seu valor contra o dólar durante este ano. Também já disse aqui que a história econômica do Brasil pode ser facilmente contada por meio de suas crises cambiais. Nos últimos anos, fomos levados a acreditar que "desta vez é diferente" e que esse risco estava definitivamente afastado (nossa versão do "fim da história"); não foi preciso nem uma reversão forte nos termos de troca para essa ideia começar a ruir. 

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