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sábado, 2 de fevereiro de 2013

OMC: a via-crucis dos candidatos a DG; candidato brasileiro

Matérias de imprensa, 1/02/2013: 


OMC / CANDIDATURA DO EMBAIXADOR ROBERTO AZEVÊDO
O Estado de S. Paulo - ‘Na OMC, não serei mais o embaixador do Brasil’ / Entrevista / Roberto Azevedo
Em sabatina, candidato desvia de temas polêmicos envolvendo o País, entre eles câmbio e protecionismo
Jamil Chade, GENEBRA - Num esforço para ganhar votos e superar o mal-estar deixado pelo Brasil com alguns de seus sócios por conta das barreiras adotadas, o brasileiro Roberto Azevedo, candidato ao cargo de direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), se distancia dos temas mais polêmicos da política comercial brasileira e garante que, se eleito, defenderá o interesse de todos os países.
Nesta quinta-feira, o embaixador Azevedo foi sabatinado na entidade, em uma sessão em que foi questionado sobre diversos assuntos. A escolha só ocorrerá em maio. Mas os nove candidatos ao posto sabem que um deslize em Genebra significaria a perda de pontos na corrida.
Azevedo foi questionado pela Coreia sobre protecionismo, mas iniciou sua intervenção esclarecendo que, depois de 17 anos na OMC representando o Brasil, finalmente falaria em nome próprio. "Esta é a primeira vez que, nesse prédio, vou compartilhar minha visão pessoal sobre essa organização, sobre o sistema comercial e sobre onde estamos hoje", disse aos demais embaixadores.
A estratégia não ocorre por acaso. Nos últimos meses, o aumento de barreiras comerciais no Brasil deixou dezenas de parceiros comerciais irritados, a ponto de a Casa Branca enviar uma carta ameaçando retaliar.
O Brasil também irritou muitos membros com a insistência de trazer para a agenda da OMC a questão do câmbio, com a criação de um mecanismo que autorizaria a elevação de tarifas. Para a maioria dos países, isso não passaria de uma forma de o Brasil justificar barreiras. Azevedo deixou claro, agora, que não partirá dele a introdução do assunto na agenda da OMC, se eventualmente for eleito.
Para o embaixador brasileiro, a OMC vive um momento crítico. "O sistema precisa ser renovado ou será incapaz de lidar com as demandas de um mundo em mudança", alertou. Em sua visão, se a Rodada Doha não for concluída, a OMC continuará "fora do radar" do mundo. "Nenhum marketing vai mudar essa realidade. Vamos precisar de um diretor que trabalhe, arregasse a manga e enfrente a situação. Será uma tarefa herculana. Mas precisa ser feita."
Ele também mandou seu recado aos países em desenvolvimento. "O comércio não é o objetivo da OMC. Mas um instrumento para desenvolvimento." Ao final da sabatina, Azevedo falou ao Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Depois de 12 anos de uma negociação sem resultado, a Rodada Doha ainda tem alguma relevância para a economia mundial?
Sim, não tenho nenhuma dúvida disso. Tinha avanços muito importantes previstos na Rodada, em vários setores. Eles são significativos até hoje. Se a Rodada for concluída de maneira positiva, teremos ganhos tanto em acesso a mercados como em disciplinas do comércio. E tudo isso tem um valor econômico muito importante.
Mas há a impressão de que o mundo já deu um passo adiante. O que pode ocorrer com a OMC se o projeto fracassar?
A OMC tem a obrigação de tentar concluir a negociação. O sistema está paralisado. É claro que a OMC é maior que a Rodada. Mas a realidade é que a Rodada emperra o sistema. Então, eu não vejo alternativa que não seja pela Rodada. Podemos tentar algum acordo aqui ou ali, mas a OMC precisa contornar o impasse que vive hoje.
A Coreia o questionou sobre o protecionismo. Qual o risco que isso representa para a economia internacional?
O protecionismo é uma ameaça sempre presente. Países vivem ciclos econômicos diferentes, com momentos mais liberalizantes e outros menos liberalizantes. O que eu disse é que a melhor proteção contra o protecionismo é o próprio sistema multilateral, que estabelece limites para o espaço de política pública que os países podem adotar. A melhor maneira de se evitar um recrudescimento das condições de abertura de mercado é fortalecer o sistema multilateral, negociando. E, para isso, precisamos sair do impasse.
O Brasil tem sido fortemente criticado nos últimos meses por alguns dos parceiros comerciais. A posição do Brasil, adotando medidas protecionistas, pode atrapalhar sua candidatura?
Em primeiro lugar, o governo jamais aceitou e nunca admitiu que estivesse adotando medidas protecionistas. Você pode ou não concordar com essa situação. O governo brasileiro entende que está tomando medidas que são necessárias diante das circunstâncias econômicas que se vive, inclusive à luz da taxa cambial anormal. Em segundo lugar, se eleito diretor da OMC, eu não sou mais embaixador do Brasil. Aí quem terá de defender a agenda brasileira e as medidas brasileiras será o novo embaixador do Brasil. Eu estarei usando um outro chapéu e estarei defendendo os interesses dos membros da OMC e os interesses da instituição.
Nos últimos dois anos, um dos temas que o sr. tratou foi a introdução do câmbio na agenda da OMC. Como diretor, o sr. acredita que o tema ainda terá espaço, depois de ter tantas críticas?
São os governos que precisam definir isso. O diretor não tem pode decidir o que os membros devem ou não falar. Não é uma decisão do diretor. Se alguém quiser introduzir um tema, seja energia, segurança alimentar, ele tem de convencer os demais que o tema deve ser discutido. O diretor-geral que quiser ditar a agenda da OMC perde o emprego rapidamente.
Entre os nove candidatos, três são latino-americanos. Por que Brasil não se comprometeu em apoiar apenas a América Latina, se por acaso o sr. for eliminado?
A posição do governo foi uma posição sistêmica e coerente com práticas de organismos internacionais. Há uma alternância entre desenvolvidos e em desenvolvimento. Outro conceito é a rotatividade geográfica. Como já houve um asiático na OMC, seria a vez de um latino-americano ou africano.
Folha de S. Paulo - Candidato do Brasil à direção da OMC se afasta de posição do país
Política comercial tida como protecionista pode atrapalhar Azevêdo
DE SÃO PAULO - Tanto na sua apresentação ao Conselho-Geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) quanto na entrevista coletiva que a seguiu, o candidato do Brasil à direção-geral do organismo, embaixador Roberto Azevêdo, fez questão de marcar sua distância da posição brasileira sobre temas de comércio.
Tida como protecionista, a política comercial do Brasil pode ser uma pedra no sapato do candidato -representante do país na OMC desde 2008- na disputa à liderança da entidade voltada para a liberalização do comércio.
"Agora sou candidato. Fiz questão de que eles soubessem que estou aqui expressando minhas opiniões, e não as do governo brasileiro. É importante que isso fique bem claro desde o começo", disse, em entrevista transmitida via internet, de Genebra.
O brasileiro voltou a criticar a paralisia na área de negociações da OMC e disse que, "a não ser que a OMC volte a apresentar resultados", continuará "fora do radar".
Para Azevêdo, o grande desafio do próximo diretor-geral será destravar a rodada Doha (de liberalização do comércio) -e que, para isso, é preciso "um novo olhar".
"Se você fizer as coisas da mesma maneira, a chance de avançar é zero. Tem que fazer diferente. Como? Eu não sei", reconheceu. "Mas muitas vezes, quando ajudei a destravar impasses, também não sabia."
Azevêdo disputa o posto com outros oito candidatos -dois deles latino-americanos. O mexicano Herminio Blanco já sugeriu que os nomes da região se unam para fortalecer a candidatura do "melhor".
O Brasil, porém, parece pouco disposto a unir forças com os latinos. Ontem, Azevêdo desconversou sobre a ideia: "O Brasil deixou claro que apoia um novo diretor-geral de um país em desenvolvimento", disse, incluindo os africanos entre a preferência.
Na última semana, o Brasil enviou um alto diplomata à cúpula da União Africana, na Etiópia, com cartas a mais de 20 países pedindo apoio a Azevêdo. A ideia é que o brasileiro seja a segunda opção desses países, que devem apoiar, primeiro, Gana ou Quênia. (ISABEL FLECK)
Folha de S. Paulo - Embaixador tem discurso de um profissional do comércio / Análise / Clóvis Rossi
O discurso com que o embaixador Roberto Azevêdo se apresentou ontem a seus pares da Organização Mundial do Comércio é uma peça típica de um profissional do comércio e da negociação.
O embaixador sabe perfeitamente que o maior obstáculo que sua candidatura enfrenta é o rótulo de protecionista que está sendo aplicado às políticas comerciais brasileiras e, por extensão, ao que as defende em Genebra.
Por isso mesmo, Azevêdo, como a Folha já havia antecipado domingo, tratou de deixar claro o que deveria ser óbvio, mas que disputas eleitorais acabam obscurecendo: Roberto Azevêdo, como embaixador do Brasil, defende as posições do governo brasileiro; Roberto Azevêdo, como diretor-geral da OMC, defenderá que "comércio é um elemento indispensável para o crescimento e desenvolvimento de qualquer economia".
O embaixador tem dito a amigos que nem sequer seria candidato se não acreditasse nas virtudes do livre-comércio, que, enfim, é a missão central atribuída à OMC. Mas, atenção, não é o comércio como um fim em si mesmo, mas "como um meio de melhorar as condições de vida das famílias no mundo real".
Azevêdo adiantou, no entanto, poucas pistas sobre o que pretende fazer para tirar do pântano a Rodada Doha, o mais ambicioso projeto de liberalização comercial que o mundo lançou, já faz 12 anos.
Para o diplomata brasileiro, na verdade são quase "duas décadas de estagnação no front negociador", contando o tempo perdido desde a transformação do antigo Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) em OMC, em 1995, até o lançamento da Rodada Doha (2001).
Azevêdo limitou-se a dizer que "o sistema [multilateral de comércio] precisa ser atualizado ou logo se tornará incapaz de lidar com as demandas de um mundo transformado".
Que atualizações, ele já tem na cabeça, mas não era o momento de dizer porque a etapa de ontem faz parte do que, no jargão da OMC, se chama de "concurso de Miss Simpatia", uma avaliação mais da personalidade do candidato do que propriamente do conteúdo de suas propostas.
Brasil Econômico - Candidato à direção da OMC, Azevêdo promete que retomará rodada Doha
Em discurso de apresentação ao cargo, embaixador brasileiro aponta paralisia do órgão de comércio mundial
Ruy Barata Neto, de Brasília - A retomada das negociações da Rodada Doha, paralisada há mais de 11 anos, será o principal desafio a ser perseguido pelo embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo caso assuma a diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Representante permanente do Brasil no órgão desde 2008, Azevêdo aparece como um dos favoritos da disputa à sucessão do francês Pascal Lamy, cujo mandato termina em agosto.
Responsável por encerrar, ontem, a fase de apresentação dos candidatos, Azevêdo aposta na sua qualificação técnica para ganhar a disputa e conseguir destravar as negociações da rodada Doha durante o mandato. "Tenho o expertise necessário para fazer isso porque já pude atuar tanto no nível técnico quanto no estratégico, além de contar com a confiança dos membros da OMC, ter um histórico de transparência nas negociações e diálogo com as mais diferentes tendências da organização", afirma Azevêdo.
Um dos concorrentes mais fortes do embaixador brasileiro é o mexicano Herminio Blanco, economista e ex-ministro do comércio e indústria. A experiência ministerial é apontada como uma vantagem em relação ao concorrente brasileiro que ainda não assumiu tal cargo. Mas, segundo Azevêdo, esta lacuna não deverá ser um problema na disputa.
Na avaliação do brasileiro as soluções para o impasse da Rodada Doha dependerão do conhecimento a cerca do processo do histórico das negociações da OMC, sobretudo no âmbito técnico. "É preciso expertise para se achar solução, e isso, francamente, não acontece no nível ministerial", afirma. "Não estou dizendo que ex-ministros não são capazes de fazê-lo, mas você tem que observar o caminho antes de se fechar um acordo."
Azevêdo também lembrou que até antes da criação da OMC, em 1994, nenhum dos diretos gerais do órgão equivalente eram de nível ministerial. "Todas as rodadas de negociação foram concluídas por estas pessoas", afirma. "Aliás, desde 1995, quando a diretoria passou a ser composta por ministros, nenhuma rodada foi concluída."
Ex-ministro das relações exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia afirma que a experiência de Azevêdo na OMC o torna o mais qualificado entre os concorrentes ao cargo. Ele concorda com Azevêdo a respeito da urgência no avanço das negociações de Doha. "Se não tiver novos avanços como as rodadas de liberalização do comércio e de redução de obstáculos comerciais, a OMC esta fadada a ser apenas um mecanismo de solução de controvérsias", afirma.
Segundo Lampreia, as chances do embaixador brasileiro são grandes por conta da predisposição dos membros da OMC em elegerem um diretor-geral representante de um país emergente. "É a bola da vez", afirma. Além de Blanco, está na disputa Anabel González, ministra de comércio exterior da Costa Rica, como a terceira representante da América Latina. De países da África aparecem Alan John Kwadwo Kyerematen, ex-ministro de Comércio e Indústria de seu país de Ghana, e a embaixadora Amina C. Mohamed, do Kenya.
Ao todo, disputam nove candidatos. Além dos já citados, estão no páreo representante da Indonésia, Nova Zelândia, Jordânia e Coreia do Sul. O novo diretor geral deve ser nomeado por consenso antes do fim de maio e assumirá suas funções no começo de setembro.
Valor Econômico – Brasileiro é destaque na apresentação de candidatos à OMC
Por Assis Moreira | De Genebra
Encerrada a fase de apresentação dos nove candidatos para substituir Pascal Lamy na direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), dois ou três candidatos se destacaram, na percepção de vários negociadores em Genebra. Os candidatos da Nova Zelândia, Tim Groser, e do Brasil, Roberto Azevedo, são apontados como os que tiveram melhor desempenho diante dos 158 países membros. Alguns delegados incluem a candidata da Costa Rica, Anabel Gonzalez, que teria ido melhor do que se esperava.
A apresentação dos candidatos na OMC é um processo necessário, mas não decisivo. Se acertou no desempenho, se mantém no páreo. Se errou, pode perder algum apoio. Mas a decisão de cada país sobre quem vai apoiar será tomada nas capitais, no jogo de barganhas e consultas com os parceiros
A diferença é que Tim Groser, de país desenvolvido e que já comandou a OMC, pode ter pouca chance de prosperar, a não ser que os países desenvolvidos queiram comprar uma enorme briga com países em desenvolvimento, que consideram ser a vez de um de seus candidatos.
Para Azevedo, muito agora dependerá da movimentação de Brasília, dos contatos diretos da presidente Dilma Rousseff com outros presidentes em busca de apoio. Curiosamente, muitas delegações mencionam telefonemas recebidos, mas nenhum fala de chamada do Palácio do Planalto.
Nas apresentações, nenhum dos nove candidatos correu grande risco. Mas, dependendo de quem se ouvia, os comentários eram de que alguns candidatos teriam chocado seus próprios apoiadores, sobretudo os de Gana e Quênia, aparentemente mais interessados em tranquilizar os países desenvolvidos.
Houve repetição de muita banalidade sobre o papel da OMC, o que cada um acha que pode fazer etc. A falta de humildade também parece ter atacado os candidatos. Tudo é usado para carregar a favor ou contra o favorito.
Pelo que se deduz das percepções, no grupo do meio aparecem três candidatos.
O mexicano Herminio Blanco deixou poucas lembranças. Na verdade, a impressão que ele dá é de até poder ser um bom negociador para o México, o que é diferente de ser um mediador para acordos. O candidato da Coreia do Sul, o ministro de Comércio, Taeho Barq, não deu má impressão. Mas dificilmente terá apoios importantes, na opinião de alguns participantes. A candidata da Indonésia, Mari Pangestu, apareceu adoentada, insistiu que atrás de seu sorriso pode ser dura e tampouco surpreendeu muito.
No último grupo estão os candidatos de Gana, Jordânia e Quênia. O ganense Alan John Kwadwo Kyerematen é, porém, o favorito na casa de aposta eletrônica Paddy Power, em Londres.
Os candidatos terão agora fevereiro e março para fazer campanha. Enquanto isso, em Genebra os embaixadores decidirão quais as regras que serão utilizadas para as consultas a serem feitas aos países a respeito dos candidatos.
Assim, provavelmente só em abril começará a série de consultas aos países. A expectativa é de que inicialmente haverá a eliminação de dois ou três candidatos, pelo menos. Se não houver uma guerra, como já ocorreu no passado, com candidato recusando a sair do páreo, no fim de abril a OMC terá escolhido seu novo diretor-geral.

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