O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Eduardo Saboia: um heroi fora dos quadrinhos - Celso Arnaldo

Blog de Augusto Nunes, 27/08/2013

Subscrevo sem ressalvas o texto de Celso Arnaldo Araújo. O que Eduardo Saboia fez no caso do senador Roger Pinto Molina sempre será mais relevante do que o que disse ou dirá. (AN)

Não há heróis sempiternos (é a primeira vez que uso a palavra, sabia que esse dia chegaria…), com exceção de meu pai, e apenas no âmbito de minha existência. Só há heróis de ocasião. Como Eduardo Saboia.
Também não gostei do day after do Saboia ─ a ameaça valente de usar o que sabe contra o Itamaraty não soou bem.
Mas, como diria o Marcelo Rezende, pensa no seguinte: o moço tinha 23 anos de Itamaraty, carreira impoluta e ascensional (se bem que Bolívia é queda…), folha impecável de serviços. Naquele instante, ele, como ministro-conselheiro e encarregado de negócios, era o mais alto funcionário da Embaixada, na ausência forçada de um embaixador titular.
Marcel Fortuna Biato fora enviado há dois meses, sumariamente, para um degelo na Suécia, por pressão de Evo Morales – justamente por causa do prolongado abrigo ao senador.
Saboia fazia as vezes de embaixador, até a chegada do substituto enquadrado. Ninguém mais, naquele momento, para repartir com ele o interminável pepino de 452 dias como carcereiro.
Ao entrar no carro da embaixada, com Roger Molina no banco de trás, e pedir ao motorista que só parasse quando chegasse a Corumbá, Saboia sabia que ali se encerrava sua carreira diplomática. O que fazia ali não era mais diplomacia – mas, a seu ver, a reparação definitiva de uma situação humana insustentável, para ele e para o senador.
Esforçara-se muito para fazer o mesmo – imagine – até com os vagabundos presos em Oruro por causa da morte do garoto boliviano.
Veja só. Por causa desse ato de coragem – quantos de nós o fariam, tendo tudo a perder? – Saboia tornou-se, instantaneamente, um exilado em seu próprio país. Sua mulher é oficial de chancelaria da Embaixada, seus três filhos estudam em colégios de La Paz. Mas Saboia evidentemente não pode retornar à Bolívia sem ser preso – ou até justiçado.
Ficará ele aqui, no limbo absoluto, de carreira e família, enquanto o senador Roger refaz sua vida ─ e até que eles lá em cima se entendam, com Morales como o mediador irremediável da situação.

Pensando bem: Saboia foi herói, sim, conquanto não haja heróis permanentes fora dos quadrinhos.

Nenhum comentário: