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domingo, 1 de setembro de 2013

Curandeirismos economicos: marxismo e keynesianismo - Gustavo Miquelin Fernandes


“Marx e Keynes são autores marginais na grade escolar e isso não está certo” – Alejandro Robba

 Gustavo Miquelin Fernandes

  
A “BBC Brasil”, há algum tempo, veiculou uma matéria com o seguinte título e subtítulo:

“Governo argentino quer mais Marx e menos neoliberalismo em faculdades de economia”.

“O ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, e seu vice, Roberto Feletti, defendem que as faculdades federais de economia do país modifiquem a atual grade escolar para dar “mais espaço” para as teorias do alemão Karl Marx, do inglês John Keynes e do argentino Raul Prebisch (fundador da Cepal)” [...]

A divulgação data de 14 de outubro de 2011, mas a análise é bem tempestiva e dá um bom embasamento ao texto de hoje.
Não deve causar espanto a notícia. A doutrinação ideológica de nossos vizinhos não é novidade em terras brasileiras – e já foi denunciada em outros órgãos de Governo, a exemplo de um diplomata que recentemente alertou para esse problema dentro do Itamaraty.

A matéria explica que os burocratas governistas querem que as faculdades federais de Economia cedam espaço (mais?) para ideias heterodoxas de autores como Keynes, Marx e Prebisch e teorias mais sintonizadas com o ‘modelo de acumulação com inclusão social’.

Super moderno! São inadmissíveis inflexões mais liberais em cursos da área. Como diz o já citado Alejandro Robba: “isso não está certo”!

Para tais agentes governistas, seria coisa boa ceder mais espaço pedagógico à escolas mais ligadas ao desenvolvimentismo, ao consumo nacional e ao Estado como propulsor do progresso.

Exatamente teses encampadas pelo Governo Dilma Rousseff. E que com os frutos desse belíssimo trabalho presenteia todos os cidadãos. A Presidente seguiu à risca todo painel de ações desenvolvimentista, keynesiano e nacionalista – exatamente como os burocratas argentinos querem.

O país está colhendo os frutos desse fenômeno, que o Ministro chama de “mini-crise”. Esse mesmo Ministro da Fazenda que deu sorte em não nascer em um país sério – teria sido há muito tempo escorraçado do cargo.

O Keynesianismo, dentre outras coisas, segundo alguns economistas austríacos, distorceu uma lei econômica importante – a Lei de Say – o que não foi pouca coisa. Não quero entrar em minúcias dessa escola, mas Keynesianismo, em português bem traduzido, significa abrir o cofre estatal. Torrar dinheiro popular, sem dono, gastar sem poder, dando embasamento teórico para políticos populistas sumirem com dinheiro alheio, pavimentando indesejáveis reeleições e projetos megalomaníacos.

O curioso é que agora que os keynesianos estão pulando do barco que afunda rapidamente, limitando-se a darem mil desculpas e, como Pilatos, lavando inocentemente a mão.
Coitadinhos, enganados por petistas…

Não foram enganados.

Se você conhece algum keynesiano diga a ele que tem responsabilidade moral pelo que ocorre no Brasil. As estatais quebradas, a inflação, o descontrole das contas públicas, a insegurança dos setores de produção e investimento, etc., tudo isso é culpa do embasamento teórico que eles pregam.

Desse triunvirato desenvolvimentista, Raúl Prebisch foi mentor intelectual do “barco furado” das ideias cepalinas e também deve ter lugar garantido nos bancos universitários argentinos.

O desenvolvimentismo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) fez nascer uma classe muito peculiar de economistas: Celso furtado, Maria da Conceição Tavares e até o esquerdista FHC.

O erro de Marx creio desnecessário comentar. Pressupõe, claro, algum juízo dos leitores essa minha presunção. Marx, reconheço, não nasceu tão errado como os marxistas que lhe sucederam.

Não é de hoje que os neo-populistas da América Latina lutam por uma “distância de segurança” de um suposto “neoliberalismo” (alguém pode me esclarecer o que seria isso?).

Faz lembrar quase automaticamente o chamado marxismo cultural, que foi a ideia de, na impossibilidade de revoluções materiais ou físicas, se partir para a tentativa da destruição dos valores clássicos da sociedade com o abocanhamento de pilares culturais, para que seja pavimentada outro estado de coisas que sustente um outro regime político.

Fazendo uma pequena digressão, e sem flerte com teorias conspiratórias de internet, que são bem cafonas, veja, em exemplo, como essa doutrina age no campo da religião.

O comunismo pegou uma carona na teologia cristã e fez certas substituições de alguns pilares clássicos por chavões revolucionários, que de tão surradamente toscos, até as criancinhas de tenra idade já se deram conta de sua infantilidade.

Dando exemplos disso:

- a salvação das almas por Jesus (ou outro método escatológico, como as “boas obras”) é trocada pela revolução estatal e depois pela da assunção do Poder pela classe operária;

-o “Paraíso” ou o Céu teologal surge pela abolição da propriedade privada, antecipando para a Terra aqueles lugares, um clima da sociedade dos anjos;

-a materialização da “opus diabolis” ou da figura do Diabo, representando-a pela classe burguesa ou mesmo outros classismos bobos.

Isso, como dito, no campo religioso.

É assim que funciona a usurpação total de um povo – e ela começa no campo das ideias, e esse artigo insinua que a Argentina está muito bem disposta a realizar isso.

A ideia da doutrinação econômica é apenas de reforço. O Keynesianismo representa, sim, a corrente mainstreamdo pensamento universitário. E será assim por muito tempo. Vede a santificação de Paul krugman, considerado guru econômico nos EUA.

Esse engolfamento das ideias clássicas mais ortodoxas por essas ideologias e culturas de porão é visível. Tudo que ameaça o populismo e, nesse artigo trata-se especificamente do populismo econômico, tem de ser rapidamente defenestrado do meio circulante para que o status quo sobreviva livremente.

Voltando à terra da doutrinação ideológica, Néstor Kirchner cujo mandato vigorou entre 2003 e 2007, quando da assunção do cargo, tentou organizar a situação de seu país, decretando moratória. Alguns dados realmente apontam para um crescimento razoável do PIB em seu mandato. Na verdade, esse sucesso é explicado pelo mesmo fato que ocorreu com o Brasil em tempos recentes: o sucesso dos produtos primários no mercado mundial.

E a Argentina tem que fazer isso para buscar a consolidação de seu projeto de poder insano –  buscar essa doutrinação com apelo marxista e keynesiano. Um país claramente socialista. Que controla preços, amordaça a imprensa, pratica estatizações a rodo, e mente sobre dados econômicos que deveriam ser oficiais. As únicas estatísticas críveis são de analistas estrangeiros. A Argentina é uma bagunça. Igualzinho aqui no Brasil.

Não é possível crer que um país que promove boicotes às exportações está trilhando o caminho correto.

O que se quer dizer com tudo isso é que a Argentina tem tudo a ver com Marx, Keynes e ideias cepalinas e deve, sim, controlar as grades universitárias de suas faculdades de Economia.

Repetindo Alejandro Robba em tom quase infantilóide: “Marx e Keynes são autores marginais na grade escolar e isso não está certo”.

Não está certo mesmo! Como sustentar a incoerência ideológica entre o meio acadêmico e as injunções do Governo?
E, não se iludam, o Brasil não está muito distante de nossos hermanosaí de baixo. Estamos juntos, caminhamos lado a lado.

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