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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Politica Externa Brasileira - Entrevista com o novo Chanceler (Valor)

Um encontro com o novo chanceler
Rosângela Bittar *
Valor Econômico, 20/11/2013

A política externa com iniciativa e não reativa, como parece. Com definição de rumos para atualizar as relações do Brasil com o mundo - com a China, com a União Europeia, com os Estados Unidos, com os andinos, com os países da África. Que agregue os temas novos da sociedade brasileira e não se limite aos clássicos e permanentes. Há o mundo novo do século 21 a explorar: os direitos humanos, as questões sociais, o racismo, o grupo LGBT, a inclusão, a internet, atualidades que precisam ser contempladas na política externa, sem abandonar a tradicional agenda da paz e da segurança, da cooperação regional, de integração, do comércio exterior. E a criação de instâncias de pensamento e debate na estrutura do Itamaraty, abrindo a casa para que perca a má fama de caixa preta do governo e se apresente à sociedade civil, aos empresários, às organizações sociais, à academia.
São princípios percebidos com clareza em uma conversa, na véspera do último feriado, com o novo chanceler do Brasil que assumiu o cargo no fim de agosto, Luiz Alberto Figueiredo. O ministro não concorda com decepções do respeitável público, ou de sua interlocutora, que veem o governo brasileiro se arrastar em uma política externa ditada pelos presidentes populistas da sudamérica, pelos africanos, pelos ditadores árabes, por quem der mais, seja em comércio, seja em afinidade ideológica. Luiz Alberto Figueiredo recusa a ideia de que o Brasil está fazendo a política externa exclusivamente na reação aos acidentes diplomáticos.
O Mais Médicos é uma medida de política externa pela via da política interna, uma iniciativa para disfarçar ajuda a fundo perdido a Cuba? "Não, é um programa fundamental interno, uma necessidade da população brasileira", responde a isso como responde a tudo com naturalidade.
"Espionagem à parte, precisamos nos debruçar no estudo e no debate sobre a questão da Internet", afirma, citando de passagem e indiretamente o grande contencioso mais recente com os Estados Unidos para introduzir os novos temas que pretende abrigar na política externa.
Sobre o que se fez com o embaixador americano Thomas Shannon que, segundo relato da "Folha de S. Paulo", saiu do Brasil escorraçado, hostilizado pelo governo, Figueiredo deixa passar o comentário sem comentários, meio a outros acidentes citados à sua consideração sobre a política reativa do Brasil. De que é exemplo, também, o episódio que o levou ao governo Dilma com a demissão do antecessor: o translado do senador boliviano asilado na embaixada brasileira em La Paz. "O caso do senador boliviano está sendo examinado pelo Conare, o conselho de refugiados, e o do diplomata Eduardo Saboia, que respondia pela embaixada à época da concessão do asilo, por uma comissão do Itamaraty", relata. Sem entrar em méritos, completa: "Isso está tendo seu curso normal, vai durar o tempo que a defesa quiser que dure".
Os laços que unem o Brasil de maneira preponderante aos interesses de Evo Morales, Nicolás Maduro, Raul Castro, Rafael Correia, Cristina Kirchner, não se confundem com uma inédita e intensa partidarização da política externa? "Eu não tenho partido", diz o ministro, que informa já ter servido como diplomata a vários governos, de diferentes orientações. "Mas é natural que a política externa reflita as orientações do governo", completa, com outra de suas assertivas.
Luiz Alberto Figueiredo seguiu esta semana para uma série de viagens para reuniões bilaterais com Moscou, Haiti, Noruega, passará na Polônia, onde transcorre a Conferência do Clima, para marcar posição política do governo brasileiro de apoio às negociações,. De lá, Figueiredo tem uma pausa de um dia e segue para Bali, rumo às negociações, que se esperam duríssimas, da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No início de dezembro, participa dos entendimentos Mercosul-União Europeia. "Como isto está num processo bastante adiantado, nossa perspectiva é, até o fim do ano, por volta do dia 15, nós e os europeus trocarmos as ofertas para começar uma negociação", informou.
Uma política em curso, uma nova em formulação por duas instâncias criadas pelo novo ministro para debater a política externa. Luiz Alberto Figueiredo determinou a elaboração do livro branco da política externa em que, por escrito, se vai afirmar qual é a política que se quer ver debatida pela sociedade.
Um dos grupos estará na Secretaria de Planejamento Diplomático, que mudará seu nome para Planejamento de Política Externa. O outro é um Conselho com integrantes do governo e da sociedade.
O ministro está levando à chancelaria um especialista, profundo conhecedor de China, que estava na Embaixada do Brasil naquele país, além de experts nos novos temas que pretende incluir nos papers e manuais, como as questões sociais.
Figueiredo quer chegar a uma política externa que olhe para a frente e, sobre ela, quer conversar com todos, que enumera: academia, sociedade civil, empresariado, movimentos sociais. "Queremos ouvir e explicar o que estamos fazendo e porque estamos fazendo. A prestação de contas faz parte da minha função", afirma.
O Brasil está sendo empurrado às transformações até pelo interesse dos outros países pela forma como algumas questões avançaram por aqui. "Os presidentes que vêm se interessam pelas tecnologias sociais do Brasil. Como o Brasil conseguiu superar o dogma econômico da década de 80, o de crescer e tirar gente da pobreza ao mesmo tempo. Isso tem que entrar na política externa".
Foi para isto que reestruturou suas unidades de pensamento político, mudanças que atingirão, também, o Instituto Rio Branco, a escola de formação de diplomatas, com a criação de novas disciplinas e muita conferência sobre as questões de hoje que interessam a todos. O chanceler não se furta a dirimir um falso antagonismo que tem sido colocado como exigência da presidente da República. Dilma gostaria de ter "mais política externa e menos diplomacia", é o que se diz. A diplomacia, explica Figueiredo, é o instrumento, os diplomatas aprendem a manejá-lo. O que é necessário é ter uma política externa para a diplomacia trabalhar.

* Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras.

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