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sábado, 15 de fevereiro de 2014

EUA: a industria do declinismo de novo assanhada... - Marcos Troyjo (FSP)

Marcos Troyjo
Folha de S.Paulo, 14/02/2014

O peso dos EUA no cenário global está diminuindo? A questão segmenta os que vislumbram declínio ou aumento da importância relativa do país no mundo.

"Declinistas" apontam que, em 1950, os EUA representavam metade do PIB mundial, contra apenas 20% hoje. Em 2023, observaremos um eclipse em que a China converte-se na maior economia do planeta. Nos últimos meses, o país asiático já superou os EUA como maior nação-comerciante (resultado atingido pela soma total em dólares de exportações e importações).
No campo político-militar, embora os EUA sejam a única potência capaz de intervenção com forças convencionais em qualquer lugar do planeta, sua máquina de guerra encontra-se em fadiga. Oneroso legado humano, político e orçamentário da "Guerra ao Terror" e suas impopulares investidas no Afeganistão e no Iraque.
Pior, a ausência de mandatos negociados na ONU, bem como a rede de bisbilhotagem eletrônica voltada também a parceiros tradicionais, fragilizaram a influência de Washington. No âmbito do soft power, os EUA desfalcaram-se do argumento moral  a sustentar onipresença geopolítica. Um gigante cínico, não uma "superpotência benigna".

Já os "relativistas" entendem que, embora já tenham respondido por fatia percentualmente maior do PIB mundial, os EUA são mais centrais do que nunca. A ascendência do FED sobre as finanças globais não tem paralelo. O atual escarcéu com eventuais inflexões mais bruscas da política de estímulos monetários bem o provam.
A revolução do xisto altera dramaticamente a conta custo-benefício do fator energia no mundo.  Neste ano os EUA provavelmente superarão a Rússia como maior produtor mundial de petróleo & gás. A China já compra mais barris de países-membros da OPEP do que os EUA. Para quem então o Oriente Médio passa a ser mais estrategicamente vital?
Os EUA são o principal motor da negociação para mega-acordos econômicos no Atlântico e no Pacífico.  Em termos de inovação, lideram ao articular capital, ciência e empreendedorismo no desencadeamento de novos ciclos econômicos.
Daí surgem tecnologias disruptivas orientadas a lucros civis e dianteira militar. Os drones são bom exemplo. Por um lado, podem precipitar revolução na logística, como vem experimentando a Amazon.  Por outro, alteram a própria natureza de operações militares no ar. Muitos sugerem que o caça F35, hoje estado-da-arte em termos de sofisticação, talvez seja a última aeronave de combate a depender de um piloto humano em seu cockpit.
Essa combinação de “desengajamento” em certos temas e regiões com o avanço de tecnologias passíveis de aplicação militar retira o foco da questão do declínio. Debate mais relevante é o da "metamorfose" do papel dos EUA, pois parece convidar Washington a uma política global menos “presencial”.
Com a emergência de novas potências e a retração de suas (autoimpostas) responsabilidades globais, tudo indica que os EUA não serão hegemônicos. Não haverá uma Pax Americana. Gostemos ou não, aguarda-nos contudo um cenário em que, ao lado de importantes coadjuvantes, os EUA terão o papel de protagonistas.    



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