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terça-feira, 11 de março de 2014

Venezuela: uma ditadura eleita (fraudulentamente) - Denis Lerrer Rosenfield

E provavelmente não eleita, ou seja, não pelos bons métodos, e sim pela manipulação dos eleitores, pela mentira, e por roubar, claramente as eleições.
Concordo com meu amigo Orlando Tambosi, que se trata, não de uma democracia totalitária, mas de uma ditadura, simplesmente, apenas que recorrendo a eleições, sempre manipuladas, a partir de certo momento.
Paulo Roberto de Almeida

Democracia e ditadura

10 de março de 2014 | 2h 07
Denis Lerrer Rosenfield* - O Estado de S.Paulo

O discurso da diplomacia brasileira acerca da Venezuela e dos demais países bolivarianos segue a doutrina do PT, segundo a qual estaríamos diante de uma democracia pelo simples fato de lá haver eleições. Eleições seriam, então, o único critério de definição de Estados democráticos, com evidente desprezo pelas instituições da sociedade civil. Mais concretamente, há total desconsideração pelo equilíbrio entre Poderes e pela independência dos Poderes Judiciário e Legislativo. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral é sistematicamente pisoteada, se não aniquilada.

Nesse sentido, a "democracia" poderia prescindir das liberdades civis e políticas, devendo contentar-se com eleições e referendos, cada vez mais restritos, pois as condições de competitividade são progressivamente reduzidas. De fato, a democracia representativa nesses países "socialistas" é substituída, para retomar um conceito de J. L. Talmon, pela democracia totalitária.
A democracia representativa caracteriza-se por ser constitucional, obedecendo a princípios que fogem a qualquer deliberação popular. Consequentemente, não pode ser objeto de deliberação a igualdade de gêneros ou de raças. Uma maioria popular machista ou racista não se poderia impor numa democracia representativa, graças aos limites constitucionais, de princípios e valores, por ela assegurados.
Segundo a democracia totalitária, o poder reside na vontade popular encarnada pelo líder carismático. Não tem este, em razão da delegação popular recebida, nenhuma limitação, como se eleições o autorizassem, virtualmente, a fazer qualquer coisa. Basta um referendo para que isso ocorra. Foi o que aconteceu com o "socialismo do século 21", nas figuras de Hugo Chávez e de sua caricatura, Nicolás Maduro, que aboliram a separação de Poderes, emascularam o Judiciário e o Legislativo, fazendo do Executivo o único Poder que conta.
A economia de mercado, por sua vez, foi cerceada, quando não aniquilada, tendo como consequência o domínio do Estado, cujos efeitos mais nítidos são a inflação galopante e a falta de produtos básicos - o papel higiênico é o mais emblemático deles. Já a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral foi sendo suprimida, só sobrando, hoje, o resquício de uma sociedade livre. Milícias no melhor estilo das SA nazistas aterrorizam a população, fazendo uso da violência e do assassinato sempre e quando o líder máximo o exigir. Tudo, evidentemente, em nome da "revolução" e do "socialismo".
Não obstante, o Itamaraty e setores do PT continuam a justificar a "democracia venezuelana", como se os protestos do que ainda resta de oposição fossem o real perigo. Ora, as posições estão totalmente invertidas. A dita "cláusula democrática", bem entendida, significaria, apenas, a "cláusula democrática totalitária".
Do ponto de vista diplomático, por uma questão de pudor, não se pode acatar o argumento de que o Brasil não se ingere em assuntos de outros países, uma vez que foi bem isso que fez no Paraguai. O então presidente Fernando Lugo foi afastado do poder por um impeachment, segundo a legislação paraguaia. O governo brasileiro não reconheceu o impeachment e aproveitou a ocasião para suspender esse país do Mercosul, tornando viável, dessa maneira, a entrada da Venezuela. É evidente o uso de dois pesos e duas medidas.
Nessa perspectiva, poderíamos aplicar os mesmos critérios para o que se denomina ditadura militar brasileira, com o intuito de melhor apreciarmos a "verdade" do período, contrastada com o juízo "democrático" do atual governo a propósito do "socialismo do século 21".
Considera-se a ditadura militar como se estendendo desde o governo Castelo Branco até o final do governo Figueiredo, quando há diferenças significativas nesse longo período. O governo Castelo Branco, por exemplo, tinha inclinação liberal, enquanto o governo Geisel foi fortemente estatizante. Segundo esse critério, o governo Dilma Rousseff se encaixaria na concepção geiselista, com forte intervenção do Estado na economia, a escolha de empresas e setores privilegiados a serem apoiados e o uso da política fiscal e de subsídios para o apoio a esses grupos. Seria Geisel de esquerda, conforme essa concepção? Mais ou menos democrático? E Lula, em seu primeiro mandato, seria castelista?
Durante o período do governo Castelo Branco (1964-1967) até o Ato Institucional n.º 5, promulgado por Costa e Silva em setembro de 1968, o País desfrutava ampla liberdade. Foi esse ato extinto em 1978 por Geisel e o habeas corpus, restaurado. Penso não ser atrevido dizer que as liberdades civis eram muito mais respeitadas do que o são nos países que, atualmente, encarnam o "socialismo do século 21".
A gozação, para não dizer a sátira e a ironia, do Pasquim começou em 1969, quando o regime militar havia endurecido e a ditadura propriamente dita se estabeleceu. Isto é, a ditadura tolerou o Pasquim, enquanto os governos bolivarianos não toleram nenhuma crítica, muito menos a que se faz pela sátira que atinge os seus líderes.
A greve do ABC sob liderança de Lula, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, foi um marco no Brasil, abrindo efetivamente caminho para a liberdade de participação sindical. Ocorreu em 1974, sob o governo Geisel. A partir dela novas greves se estenderam de 1978 a 1980, já no governo Figueiredo. Imaginem algo semelhante nos países bolivarianos. Por muito menos os "socialistas" enviam as suas milícias e fazem uso de perseguições, prisões, tortura e assassinato.
A Lei da Anistia, negociada entre militares democratas, políticos do establishment e a oposição do MDB, com amplo apoio da sociedade civil, foi assinada por Figueiredo em agosto de 1979, abrindo realmente caminho para a redemocratização do País. Foram os próprios militares que tomaram a iniciativa de abandonar o poder.
Sem dúvida a "democracia" bolivariana consegue ser mais dura do que a ditadura brasileira nesses períodos!

*Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br.

2 comentários:

amauri disse...

Bom dia Paulo!
Nao estamos muito longe destas etapas.
Socialismo do século XXI - Sistema neocomunista, em implantação na Venezuela (Hugo Cháves), na Bolívia (Evo Cocales), no Equador (Rafael Garcia), na Nicarágua (Daniel Ortega), na Argentina (Cristina Kirchner), no Brasil (Lula-Dilma), obedecendo ao objetivo estratégico do Foro de São Paulo (FSP), que é comunizar toda a América Latina. Segundo Viviana Padelin, do movimento Fraternidad Libertaria Latinoamericana, esse tipo de socialismo é implantado em três etapas (Cfr. Las fases del neocomunismo o socialismo de siglo XXI, disponível na internet):
1ª. Etapa - Governo populista: assistencialismo, aumento da quantidade de cargos públicos, aumento de salários, controle paulatino dos meios de comunicação e da cultura, corrupção, discriminação e direitos humanos, revisão da história recente (governos militares), desvalorização dos símbolos pátrios, aumento da delinquência, desmantelamento progressivo das forças de segurança ou sua cooptação com o novo regime, utilização de menores de idade para delinquir, fragmentação da oposição, ataques à Igreja Católica, ocupação de fábricas e terras “não produtivas”, aumento de ONGs de esquerda, criação de grupos de choque, criação de novas universidades de orientação esquerdista, aumento de impostos, aumento do consumo de drogas e narcotráfico, censo habitacional para conhecer os domicílios desocupados, fragmentação da central sindical, quebra do sistema de saúde;
2ª. Etapa- Etapa de implantação e consolidação: quebra da classe média, reforma constitucional, aprovação do aborto, lei da censura, perseguição midiática e judicial, colapso do judiciário, a delinquência governa as ruas, legalização da maconha, destruição moral e física das Forças Armadas e da Segurança Pública, oposição fragmentada (incapaz de gestão eficaz, mesmo vencendo as eleições), elegem-se novos inimigos para serem combatidos pelos grupos de choque do sistema, divisão de municípios e estados, perseguição religiosa (especialmente contra católicos e evangélicos), criação de milícias armadas;
3ª. Etapa- Fase inicial do neocomunismo: “expropriações”, presos e crimes políticos, ataque à Igreja Católica, regime eleitoral à feição do partido do governo, eleições espúrias, espiral inflacionária.

Anônimo disse...

...divide et impera...

http://padrepauloricardo.org/blog/urgente-congresso-pode-aprovar-a-ideologia-de-genero-como-meta-da-educacao

Vale!