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sábado, 5 de abril de 2014

Um diplomata diferente: Sergio Tutikian (aposentado, e falante...)

Com algumas evidências interessantes sobre as relações Brasil-Iraque aos tempos dos militares no Brasil e do Saddam Hussein. Já se sabia dessa estreita cooperação nuclear e militar com um dos regimes mais repressivos, ditatoriais e desumanos do planeta, mas não se tinha ideia de como se passavam as coisas realmente.
Israel denunciou essa cooperação Brasil-Iraque com razão...
Paulo Roberto de Almeida

ITAMARATY
O senhor embaixador / Entrevista / Sergio Tutikian
Cláudio Goldberg Rabin
Zero Hora, 31/03/2014

No apartamento no bairro Moinhos de Vento há quadros italianos e iraquianos, vasos chineses, tapetes persas e esculturas do Azerbaidjão. Pode parecer um cenário de kitsch, mas cada peça é parte de uma raiz difusa de um homem que cruzou o mundo, mas não se fixou em lugar nenhum. O embaixador Sergio Tutikian partiu de Porto Alegre, onde ficou até prestar o concurso para o Itamaraty em 1964, para retornar após se aposentar.

Viveu na Bolívia, fugiu da Brasília de pó, barro e militares dos anos 1970, morou no Irã da opulência esbanjadora dos tempos do xá e da repressão religiosa pós-Revolução Islâmica. Sobretudo, serviu no Iraque durante a guerra com os rivais iranianos, quando o segundo choque do petróleo colocou a economia brasileira de joelhos e o país teve de vender a alma diante da dependência do regime carniceiro de Saddam Hussein. Foi espionado e conheceu de perto os reatores nucleares que os engenheiros brasileiros ajudaram a construir.

Na entrevista a seguir, o diplomata de 74 anos de idade e 40 de carreira, fala sobre os problemas da profissão, as nuances das relações entre países, \as ameaças que sofreu e revela detalhes da trajetória de um gaúcho que esteve onde a história da segunda metade do século 20 aconteceu.

O que é um diplomata?
No país estrangeiro, é autoridade máxima, representa o presidente da República. O diplomata não se manifesta. Diplomata é só diplomata. No momento que você tentar sair das suas funções, por exemplo, e querer espionar no Iraque, como aconteceu com colegas meus, você acaba se incomodando e pode ser até ameaçado de morte.

O que levou o senhor para a vida diplomática?
Tive dois colegas que influenciaram. Um era o Manuel Maurício Cardoso, cujo pai era ministro na Bélgica. Ele estudou no mesmo colégio que eu, o Instituto Porto Alegre, o IPA. O Manuel era interno, coisa que havia naquela época. Nos finais de semana ele ia para minha casa. Outro foi Udt Bertrand, que hoje é diplomata da (chanceler alemã) Angela Merkel. Eles me mostraram o que é a carreira. Não havia informação, era tudo muito difícil aqui em Porto Alegre, as livrarias eram muito pobres. Mais ou menos por 1958 eu comecei a gestar a ideia. Fiz Direito na UFRGS, fui para o Rio de Janeiro, fiz o vestibular e consegui passar contra todos os auspícios e as ideias das pessoas que achavam que eu, sendo filho de imigrante da primeira geração, dificilmente entraria.

Filhos de imigrantes eram barrados?
Houve dois momentos no Itamaraty, tanto com relação ao aspecto socioeconômico quanto na parte da linhagem. Quando falo em linhagem, me refiro àqueles que têm pai, avô, mãe, dentro da carreira, como é o caso do (ex-ministro de Relações Exteriores Antônio) Patriota. Fiz o vestibular exatamente quando houve o golpe de 64. Houve uma “democratização do Itamaraty”. Até então, só entravam famílias que tinham linhagem na carreira e nomes de origem portuguesa e espanhola. Era muito difícil filhos de imigrantes do Oriente Médio, israelitas, negros ou pardos entrarem. Mas, na minha turma de 26, metade era descendente de imigrantes. Os militares resolveram abrir um pouco a coisa, também porque os adidos que existiam nas embaixadas tinham filhos, e esses filhos queriam entrar na carreira.

O batizado no Exterior foi na Bolívia?
Eu recém tinha saído do curso. Você veja a imprudência de quem me mandou (risos). Fui para La Paz substituir um colega. Acabei ficando sozinho. Sempre tivemos relações difíceis com a Bolívia. Aí, se deu o problema do asilo. Era o chefe do Estado-maior da Bolívia. Eu sofria pressão local e não se podia consultar Brasília, porque as comunicações eram difíceis. Um telefonema levava uma semana para a gente conseguir. O sistema criptográfico era muito primitivo, feito à mão. Tive de resolver sozinho. Isso propiciou que eu pudesse sair para o Exterior sem ir para Brasília.

Por que não Brasília?
Era um horror! Era só poeira e barro em 1970. Daí, fui considerado apto por causa da Bolívia, e acabei indo para Teerã. O que condicionou a minha carreira foi o acaso.

Havia algum cidadão brasileiro no Irã em 1970?
Existia a prima-irmã do (cirurgião plástico Ivo) Pitanguy. O Pitanguy modelou quase todos os narizes das princesas na época do xá. E ela acabou se apaixonando e casando com um iraniano, o que é mais comum do que a gente pensa. Mas sei o que tu queres dizer: era uma embaixada puramente de representação, não havia o que fazer. Aproveitei para estudar língua e civilização persa na Universidade de Teerã. Fazia esqui, também ia à praia, no Mar Cáspio.

Como era o Irã pré-revolução?
Era agradabilíssimo. A vida noturna era melhor do que em certos países da Europa. A liberdade era total, você podia fazer o que quisesse, desde que não falasse de política. Existia uma polícia secreta, a Savak, que acaba contigo, com tua família, com todo mundo. Posso te garantir que, mesmo com os aiatolás, prolifera a prostituição até hoje e tudo que tu puderes imaginar acontece. Eles chegavam a ter um bairro, que seria o equivalente ao Botafogo e Flamengo juntos, só para prostituição. Era bastante interessante. Quando o Santos jogou lá, até levei o Pelé para ver como era exótico. Você entrava nas casas e, como se fosse um palco, eles apresentavam as especialidades da casa. Não me pergunta quais são, porque algumas você ficaria horrorizado.

Quais eram as especialidades da casa?
Não, não, não (risos).
O xá Reza Pahlavi era completamente megalomaníaco. Um exemplo famoso foi a ostentação da festa de 2.500 anos do Império Persa, em 1971.
Ele quis festejar a data, esquecendo que o pai dele, que era um militar, havia dado um golpe na dinastia Qajar. Comemorou como se não tivesse havido nenhuma interrupção. Teerã foi decorada pela França, era uma coisa suntuosa feita durante o dia e destruída durante a noite pela população revoltada. Modelo Fifa (risos). Depois, as celebrações foram em Persépolis. Eu não deveria estar lá. Fui porque o Brasil não mandou chefe de Estado. Foi um ministro e o embaixador, mas o ministro só falava português e pediu que eu fosse. Na minha mesa estavam a princesa Anne, da Inglaterra; a princesa Sirikit, da Tailândia; e a Begum (Aga Khan III, nascida Yvette Labrousse), que tinha sido a miss França. Não se podia pagar nada, nem cabeleireiros para mulheres nem passagens de avião para Teerã. E os presentes eram patacões de ouro, abotoaduras com brilhantes da casa real do Irã que eu ganhei da princesa Ashraf, irmã gêmea do xá, que jogava os amantes no Mar Cáspio.

O Oriente Médio nunca abandonou o senhor?
Eu voltei para o Brasil, para a Secretaria de Estado, onde eu fui trabalhar com o embaixador Marcos Azambuja na área do Oriente Médio. E peguei quatro anos da guerra Irã-Iraque. De 1980 a 1984. A guerra vai até 1988.

Como é viver em um país estrangeiro em guerra?
É mais fácil do que viver o que meu colega está passando agora em Bagdá. Mas claro que é difícil. Primeiro, o desconforto. As primeiras coisas que eles bombardeiam são as usinas de eletricidade, daí não há gasolina, não tem carro, a comida não chega. Não vou dizer que não tinha medo. Eu tinha. Não cheguei a ficar biruta, aguentei. Trabalhei com generais que eram meus chefes, e eles não deixavam a gente sair do posto. Fiquei dois anos sem poder tirar férias. Não tinha luz, as ruas ficavam escuras. Tocava uma sirene para a gente correr para os abrigos e, por muito tempo, já no Brasil, tocava uma sirene de polícia, e eu corria.

Como o senhor conseguia comida?
Eu sou de descendência armênia. Minha empregada, uma iraquiana de origem armênia, era chefe de um supermercado do governo. Então, ela tinha de abrir o supermercado de manhã para limpeza, pegava o que tinha e trazia para mim. Senão eu teria passado muito mal. Os meus colegas foram para o acampamento da empreiteira Mendes Júnior. Naquele momento, a gente chegou a ter 20 mil brasileiros no Iraque, trabalhando no esforço de guerra. A empresa conseguia trazer comida do Brasil. Fiquei em Bagdá porque era o substituto do embaixador.

Saddam era especialmente cruel. Usou armas químicas na guerra. Esses relatos não chegavam até vocês?
Ele usou contra os curdos e contra os curdos do Irã. É horrível. Um dia usaram as armas químicas, o vento virou e voltou para o Iraque. Eu tinha um amigo que frequentava minha casa, um iraquiano que estava no front, ele ficou... não conseguia mais respirar, tinha 22 anos, não tinham mais força. Saddam fazia as reuniões ministeriais armado e, conforme o ministro incomodava ou discordava, ele já executava ali mesmo, na hora. Mas particularmente cruel era um filho que ele tinha, Uday.

O senhor conheceu Saddam. Como foi esse contato?
Ah, ele era agradável, simpático. Eu era diplomata, e ele tinha todo interesse em agradar o Brasil, porque nós estávamos dando cooperação nuclear. Então, nos tratava muito bem, tínhamos a porta do palácio aberta. Não pedia a saída de diplomatas, mas sabia como tornar a nossa vida insuportável.

O Iraque tinha um reconhecido serviço de inteligência. Vocês não eram espionados?
O famoso Mukhabarat. Eu mesmo fui seguido, mas consegui perceber porque era uma maneira burra, já que um deles não trocava a blusa e tinha uma camisa horrorosa verde. Daí, um dia, eu entrei em um ônibus e pensei: “Se essa criatura descer atrás de mim, ela está me seguindo”. E desceram. Também ficavam na frente da minha casa. Era muito desagradável. Os diplomatas eram proibidos de falar com os locais, coisa que eu não deixava de fazer.

Por que o senhor acha que era seguido pelo governo?
A informação é processada dentro da embaixada. Ela pode ser confidencial ou secreta, e você manda para o Ministério das Relações Exteriores, que separa, vê o que interessa e leva para o presidente da República. No caso da embaixada de Bagdá era diferente. Era o SNI (Serviço Nacional de Informação) que processava. Eles tinham gente lá dentro. O general passava para eles, e nós não tínhamos conhecimento. E a tua secretária, que necessariamente é local, era obrigada a fazer um relatório sobre tudo o que você faz e diz. Para se ter uma ideia da nossa dependência, nós precisávamos de 1,1 milhão de barris de petróleo por dia no Brasil e produzíamos acho que cinco ou 10 mil. Setecentos mil vinham do Iraque. Quer dizer, como é que se concentra toda a compra em um país só? É uma temeridade.

Foram quatro anos de privações e pressão. Quais eram os prazeres?
Você quer saber no particular? Uma pessoa que sabe que pode morrer amanhã, vai fazer o que hoje? Perdi o medo de muita coisa. Descobri que a minha companhia é boa também ao passar horas e horas sozinho no escuro.

Chegou a correr riscos físicos?
Eles estavam despreparados. Os aviões iranianos burlavam o radar e vinham abrindo caminho com metralhadoras na ponta da cabeça do avião. Os iraquianos tinham ninhos de metralhadoras nos edifícios e ficavam tão nervosos que, em vez de levantar a metralhadora em direção ao avião, faziam assim (aponta para baixo). Corria-se risco de vida toda hora. Talvez por isso eu tenha ganho condecorações do Exército. Uma vez fomos presos todos, a embaixada toda. Alguém bêbado bateu no carro de um colega, veio a polícia e começou uma discussão. Estávamos em quatro ou cinco. A gente foi falar com o delegado, isso umas duas da manhã, que estava deitado atrás da mesa dele, dormindo de farda e um cuecão. A gente caiu na risada. O delegado acordou e disse: “Vocês vão esperar até amanhã de manhã”. Mandou abrir a cela e nos colocou lá. Aí, veio um preso muito chique de robe de chambre, falando em inglês, e disse: “Olha, vocês tomem cuidado, eles são diplomatas. Vai dar problema muito sério”. Até estava achando engraçado, porque eu estava louco para sair do Iraque. Acabaram nos levando pra casa e pedindo desculpas. Foi o pior episódio, porque estávamos sem embaixador, e eu era o chefe.

O quão importante era o Iraque para o Brasil?
Até 1978, o Brasil não conseguia exportar serviços, principalmente de engenharia. O Iraque abriu as portas para nós, claro que pagamos um preço político. Permitiu que a Braspetro explorasse petróleo em Basra, onde os rios Tigre e Eufrates se juntam e deságuam no Golfo Pérsico. Onde era o paraíso de Adão e Eva. E o Brasil descobre o maior lençol de petróleo do Iraque bem na fronteira com o Irã. Isso aí coincide com um período difícil do Brasil, os anos 80, o segundo choque do petróleo por causa da Revolução Iraniana. O petróleo, que custava US$ 3 o barril, passa para mais de 30. A gente conseguia explorar petróleo e mandar para o Brasil a, digamos, US$ 13. Nós importávamos todo o petróleo do Iraque porque era mais barato e não tínhamos dinheiro.

E o que nós demos em troca?
A gente teve de votar (na ONU) dizendo que o sionismo era uma espécie de racismo, voto retirado nos anos 90. Depois, começamos a dar apoio total aos palestinos, quando, antes, tínhamos uma posição equidistante no conflito entre Israel e os países árabes. Mais a cooperação nuclear. Eu próprio entrei nos arredores do reator lá, fui mais de uma vez levar documentos, que não sei o que eram, porque só o SNI lidava com isso. Com a guerra, parte do petróleo para o Brasil passou a ser suprido pela Arábia Saudita. Foi feito um escambo também. Wolfgang Sauer, na época o presidente da Volkswagen, era muito amigo de um grande banqueiro turco. O Iraque precisava do dinheiro para o esforço de guerra e trocamos petróleo pelos Passat. Esse banqueiro comprou uma frota de caminhões cisterna, que buscavam o óleo na fonte, passavam pela Jordânia e iam para Alemanha, que dava o dinheiro para nós. Era uma triangulação, mas a maneira de continuarmos recebendo dinheiro.

Se isso não tivesse sido feito, o Bra...
O Brasil ia pras cucuias (interrompe a pergunta). O Brasil não tinha mais dinheiro para suportar o segundo choque do petróleo e também estava com uma inflação nas alturas, com demissões em massa, tendo acabado o período áureo do milagre econômico. O Iraque era essencial, e a gente faria qualquer coisa para continuar com aquelas relações naquele nível.Tínhamos, acho, US$ 10 bilhões em interesses. Era muito dinheiro.

Nelson Rodrigues disse uma vez que o maior terror de um diplomata brasileiro no Exterior era encontrar um compatriota. Onde acaba a piada e começa a realidade?
Não gostava muito de encontrar brasileiro, porque era sempre encrenca. Trabalhei em Milão como embaixador até 2002 e, só lá, tinha 20 mil travestis brasileiros. Havia honrosas exceções, mas a maioria ia para se prostituir, tanto feminina quanto masculina e de travesti. Meu melhor amigo era o chefe de polícia, porque toda hora eu tinha de encostar um ônibus e levar aquela gente toda que entrava ilegalmente. Eu dizia para (o governo da) Itália, vocês pagam a passagem (de volta para o Brasil) mas eles vão voltar. Tanto que a mulher brasileira tem uma fama terrível na Itália. Daí tem crime, tem droga, mas é por isso.

O que é preciso para subir na carreira? Linhagem, mérito, política, ou os três?
Sem mérito não dá mais. Se tu tiveres mérito, é muito mais fácil se tiveres linhagem. Sem linhagem, ou tem de trabalhar muito ou conseguir por fora. Dizia-se que só existiam dois que promoviam durante muito tempo no Itamaraty. O Antônio Carlos Magalhães e o Sarney. O Sarney acho que até hoje. Com o governo civil, passaram a recrutar gente dentro do Itamaraty. Por quê? Porque as carreiras hierarquizadas dependem de promoção e de remoção. Conclusão: bico fechado. Tem de ser uma carreira que você preze e goste, porque no dia que sair aquele governo, você cai em desgraça.

O senhor retornou a Teerã depois dos tempos do xá. O que mudou com a repressão sexual depois da revolução islâmica?
O que eu notei é que se fazia dentro de casa o que antes se fazia na rua. Teerã é uma cidade cortada por uma avenida que tem 50 quilômetros de uma ponta a outra. A cidade começa no Deserto do Sal e acaba nos Montes de Alborz. Do deserto até a metade da cidade, aplica-se a religião, chicotada, pedrada. Uma das poucas coisas que o Lula conseguiu foi acabar com a lapidação no Irã desde aquele problema da Sakineh (Mohammadi-Ashtiani, condenada à morte por adultério). Agora, eles matam a mulher com um tiro. À medida que se vai subindo em direção à montanha, os costumes vão afrouxando. O suborno aplaca a ira da polícia religiosa. Qualquer carro particular pode levar passageiro, pois os táxis não são suficientes. Então, a mulher que quer se prostituir para na rua e na hora que passar um carro bonito, ela entra. Se a polícia religiosa chega, ela diz que é táxi. A raposa perde os pelos, mas não perde os vícios.

A vida de um diplomata é quase como a de um nômade. O senhor não chegou a casar?
Não, não casei e não pretendo. Mas acho que tem mulheres que ajudam muito na carreira e outras que acabam com a carreira do marido.

Alguma saudade da ativa?
A sensação que eu tenho como aposentado é muito boa, é uma sensação de liberdade. Passei minha vida me policiando, porque tudo que tu fazes no Exterior tem consequências, tem a imprensa em cima da gente. Não pode dar declaração, não pode falar. Você é sempre um estrangeiro, não posso criticar o país onde estou. Comecei outro ciclo, choveram propostas de trabalho, mas aceitei. Escolhi desfrutar.

“Tocava uma sirene para a gente correr para os abrigos e, por muito tempo, já no Brasil, tocava uma sirene de polícia, e eu corria “

“O Iraque era essencial, e a gente faria qualquer coisa para continuar as relações naquele nível”

Zero Hora – Saddam Hussein, o aliado do regime militar

Em setembro de 1980, começa a violenta guerra entre Irã e Iraque. O mundo é asssolado pelo segundo choque do petróleo, no qual o preço do produto, essencial para qualquer economia moderna, dispara. O Brasil de então tinha uma escassa produção nacional e importava quase tudo que consumia do Iraque.

– Dizia-se que chegamos a mandar urânio enriquecido para lá em avião de passageiros, mas havia uma guerra de informação do lado brasileiro e iraquiano. Israel descobriu indícios e divulgou na imprensa. O voo fazia Bagdá-São Paulo pela Iraqi Airways a pretexto de levar e trazer funcionários para a Mendes Júnior – lembra Tutikian.

Na ocasião, cerca de 20 mil brasileiros estavam no país, muitos contribuindo no esforço de guerra.


– Eles nos financiavam para que a Avibrás e outras empresas brasileiras desenvolvessem armas para o Iraque. Fornecemos desde tanques, os Urutus, até mísseis. Mandamos mais de 30 engenheiros do ITA para lá, com o brigadeiro (Hugo de Oliveira) Piva, para melhorar os mísseis que vinham da Coreia do Norte e que não alcançavam Israel. Nosso pessoal fez alcançar Israel e a Arábia Saudita – conta.

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