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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Eleicoes 2014: a prostituicao da politica e do empresariado pelos companheiros - Alexandre Rands

Pela primeira vez, ever, eu vejo um nordestino descartando Celso Furtado. Isso jamais tinha ocorrido antes, e nunquinha da silva na academia. Não só os campineiros, mas a imensa maioria da academia, dos economistas, dos homens públicos (e privados também), acham Celso Furtado o máximo. Há anos que venho dizendo que o economista já estava errado desde os anos 1950, ao pregar o seu keynesianismo improvisado para o Brasil. Não podia dar certo, como não deu.
Paulo Roberto de Almeida

Dilma trata os empresários como prostitutas'
Entrevista Alexandre Rands
O Globo, 14/09/2014

Principal assessor econômico de Eduardo Campos, Alexandre Rands mergulhou na campanha de Marina Silva (PSB) após a morte do amigo de infância. Não tem com Marina a mesma relação direta que tinha com Campos, já que o economista mais próximo dela é Eduardo Giannetti, mas diz que o grupo em torno da candidata mantém um consenso: a rejeição à atual política econômica do governo, que julga excessivamente influenciada por economistas da Unicamp, onde Dilma foi doutoranda e aluna do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Que diferença haveria entre um governo de Campos e um de Marina?
Pouca. Talvez ele fizesse as mudanças na gestão mais rapidamente, pela experiência em Pernambuco. Pode ser que Marina não consiga a mesma velocidade, mas ela tem o mesmo compromisso. E tem uma qualidade: sabe ouvir.

PT e o PSDB acusam o programa econômico de Marina de copiar ideias tucanas. Qual a diferença?
O PSDB adora dizer que a gente está copiando. De fato, numa discussão, vamos concordar em 80% (dos temas). Não é porque os economistas de Marina são tucanos, mas porque hoje há alguns consensos na teoria econômica. Estão em todas as universidades americanas, em 98% das europeias, em 95% das asiáticas e 97% das brasileiras. Só uma universidade aqui não tem articulação internacional: a de Campinas (Unicamp). Ela é endógena. Mas tem uma força no governo Dilma que não tinha no de Lula, que era muito mais próximo do que Marina defende hoje. Dilma pensa com a cabeça de Campinas, que hoje é uma ilha que parou no tempo. Pela primeira vez, cada candidato tem propostas de desenvolvimento baseadas em concepções diferentes.

Quais são essas concepções?
Na visão de Marina, reformas institucionais são importantes, mas mais importante é o impulso da educação, que aumenta a produtividade. Para os tucanos, bastaria manter o gasto sob controle e crescer. Depois, isso se resolve. Dilma tem a visão estruturalista de privilegiar um ou outro setor com políticas discricionárias. O governo fica tentando aumentar o crédito para estimular a demanda. É um modelo econômico altamente inflacionário, baseado no (economista) Celso Furtado. A escola de Campinas e grande parte da esquerda brasileira não conseguiram se libertar de Celso Furtado. Só que é um modelo que gera uma crise dentro dele próprio. O que são R$ 500 bilhões do Tesouro no BNDES para subsidiar empresários? É dinheiro direto na veia dos grandes empresários. Tem coisa mais de direita do que isso?

Celso Furtado não faz mais sentido?
Não mais hoje, pelo menos. A questão, inclusive, é se já fez. Lá atrás, quem seguiu modelo diferente se deu melhor. A ditadura da Coreia do Sul, que na década de 1960 era mais pobre que o Brasil, industrializou, mas sobretudo investiu na educação.

Mas defensores da atual política industrial e do BNDES dão como exemplo justamente a Coreia. Qual a diferença?
A diferença é que a Coreia gastava 10% dos seus recursos para promover setores industriais, e 90% para garantir educação, oportunidades iguais. O governo dava prazo e meta. Aqui, temos um governo subjugado ao empresariado. Dilma detesta os empresários, mas todas as políticas são para eles fazerem o que bem entenderem. O governo bate, mas depois convida para um drinque. Trata os empresários como prostitutas. Quer estar com elas, desfrutar de suas benesses, mas depois vai denegrir sua imagem.

Se os empresários lucram, como explicar a resistência à reeleição de Dilma?
Seguindo o exemplo: você acha que as prostitutas confiam nos homens que recebem? Chamariam um deles para a festa de aniversário do filho? Claro que não. Só têm interesse e medo. E tem outra coisa: um homem agrada a três, quatro, dez prostitutas, mas não a todas as outras que não estão participando da festa.

Parte dos empresários está de fora?
Sim, boa parte. Não adianta só dar crédito barato. Eu mesmo fiz investimentos na minha empresa com linhas de 5% ao ano do BNDES. Se fossem juros de 8%, eu teria investido? Sim, do mesmo jeito. O governo escancarou o subsídio desnecessariamente. Só que o mesmo empresário que se beneficia disso tem que enfrentar Receita, INSS, regulação instável, licenciamento demorado, greves... Por que vai gostar de um governo que joga a burocracia contra o empresariado?

Marina quer mandato fixo no Banco Central. Que diferença faria para o atual presidente, Alexandre Tombini?
Ele teria subido os juros antes. Não ficaria subjugado à presidente. Poderia dizer para ela: cuida do seu quadrado e eu cuido do meu.

Campos defendeu reduzir meta de inflação dos atuais 4,5% para 3% até 2018. Isso penalizaria emprego?
Não. Conduzir a economia gradualmente para esse patamar é possível. Inflação atrapalha o crescimento. Chegar a 3% em quatro anos é possível, geraria um crescimento de mais longo prazo.

Qual seria o crescimento da economia com Marina?
O ano que vem vai ter crescimento medíocre de novo, e o segundo ano de governo ainda será difícil. Mas acho que, no quarto ano, Marina conseguiria algo em torno de 4%. O começo será difícil por causa das caveiras dentro do armário.

Roberto Setubal, presidente do Itaú, elogiou Marina. É preciso apoio do mercado financeiro para vencer?
Não estamos aqui para agradar a banco. Marina não seria como Dilma, que gosta de prometer coisas para agradar a determinados setores. Assim como Lula, Marina é uma legítima representante do povo. Ela não quer penalizar ninguém, mas não vai sacrificar a maioria pelos interesses da minoria. Se o setor financeiro apoiar, ótimo. Se não, paciência.

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