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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Academia: um aliado dos companheiros reclama da mediocidade dos seus companheiros de academia - Rogerio Cerqueira Leite

O que esse cientista afirma não me surpreende nem um pouco, pois eu sempre soube que nossa academia ficava abaixo da crítica. Só me espantou um pouco a extensão da mediocridade também nas hard sciences e nas biológicas. Pensava que as humanidades fossem hors concours na competição de baixa produtividade e de mediocridade na produção. Agora vejo que o mal se estende a todas as áreas. 
Esses caras não merecem mais dinheiro público enquanto não melhorarem os padrões. 
Sintomático que esse companheiro acadêmico que apoiou estridentenente a companheira política na última campanha presidencial, se exime de botar o dedo na ferida e dizer que é justamente o modelo isonomista e sem cobrança de 'produtivismo' dos seus amigos no poder que mantem, reforça e aumenta essa mediocridade e esse desperdício de recursos nas sinecuras acadêmicas dos seus colegas. Eu os colocaria a pão e água e só entregaria recursos em contrapartida a uma "academia de resultados", como diriam alguns. Faltam metas, falta cobrança e falta sobretudo vergonha na cara. Começaria por retirar o cargo de reitor e administrador financeiro da mão (e dos pés) dos clérigos acadêmicos e colocaria gente de "Wall Street" e do "Walmart" administrando as universidades. Claro, acabaria com a estabilidade e a remuneração isonômica. E com várias prebendas indevidas. Sou cruel? Provavelmente: só quero uma universidade decente, embora eu ache que ela não tem conserto com os companheiros medíocres no poder. 
Paulo Roberto de Almeida

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

TENDÊNCIAS/DEBATES

Produção científica e lixo acadêmico no Brasil

A resistência dos medíocres e a falta de coragem política das autoridades impedem o crescimento da ciência de alta qualidade no nosso país

Dois artigos publicados recentemente pela revista britânica "Nature", especializada em ciência, deixam o Brasil e, em especial, a comunidade acadêmica brasileira, profundamente envergonhados.

A "Nature" nos acusa, em primeiro lugar, de produzir mais lixo do que conhecimento em ciência. Nas revistas mais severas quanto à qualidade de ciência, selecionadas como de excelência pelo periódico, cientistas brasileiros preenchem apenas 1% das publicações.

Quando se incluem revistas menos qualificadas, porém, ainda incluídas dentre as indexadas, o Brasil se responsabiliza por 2,5%. O que a "Nature" generosamente omite são as publicações em revistas não indexadas, que contêm número significativo de publicações brasileiras, um verdadeiro lixo acadêmico.

O segundo golpe humilhante para a ciência brasileira exposto pela revista se refere à eficiência no uso de recursos aplicados à pesquisa. Dentre 53 países analisados, o Brasil está em 50º lugar. Melhor apenas que Egito, Turquia e Malásia.

Tomemos um exemplo. O Brasil publicou 670 artigos em revistas de grande prestígio, enquanto no mesmo período o Chile publicou 717, nessas mesmas revistas. O dado profundamente inquietante é que enquanto o Brasil despendeu em ciência US$ 30 bilhões, o Chile gastou apenas US$ 2 bilhões.

Quer dizer, o Chile, que aliás não está entre os primeiros em eficiência no mundo científico, é 15 vezes mais eficiente que o Brasil. Alguma coisa está errada, profundamente errada. A academia brasileira, isto é, universidades e institutos de pesquisas produzem mais pesquisa de baixa do que de boa qualidade e as produz a custos muito elevados. Há certamente causas, talvez muitas, para essa inadequação.

A primeira decorre de um "distributivismo" demagógico. É evidente que seria desejável que novos centros de pesquisas se desenvolvessem em regiões ainda não desenvolvidas do país. Mas é um erro crasso esperar que uma atividade de pesquisas qualquer venha a desenvolver economicamente uma região sem cultura adequada para conviver com essa pesquisa.

Seria desejável que investimentos maciços fossem aplicados em pesquisas em instituições localizadas em regiões pouco desenvolvidas, mas cujo meio ambiente é capaz de absorver os benefícios dessa inserção.

O segundo mal que é causa inquestionável da diminuta e dispendiosa produção de conhecimento é o obsoleto regime de trabalho que regula a mão de obra do setor de pesquisas em universidades públicas e na maioria dos institutos.

O pesquisador faz um concurso --frequentemente falsificado-- no começo de sua carreira. Torna-se vitalício. Quase sempre não precisa trabalhar para ter aumento de salário e galgar postos em sua carreira. Ora, qual seria, então, a motivação para fazer pesquisas?

O terceiro problema é o sistema de gestão de universidades públicas e instituições de pesquisa, cuja burocracia soterra qualquer iniciativa dos poucos bem-intencionados professores e pesquisadores que ainda não esmoreceram.

Pois bem. Há uma fórmula que evita todos esses males e que já foi experimentada com sucesso em algumas das instituições científicas do Brasil: a organização social. A resistência dos medíocres e parasitas e a falta de coragem política de algumas de nossas autoridades impedem a solução desse problema.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, físico, é professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br - www.folha.com/tendencias

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