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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mais Brics: nem mortos, nem performantes, sobrevivendo -- Marcos Troyjo (FSP)

Não concordo com a premissa do artigo, pois não concordo em que a ideia do grupo diplomático tenha sido uma boa coisa, seja para os países, em si, seja para o mundo.
Que os países sejam grandes, tenham perspectivas de crescimento -- desde que apliquem as boas políticas -- que eles tenham certo peso na política e na economia mundial, tudo isso fala por si.
Mas eles o são individualmente, por mérito (ou demérito) próprio, não em virtude do amálgama, da assemblagem política, que só foi feita por ambição e narcisismo dos seus dirigentes, que estão buscando oportunidades de marketing, para darem uma impressão de que juntos podem mais do que sozinhos.
Pode até ser, mas aí vira um denominador comum pelo mínimo, e geralmente por causas negativas. Eles podem, atuando conjuntuamente, impedir que certas coisas propostas pelo G7, por exemplo, sejam feitas, mas não creio que tenham força para produzir "bondades" para o mundo.
Concordo totalmente em que a chave para os Brics, COMO para qualquer OUTRO PAÍS, seja colocar a casa em ordem. Para isso não precisa de Brics nenhum, aliás até atrapalha...
Em que, por exemplo, o NDB, o novo banco de desenvolvimento, vai modificar a oferta de capital no mundo? Vai aumentar? Apenas marginalmente. Vai melhorar a qualidade dos empréstimos? Dificilmente. Pode ser que seja uma boa coisa, pois competição -- entre bancos financiadores -- sempre é uma boa coisa para qualquer setor. Mas não creio que isso altera as condições de funcionamento dos mercados financeiros ou o acesso a fontes de recursos por países pobres.
O Brics era um exercício intelectual para investidores que virou um grupo de pressão. Foi uma boa coisa para cada um deles e para o mundo. Muitos responderão que sim. Eu respondo que não.
Paulo Roberto de Almeida

A suposta ascensão e queda dos Brics
Sócios querem mais Brics; mercados financeiros, menos
MARCOS TROYJO
Folha de S.Paulo, 11/11/2015

É radicalmente díspare a maneira com que diferentes atores e grupos de interesse abordam o papel dos Brics no cenário global.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem mais Brics. Os mercados financeiros, aparentemente, menos.
Tais diferenças de perspectiva revelam uma curiosa combinação de, por um lado, fantasias irrealizáveis com, por outro, análises "binárias". Na maioria dos casos, tais abordagens são bastante superficiais.
Num extremo, a noção de que o grupo está revolucionando a ordem econômica internacional por meio do estabelecimento de novas instituições, como o NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, ou o Arranjo Contingente de Reservas, de igual montante, que permite aos países assistência mútua no advento de crises de liquidez.
A partir dessa plataforma, outras obras conjuntas seriam erguidas –ou ações táticas empreendidas– em palcos como as Nações Unidas.
A abstenção por parte dos Brics em votação na ONU que visava à condenação da Rússia por haver aproveitado o tumulto na Ucrânia para anexar a Crimeia seria exemplo de tal força de coordenação dos Brics.
Os cinco países-membros partiriam para coordenação macroeconômica mais sofisticada, e até mesmo a conclusão de transações comerciais entre si em outra moeda que não o dólar norte-americano. Ou seja, os Brics como polo, se não antiocidental, ao menos "alternativo" ao Ocidente.
Noutro, a decretação do "fim" dos Brics. O mau desempenho econômico de Brasil, Rússia e África do Sul –e a redução dos percentuais de crescimento da China– apontariam que a validade do conceito "expirou".
O último lance nessa tese declinista vem da interpretação, por parte do mercado financeiro, de uma recente decisão do banco de investimento Goldman Sachs.
A instituição há pouco anunciou que estava encerrando seu fundo específico sobre Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados sob o conceito mais amplo de "mercados emergentes" (de que os Brics também fazem parte).
Tal decisão parece ainda mais simbólica, pois foi a partir de um estudo conduzido por Jim O' Neill no próprio banco que o termo "Brics" ganhou grande notoriedade.
Quando, há cinco anos, Christian Déséglise e eu fundamos o BRICLab (um centro para o estudo dos Brics) na Universidade Columbia, em Nova York, nosso intuito não era alardear um futuro da economia global dominado pelos Brics.
Tampouco tratava-se de sugerir, pelas muitas diferenças internas que marcam o grupo, que suas iniciativas conjuntas e mesmo seu potencial econômico rumavam inexoravelmente para o fracasso.
Achamos que a ideia de Brics era (e continuará) válida como fórmula para comparar as estratégias (ou a falta delas) em projetos de poder, prosperidade e prestígio de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das sete maiores economias do mundo (medidas pelo poder de paridade de compra) tanto pelos cálculos do FMI como do Banco Mundial em 2014.
Além de seu papel relativo na economia global, esses países são superlativos em território, população e influência regional, além de acomodar importante estoque do fluxo globaI de investimento estrangeiro direto (IED).
Obviamente, o desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam –porque estão errando muito.
A China superestimou a velocidade com que a mudança de seu modelo econômico migraria da ênfase em poupança, investimento e exportações para o foco no consumo interno.
A Rússia pagou para ver na disposição do Ocidente em aceitar passivamente a irradiação de seu vulto de poder sobre a vizinhança na Europa Oriental. Além do que, economicamente fez pouco para diminuir sua dependência na exportação de commodities. E as agruras brasileiras são bem conhecidas.
Ainda assim, os Brics continuarão. Nos vários níveis de governo, academia e empresariado a cooperação no âmbito dos Brics aumenta.
A construção institucional vai se expandir e com isso aumentar o peso específico dos Brics em áreas como o financiamento do desenvolvimento ou o comércio e investimento intragrupo.
Não vale, contudo, acreditar ingenuamente que esses movimentos redesenharão em definitivo a ordem internacional.
Bem como a notícia da morte de Mark Twain, rumores sobre o fim prematuro dos Brics são "amplamente exagerados". Não há nada de automático ou definitivo em torno da potencial queda ou ascensão do grupo ou de seus membros.
Neste momento, a melhor coisa que os Brics poderiam fazer para melhorar sua projeção global seria colocar a casa econômica em ordem. E, claro, tal tarefa se impõe na presente conjuntura menos a Índia e China –e muito mais a Rússia e Brasil.

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