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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Previsoes imprevidentes para 2016: pela primeira vez a imprevisao ganha da previsao - Paulo Roberto de Almeida


Previsões imprevidentes para 2016: pela primeira vez a imprevisão ganha da previsão

Paulo Roberto de Almeida

Tá difícil pessoal. Os companheiros, no afã de conservar o monopólio do poder, estão se comportando de maneira imprevisível. Ou seja, eles arriscam, pela primeira vez, desmentir as minhas previsões imprevisíveis, o que será um tremendo fracasso para este colunista de ideias malucas, que fica sempre, irreligiosamente a cada ano, prevendo as coisas mais sensatas possíveis, só para ser desmentido pelos companheiros, que, sempre e invariavelmente, agem de forma insensata, contribuindo assim para o sucesso de minha empreitada pouco gloriosa.
Como sabem todos os 18 leitores que me seguem, sou especialista em coisas impossíveis, ou contrarianistas: tentar prever o que jamais será realizado. Pois bem: nestes doze ou treze anos de previsões insensatas (ou seja, sensatas), tenho sido invariavelmente desmentido pelos companheiros, que insistem em meter os pés pelas mãos a cada ano, o que me deixa bem contente, pois afinal de contas eles confirmam a minha aposta na sua insensatez.
Ora pois, como diriam os gajos da terrinha, não é que, premidos pelas agruras do momentos, pelas circunstâncias adversas, eles resolveram se comportar desta vez, e estão arriscando pela primeira vez me desmentir, logo eu, que só conto a verdade, ou seja, que eles são incapazes de acertar?
Eles já começaram pagando pedaladas, estão gostando das privatizações, ficaram de não roubar demais, enfim, estão conseguindo desmentir as melhores (quero dizer, as piores) previsões sobre o seu comportamento tresloucado. Está certo que no final de 2014, eu tinha apostado que em 2015 eles iriam tentar a honestidade, mas acho que essa foi forte demais para eles. Já no terceiro mês, deu aquele comichão, e eles começaram a roubar em outras áreas, ainda não detectadas pela Lava Jato, inclusive porque na Petrobras – quase completamente destruída – e em Abreu e Lima – já custou vinte vezes o orçamento inicial, e não vai conseguir ser rentável antes de 2095 – as possibilidades de “contribuições voluntárias e legais” foram tremendamente reduzidas com esse bando de procuradores e policiais em volta dos potes de ovos de ouro. Tiveram de voltar – pelo menos por enquanto – para a merenda das crianças e para o recolhimento do lixo, duas coisas que tinham ficado bem para trás por suas taxas de rentabilidade muito limitadas. Enfim, quem não tem cão, caça com urubus, ou hienas, enfim, o que der e estiver à mão...
Pois é, minha gente, já não se fazem mais previsões imprevidentes como antigamente, já não se fazem mais petralhas como outrora (os melhores estão sendo colocados fora de circulação), e os trapalhões da área econômica estão ficando quase sem receitas de novas artimanhas.
O que será que será?
Arriscando minha reputação – mas estou prevendo que os companheiros me desmentirão ainda este próximo ano, continuando a ser imprevisíveis trapalhões – vamos alinhar algumas das previsões imprevidentes para 2016.

1) Criação do programa Pedaladas Legais
Para se livrar de uma vez de todas essas chateações com pedidos de impeachment, e para contentar tantos governadores e prefeitos que também gastaram além da conta e que depois ficaram sem dinheiro para pagar médicos, enfermeiros, policiais, professores e todo esse povinho miúdo que só faz greve e perturba a paz dos eleitos com suas reivindicações abusivas, o governo federal já tem a solução para evitar o confronto com o TCU.
Basta criar o programa “Pedaladas Legais”, que é simplesmente uma espécie de cheque em branco avalizado pelo Congresso, a partir do qual os executivos dos três níveis da federação podem gastar à vontade, sempre que as necessidades o justificarem e houver imperiosos motivos sociais, como são todos os programas dos preclaros governos em favor da cidadania. Quando os montantes ameaçarem ultrapassar as dotações anteriormente autorizadas, basta os legislativos de cada esfera autorizarem um déficit legal, deixando o buraco para o futuro. Ninguém poderá dizer que foi por falta de vontade que o governo, como uma grande mãe para todos, deixou de fazer esta ou aquela bondade: com o programa Pedaladas Legais, tudo o que era complicado se torna mais simples, pois os legisladores não deixarão de cooperar com os executivos numa matéria que atende os mais legítimos anseios sociais, e as mais justas necessidades de todos os cidadãos de suas respectivas circunscrições eleitorais.
Estou seguro que o Adevogado General do PT, ops, o Advogado Geral da União saberá propor um projeto de lei, tão criativo ele é, que contemple os justos reclamos de executivos e legisladores por uma estrutura orçamentária flexível e manejável, como gostam todos os políticos e não deixam de apreciar os contribuintes, que estão sempre pedindo mais e mais pelo dinheiro que entregam voluntariamente aos respectivos governos em cada um dos níveis da federação. Esses contribuintes voluntários são um pouco como os cortadores de cana em Cuba, na época da colheita, la zafra, que está sempre precisando de braços, pois os tratores são poucos e sempre falta diesel. Os cubanos já têm uma piada para essas ocasiões: la participación es voluntaria, pero la voluntad es obligatoria. Ainda vamos chegar lá, aqui também...

2) Cristo Redentor entra no programa de concessões companheiras
Os companheiros ficaram tão entusiasmados com o seu programa de concessões – totalmente diferente das privatizações tucanas, como todos sabem – que passaram a imaginar tudo o que pode ser objeto de concessão pública, e não é que eles reservam algumas boas surpresas para 2016? Pois então, o Cristo Redentor, que passa por símbolo do Brasil, ou do Rio, o que seja, também vai entrar no programa de concessões companheiras. O lote, a montanha, os arredores, a floresta, as favelas simpáticas ao redor, a própria estátua – cela va de soi – serão cercados, com arames farpados e eletrificados (estilo nazista tropical), e o conjunto vai ser leiloado, segundo regras especiais que estão sendo desenhadas pelo MPOG, ou seja, o Ministério Petista de Obras do Governo, para que tudo seja perfeitamente concedido, regulado, e taxado, para que o governo companheiro, em lugar de gastar dinheiro com funcionários e os que mamam no negócio, passe a arrecadar impostos dos ganhadores, um pouco como se faz com as concessões de telefonia (que revertem 40% do faturamento em impostos).
O Cristo vai ficar muito mais vibrante a partir da privatização, ops, concessão, pois os novos administradores poderão promover bailes, festas, convescotes, reuniões abertas a todas as religiões e outros eventos sociais inclusivos. A estátua vai ganhar cores muito mais alegres do que atualmente, esse cinzento concreto que não tem graça nenhuma; poderão pintar um verdadeiro arco-íris no personagem, conforme os tempos

3) Companheiros aderem ao livre comércio... de talentos.
Com tantos países fazendo blocos em todas as partes, o Brasil companheiro vai inovar absolutamente, promovendo o que há de mais avançado e racional no campo da liberalização comercial: o livre-comércio unilateral. Em lugar de ficar negociando item por item com um monte de parceiros chatos, os companheiros vão promover o livre comércio do único item que não pode ser objeto de comércio, por ofender as boas consciências e as almas cândidas: o ser humano. Mas eles o farão de forma avançada, preservando todos os direitos íntimos da pessoa humana, sua privacidade e o respeito que se deve ter por cada um. Nada mais progressista do que exportar talentos, o que o Brasil tem de melhor: futebolistas, músicos de funk, cantores caipiras, trombadinhas, garotas de programa, políticos sem mandato, economistas da UniCamp, camponeses sem terra, trabalhadores sem teto, enfim, todas aquelas categorias que já entram nos programas de subsídios companheiros e que passarão doravante a ter o mundo como possibilidade de triunfo universal, graças a esta nova iniciativa companheira.

4) Protocolo aditivo à convenção da ONU sobre corrupção
Tendo em vista dúvidas persistentes e tratamento duvidoso pela Justiça em relação às doações legais que as empresas em geral, mas especialmente as estatais, possam fazer a partidos políticos, os companheiros vão propor, na próxima Assembleia Geral da ONU um protocolo aditivo à Anti-Bribery Convention, a convenção que visa induzir os países soberanos a coibir, controlar, vigiar e punir todas as doações que não estejam vinculadas a uma atividade econômica precisa e legítima. Existe uma clara ambiguidade nessas extorsões, ops, doações, pois só pelo fato de que países com certa predominância de compras governamentais e de empresas estatais podem estar sendo controlados por juízes muito zelosos partidos políticos legítimos podem estar sendo prejudicados por ações que deveriam ser consideradas dentro do fluxo normal de caixa dois, ops, de tesouraria, e avaliadas em conformidade com as intenções generosas de cada empresa doadora.
Para levantar essas ambiguidades, os companheiros diplomatas vão propor um projeto de resolução – que certamente recolherá a adesão entusiasta de muitos parceiros ditos estratégicos, como China, Venezuela, Rússia, Cuba, Equador, enfim, os suspeitos de sempre – preparatória a um verdadeiro protocolo aditivo à convenção anticorrupção. Todos os países têm o direito de organizar os negócios de seus partidos em total respeito à soberania nacional, especialmente as operações financeiras que são imprescindíveis para ao funcionamento normal de suas atividades, sobretudo a compra de equipamentos, pagamentos de salários, propinas, ops, contribuições para os sistemas de mensalão, ops, de coalizão que podem caracterizar certos regimes políticos. Isso vai da sobrevivência dos nossos apparatchiks, ops, nossos quadros, que têm o direito de trabalhar eticamente com o dinheiro dos contribuintes, quer dizer, a partir das doações legais. Enfim, os companheiros diplomatas saberão encontrar a linguagem apropriada para os projetos de resolução da AGNU e depois para o first draft do Protocolo Adicional.

Com essas e outras medidas, 2016 será um ano muito melhor para o regime duradouro dos companheiros, sem ameaças golpistas e sem o mimimi da oposição, que não tem moral nenhuma para reclamar das iniciativas companheiras, pois eles já fizeram igual, embora com muito menos competência do que os companheiros.
Vamos que vamos! Feliz 2017, ops, 2016 a todos, que o ano sorria segundo os desejos de cada um...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília,  31 de dezembro de 2015, 5 p.


PS.: Para as previsões anteriores, ver estas duas postagens:

Preparando as previsoes imprevidentes para 2016: conferindo as de 2015 - Paulo Roberto de Almeida - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/12/preparando-as-previsoes-imprevidentes.html#sthash.rVQtfB1H.dpuf


e

Preparando as previsões de 2016: algum retrospecto pode ser útil - See more at: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/12/preparando-as-previsoes-imprevisiveis.html#sthash.NwyhsMm7.dpuf


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