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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Jerusalem - Leandro Narloch (Crusoe)

O artigo é fraquinho, sem quaisquer argumentos diplomáticos ou de direito internacional, como deve ser o caso nesta questão. Em 2010, quem presidiu à decisão de reconhecer o Estado Palestino foi o presidente Lula, não o estupor da Madame Pasadena.
Sem pretender remontar a toda a questão histórica, desde os anos 1950, quando o Brasil já cogitava – tendo elevado a sua legação em Tel Aviv ao status de embaixada – de patrocinar um plano (apresentado em 1953) para a desmilitarização e neutralização (ela via da internacionalização) de Jerusalém, e de criar um Consulado brasileiro em Jerusalém (criado efetivamente em 1958 pelo presidente JK e pelo chanceler Macedo Soares), permito-me remeter a meu artigo mais sintético, escrito um ano atrás, já reproduzido aqui:

3249. “Um alerta sobre uma delicada questão diplomática: o caso de Israel”, Brasília, 23 fevereiro 2018, 3 p. Chamando a atenção para o apoio político dado por setores religiosos a Israel, como suscetíveis de influenciar a postura diplomática brasileira. Postado no blog Diplomatizzando (31/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/embaixada-em-jerusalem-alerta-precoce.html).
Paulo Roberto de Almeida

Eis o artigo de Leandro Narloch:

Israel, capital Jerusalém

Leandro Narloch,
Revista Crusoé, n. 41, 12 fevereiro 2019

Por que a embaixada brasileira na Itália está no centro de Roma? Porque os italianos consideram Roma sua capital. Por que temos uma embaixada em Washington? Porque Washington é a capital dos Estados Unidos. Mas então por que a embaixada brasileira em Israel fica em Tel Aviv e não em Jerusalém Ocidental?
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a existência do estado de Israel, em 1949. E desde então esse país que nós reconhecemos considera Jerusalém sua capital.
O mesmo vale para o escritório da representação brasileira na Palestina, que existe desde 2004, em Ramala. Em 2010, Dilma reconheceu a existência do estado Palestino segundo as fronteiras de 1967 (ou seja, Cisjordânia e Faixa de Gaza formando o estado Palestino; Jerusalém dividida entre os dois países).
Depois que Bolsonaro anunciou que seguiria Trump e mudaria o endereço da embaixada, o governo tem fraquejado nessa decisão. Não deveria. Israel é um oásis de liberdade, democracia e direitos humanos no Oriente Médio – é importante que o Brasil sinalize apoio a sua autonomia. A atitude não precisa soar como provocação aos árabes. Se algum dia houver um estado Palestino, a embaixada também pode ser em Jerusalém, na parte oriental.
Argumentos muito ruins costumam aparecer nesse debate. “Trata-se de um território em disputa”, me diz um amigo contrário à mudança da embaixada. Sim, territórios da região têm sua posse contestada. É o caso dos assentamentos judeus na Cisjordânia, uma controvérsia que divide até mesmo os israelenses. Estive lá em novembro: a tensão é evidente. Jornalistas e turistas que se aventuram a passear pela região de Eli, no norte da Cisjordânia, costumam usar ônibus blindados para se proteger de pedras e tiros disparados por palestinos. Ao volante, o motorista listava locais de atentados recentes; na porta de uma fábrica, faixa e flores lembravam o atentado contra dois israelenses duas semanas antes.
Mas esse não é o caso de Jerusalém Ocidental. Só o mais radical defensor dos árabes deve achar que os palestinos têm direito ao território onde está a sede do governo israelense desde 1950. O Parlamento, a Suprema Corte e os ministérios ficam em Jerusalém desde quando a cidade ainda era dividida entre Israel e a Jordânia. Ninguém sensato defende controle palestino na área do Museu do Holocausto, por exemplo. Só pensa assim quem reivindica a “Palestina Original”, sem nenhum estado judaico. Mas, para esses, a embaixada até mesmo em Tel Aviv é motivo de ofensa.
“Se mudarmos a embaixada, os países do Oriente Médio vão retaliar e boicotar produtos brasileiros”, diz outro argumento duvidoso. Aqui é preciso levar em conta a tal “soberania nacional”. Tenho calafrios com essas duas palavras – elas já serviram para Ernesto Geisel justificar a proibição de computadores importados no Brasil. Mas esse caso é, sim, questão de soberania. Ora, quem decide onde instalaremos representações diplomáticas somos nós, não a Turquia ou a Arábia Saudita. O Oriente Médio responde por 4% das exportações brasileiras – isso já é o suficiente para baixarmos a cabeça?

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