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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Venezuela: o grande teste da política externa do Brasil

Este próximo sábado, 23/02, representará um grande teste para todos os países envolvidos na imensa tragédia que aflige o povo irmão da Venezuela: para a ditadura chavista, apodrecendo aos poucos, mas ainda dispondo do apoio de militares corruptos e coniventes, para a liderança de Juan Guaidó, presidente encarregado (mas sem poder) da Venezuela, para os EUA, que arquitetaram com Guaidó essa "transição" política que ainda não se concretizou, para os vizinhos imediatos, em primeiro lugar a Colômbia, que já tem mais de um milhão de refugiados venezuelanos em seu território e apoia a estratégia americana para acelerar a mudança política no país vizinho, para o Brasil, que tem uma política externa não totalmente coordenada com os líderes militares no Governo (chefe do GSI e vice-presidente) e com o próprio ministério (que provavelmente teria agido de outra forma desde o início), para os membros do Grupo de Lima e para vários países europeus, que já declararam apoio ao "presidente encarregado" (mas cujo mandato constitucional termina justamente neste sábado dia 23, quando ele deveria ter convocado eleições livres e representativas).
Não sabemos, ninguém sabe, o que pode ocorrer, pois por vezes as coisas se precipitam a partir de um simples estampido, de um choque entre forças populares e serviços de repressão, divisão nas FFAA venezuelanas, deserções, ataques. Podem ocorrer poucos mortos e a derrocada do ditador, mas podem ocorrer muitos mortos e uma situação de impasse militar, dentro da Venezuela (ou seja, algum tipo de guerra civil) ou nas suas fronteiras.
Nunca houve, na história da América Latina algo semelhante, sequer similar, ou seja: em primeiro lugar uma ditadura (dessas tivemos várias) que tenha provocado a destruição econômica completa do país, e a fome do seu próprio povo, em segundo lugar, uma oposição praticamente completa de vizinhos e parceiros internacionais contra uma ditadura execrável, mas que resiste em cair.
O mais provável é o impasse e a deterioração ainda maior da situação interna na Venezuela, a partir do estrangulamento financeiro sendo comandado atualmente pelos EUA. Mas o Putin, menino rebelde, resolveu comprar essa briga, só por birra com os EUA, pois seus diplomatas já devem ter informado que a situação na Venezuela é insustentável. Ele pode pensar que pode fazer por Maduro o que já fez e ainda faz por Assad, na Síria...
Paulo Roberto de Almeida


O Estado de S. Paulo, 22/02/2019, 14:00


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