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domingo, 28 de abril de 2019

BRICS: uma agenda ainda indefinida (DCI)

Política externa deve afastar País do BRICS

Sem sinalizações claras sobre as intenções brasileiras com os emergentes e as falas contraditórias entre os ministros de Bolsonaro podem distanciar Brasil da China

A aproximação do presidente Jair Bolsonaro com os Estados Unidos e a indicação de entrada do Brasil na Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) desalinham o País do BRICS e podem impactar nas relações com os parceiros do grupo. 
A principal preocupação, nesse cenário, seria um maior distanciamento da China ante uma possível resolução da guerra comercial entre o país asiático e os Estados Unidos. A solução do conflito – que já se desenrola desde 2018 – viria de uma redução nas medidas protecionistas de Donald Trump (presidente dos EUA) e de um consequente acordo sobre as taxas de importações entre os dois países. Com isso, a China – que é o maior parceiro comercial brasileiro – voltaria a transacionar produtos agropecuários com a potência norte-americana e diminuiria sua demanda pelos nossos produtos.
De acordo com o professor do curso de relações internacionais da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) Vinicius Rodrigues Vieira, ainda que o BRICS não seja um grupo institucionalizado, a postura de Bolsonaro se distancia ideologicamente dos países emergentes.
“Não há um discurso claro do governo sobre como nossa relação com os BRICS se dará nessa gestão, mas nos mantermos no grupo e próximos da China é uma questão de sobrevivência. Até agora, no entanto, o Brasil não está agindo estrategicamente de forma a maximizar seus ganhos num ambiente de fim da guerra comercial”, avalia. 
Ele explica que a ideia, nesse sentido, é que o País utilizasse da maior aproximação com o país asiático ante o conflito comercial para conseguir barganhar algo em relação à exportação de nossos produtos agrícolas, por exemplo. 
“Nós não sabemos aproveitar o BRICS como deveríamos. E tanto a proximidade do Bolsonaro com os EUA como o pleito de entrada na OCDE indicam que embora o Brasil possa continuar formalmente associado, ele não está mais alinhado com o grupo”, diz.
Segundo os dados do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a China corresponde por mais de um quarto de participação no total de exportações brasileiras. A soja, principal produto vendido para o país asiático, corresponde por mais de 20% do total exportado.
Os especialistas reiteram, no entanto, que mesmo sem sinalizações claras do relacionamento com os BRICS, deixar o grupo político é inviável para o Brasil, uma vez que uma das principais fontes de crédito internacional para o País é o Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos BRICS.
A instituição – que serve como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial – também foi desenhada para promover uma maior cooperação financeira entre os cinco mercados emergentes do grupo.
“Além disso, já temos muitos projetos no Pará e no Maranhão, por exemplo, que são do interesse do agronegócio e, consequentemente, relevantes para o governo Bolsonaro. O investimento vindo do Banco dos BRICS é importante e essa é uma premissa que nos permite dizer que o Brasil continuará associado. Só resta saber se haverá mais entusiasmo com o grupo do que temos visto até agora”, afirma Vieira. 
Ao mesmo tempo, a falta de alinhamento entre Paulo Guedes, ministro da Economia, e Ernesto Araújo, ministro de relações exteriores, também pode trazer alguns impasses internacionais.
“É um discurso confuso e inconsistente porque a postura antiglobalização de Araújo vai contra até mesmo a liberação econômica que Guedes tem proposto. Não dá para imaginar um governo patriota e nacionalista que tem que crescer sem uma noção de comércio internacional. Os BRICS são parceiros estratégicos importantes e dependemos deles”, explica o professor da Pontifícia Universidade Católica, Roland Veras Saldanha Junior. 
Soma-se a isso a má articulação política demonstrada até agora e as dificuldades do governo em passar rapidamente reformas estruturais importantes para o desempenho econômico brasileiro, que também “prejudicam a percepção do mundo sobre o País”, avaliam os especialistas.
“A percepção do Bolsonaro num cenário internacional é negativa, principalmente devido às declarações anteriores a sua posse. E embora ele já tenha moderado o discurso, isso continua um fardo que temos que carregar”, opina Vieira. 
Para Saldanha Junior, porém, mesmo que o Brasil receba retaliações internacionais nas esferas diplomáticas, “essas manifestações não trazem reflexos efetivos” na área de comércio exterior. “É preciso um certo tempo para conseguirmos abrir a nossa economia e forçar mais nossa inserção internacional, mas não demora muito para o presidente perceber que o Brasil é bem menor do que os Estados Unidos e não tem força para tentar mostrar independência e soberania”, diz o professor. 
Entrada na OCDE
Ele completa que, até lá, a ideia é a entrada do Brasil na OCDE seja levada a sério e traga, consigo, maior “disciplina” e menos afirmações contraditórias no governo.

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