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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Cem dias do governo Bolsonaro: o panorama na politica externa e na diplomacia

Seleção de notícias sobre a política externa e a diplomacia brasileira 
(sexta-feira, 12/04/2019): 


O antigo presidente da instituição, Mario Vilalva, foi exonerado do cargo na última terça-feira (9/4)

Por Agência Estado

Alvo de muitos embates e polêmicas nos primeiros 100 dias de governo Jair Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, evitou comentar os problemas enfrentados e classificou o período como "extremamente positivo". "Fizemos bem mais do que esperávamos", declarou, ao citar, por exemplo, que foi dado "novo impulso a grandes parceiros que estavam subestimados na relação". Sobre polêmicas enfrentadas pela pasta, o ministro minimizou informando que "estamos implementando a política externa determinada pelo presidente da República, apresentada na sua campanha e que o povo brasileiro escolheu na eleição". E emendou: "A estrutura da política externa provém da estrutura democrática da eleição do presidente Bolsonaro".

Araújo evitou ainda comentar a última polêmica em sua pasta, que levou à demissão do segundo presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) somente nos pouco mais de três meses desde o início do governo. O embaixador Mario Vilalva foi afastado após classificar como "golpe" a mudança no estatuto da agência feita pelo ministro, que esvaziava seus poderes. O episódio marcou mais um capítulo da briga interna dentro da agência. De um lado do embate estava o agora ex-presidente da Apex, do outro a diretora de Negócios, Letícia Catelani, e o diretor de Gestão Márcio Coimbra, indicados por Araújo e ligados aos filhos de Bolsonaro.

"Não quero comentar isso. Já fizemos a troca, já fizemos uma nota e vamos em frente", desconversou o ministro. O chanceler disse que ainda não definiu o novo comando da presidência da Apex. "Estamos conversando com o presidente, temos alguns nomes. Em breve vamos ter uma indicação", comentou Araújo, acrescentando que não pretende afastar Marcio Coimbra e Letícia Catelani. "Diretores não serão trocados", observou ele, sem querer assegurar ainda que o próximo presidente da Apex seja um diplomata.

O chanceler comemorou ainda as boas relações com os países árabes, que teriam sido sedimentadas no jantar de quarta-feira com os 51 embaixadores de países árabes e muçulmanos, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária, onde Bolsonaro esteve presente. Questionado se o encontro eliminou possíveis arestas criadas após aproximação do governo brasileiro com Israel, Ernesto Araújo respondeu: "totalmente eliminada. Aliás, é uma aresta hipotética, que não existia. A realidade é de excelente relação com estes países. A proposta de abrir escritório em Jerusalém mostra nova relação com Israel que será de grande produtividade em várias áreas". O ministro disse ainda que "sempre houve equilíbrio" nas relações entre os países.

O Brasil é o principal exportador de proteína bovina para o mercado árabe do mundo. Mas, na transição, quando surgiu a discussão sobre a mudança da embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, representantes do mundo árabe disseram que poderia haver boicote aos produtos brasileiros.


Ministério da Agricultura está tentando desarmar a crise

O Ministério da Agricultura terá de enviar um de seus secretários, o de Defesa Agropecuária, a Moscou, para tentar desarmar uma crise aberta pelo chanceler Ernesto Araújo. A Agricultura recebeu há alguns dias a informação de que os russos preparam retaliações às exportações brasileiras devido a uma declaração de Araújo que desagradou ao país.

No fim de março, Araújo afirmou que "se militares russos estão na Venezuela para manter Maduro no poder, deveriam deixar o país".

A expectativa no Ministério da Agricultura é que a crise seja contornada.


O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se encontrará hoje (10), em Buenos...

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se encontrará hoje (10), em Buenos Aires, com o presidente Mauricio Macri e com seu homólogo, Jorge Faurie. O objetivo da viagem é tratar do relacionamento bilateral, da flexibilização do Mercosul, da concretização de um acordo com a União Europeia (UE) e da preparação da visita do presidente Jair Bolsonaro ao país vizinho.

No final da manhã está prevista uma reunião de trabalho sobre temas econômicos com os ministros de Relações Exteriores e Culto, Jorge Faurie, e da Produção e Trabalho, Dante Sica. Em seguida, Araújo almoçará com os ministros no Palácio San Martín.

Na agenda de hoje ainda está prevista uma visita ao Consulado Geral do Brasil em Buenos Aires e uma reunião ampliada com ministros argentinos.

Araújo chegou à capital argentina ontem (9), quando deu uma palestra com o tema "A nova política externa brasileira" para membros do Conselho Argentino para as Relações Internacionais (Cari), instituição acadêmica que reúne ex-diplomatas e estudiosos argentinos.

Durante a apresentação, Araújo afirmou que é necessário repensar a América Latina. "Uma das tarefas que temos é repensar a nossa latino-americanidade, e nisso, seguramente, Brasil e Argentina têm um papel central. Precisamos um do outro para seguir nessa missão de recuperar o tempo perdido a partir da nossa identidade", disse.

Araújo citou ainda uma possível flexibilização do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina Uruguai e Paraguai. Ele disse ser possível fechar quatro grandes acordos: com a União Europeia, com o Canadá, com a Coreia e com o EFTA (Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia).

Após a conferência, Araújo respondeu a perguntas de estudantes e jornalistas. Ao ser perguntado sobre o andamento do acordo com a União Europeia, Araújo disse que as negociações estão muito perto de uma concretização, o mais perto desde 2004.

Fonte: Marieta Cazzaré - Repórter da Agência Brasil Montevidéu


O presidente Jair Bolsonaro felicitou ontem o premiê de Israel, Binyamin “Bibi” Netanyahu, pela vitória nas eleições gerais no país. “Bibi é um grande líder e seguiremos trabalhando juntos pela prosperidade e pela paz dos nossos povos, com base em nossos valores e convicções profundas”, escreveu Bolsonaro no Twitter. Bolsonaro esteve em Israel na semana passada, antes das eleições.


País passou a votar com Israel e EUA; declaração ocorreu um dia após aceno a países árabes

Diana Lott
São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que seu governo pôs fim ao "voto de cabresto" ao se referir à participação do Brasil nas votações do Conselho de Direitos Humanos na ONU, durante uma transmissão em suas redes sociais nesta quinta-feira (11).

O país passou a votar "na mesma sintonia" de Israel e Estados Unidos, segundo o presidente, pondo fim à prática de votar junto com "Venezuela, Irã e Cuba, países que não têm apreço pela liberdade".  

Tradicionalmente, em consultas na ONU que envolvem territórios disputados por palestinos ou as colinas de Golã, o representante brasileiro costumava se abster ou votar contra a posição israelense.

O aceno a Israel ocorre um dia depois de o presidente participar de um jantar com representantes de 36 países árabes e de maioria muçulmana.

O evento, organizado pelo ministério da Agricultura e pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura), buscava amenizar tensões com o grupo de países, que tem reagido negativamente à aproximação do Brasil a Israel.

Durante sua passagem pelo país, em março, Bolsonaro fez diversas manifestações pró-Israel e visitou o Muro das Lamentações ao lado do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, numa agenda que irritou os palestinos. 

Bolsonaro prometeu em sua campanha transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, como fez Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. A medida também desagradou a comunidade árabe, que apoia a reivindicação palestina de ter a cidade como a capital de um futuro Estado. 

O governo anunciou, durante a viagem, a abertura de um escritório comercial na cidade —um recuo em relação aos planos originais. 


De acordo com dados divulgados pela CNA, os países islâmicos ocupam o terceiro lugar entre os importadores de produtos do agronegócio brasileiro. As exportações brasileiras para a região somaram US$ 16,4 bilhões em 2018.

O presidente também comemorou a vitória de Netanyahu nas eleições realizadas nesta semana.

"Nossa passagem por Israel deu sorte", disse Bolsonaro. "Netanyahu, seu partido teve uma bancada bastante numerosa e, com toda certeza, em função disso, ele continuará sendo primeiro-ministro".

O presidente lamentou não poder comparecer à posse de Netanyahu como premiê, que ainda depende da formação de uma maioria parlamentar. "É um pouquinho longe", justificou.


Por Alex Soares em 11/04/2019 às 12:13

A presença do presidente da República no jantar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília nesta quarta-feira, dia 10, valorizou um fiel, porém desconfiado setor rural. Também fortaleceu a imagem da ministra Tereza Cristina, em um momento duro de negociações entre Mapa e área econômica, e a própria CNA, que articulou a aproximação. E o mais importante: foi um gesto de respeito de Jair Bolsonaro para com os países compradores da chamada Liga Árabe.

O jantar começou a ser costurado pelo presidente da entidade, João Martins. Ele e o seu diretor de Assuntos Internacionais e presidente da Farsul, Gedeão Pereira, visitaram o ministro Ernesto Araújo no Itamaraty em março, a quem mostraram preocupação com um ambiente comercial hostil que se formava com os árabes após os recíprocos afagos entre Bolsonaro e o premier israelense Benjamin Netanyahu.

Paralelamente, a ministra da Agricultura buscava distensionar a situação, pregando ao chefe a necessidade de um encontro com os árabes. Na semana passada, Bolsonaro confirmou a João Martins sua presença.

Foram 37 os países representados no encontro desta quinta na Confederação que representa os produtores, mas cuja articulação beneficia também a indústria exportadora. Estamos falando de um comércio de US$ 16 bilhões.

Os países árabes são o terceiro bloco que mais importa do agro nacional, sobretudo cargas de proteína animal. A CNA sabe que o fluxo desta artéria comercial é fundamental e, ao lutar em mantê-lo, ganhou em legitimidade e prestígio.

Participante do jantar, o presidente da Farsul classificou o momento como especial e estratégico. “Creio que tudo foi bem explicado e, ao final, a tensão deu lugar ao entendimento”, comentou o dirigente gaúcho ao Conexão Rural. Num discurso sob medida aos convidados, Bolsonaro buscou apagar a imagem sectária formada com a vinda de Netanyahu ao Brasil e sua ida a Israel, reforçando a importância das relações com todos os países.

Já da parte dos muçulmanos, reconhecimento à iniciativa e cordialidade. Líder do grupo, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben comentou que o jantar teve a virtude de “quebrar o gelo após ruídos nas relações diplomáticas”. 

Alzeben também comentou em tom de conselho que o bloco “pretende manter boas relações com o Brasil, mas que o país fique longe do conflito entre judeus e árabes, já que esse conflito não é do Brasil”. Mais claro impossível.

11.04.19

No próximo mês, Jair Bolsonaro deverá voltar aos Estados Unidos. Além de receber o prêmio Person of the Year, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, ele terá encontros com representantes de grandes bancos, como Citibank, JP Morgan e Bank of America. Em junho, Bolsonaro participará no Japão da reunião do G20. A ideia do Planalto é que ele aproveite a viagem para visitar um país europeu e outro árabe. Ainda não há definição de quais serão esses países.


11.04.19

A burocracia do Itamaraty trabalha, silenciosamente, para minar as chances do cientista político Murillo de Aragão na disputa pela embaixada brasileira em Washington. Nesse caso, a ofensiva não se dá por meio de dossiês, como é comum em Brasília, mas à boca miúda mesmo, na tentativa de fazer a informação chegar a quem decide. Os relatos incluem a informação de que Aragão tem histórico de não pagar religiosamente os salários dos funcionários das empresas de sua família. É algo que no Brasil pode ser até comum, mas que nos Estados Unidos não pega nada bem.


11/04/2019 15:06

Há três meses, dois alunos do Instituto Rio Branco procuraram o embaixador Rubens Ricupero com um convite: queriam homenageá-lo como paraninfo da turma que se forma este ano. O Rio Branco é a escola do Itamaraty que forma diplomatas.

Conhecido como um dos principais críticos da política externa conduzida pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo chanceler Ernesto Araújo, Ricupero declinou do convite.

— Declinei não porque não me sentia honrado, mas por não querer prejudicar os alunos. Tinha certeza absoluta que ia dar problema. Eu sou um dos críticos mais notórios da política externa atual e isso não era novidade quando me chamaram. Não havia como ter ilusão a esse respeito. — disse à coluna.

Ricupero, que já foi ministro do Meio Ambiente e da Fazenda, embaixador do Brasil nos Estados Unidos e secretário-geral da Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio, disse que achou que se aceitasse a homenagem “seria desagradável para os alunos”. Em entrevistas ele disse que o governo faz uma "política externa de destruição". 

— Eles estão começando a carreira agora. São muito vulneráveis, estão no início da carreira, não valia à pena tomar essa atitude. Eu já tenho 82 anos, estou aposentado.” — disse. Ele destacou que se aceitasse a homenagem "seria impossível evitar no discurso um pronunciamento crítico ao governo”.

Ao declinar do convite, Ricupero contou aos alunos uma confusão que aconteceu na própria turma em que se formou, em 1960. Na época, os diplomatas decidiram chamar o então candidato à presidência Jânio Quadros para paraninfo.

— Achávamos que a política externa brasileira era muito alinhada aos americanos e que Jânio representava uma mudança. A escolha provocou grande problema no Itamaraty, porque o diretor do Rio Branco nos chamou e tentou nos convencer a mudar de posição e chamar o embaixador Roberto Campos. — Os alunos não acataram o pedido e Jânio, já como presidente, foi o paraninfo.

Ricupero também contou que essa não é a primeira vez que a escolha de um paraninfo para as turmas do Rio Branco gera problemas, mas disse que conhece só sabe de espisódios que aconteceram na ditadura militar.

Hoje o jornal “Folha de S. Paulo” publicou que o comando do Itamaraty vetou uma homenagem dos formandos para o embaixador aposentado José Maurício Bustani. A assessoria de imprensa do õrgão nega a informação.


Thais Reis Oliveira
12 de abril de 2019

Diplomatas mais jovens estão constrangidos em defender as ideias do chefe. E os mais velhos se sentem afrontados
Passados os cem dias de governo Bolsonaro, é cada vez menor a tolerância a Ernesto Araújo dentro do Itamaraty. Diplomatas mais jovens estão constrangidos em defender as ideias do chefe. E os mais velhos se sentem afrontados por ele, que ofereceu posições importantes a diplomatas mais jovens — muitos até evitam lhe dirigir a palavra.

Araújo divide o protagonismo nessa área com Felipe Martins, Eduardo Bolsonaro e com o guru Olavo de Carvalho, o grande fiador de sua indicação. Martins, uma espécie de chanceler paralelo do governo, chama essa turma de ala anti-establishment. Um funcionário veterano do Itamaraty resumiu melhor: está mais para diplomacia religiosa.

Muitos subordinados consideram Araújo um true believer do olavismo, cativado pelas ideias do filósofo e envaidecido da missão de lutar contra o globalismo e a decadência do ocidente. “Bobo”, “maluco” e “cooptado” foram alguns adjetivos que jovens diplomatas ouvidos por CartaCapital usaram para defini-lo.

“Não acho que ele seja manipulador ou mau-caráter. Naquele discurso de posse, deu pra ver que ele quase chorou”, disse um terceiro-secretário lotado em Brasília. 

Tom mais elogioso recebem os secretários do ministro, tidos como competentes no papel de “adultos na sala” do dia a dia do MRE. Já os militares, em especial o General Santos Cruz, são vistos como “preparados e pragmáticos”, embora com mais influência dentro do Planalto do que no Itamaraty.

Durante a carreira, Araújo sempre teve atuação discreta e protocolar. Seus arroubos ideológicos só ficaram conhecidos em 2016, depois que ele publicou nos cadernos do IPRI um artigo em defesa de Trump. No texto, Araújo considera o presidente americano o único capaz de salvar a civilização ocidental, representante de uma “longa tradição intelectual e sentimental, que vai de Ésquilo a Oswald Spengler”. Em meados de outubro do ano passado, passou a defender abertamente a candidatura de Bolsonaro em seu blog Metapolítica 17.

O maior temor é de que o país esteja se isolando ao aderir a Trump e ao consórcio de extrema-direita que tomou países como Hungria, Polônia e Turquia. “Todo mundo fala em prejuízos econômicos, mas o prejuízo imediato é diplomático. Nunca a imagem do Brasil esteve tão ruim”, analisa Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais e assessor técnico no Senado.

Há também quem o veja como oportunista. Anos antes, Araújo dedicou sua tese exigida para virar embaixador à política externa colocada em prática a partir dos governos Lula. Quando era ministro-conselheiro nos Estados Unidos, em 2011, defendeu o envolvimento de Dilma na luta armada contra a ditadura. “Especialmente entre os jovens não havia esperança de ver a democracia restabelecida por meios pacíficos. (…) Então muitas pessoas, a despeito das instituições, decidiram pegar em armas. Ela [Dilma] foi parte disso.”

Nunca antes na história do Itamaraty

Fato é que nunca antes um ministro na posição de Araújo teve tanta oposição dentro do Itamaraty. E, apesar do mal-estar, há certa blindagem. A carreira diplomática se parece um pouco com a carreira militar: há muito respeito à hierarquia e à institucionalidade, e essa disciplina obriga os sujeitos a obedecer quem está no andar de cima. Por isso os levantes, embora mais frequentes, seguem anônimos.

Costumam confrontar o governo abertamente veteranos como Roberto Abdenur e os ex-chanceleres Rubens Ricupero e Celso Amorim, já afastados das funções cotidianas da diplomacia. “Os governos anteriores não fizeram nenhuma reforma, então o poder do ministro ainda é imenso”, critica um diplomata veterano, já aposentado.
Com retrocessos, momento é de uma síntese geracional para uma nova política externa: independente, altiva, ativa, latino-americana e do Sul.

Sede do Ministério das Relações Exteriores: nova política externa tem adesão minoritária

“Sempre existe a possibilidade de não cumprir pedidos à risca, de fazer certo ‘corpo mole’, mas a capacidade do corpo diplomático de resistir a certas diretrizes e interpretações é um tanto limitada”, explica Zero.

Episódios recentes ilustram bem esse desbalanço. Um grupo anônimo de quarenta diplomatas divulgou uma carta de repúdio às manifestações do governo em favor do golpe de 64. Dias depois, em telegrama à ONU, o Itamaraty confirmou a versão oficial do Planalto, de que não houve um golpe militar no Brasil.

No Brasil, a Associação dos Diplomatas Brasileiros não costuma se envolver em confusão. A última manifestação de cunho político oficial ocorreu em 2017, depois que funcionários do Itamaraty divulgaram uma carta, também anônima, criticando a truculência do governo na repressão a manifestações contra o então presidente Michel Temer. Na época, a ADB contestou a posição, considerada pela associação um ataque ao caráter institucional da diplomacia.

Dança das cadeiras nas chancelarias

Enquanto isso, o governo vai trocando as peças na tentativa de melhorar a imagem do país. Em março, Paulo Roberto de Almeida foi demitido depois de publicar na internet um artigo nada elogioso à tal ala anti-establishment, no qual Olavo de Carvalho era chamado de “sofista da Virgínia”.

Mario Vivalva foi exonerado da Apex, principal braço do comércio exterior, depois de protestar publicamente contra um golpe estatutário que deu poder máximo a dois protegidos de Ernesto Araújo. Diplomata de carreira com passagens por Alemanha, Chile e Portugal, Vilalva havia assumido a agência para acalmar os ânimos depois da breve e desastrada nomeação de Alecxandro Carreiro, um amigo de Eduardo Bolsonaro que mal falava inglês.

Também perdeu o cargo Sérgio Amaral, que há três anos chefiava a embaixada de Washington, considerado o posto mais destacado do Brasil no exterior. Amaral não é o que pode se chamar de “petista”: assumiu o posto pouco depois do impeachment, defendeu o veto a Lula nas eleições e vinha mantendo uma boa relação com o novo governo. Mesmo assim, foi limado. E deve ser substituído por um discípulo de Olavo.


Cabeça a prêmio

Por Mauricio Lima

Jair Bolsonaro avalia seriamente tirar Ernesto Araújo do Itamaraty.  A segunda troca de presidência da Apex em 90 dias e a mudança do estatuto deixaram o presidente bem irritado. O capitão acha que Araújo se deixa levar muito pela sua “protegida”, Leticia Catelani.



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