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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Luis Nassif critica a derradeira coluna de Matias Spektor na FSP

Matias Spektor, o messianismo tuiteiro e a reinvenção da diplomacia

A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos.

Luis Nassif

Foi curiosa a despedida do colunista Matias Spektor de sua coluna na Folha. Primeiro, ele se atribuiu o fato de, graças a ele, a diplomacia ter se tornado um tema corriqueiro.
“Quando este jornal me convidou para escrever, há sete anos, a ideia era inusitada. Nenhum grande veículo tinha um colunista dedicado à política externa brasileira. Para minha sorte, muitos leitores fizeram da agenda internacional a sua pauta. 
Esses anos assistiram à expansão do debate público sobre temas internacionais. Hoje, dezenas de profissionais expressam opiniões sobre o assunto no Twitter e no Facebook. 
Isso é muito positivo. A velha redoma que limitava a conversa a um punhado de embaixadores aposentados se estraçalhou, aumentando a diversidade e a densidade do debate”. 
A diplomacia sempre teve uma boa cobertura, graças a fontes especiais, velhos embaixadores aposentados, mas com visão de Brasil e de mundo, como Jorio Dauster, Paulo Nogueira Batista, Rubens Ricúpero, Celso Amorim, especialistas em direito econômico internacional, como Vera Thorsten e, principalmente, o corpo diplomático permanente do Itamarati. 
Mas, enfim, Spektor se declara o especialista que levou a diplomacia para as redes sociais. Ótimo! Ótimo? Não.
“Acontece que essa transformação também trouxe coisas negativas. Nas redes sociais, a competição por “likes” premiou argumentos de apelo fácil, muitas vezes inverídicos ou incapazes de resistir ao mínimo escrutínio. O debate ficou menos qualificado”.
Oh, que surpresa! Spektor popularizou a discussão sobre política externa e constatou que a popularização banalizou a discussão, episódio no qual, obviamente, a culpa não é do meio: as analises de Spektor sobre a ida de Bolsonaro aos Estados Unidos e as reações suscitadas, que o levaram a se desencantar com o mundo maravilhoso das redes sociais..
Velhos diplomatas aposentados em on, diplomatas na ativa em off, colunistas, analistas consideraram um fracasso retumbante, um exemplo acabado da antidiplomacia. Bolsonaro se comportou de maneira subserviente, prometeu coisas sem exigir nenhuma contrapartida, veio com promessas vagas em cima de temas supérfluos.
Qual a leitura que o bravo Spektor fez da viagem, através do Twitter, o meio de comunicação preferido de Bolsonaro e seus ministros?.
Primeiro, por ser um analista sofisticado, ele define os parâmetros inovadores de analise;
Como saber se a visita do Bolsonaro a Washington foi exitosa ou fracassada? É fundamental achar algum critério objetivo porque, caso contrário, o debate público degringola: quem gosta do governo sempre vê vitória, quem desgosta sempre vê derrota.
Eu tento ganhar objetividade usando duas técnicas. Primeiro, descobrir quais benefícios o governante de plantão obteve no exterior para alimentar os grupos que, em seu país de origem, o sustentam no poder.
Segundo, comparar a visita em questão a outras visitas similares, avaliando qual permitiu ao governante acumular mais recursos para agradar ou consolidar a sua base em casa.
Critério fantástico! Melhor que isso, só o Twitter de José Roberto Guzzo garantindo que a visita do primeiro-ministro de Israel ao Brasil foi o feito diplomático mais relevante dos últimos 40 anos.
O critério dos velhos embaixadores aposentados, para analisar resultados de visitas presidenciais, costumava ser os ganhos que o país teria com negociações. A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos. Os velhos diplomatas aposentados jamais pensaram em metodologia tão criativa.
Definido o critério, Spektor enumera as vitórias de Bolsonaro:
Bolsonaro trouxe de Washington trunfos para os militares, o agronegócio e o mercado. Conseguiu porque, hoje, o Brasil importa para os EUA mais do que de costume, devido à crise na Venezuela. E pq Bolsonaro afaga o ego de Trump.
Por tudo o que foi divulgado, Bolsonaro abriu a possibilidade do Brasil importar carne e trigo dos Estados Unidos com isenção tarifária, sem nenhuma contrapartida. Ou seja, os trunfos são para o agronegócio americano, não para o brasileiro. Não conseguiu uma medida sequer que beneficiasse as exportações brasileiras.
Nada trouxe de objetivo para o país. Mas, segundo o douto Spektor:
“Em troca, os americanos demandaram alinhamento na Venezuela e abertura da economia. Bolsonaro entregou pq foi isso que ele prometeu na campanha que lhe rendeu quase 58 milhões de votos”.
A nova diplomacia, enaltecida por Spektor, é isso. 
Finalmente, a comparação com outros presidentes, para comprovar a extraordinária vitória diplomática de Bolsonaro:
“Que dizer da comparação com outras visitas inaugurais? Com Alcântara, o status de aliado extra-OTAN e o gesto de Trump sobre OCDE, Bolsonaro trouxe para sua base mais do que Sarney tirou de Reagan, Collor de Bush pai, FHC de Clinton, Lula de Bush filho e Dilma de Obama”.
Daí, esses chatos do Twitter resolveram tirar com a cara do mestre.
O debatedor que atende pelo nome de “cheio de perna” ousou enxergar o rei nu:
“A única coisa de concreto q Bolsonaro trouxe p o Brasil foi um acordo de SALVAGUARDAS com os EUA sobre o uso da Base de Alcântara que não implica em nenhum negócio concreto! O resto foi promessas vazias de Trump”.
E o tuiteiro Haroldo Júnior foi de uma objetividade cortante:
“Ruim retórica a q se sustenta em tantos argumentos”
Daí se entende a decepção  de Spektor comm o Twitter, na qual os participantes querem apenas ganhar likes.
Para comprovar que também gosta de likes, Spektor encerra sua coluna na Folha ligando o modo auto-exaltação: ele se propõe, nada mais, nada menos, a reconstruir a política externa brasileira pós-Bolsonaro.
O título do artigo já seria merecedor de todos os likes: “É hora de construir a política externa pós-Bolsonaro”.
E quem iria reconstruir? Os velhos diplomatas aposentados é que não. A saída para a diplomacia brasileira está, obviamente, em Mathias Spektor.
Primeiro, ele mostra que a banalização do debate diplomático ocorreu “ao mesmo tempo em que colapsa o que havia de consenso na política externa da Nova República. Quem termina ocupando o espaço é a turma que hoje comanda a agenda internacional do governo Bolsonaro”, aquela mesmo que conseguiu a mais expressiva vitória em uma visita presidencial aos Estados Unidos, segundo o próprio Spektor. Mas o objeto da vitória, o aval de Trump? Aparentemente as loas de Spektor à estrondosa vitória da nova diplomacia brasileira não sensibilizaram Jair, Ernesto ou Eduardo, deixando o pobre Spektor imerso em enorme melancolia:
“Eu admito a minha parcela de culpa: como tantos outros acadêmicos, não percebi que um dos efeitos da vitória de Donald Trump seria o nascimento do antiglobalismo messiânico à brasileira. 
Fantástico! A viagem de Bolsonaro foi a maior explicitação desse messianismo. Mas não consta que, àquela altura do campeonato, houvesse um só acadêmico racional que já não identificasse esse fenômeno. E porque Ernesto fez ouvidos moucos aos twitters-exaltação de Spektor, 
O resultado é nefasto porque a direita populista que hoje dá as cartas é perigosa. Não se trata de um bando tresloucado: em suas decisões, há método e projeto. A direção do que vem por aí é péssima para o país”.
Segundo ele, esgotou-se o modelo diplomático proposto por FHC e aquele proposto pelo PT. Restará, daqui para frente, o novo modelo que está sendo criado por… Matias Spektor, é claro.
Como sociedade, podemos e devemos fazer melhor. Deixo a coluna para pôr em prática aquilo que defendi durante todo esse tempo: um esforço coletivo para conceber uma política externa nova, capaz de ajudar a sociedade brasileira a sair do buraco em que se encontra.
Obrigado, leitor, por me acompanhar nesta jornada.
Ou seja, o messianismo de Olavo de Carvalho tornou-se um modelo de atuação pública para os intelectuais de rede social.

Um comentário:

Orlando Tambosi disse...

Nassif é um petista incorrigível. E não esqueceu de puxar o saco do megalonanico Amorim.