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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Ai de ti, Brasil - Arnaldo Jabor (e malditos sejam os teus ladroes)

Ai de ti, Brasil!*

Arnaldo Jabor

O Globo, 9/06/2015

Estás perdido e cego no meio da iniquidade dos partidos que te assolam e que contemplas com medo e tolerância

Ai de ti, Brasil, eu te mandei o sinal e não recebeste. Eu te avisei e me ignoraste, displicente e conivente com teus malfeitos e erros. Ai de ti, eu te analisei com fervor romântico durante os últimos 20 anos e riste de mim. Ai de ti, Brasil! Eu já vejo os sinais de tua perdição nos albores de uma tragédia anunciada para o presente do século XXI, que não terá mais futuro. Ai de ti, Brasil — já vejo também as sarças de fogo onde queimarás para sempre! Ai de ti, Brasil, que não fizeste reforma alguma e que deixaste os corruptos usar a democracia para destruí-la. Malditos os laranjas e as firmas sem porta.
Ai de ti, Miami, para onde fogem os ladrões que nadam em vossas piscinas em forma de vagina e corcoveiam em jet-skis, gargalhando de impunidade. Malditas as bermudas cor-de-rosa, barrigas arrogantes e carrões que valem o preço de uma escola. Maldita a cabeleira do Renan, os olhos cobiçosos de Cunha, malditos vós que ostentais cabelos acaju, gravatas de bolinhas e jaquetões cobertos de teflon, onde nada cola. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Brasília? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?
Ai de vós, celebridades cafajestes, que viveis como se estivésseis na corte de Luís XIV, entre bolsas Chanel, gargantilhas de pérola, tapetes de zebra e elefantes de prata. Portais em vosso peito diamantes em que se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis. Ai de vós, pois os miseráveis se desentocarão e seus trapos vão brilhar mais que vossos Rolex de ouro. Ai de ti, cascata de camarões!
Tu não viste o sinal, Brasil. Estás perdido e cego no meio da iniquidade dos partidos que te assolam e que contemplas com medo e tolerância. Cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras e deste risadas ébrias e vãs no seio do Planalto. Ai de vós, intelectuais, porque tudo sabeis e nada denunciais, por medo ou vaidade. Ai de vós, acadêmicos que quereis manter a miséria “in vitro” para legitimar vossas teorias. Ai de vós, “bolivarianos” de galinheiro, que financiais países escrotos com juros baixos, mesmo sem grana para financiar reformas estruturais aqui dentro. Ai de ti, Brasil, porque os que se diziam a favor da moralidade desmancham hoje as tuas instituições, diante de nossos olhos impotentes. Ai de ti, que toleraste uma velha esquerda travestida de moderna. Malditos sejais, radicais de cervejaria, de enfermaria e de estrebaria — os bêbados, os loucos e os burros, que vos queixais do país e tomais vossos chopinhos com “boa consciência”. Ai de vós, “amantes do povo” — malditos os que usam esse falso “amor” para justificar suas apropriações indébitas e seus desfalques “revolucionários”.
Ai de vós, que dizeis que nada vistes e nada sabeis, com os crimes explodindo em vossas caras.
Ai de ti, que ignoraste meus sinais de perigo e só agora descobriste que há cartéis de empresas que predam o dinheiro público, com a conivência do próprio poder. Malditas sejam as empresas fantasmas em terrenos baldios, que fazem viadutos no ar, pontes para o nada, esgotos a céu aberto e rapinam os mínimos picuás dos miseráveis.
Malditos os fundos de pensão intocáveis e intocados, com bilhões perdidos na Bolsa, de propósito, para ocultar seus esbulhos e defraudações. Malditos também empresários das sombras. Malditos também os que acham que quanto pior, melhor.
A grande punição está a caminho. Ai de ti, Brasil, pois acreditaste no narcisismo deslumbrado de um demagogo que renegou tudo que falava antes, que destruiu a herança bendita que recebeu e que se esconde nas crises, para voltar um dia como “pai da pátria”. Maldito esse homem nefasto que te fez andar de marcha à ré.
Ai de ti Brasil, porque sempre te achaste à beira do abismo ou que tua vaca fora para o brejo. Esse pessimismo endêmico é uma armadilha em que caíste e que te paralisa, como disse alguém: és um país “com anestesia, mas sem cirurgia”.
Ai de vós, advogados do diabo que conseguis liminares em chicanas que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca-do-boi de nossas prisões. Maldita seja a crapulosa legislação que vos protege há quatro séculos. Malditos compradiços juízes, repulsivos desembargadores, vendilhões de sentenças para proteger sórdidos interesses políticos. Malditos sejam os que levam dólares nas meias e nas cuecas e mais ainda aqueles que levam os dólares para as Bahamas.
Ai de vós! A ira de Deus não vai tardar...
Sei que não adianta vos amaldiçoar, pois nunca mudareis a não ser pela morte, guerra ou catástrofe social que pode estar mais perto do que pensais. Mas mesmo assim, vos amaldiçoo.
Ai de ti, Brasil!
Já vejo as torres brancas de Brasília apontando sobre o mar de lama que inundará o cerrado. Já vejo São Paulo invadida pelas periferias, que cobrarão pedágio sobre vossas Mercedes. Escondidos atrás de cercas elétricas ou fugindo para Paris, vereis então o que fizestes com o país, com vossa persistente falta de vergonha. Malditos sejais, ó mentirosos, vigaristas, intrujões, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente. Ai de ti, Brasil, o dia final se aproxima.
Se vossos canalhas prevalecerem, virá a hidra de sete cabeças e dez chifres em cada cabeça e voltará o dragão da Inflação. E a prostituta do Atraso virá montada nele, segurando uma taça cheia de abominações. E ela estará bêbada com o sangue dos pobres e em sua testa estará escrito: “Mãe de todas as meretrizes e Mãe de todos os ladrões que paralisam nosso país.” Ai de ti, Brasil! Canta tua ultima canção na boquinha da garrafa.
(*) Homenagem a Rubem Braga

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/ai-de-ti-brasil-16385419#ixzz3crdiuvbA
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Brasil dos companheiros: a mentira virou verdade - Arnaldo Jabor

A mentira virou verdade 

 Arnaldo Jabor

O Globo, 16/09/2014

Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado

Aproxima-se a hora da verdade política do país. Hora da verdade ou hora da mentira?
Mentira virou verdade? Nossas “verdades” institucionais foram construídas por 500 anos de mentiras. Portanto, virou uma razão de Estado para o governo do PT a proteção à mentira brasileira inventada pela secular escrotidão portuguesa. Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Por isso, o Governo acha que é necessário proteger as mentiras para que a falsa “verdade” do país permaneça. E não é só a mentira que indigna. É a arrogância com que mentem. E a mentira vai se acumulando como estrume durante um ano e acaba convencendo muitos ingênuos de que “sempre foi assim” ou de que “erraram com boa intenção”.
Não só roubaram cerca de R$ 2 bilhões desviados de aparelhos do Estado, de chantagem com empresários, de fundos de pensão, de contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos. A verdadeira esquerda se modificou, avançou, autocriticou-se enquanto eles não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista e renegaram todo trabalho de uma esquerda mais social-democrata, como aliás fazem desde que não votaram nos “tucanos” da época e o Hitler subiu ao poder.
“Nunca antes”, nunca antes um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema secreto de “desapropriação” do Estado, para fundar um “outro Estado”. Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado, aparelhado por mais de 30 mil militantes.
O ladrão tradicional sabia-se ladrão. O ladrão tradicional roubou sempre em causa própria e se escondia pelos cantos para não ser flagrado.
Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como se estivessem fazendo uma “ação revolucionária”, se orgulham de fingir de democratas para apodrecer a democracia por dentro.
A verdade está sempre no avesso do que dizem.
São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações e enigmas que vão desqualificando as investigações de coisas como a CPI da Petrobras e todos os crimes de seus aliados. Regozijam-se porque seus eleitores são ignorantes e pobres e não sabem nem o que é “dossiê” — pensam que é um tipo de doce. A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujos arreglos políticos, emperramentos técnicos. Hoje, sabemos que somos parte da estupidez secular do país. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria.
A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”; como disse um intelectual emérito da USP — “democracia é papo para enrolar o povo”.
O PT que se agarra ao poder degrada a linguagem. Falam de um lugar que é o auge de um baixo voluntarismo aventureiro, de uma ideia de socialismo decaída em populismo. A esquerda petista não tem memória. Dá frio na espinha vê-la tender para os mesmos erros de 64 e 68.
Na cabeça dessa gente ignorante e dogmática nada é real; só a ideologia existe.
Todos os erros eram previsíveis por comentaristas e foram cumpridos à risca pelos governos petistas.
Milhares de petistas ocupam o Estado aparelhado e querem que a Dilma ganhe para permanecerem nas “boquinhas”.
As agências reguladoras estão sendo assassinadas.
Dilma berra que o Banco Central não tem de ter autonomia.
A era Meirelles-Palocci foi queimada, velho desejo dos camaradas.
Qualquer privatização essencial foi esquecida. A reforma da Previdência “não é necessária” — dizem eles — não havendo nenhum “rombo” no orçamento (!). Os gastos públicos aumentaram pois, como afirmam, “as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública”.
Se reeleita, voltará a obsessão do “Controle” sobre a mídia e a cultura. E, como não poderá se reeleger, o bolivarianismo vai florir e o passarinho do Chávez vai cantar em seus ouvidos. Nossa maior doença — o Estado canceroso — foi e será ignorada. Tudo que construíram, com sua militância, foi um novo “patrimonialismo de Estado”, com a desculpa de que “em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”.
O perigo que corremos é sua reeleição, porque o país de analfabetos é boçal, espera um salvador da pátria. No fundo, brasileiros preferem uma boa promessa de voluntarismo e populismo, na base do “pau no burro” ou “bota para quebrar”. Estamos prontos para ditadores e demagogos; para administradores e reformadores racionais, não.
Enquanto o óbvio se exibe, a covardia de muitos intelectuais é grande. Há o medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Continuam ativos os três tipos exemplares de “radicais”: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram.
A “presidenta” vive a missão impossível de ser “socialista e dirigir um país... ah... capitalista. A conclusão é que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia “desorganizar” com esmero e competência. Dilma não é competente nem para desorganizar. Não é apenas o fim de dois maus governos; é o despertar de um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia.
O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha. Sempre houve no país foi uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a História em marcha a ré, estranhamente, andamos para a frente. Como?
O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-mentira-virou-verdade-13944296#ixzz3ErjxGa7V
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Brasil dos companheiros: Jabor registra em cartorio a listas dos desastres anunciados...

A lista dos perigos
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo,  30/09/2014

O que acontecerá com o Brasil se a Dilma for eleita?

Aqui vai a lista:

A catástrofe anunciada vai chegar pelo desejo teimoso de governar um país capitalista com métodos "socialistas". Os "meios" errados nos levarão a "fins" errados. Como não haverá outra "reeleição", o PT no governo vai adotar medidas bolivarianas tropicais, na "linha justa" da Venezuela, Argentina e outros.

Dilma já diz que vai controlar a mídia, economicamente, como faz a Cristina na Argentina. Quando o programa do PT diz: "Combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento", leia-se, como um velho petista deixou escapar: "Eliminar o esterco da cultura internacional e a 'irresponsabilidade' da mídia conservadora". Poderão, enfim, pôr em prática a velha frase de Stalin: "As ideias são mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, porque deveríamos permitir que tenham ideias?".

As agências reguladoras serão mais esvaziadas do que já foram, para o governo PT ter mais controle sobre a vida do País. Também para "controlar", serão criados os "conselhos" de consulta direta à população, disfarce de "sovietes" como na Rússia de Stalin.

O inútil Mercosul continuará dominado pela ideologia bolivariana e "cristiniana". Continuaremos a evitar acordos bilaterais, a não ser com países irrelevantes (do "terceiro mundo") como tarefa para o emasculado Itamaraty, hoje controlado pelo assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio Garcia. Ou seja, continuaremos a ser um "anão diplomático" irrelevante, como muito acertadamente nos apelidou o Ministério do Exterior de Israel.

Continuaremos a "defender" o Estado Islâmico e outros terroristas do "terceiro mundo", porque afinal eles são contra os Estados Unidos, "inimigo principal" dos bolcheviques que amavam o Bush e tratam o grande Obama como um "neguinho pernóstico".

Os governos estaduais de oposição serão boicotados sistematicamente, receberão poucas verbas, como aconteceu em S. Paulo.

Junto ao "patrimonialismo de Estado", os velhos caciques do "patrimonialismo privado" ficarão babando de felicidade, como Sarney, Renan "et caterva" voltarão de mãos dadas com Dilma e sua turminha de brizolistas e bolcheviques.

Os gastos públicos jamais serão cortados, e aumentarão muito, como já formulou a presidenta.

O Banco Central vai virar um tamborete usado pela Dilma, como ela também já declarou: "Como deixar independente o BC?".

A Inflação vai continuar crescendo, pois eles não ligam para a "inflação neoliberal".

Quanto aos crimes de corrupção e até a morte de Celso Daniel serão ignorados, pois, como afirma o PT, são "meias-verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...".

Em vez de necessárias privatizações ou "concessões", a tendência é de reestatização do que puderem. A sociedade e os empresários que constroem o País continuarão a ser olhados como suspeitos.

Manipularão as contas públicas com o descaro de "revolucionários" - em 2015, as contas vão explodir. Mas ela vai nomear outro "pau-mandado" como o Mantega. Aguardem.

Nenhuma reforma será feita no Estado infestado de petistas, que criarão normas e macetes para continuar nas boquinhas para sempre.

A reforma da Previdência não existirá, pois, segundo o PT, "ela não é necessária, pois exageram muito sobre sua crise", não havendo nenhum "rombo" no orçamento. Só de 52 bilhões.

A Lei de Responsabilidade Fiscal será desmoralizada por medidas atenuantes - prefeitos e governadores têm direito de gastar mais do que arrecadam, porque a corrupção não pode ficar à mercê de regras da época "neoliberal". Da reforma política e tributária ninguém cogita.

Nossa maior doença - o Estado canceroso - será ignorada e terá uma recaída talvez fatal; mas, se voltar a inflação, tudo bem, pois, segundo eles, isso não é um grande problema na política de "desenvolvimento".

Certas leis "chatas" serão ignoradas, como a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, que já foi esquecida de propósito.

Aliás, a evidente tolerância com os ataques do MST (o Stedile já declarou que se Dilma não vencer, "vamos fazer uma guerra") mostra que, além de financiá-los, este governo quer mantê-los unidos e fiéis, como uma espécie de "guarda pretoriana", como a guarda revolucionária dos "aiatolás" do Irã.

A arrogância e cobiça do PT aumentarão. As 30 mil boquinhas de "militantes" dentro do Estado vão crescer, pois consideram a vitória uma "tomada de poder". Se Dilma for eleita, teremos um governo de vingança contra a oposição, que ousou contestá-la. Haverá o triunfo "existencial" dos comunas livres para agir e, como eles não sabem fazer nada, tudo farão para avacalhar o sistema capitalista no País, em nome de uma revolução imaginária. As bestas ficarão inteligentes, os incompetentes ficarão mais autoconfiantes na fabricação de desastres. Os corruptos da Petrobrás, do próprio TCU, das inúmeras ONGs falsas vão comemorar. Ninguém será punido - Joaquim Barbosa foi uma nuvem passageira.

Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não é Fla x Flu. Não. O grave é que tramam uma mutação dentro do Estado democrático. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica.

E, claro, eles têm seus exércitos de eleitores: os homens e as mulheres pobres do País que não puderam estudar, que não leem jornais, que não sabem nada. Parafraseando alguém (Stalin ou Hitler?) - "que sorte para os ditadores (ou populistas) que os homens não pensem".

Toda sua propaganda até agora se acomodou à compreensão dos menos inteligentes: "Quanto maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada" - esta é do velho nazista.

O programa do PT é um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os "sujeitos", os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles falam, a "massa atrasada".

É isso aí. Tenho vontade de registrar este texto em cartório, para depois mostrar aos eleitores da Dilma. Se ela for eleita.

sábado, 10 de maio de 2014

Brasil: o grande retrocesso do lulo-petismo - Arnaldo Jabor


Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo
O Brasil está irreconhecível. Nunca pensei que a incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos. Há uma mutação histórica em andamento. Não é uma fase transitória; nos últimos 12 anos, os donos do poder estão a criar um sinistro "espírito do tempo" que talvez seja irreversível. A velha "esquerda" sempre foi um sarapatel de populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e agora um desenvolvimentismo fora de época. A velha "direita", o atraso feudal de nossos patrimonialistas, sempre loteou o Estado pelos interesses oligárquicos.
A chegada do PT ao governo reuniu em frente única os dois desvios: a aliança das oligarquias com o patrimonialismo do Estado petista. Foi o pior cenário para o retrocesso a que assistimos.
Antes dessa terrível dualidade secular, a mudança de agenda do governo FHC por sorte criou um pensamento mais "presentista", começando com o fim da inflação, com a ideia de que a administração pública é mais importante que utopias, de que as reformas do Estado eram fundamentais. Medidas simples, óbvias, indutivas, tentaram nos tirar da eterna "anestesia sem cirurgia". Foi o Plano Real que tirou 28 milhões de pessoas da pobreza e não este refrão mentiroso que os petistas repetem sobre o Bolsa Família ou sobre o PAC imaginário.
Foi um período renegado pelo PT como "neoliberal" ou besteiras assim, mas deixou, para nossa sorte, algumas migalhas progressistas.
Tudo foi ignorado e substituído pelo pensamento voluntarista de que "sujeitos da história" fariam uma remodelagem da realidade, de modo a fazê-la caber em suas premissas ideológicas. Aí começou o desastre que me lembra a metáfora de Oswald de Andrade, de que "as locomotivas estavam prontas para partir, mas alguém torceu uma alavanca e elas partiram na direção oposta".
Isso causa não apenas o caos administrativo com a infraestrutura morta, como também está provocando uma mutação na psicologia e no comportamento das pessoas. O Brasil está sendo desfigurado dentro de nossas cabeças, o imaginário nacional está se deformando.
Há uma grande neurose no ar. E isso nos alarma como a profecia de Lévi-Strauss de "que chegaríamos à barbárie sem conhecer a civilização". Cenas como os 30 cadáveres ao sol no pátio do necrotério de Natal, onde os corpos são cortados com peixeiras, fazem nossa pele mais dura e o coração mais frio. Defeitos e doçuras do povo, que eram nossa marca, estão dando lugar a sentimentos inesperados, dores nunca antes sentidas. Quais são os sintomas mais visíveis desse trauma histórico?
Por exemplo, o conceito de solidariedade natural, quase 'instintiva', está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo.
Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, com os passageiros dentro, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. O Brasil está com ódio de si mesmo. Cria-se um desespero de autodestruição e o País começa a se atacar.
Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: "É assim mesmo, não tem jeito não". O fatalismo é a aceitação da desgraça. E vêm a desesperança e a tristeza. O Brasil está triste e envergonhado.
Outro sintoma claro é que as instituições democráticas estão sem força, se desmoralizando, já que o próprio governo as desrespeita. Essa fragilização da democracia traz de volta um desejo de autoritarismo na base do "tem de botar para quebrar!". Já vi muito chofer de táxi com saudades da ditadura.
A influência do petismo também recriou a cultura do maniqueísmo: o mal está sempre no outro. Alguém é culpado disso tudo, ou seja, a 'media conservadora' e a oposição.
A ausência de uma política contra a violência e a ligação de muitos políticos com o tráfico estimula a organização do crime, que comanda as cadeias e já demonstra uma busca explícita do horror. A crueldade é uma nova arte incorporada em nossas cabeças, por tudo que vemos no dia a dia dos jornais e TV. Ninguém mata mais sem tortura. O horror está ficando aceitável, potável.
O desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a cultura da marginalidade, a "normalização" do crime.
Uma grande surpresa foi a condenação da Copa. Logo por nós, brasileiros boleiros. Recusaram o 'pão e circo' que Dilma/Lula bolaram, gastando mais de 30 bilhões em estádios para "impressionar os imperialistas" e bajular as massas. Pelo menos isso foi um aumento da consciência política.
Artistas e intelectuais não sabem o que pensar - como refletir sem uma ponta de esperança? Temos aí a "contemporaneidade" pessimista.
Cria-se uma indiferença progressiva e vontade de fuga. Nunca vi tanta gente falando em deixar o País e ir morar fora. As mutações mentais são visíveis: nos rostos tristes nos ônibus abarrotados, na rápida cachaça às 6 da manha dos operários antes de enfrentar mais um dia de inferno, nos feios, nos obesos, no desânimo das pessoas nas ruas, no pessimismo como único assunto em mesas de bar.
Vimos em junho passado manifestações bacanas, mas sem rumo; contra o quê? Um mal-estar generalizado e sem clareza, logo escrachado pelos black blocs, a prova estúpida de nosso infantilismo político.
É difícil botar a pasta de dente para dentro do tubo. Há uma retroalimentação da esculhambação generalizada que vai destruindo as formas de combatê-la. Tecnicamente, não estamos equipados para resolver as deformações que se acumulam como enchentes, como um rio sem foz.
E o pior é que, por trás da cultura do crime e da corrupção, consolida-se a cultura da mentira, do bolivarianismo, da preguiça incompetente e da irresponsabilidade pública.
O Brasil está sofrendo uma mutação gravíssima e nossas cabeças também. É preciso tirar do poder esses caras que se julgam os "sujeitos da história". Até que são mesmo, só que de uma história suja e calamitosa.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Companheiros esquizofrenicos brincando de neo-bolcheviques - Arnaldo Jabor

O 'perigo vermelho'

Arnaldo Jabor
O Estado de S. Paulo, 07 de janeiro de 2014
Retiraram o corpo de João Goulart da sepultura para examiná-lo. Coisa deprimente, os legistas examinando ossos de 40 anos atrás para saber se foi envenenado. Mas havia também algo de um ritual de ressurreição encenada. Jango voltava para a turma que está no poder e que se considera vítima de 1964 até hoje. Só pensam no passado que os ‘legitima’ com nostalgia masoquista de torturas, heranças malditas, ossadas do Araguaia, em vez de fazerem reformas no Estado paralítico e patrimonialista.
Querem continuar a ‘luta perdida’ daqueles tempos ilusórios. Eu estava lá e vi o absurdo que foi aquela tentativa de ‘revolução’ sem a mais escassa condição objetiva. Acuaram o trêmulo Jango, pois até para subversão precisavam do governo. Agora, nossos governantes continuam com as mesmas ideias de 50 anos atrás. Ou mais longe. Desde a vitória bolchevique de 1921, os termos, as ilusões são as mesmas. Aplica-se a eles a frase de Talleyrand sobre a volta dos Bourbons ao poder: "Não aprenderam nada e não esqueceram nada".
É espantosa a repetição dos erros já cometidos, sob a falácia do grande ‘teólogo’ da História, Hegel, de que as derrotas não passam de ‘contradições negativas’ que levam a novas teses. Esse pensamento justificou e justifica fracassos e massacres por um ideal racional. No PT e aliados como o PC do B há um clima de janguismo ou mesmo de ‘brizolismo’, preferência clara da Dilma.
Brizola sempre foi uma das mais virulentas e tacanhas vozes contrárias ao processo de desestatização.
Mas, além dessas mímicas brasileiras do bolchevismo, os erros que querem repetir os comunistas já praticavam na época do leninismo e stalinismo: a mesma postura, o mesmo jargão de palavras, de atitudes, de crimes justificados por mentiras ideológicas e estratégias burras. Parafraseando Marx, "um espectro ronda o Brasil: a mediocridade ideológica".
É um perigo grave que pode criar situações irreversíveis a médio prazo, levando o País a uma recessão barra-pesada em 14/15. É necessário alertar a população pensante para esse ‘perigo vermelho’ anacrônico e fácil para cooptar jovens sem cultura política. Pode jogar o Brasil numa inextrincável catástrofe econômica sem volta.
Um belo exemplo disso foi a recusa do Partido Comunista Alemão a apoiar os social-democratas nas eleições contra os nazistas, pois desde1924 Stalin já dizia que os "social-democratas eram irmãos gêmeos do fascismo".
Para eles, o ‘PSDB’ da Alemanha era mais perigoso que o nazismo. Hitler ganhou e o resto sabemos.
Esta semana li o livro clássico de William Waack Camaradas, sobre o que veio antes e depois da intentona comunista de 1935 (livro atualíssimo que devia ser reeditado), e nele fica claro que há a persistência ideológica, linguística, dogmática e paranoica no pensamento bolchevista aqui no Brasil. A visão de mundo que se entrevê na terminologia deles continua igual no linguajar e nas ações sabotadoras dos aloprados ao mensalão - o fanatismo de uma certeza. Para chegar a esse fim ideal, tudo é permitido, como disse Trotski: "A única virtude moral que temos de ter é a luta pelo comunismo". Em 4 de junho de 1918, declarou publicamente: "Devemos dar um fim, de uma vez por todas, à fábula acerca do caráter sagrado da vida humana". Deu no massacre de Kronstadt em 21.
No Brasil, a palavra "esquerda" continua o ópio dos intelectuais. Pressupõe uma "substância" que ninguém mais sabe qual é, mas que "fortalece", enobrece qualquer discurso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica massacres. Temos de usar "progressistas e conservadores".
Temos de parar de pensar do Geral para o Particular, de Universais para Singularidades. As grandes soluções impossíveis amarram as possíveis. Temos de encerrar reflexões dedutivas e apostar no indutivo. O discurso épico tem de ser substituído por um discurso realista, possível e até pessimista. O pensamento da velha "esquerda" tem de dar lugar a uma reflexão mais testada, mais sociológica, mais cotidiana. Weber em vez de Marx, Sergio Buarque de Holanda em vez de Caio Prado, Tocqueville em vez de Gramsci.
Não tem cabimento ler Marx durante 40 anos e aplicá-lo como um emplastro salvador sobre nossa realidade patrimonialista e oligárquica.
De cara, temos de assumir o fracasso do socialismo real. Quem tem peito? Como abrir mão deste dogma de fé religiosa? A palavra "socialismo" nos amarra a um "fim" obrigatório, como se tivéssemos que pegar um ônibus até o final da linha, ignorando atalhos e caminhos novos.
A verdade tem de ser enfrentada: infelizmente ou não, inexiste no mundo atual alternativa ao capitalismo. Isso é o óbvio. Digo e repito: uma "nova esquerda" tem de acabar com a fé e a esperança - trabalhar no mundo do não sentido, procurar caminhos, sem saber para onde vai.
No Brasil, temos de esquecer categorias ideológicas clássicas e alistar Freud na análise das militâncias. Levar em conta a falibilidade do humano, a mediocridade que se escondia debaixo dos bigodudos "defensores do povo", que tomaram os 100 mil cargos no Estado.
Além de "aventureirismo", "vacilações pequeno-burguesas", "obreirismo", "sectarismo", "democracia burguesa", "fins justificando meios", "luta de classes imutável" e outros caracteres leninistas temos de utilizar conceitos como narcisismo, voluntarismo, onipotência, paranoia, burrice, nas análises mentais dos "militantes imaginários".
Baudrillard profetizou há 20 anos: "O comunismo hoje desintegrado se tornou viral, capaz de contaminar o mundo inteiro, não através da ideologia nem do seu modelo de funcionamento, mas através do seu modelo de desfuncionamento e da desestruturação brutal" (vide o novo eixo do mal da A. Latina).
Sem programa e incompetentes, os neobolcheviques só sabem avacalhar as instituições democráticas, com alguns picaretas sábios deitando "teoria" (Zizek e outros). Somos vítimas de um desequilíbrio psíquico. Muito mais que "de esquerda" ou "ex-heróis guerrilheiros", há muito psicopata e paranoico simplório. Esta crise não é só política - é psiquiátrica.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Burrice e cega ideologia, os males do Brasil sao... - Arnaldo Jabor

O voo da galinha
Arnaldo Jabor
O Estado de S. Paulo, 30/09/2013

A extensa reportagem da revista inglesa The Economist sobre o Brasil devia servir como um programa de governo para a presidenta Dilma.

A revista é reconhecidamente a melhor do mundo em seriedade e profundidade de informação. No entanto, nossa raivosa e arrogante Chefa considerou a matéria uma espécie de oposição à sua administração cada vez mais "bolivariana": "A revista está mal informada, etc." e repetiu os slogans que seus assessores petistas lhe sopram. É tão impressionante isso tudo. O tom geral da matéria deplora, lamenta que o Brasil, com todas as condições para uma decolagem, um "take off", esteja jogando tudo para o alto, tanto pelo olho nas eleições quanto pela teimosia ideológica de enfiar o País dentro de um programa arcaico e inútil. Claro que os governistas acusarão a revista de "imperialista", de "neoliberal", de estar do lado das "grandes corporações" - o mesmo uso que fizeram sobre a espionagem americana na Petrobrás (será que descobriram por que a Petrobrás comprou uma refinaria no Texas por 1 bilhão e 200 milhões de dólares que não consegue vender nem por 100 milhões?).

Essa gente que está no poder bota sempre a culpa de nossa indigência em alguém de fora. Nosso amigo e líder Nicolás Maduro, da Venezuela, disse que a falta de papel higiênico, de comida e de energiaé tudo culpados Estados Unidos. Seguimos sua linha.

Aliás, preparem-se para uma eventual reeleição da Dilma que, ao que tudo indica, vai partir para o "bolivarianismo" explícito, como já declara o PT e em seu site. Será que a nova Dilma vai se "cristinizar" para a construção do "socialismo imaginário" que justificou o "mensalão"?

Na realidade, a revista, em seu artigo chamado Será que o Brasil se detonou?, praticamente só faz perguntas. "Por quê?" - pergunta a revista o tempo todo.

Por que, entre os países emergentes, nós temos o pior desempenho? Terá sido apenas um voo de galinha (chicken flight?), pois aproveitamos muito mal a enxurrada de dinheiro que entrou aqui nos últimos anos? Por quê? Por que o governo não ataca os problemas principais, enunciados por qualquer economista sério do mundo e se detém em remédios demagógicos, como buscar médicos medíocres em Cuba para fazer propaganda socialista nas cidades pobres, como o ridículo trem-bala, como os estádios bilionários para a Copa, que até nosso povo "futeboleiro" condenou nas manifestações?

Por que o famoso PAC, com seu "desenvolvimentismo tardio" não consegue terminar nem 20% das obras propostas? Por que o governo não consegue privatizar (opa: "fazer concessões") nem rodovias, nem ferrovias, nem aeroportos, sem errar várias vezes, sem conseguir redigir contratos decentes, atraentes? Por que o rio S. Francisco continua parado, com grandes regos secos que o Exército fez? Por que não explicam à população as causas dos atrasos, em vez de gastarem bilhões em propaganda enganosa? Por que o número de carros dobrou em 10 anos e as estradas continuam podres e paralisadas? Por que a China acaba de cancelar a compra de 2 milhões de toneladas de soja por causa da dificuldade do "gargalo Brasil"?

Por que a maior produção de soja no mundo fica na fila infinita de caminhões porque não há silos, detidos pela burocracia mais atrasada do planeta? Por que a inflação pode se descontrolar de novo? Por que contrataram mais de 100 mil pelegos para boquinhas no governo, em vez de cortar custos da atividade-meio? Por que estimular o consumo, sem estimular o aumento da oferta? Por que os preços no Brasil são o dobro de qualquer país do mundo, sendo que o chamado "Big Mac Index", a ferramenta de comparação de preços, mostra que nosso Big Mac é 72% mais caro que em qualquer lugar e carros custam 45 mais caro que no México, EUA?

"Ah... porque a carga tributária é de 36% do PIB e nos outros países semelhantes não passa de 21%." Então, por que não lutar por uma reforma tributária profunda, em vez de jogadas periódicas premiando uma ou outra atividade? Por quê? "Ah, porque é muito difícil passar no Legislativo..." Mas, por que não usar toda a força da maioria que têm para isso? Por que a agroindústria, tão esquecida pelo governo (que gosta mais do MST),nos salva todo ano com sua lucratividade? Será que vai bem justamente porque o governo não se meteu? Por que o SUS é aporta do inferno? Por que a educação zero está impedindo a produção nacional, sem mão de obra para nada? Por que temos o recorde mundial de analfabetismo funcional? Porque será que os investidores internacionais têm medo de vir para cá, ultimamente?

Será que é porque eles sabem que nós mudamos regras, não respeitamos contratos nem marcos regulatórios e porque nós queremos lhes enfiar o Estado goela abaixo? Por que será que, de todo o dinheiro arrecadado para as aposentadorias no País, 50% é para pagar apenas 20 % dos aposentados (setor público, claro), enquanto a outra metade é para pagar os 80% restantes? Por que somente 1,5% do PIB é investido em infraestrutura, quando no resto do mundo é por volta de 4%? Por quê? Nossa infraestrutura é a 114 pior entre 148 países.

Ou seja, continuamos sob "anestesia mas sem cirurgia" (Simonsen). Por quê? Talvez a resposta esteja em Platão e sua carroça. Ele disse que é dificílimo guiar um carro com dois cavalos diferentes - um bom marchador e outro manco e lento. É nosso destino, em um governo dividido entre o "bolivarianismo" e as necessidades óbvias, reais do País. Ao contrário do que proclamam, o óbvio pragmatismo administrativo não é "de direita" não, e seria bom para o crescimento e para reduzir a desigualdade.

A matéria do The Economist tem a boa intenção de nos acordar para a racionalidade; não quer nos destruir, não é da "oposição". A reportagem da revista, que é lida no mundo inteiro, serve para nos lembrar da famosa frase de Reagan (sim, o reacionário) -perfeita para nos definir: "O Estado não é a solução; o Estado é o problema".

Ah, sim; a revista esqueceu de mencionar uma importante força da natureza que nos impele para o erro: a muito esquecida categoria política da... Burrice.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Frases (estas sim) inesqueciveis: Nelson Rodrigues (visto por Arnaldo Jabor)


Nelson Rodrigues inventou o óbvio
Arnaldo Jabor
O Estado de S.Paulo, 22/05/2012
Os 100 anos de Nelson Rodrigues estão sendo celebrados por muita gente que o criticou em vida e hoje o glorifica. Tanto as depreciações quanto alguns louvores são descabidos - ele não era nem pornográfico nem um escritor aspirando à condição de estátua. Nelson adorava elogios, mas odiava os "medalhões".
NR é importante como inventor de linguagem. A importância de sua obra está onde ela parece 'não ter' importância. Onde ela é menos "profunda" - ali é que se encontra uma qualidade rara. Era fácil (e justo) considerar 'gênios' homens como Guimarães Rosa ou Graciliano, mas Nelson nunca coube nos pressupostos canônicos. Sua obra é um armazém, um botequim geral, uma quitanda de Brasil.
Formado nas delegacias sórdidas, vendo cadáveres de negros 'plásticos e ornamentais', metido no cotidiano marrom do jornal do pai, Nelson flagrou verdades imortais que estavam ali, no meio da rua, na nossa cara, e que ninguém via.
Uma vez ele me disse: "Se Deus perguntar para mim se eu fiz alguma coisa que preste na vida, eu responderei a Deus: 'Sim, Senhor, eu inventei o óbvio!'"
Filho do jornalismo policial, Nelson desconstruía o pedantismo tão comum entre nossos escritores.
Uma vez ele me disse ao telefone que o "problema da literatura nacional é que nenhum escritor sabe bater um escanteio": ensolarada imagem esportiva para definir literatos folgados. Até hoje, muita gente não entendeu que sua grandeza está justamente na observação dos detritos do cotidiano. A faxina que Nelson fez no teatro e depois na prosa é semelhante à que João Cabral fez na poesia. Nelson baniu as metáforas a pontapés "como ratazanas grávidas" e criou antimetáforas feitas de banalidades condensadas. "A poesia está nos fatos", como escreveu Oswald no Pau Brasil. Pois é, Nelson também odiava metáforas gosmentas. Suas imagens não aspiravam ao "sublime". Exemplos: "O torcedor rubro-negro sangra como um César apunhalado", "a mulher dava gargalhadas de bruxa de disco infantil", "seu ódio era tanto que ele dava arrancos de cachorro atropelado", "a bola seguia Didi com a fidelidade de uma cadelinha ao seu dono", "o juiz correu como um cavalinho de carrossel", "o sujeito vive roendo a própria solidão como uma rapadura", "somos uns Narcisos às avessas que cuspimos na própria imagem", "vivemos amarrados no pé da mesa bebendo água numa cuia de queijo Palmira", "hoje o brasileiro é inibido até para chupar um Chica Bon".
Visto por ele, tudo boiava no mistério: os ovos coloridos de botequim, as falas dos 'barnabés', as moscas de velório no nariz do morto. Nelson fazia a vida brasileira ficar universal, não por grandes gestos, mas pelo minimalismo suburbano que ele praticava. E o sublime aparecia na empada, na sardinha frita ou no torcedor desdentado.
Sua obra é um desfile de tipinhos anônimos, insignificantes - nisso aparecia sua grandeza desprezada. São prostitutas bondosas, cafajestes poéticos, canalhas reluzentes, vagabundos épicos, sobrenaturais de almeida, adúlteras heroicas e veados enforcados. Ele me dizia: "O que estraga a arte é a unidade..."
Ele dava lições de arte e literatura: "Enquanto o Fluminense foi perfeito, não fez gol nenhum. A partir do momento em que deixou de ser tão Flaubert, os gols começaram a jorrar aos borbotões, pois a obra-prima no futebol e na arte tem de ser imperfeita." Existe coisa mais 'contemporânea'?
Gilberto Freyre sacou sua "superficialidade profunda", assim como André Maurois entendeu que a genialidade de Proust era "a épica das irrelevâncias..." E isto é muito saudável, num país onde ninguém escreve um bilhete sem buscar a eternidade.
Nunca deixava a literatura prevalecer sobre a magia dos fatos. Sempre um detalhe inesperado caricaturava os dramas. No meio da tragédia, vinha a gíria; no suicídio - o guaraná com formicida; no assassinato - a navalhada no botequim; na viuvez - o egoísmo; nos enterros - a piada.
Uma vez, me contou que viu uma família esperando num hospital a notícia sobre um filho atropelado. Morreu ou não? Afligiam-se todos, vistos pelo Nelson através do vidro do corredor. Viu o médico chegar e dizer que o menino tinha morrido. "Eu vi pelo vidro. Não ouvi um som. A família começou a se contorcer em desespero. Pai, mãe, tios gritavam e, através do vidro, pareciam dançar. Pareciam dançar um mambo. Daí, eu concluí a verdade brutal: a grande dor dança mambo!..."
Nelson recusava teorias. Contou-me um episódio hilário: uma vez o Oduvaldo Viana Filho e Ruy Guerra, grandes artistas, chamaram-no para escrever um roteiro de filme sobre uma mulher adúltera. Nelson foi trabalhar com eles, mas desistiu e me disse: "Parei, porque eles queriam que a adúltera fosse para a cama do amante e traísse o marido movida apenas pelas 'relações de produção'...."
Ele intuiu na época que a vulgata do marxismo era o ópio dos intelectuais. Foi chamado de fascista porque puxava o saco do Médici, para ver se soltava o filho preso havia anos. Eu mesmo sofri por causa dele; em 1973 ousei filmar Toda Nudez Será Castigada e dei uma entrevista na Veja em que disse que "fascismo é amplo: existe fascista de direita e de esquerda também". Pra quê? Mandaram um manifesto à revista onde me esculhambavam indiretamente, dizendo que o sucesso imenso que o filme fazia "não era a missão do cinema novo". Foi das grandes dores que senti, pois até amigos assinaram o maldito texto, que só não foi publicado porque, um dia antes, os generais tiraram o filme de cartaz, com soldados de metralhadora, levando as cópias dos cinemas. Aí, meus amigos comunas tiraram o texto, "para não dar razão ao inimigo principal", que era a ditadura, a censura. (Eu e Nelson éramos inimigos secundários, para usar o termo de Mao Tsé-tung). O filme voltou ao cartaz porque ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e os generais ficaram com medo da repercussão e liberaram a exibição.
Se fosse vivo, ao ver os escândalos atuais, repetiria a frase eterna: "Consciência social de brasileiro é medo da polícia."
E-mail: arnaldo.jabor@estadao.com.br

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A mafia no diva - Arnaldo Jabor

Não, não se trata de um remake do filme de Hollywod, com Robert de Niro no papel de um mafioso com problemas psicológicos (um pouco mais abaixo, na verdade).
Ou talvez seja, adaptado ao cenário nacional, em que mafiosos tem carreira solo, especializando-se em roubar o próprio Estado, o que é mais raro nos EUA.
Raramente aprecio as crônicas de Arnaldo Jabor, que tem um grande dom de repetição. Mas esta é uma das melhores...
Paulo Roberto de Almeida

‘Angústias de um colarinho-branco’

Arnaldo Jabor
O Estado de S.Paulo, 14/02/2012
“Doutora, eu procurei a psicanálise porque ando com um estranho sintoma: estou com o que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’… Tive essa ideia quando vi aquele seriado na TV, Os Sopranos, com o chefão da Máfia de New Jersey chorando para uma psicanalista de lindas pernas. Como a senhora…
Tenho tido pesadelos: sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. Não mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo… (sem veadagem… claro).
Não sou um ladrão de galinhas, mas já roubei galinhas do vizinho e até hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Há há há… Mas hoje em dia, doutora, não roubo mais por necessidade; é prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginárias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, vibro quando vejo os olhos covardes do empresário me pagando a propina, suas mãos trêmulas me passando o tutu, delicio-me quando o juiz me dá ganho de causa, ostentando honestidade e finge não perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (está entre 30 a 50 mil dólares, hoje), babo ao ver juízes sabujos diante de meu poder de parlamentar e fazendeiro rico.
Como, doutora? Se me sinto superior assim? Bem, é verdade… Adoro a sensação de me sentir acima dos otários que me ‘compram’, eles se humilhando em vez de mim. Roubar me liberta. Eu explico: roubar me tira do mundo dos ‘obedientes’ e me provoca quase um orgasmo quando embolso uma bolada. Desculpe… a senhora é mulher fina, coisa e tal, mas, adoro sentir o espanto de uma prostituta, quando eu lhe arrojo mil dólares sobre o corpo e vejo sua gratidão acesa, fazendo-a caprichar em carícias mais perversas.
É uma delícia, doutora, rolar, nu, em cima de notas de cem dólares na cama, de madrugada, sozinho, comendo chocolatinhos do frigobar de um hotel vagabundo, em uma cidade onde descolei a propina de um canal de esgoto superfaturado. Gosto da doce volúpia de ostentar seriedade em salões de caretas que te xingam pelas costas, mas que te invejam pela liberdade cínica que te habita. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim, viril e sorridente ─ todo bom ladrão é simpático. A senhora não tem ideia, aí, sentada nessa poltrona do Freud, do orgulho que sinto, até quando roubo verbas de remédios para criancinhas, ao conseguir dominar a vergonha e transformá-la na bela frieza que constrói o grande homem. E, agora, este sentimentozinho de ‘culpa’ tão chato…
Sei muito bem os gestos rituais da malandragem brasileira: sei fazer imposturas, perfídias, tretas, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduá e chorar lágrimas de crocodilo… Sou ótimo ator e especialista em amnésias políticas. Eu já declarei de testa alta na Câmara: ‘Não sei nem imagino como esses milhões de dólares apareceram em minha conta na Suíça, apesar destes extratos todos, pois não tenho nem nunca tive conta no exterior!’ Esse grau de mentira é tão íntegro que deixa de ser mentira e vira uma arte.
Doutora, no Brasil há dois tipos de ladrões de colarinho-branco: há o ladrão ‘extensivo’ e o ‘intensivo’.
Não tolero os ladrões intensivos, os intempestivos sem classe… Faltam-lhes elegância e finesse. Roubam por rancor, roubam o que lhes aparece na frente, se acham no direito de se vingar de passadas humilhações, dores de corno, porradas na cara não revidadas, suspiros de mãe lavadeira.
Eu, não. Eu sou cordial, um cavalheiro; tenho paciência e sabedoria, comecei pouco a pouco, como as galinhas que roubei na infância, que de grão em grão enchiam o papo… Eu sou aquele que vai roubando ao longo da vida política e, ao fim de décadas, já tem Renoirs na parede, iates, helicópteros, esposas infelizes (não sei por que, se dou tudo a ela), filhos estroinas e malucos… (mandei estudar na Suíça e não adiantou).
Eu adquiri uma respeitabilidade altaneira que confunde meus inimigos, que ficam na dúvida se me detestam ou admiram. No fundo, eu me acho mesmo especial; não sou comum.
Perto de mim, homens como PC foram meros cleptomaníacos… Sou profissional e didático… Considero-me um Gilberto Freyre da corrupção nacional…
Olhe para mim, doutora. Eu estou no lugar da verdade. Este País foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? O que vocês chamam de ‘roubalheira’, eu chamo de ‘progresso’. Não o frio progresso anglo-saxônico, mas o doce e lento progresso português que formou nossa tolerância, nossa ambivalência entre o público e o privado.
Eu sempre fui muito feliz… Sempre adorei os jantares nordestinos, cheios de moquecas e sarapatéis, sempre amei as cotoveladas cúmplices quando se liberam verbas, os cálidos abraços de famílias de máfias rurais… A senhora me pergunta por que eu lhe procurei?
Tudo bem; vou contar.
Outro dia, fui assistir a uma execução. Mataram um neguinho no terreno baldio. Ele implorava quando lhe passaram o fio de náilon no pescoço e apertaram até ele cair, bem embaixo de uma placa de financiamento público. Na hora, até me excitei; mas quando cheguei em casa, com meus filhos vendo High School Musical na TV, fui tomado por este mal-estar que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’…
Por isso, doutora, preciso que a senhora me cure logo… Tem muita verba pública aí, muita emenda no orçamento, empreiteiros me ligando sem parar… Tenho de continuar minha missão, doutora…”