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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Trump é intelectualmente muito limitado (como Bolsonaro, aliás)

Unveiling the Truth: Donald Trump's Intellectual Shortcomings Exposed in His Own Words

Throughout his public life, Donald Trump has exhibited a pattern in his speech and behavior that suggests his intellectual capacity might be questioned. His frequent use of simple, repetitive vocabulary and his struggle to convey coherent, in-depth thoughts on complex subjects have been notable. For instance, analyses of his speeches, like those conducted by Factbase, show a tendency towards elementary language, with a preference for words that resonate with emotion rather than intellect.

Trump's performance in debates and interviews often reveals a limited grasp of detailed policy or global affairs. For example, in a 2016 interview with The Washington Post, Trump's responses to questions about foreign policy were vague and superficial, lacking in specific details or understanding. Similarly, his 2020 Axios interview on HBO displayed challenges in addressing detailed statistics and health policy nuances related to the COVID-19 pandemic.

While some supporters hail his approach as "intuitive genius," attributing his success to instinctual and impulsive decision-making, this perspective may overlook the necessity for analytical depth and critical thinking in governance. Trump’s strength seems to lie in his ability to connect with certain voter bases through direct, forceful language and populist assertions, rather than through substantive, evidence-based argumentation.

His approach to communication and decision-making, often seen as eschewing complexity in favor of gut reactions and bold assertions, has sparked debate over the nature of intellectual capability. While effective for rallying a particular segment of the populace, these characteristics have led to scrutiny of his intellectual depth when navigating the intricacies of political and social issues.


terça-feira, 26 de março de 2024

Opções ainda abertas a um angustiado indiciado…

 Dúvidas quanto a uma nova estada longe dos longos braços da Justiça? 

Quais opções de asilo diplomático para o Bozo escapar do Xandão em alguma embaixada de Brasília? 

A Hungria já está "queimada", e o embaixador tomou um sabão do Itamaraty. 

A embaixada da Rússia seria, obviamente a ideal, pois o Bozo já se declarou "solidário" ao Putin e o tirano de Moscou deve ter apreciado o gesto. Em contrapartida, o Lula também é amigo do Putin.

A embaixada da Bielorússia é obviamente mais discreta, mas deve ser menos confortável. 

Mas tem também a sede do "novo" Partido NOVO, ultra-bolsonarista, até mais do que os próprios.

Por fim, cabe não esquecer os escritórios do New York Times no Rio de Janeiro: os jornalistas adorariam esconder o Bozo por algum tempo, enquanto o Heleno consegue falsificar algum passaporte, de Tuvalu por exemplo.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia, 26/03/2024

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Pressão do Itamaraty derruba almirante Flávio Rocha, ligado a Bolsonaro - Igor Gielow (FSP)

Pressão do Itamaraty derruba almirante ligado a Bolsonaro

Integrante da cúpula da Marinha, Flávio Rocha foi vetado como negociador do programa nuclear brasileiro

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/09/pressao-do-itamaraty-derruba-almirante-ligado-a-bolsonaro.shtml

Folha de S. Paulo, 28/09/2023
A pressão do Ministério das Relações Exteriores derrubou um dos integrantes do Almirantado, a cúpula da Marinha, mais associados ao governo de Jair Bolsonaro (PL).


O almirante-de-esquadra Flávio Rocha não será mais secretário de Segurança Nuclear e Qualidade da Força, e deverá ficar sem cargo executivo até ir para a reserva, em março do ano que vem.

A crise foi tratada discretamente no governo Lula, para evitar mais marola numa relação que começou complexa com a Marinha, ainda mais em tempos de investigação sobre intentonas golpistas e afins.

O último chefe da Força sob Bolsonaro, Almir Garnier, se recusou a conversar com o então ministro da Defesa indicado, José Mucio, e não compareceu à passagem de comando para Marcos Sampaio Olsen, ato inédito na história da instituição desde a redemocratização de 1985.

Garnier também foi citado na delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, como o único chefe de Força que abraçou a ideia de um golpe contra o resultado das eleições vencidas por Lula (PT) no ano passado.

Rocha foi muito próximo do ex-presidente. Logo após receber a quarta estrela que identifica o topo da hierarquia, em 2020, ele foi convidado por Bolsonaro para ser seu secretário de Assuntos Estratégicos, com assento no Palácio do Planalto.

Considerado muito preparado e fluente em seis línguas, passou gradativamente a ocupar o espaço de um Itamaraty então destroçado pela gestão de Ernesto Araújo, aquele que dizia ser uma honra a qualificação de pária internacional então dada ao Brasil.

Quando Bolsonaro conversou com Xi Jinping para tentar amainar uma crise criada por seu filho Eduardo, que entrou em choque com a diplomacia chinesa, ele estava na teleconferência. Logo, missões sensíveis ao exterior lhe foram confiadas, como viagens para negociar armas em países árabes e a discussão para a adoção de combustível russo para o submarino nuclear brasileiro

Todo esse protagonismo incomodou a diplomacia, a exemplo do que ocorrera durante os 13 anos em que o já falecido Marco Aurélio Garcia foi assessor de Assuntos Internacionais das Presidências de Lula e Dilma Rousseff (PT) e, em menor escala, agora com o ex-chanceler Celso Amorim no mesmo cargo no Planalto.

Com a virada do governo e o mal-estar generalizado na Marinha, sobrou para Múcio, que conhecia Rocha desde os tempos em que o almirante era assessor parlamentar da Marinha, acomodar a situação.

No papel, o militar foi nomeado em 10 de março como assessor do gabinete do comandante Olsen. Na prática, ele assumiu as funções de secretário naval de Segurança Nuclear e Qualidade, na Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Força.

Era uma saída lógica, na visão da Marinha, dado o envolvimento de Rocha em assuntos nucleares enquanto era secretário. A Força lidera os esforços brasileiros no setor desde 1979, e o governo Lula determinou uma retomada de iniciativas na área —a primeira, a transferência da diretoria do setor para São Paulo, no campus da USP, para enfatizar o caráter de benefícios civis do programa. 

Sem publicidade, em 20 de maio Rocha embarcou para uma viagem à Europa, na qual participou primeiro de uma reunião do comitê que discute o desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear brasileiro no âmbito do acordo militar Brasil-França de 2009, em curso.

Depois, desembarcou em Viena para uma reunião ordinária do conselho de governantes da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), no dia 5 de junho. A sua presença causou rebuliço na missão brasileira junto ao órgão de 35 nações, no qual o país ocupa uma das duas vice-presidências.

Diplomatas com conhecimento do assunto afirmam que o problema era o caráter militar em um evento civil, ainda mais no momento em que a AIEA questiona os desígnios do Brasil, que pediu à agência um acordo para poder usar combustível nuclear em uma embarcação militar, apesar de não ter armas atômicas.

Já aliados de Rocha na Marinha viram no episódio pura inveja, sob a alegação de que ele é um bolsonarista. Seja qual for a verdade, o fato é que o Itamaraty passou a pressionar a Defesa a remover o almirante de funções executivas.

Na semana passada, Múcio e Olsen decidiram que era melhor evitar mais confusão e designaram Rocha para uma função inespecífica no Comando da Marinha. Ele seguirá com seu salário de R$ 37 mil mensais e, segundo amigos, tem se dedicado também a abrir uma empresa.

Suas funções serão incorporadas pelo diretor do programa nuclear, almirante Petrônio Aguiar, que está no cargo desde 2021. Rocha não respondeu a mensagem enviada pela Folha para comentar o caso.

No Almirantado, um colegiado de dez integrantes chefiado por Olsen, o processo caiu mal por envolver um dos seus. Por outro lado, há a compreensão de que Rocha ultrapassou limites quando aceitou trabalhar no governo Bolsonaro sendo um oficial da ativa —a maioria dos fardado que migrou para o Executivo passou para a reserva, com algumas exceções notórias como o controverso general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde.

O episódio todo comprova, mais uma vez, que as feridas da simbiose entre fardados e Bolsonaro, voluntária ou não, ainda estão por todos os lados.


sábado, 23 de setembro de 2023

A tentativa de golpe de Bolsonaro: quase televisionada (Valor Econômico)

 Bolsonaro quis dar o golpe, está provado. Só conseguiu o apoio do camandante da Marinha. Matéria do Valor Econômico:

“NA REUNIÃO EM QUE GARNIER ADERIU AO GOLPE, COMANDANTE DO EXÉRCITO AMEAÇOU PRENDER BOLSONARO

A delação do tenente-coronel Mauro Cid jogou luz sobre o personagem que melhor ilustra a cooptação promovida pelo EX-PRESIDENTE JAIR BOLSONARO nas Forças Armadas. Quando foi alçado ao comando da Marinha, o almirante ALMIR GARNIER nunca havia comandado nenhuma das duas esquadras da Marinha, a do Rio e a da Bahia. Já havia passado pelo comando do Segundo Distrito Naval, que fica em Salvador, mas pelas esquadras, cujo comando sempre foi uma pré-condição informal, não.

Foi assim, já devedor do presidente da República, que ele assumiu o posto. Jair Bolsonaro bancara sua indicação a despeito de ele não integrar o topo da lista. Para demonstrar lealdade, em 2021 protagonizou um exercício extemporâneo dos fuzileiros navais em Formosa, Goiás. E, finalmente, em 2022, virou conselheiro de Bolsonaro. O ex-presidente ligava pra ele em toda encruzilhada em que se via no governo. Garnier havia chegado onde jamais imaginara.

Por isso, quando o ex-presidente, naquela noite de 24 de novembro, em reunião com o comando das três Forças no Palácio do Alvorada, perguntou se os comandantes estariam fechados com ele na contestação ao resultado, Garnier foi o único a responder de bate pronto que sim.

O brigadeiro CARLOS BATISTA, da Aeronáutica, ficou calado, e quem enfrentou o presidente foi o comandante do Exército, general FREIRE GOMES. Ele não apenas disse a Bolsonaro que o Exército não compactuava com um golpe como afirmou à queima-roupa: “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.

Não é exatamente porque setores das Forças Armadas não tenham querido dar o golpe, é porque não havia condições fazê-lo. Freire Gomes sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam. Além disso, os americanos — civis e militares — já haviam dado fartas demonstrações de que não apoiariam. Seis comitivas desembarcaram no Brasil ao longo de 2022 com esta missão.

Um amigo que esteve com Garnier um mês depois desta reunião, numa sala da Marinha, já o encontrou à paisana, com a barba por fazer, indisposto a participar da cerimônia de transmissão do cargo.

“Será melhor para a Marinha, para o novo comandante e para você”, disse, sem sucesso, ao almirante. Este amigo fez chegar a informação ao ministro JOSÉ MÚCIO, já escolhido pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, para a Defesa.

Múcio tentou convencer Garnier a transmitir o cargo e tampouco teve sucesso. Os dois se encontrariam durante um almoço na casa do novo comandante da Marinha, MARCOS OLSEN, já sob o novo governo.

 * Delação gerou apreensão nas Forças Armadas, mas declaração de Múcio serenou ânimos

 * Marinha diz não ter tido acesso à delação

A partir daí Garnier começou a ter uns problemas de saúde e a pedir a amigos que lhe sugerissem um advogado. O almirante, de fato, vai precisar de um. Porque se esta delação do coronel Cid for confirmada, estaria sujeito a pelo menos dois crimes, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado. E a Justiça Militar? No limite, pode lhe tirar a patente. Ainda que venha a perder a titularidade do soldo de almirante da reserva, o recurso passaria a ser depositado na conta de sua esposa.

O coronel Cid, em sua delação, aparentemente escolheu virar seus holofotes para Garnier, mas há um outro almirante quatro estrelas,que tinha sala no Palácio do Planalto, como assessor direto dopresidente, o almirante Flavio Rocha, que era titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Com o fim do governo Bolsonaro, foi reincorporado ao Alto Comando da Marinha. Procurado, não atendeu à chamada do VALOR.

domingo, 4 de junho de 2023

Ricardo Bergamini reuniu as matérias sobre a "moeda única" da América do Sul propostas nos governos Bolsonaro e Lula



Governo quer moeda única para América do Sul, diz Bolsonaro

 

Agência Brasil, 07/06/2019

:

O presidente da República, Jair Bolsonaro, disse hoje (7) que o governo quer uma moeda única para toda a América do Sul. A proposta foi apresentada ontem pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1145221&o=nodehttps://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1145221&o=node

 

Matéria completa clique abaixo:

 

https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-06/governo-quer-moeda-unica-para-america-do-sul-diz-bolsonaro

 


Lula volta a defender moeda única em reunião com chefes de Estado da América do Sul

 

Presidente sugeriu ainda a líderes dos 10 países sul-americanos presentes no encontro a utilização do BNDES para construção de uma poupança regional com presidentes de países da América do Sul, no Palácio do ItamaratyMarcelo Camargo/ Agência Brasil.

 

Diego Mendesda - CNN - São Paulo, 30/05/20231

 

Matéria completa clique abaixo:

 

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/lula-volta-a-defender-moeda-unica-em-reuniao-com-chefes-de-estado-da-america-do-sul/#:~:text=O%20presidente%20Luiz%20In%C3%A1cio%20Lula,propostas%20econ%C3%B4micas%20para%20o%20bloco.Twitter

 


Defendida por Lula e Guedes, “moeda única” não é viável, dizem especialistas

 

Proposta faria com que países da América Latina adotassem uma mesma moeda, facilitando a integração comercial, mas reduzindo autonomia monetária.

 

João Pedro MalarPedro Zanatta do CNN Brasil Business em São Paulo, 17/05/2022

 

Matéria completa clique abaixo:

 

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/presidenciaveis-defendem-moeda-unica-entenda-a-viabilidade-da-proposta/

 

Ricardo Bergamini

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Uma opinião sobre o ex-presidente fujão (agosto de 2019) - Paulo Roberto de Almeida

 Por acaso, encontrei uma postagem que fiz em AGOSTO DE 2019, em intenção de jornalistas que perguntavam minha opinião sobre o mais horrível (desde sempre, ou seja, antes, durante e depois) dirigente que jamais conspurcou a cadeira presidencial (e isto desde 1549, isto é, desde a designação pela metrópole do primeiro governador-geral do Brasil, D. Tomé de Souza).

Eu teria agora, 2/02/2023, muito pouco a acrescentar, a não ser para pior, ou seja, patife, genocida, salafrário, covarde, fujão, psicopata perverso, imbecil e mal amado, além de certo desequilibrio que revela profundos problemas freudianos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 2/02/2023


Mini-reflexão sobre o estado atual de um país em "desarroi" (como diriam os franceses)

Brasília, 28 de agosto de 2019

Como diria um filósofo, "as consequências sempre veem depois..."

Alguns jornalistas me perguntam se eu acho que o presidente tem alguma estratégia, por trás de suas tomadas de posição, sempre contudentes.

Eu digo que não, que por vários outros motivos, eu penso que o presidente não tem estratégia nenhuma, simplesmente porque o homem não pensa, ponto.

Ele é pura reação: possui instintos primitivos, e deixa esses instintos florescer impunemente (ou com prejuízos para terceiros, como estamos vendo agora).

Ou seja, não há NENHUMA ESTRATÉGIA, porque é impossível para um indivíduo de tão baixa reflexão, conhecimento ou ponderação pensar qualquer coisa de forma ordenada. É só confusão.

Ou seja, ele tem "estilo", se essa nobre palavra pode ser usada: uma atitude agressiva, confrontacionista, sempre atacando supostos inimigos, se contentando com sua família, seu clã, sua tribo, seus asseclas, e seus seguidores, a maior parte tão desmiolados quanto ele. Ao manter essa atitude de ataque, de desrespeito, de choque, ele acha que vai manter unida a sua base e continuar gozando da onda de apoio que teve para se eleger.

Como ele não pensa, não se deu conta que a sociedade já o rejeitou.

Ou ele é contido por generais mais inteligentes, ou por uma junta médica que o declare insano, ou do contrário ele vai continuar acirrando o cenário político no Brasil até ser expelido para fora de onde nunca deveria ter estado, ou entrado.

Infelizmente, para todos nós, ele será meio contido, e assim vamos nos arrastar penosamente em direção a 2022, com prejuízos para todo o Brasil e os brasileiros.

Enfim, nada que os argentinos (e alguns outros povos) já não tenham conhecido.

Decadência não é só um conceito para elegantes digressões acadêmicas.

Se os brasileiros ainda não perceberam que o Brasil está decadente, num estado pré-falimentar, é melhor acordar agora. Sejam bem-vindos à realidade.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28 de agosto de 2019

domingo, 1 de janeiro de 2023

Bolsonaro lidera lista dos malas que atravancaram a vida nacional em 2022 - Mario Sergio Conti (FSP)

Bolsonaro lidera lista dos malas que atravancaram a vida nacional em 2022

Nomes que servem para esta época podre incluem Carla Zambelli, Padre Kelmon, Aécio, Moro, Neymar e Guedes

MARIO SERGIO CONTI

Folha de S. Paulo, 1/01/2023 


Dando seguimento a uma tradição ancestral, iniciada há um ano, eis os malas de 2022. A inspiração vem de Artur Xexéo, que por décadas arrolou os sem rodinha que atravancavam a vida nacional. Como chega ao fim o quadriênio em que quadrúpedes fizeram do Planalto sua estrebaria, a lista de tralhas serve para a era podre inteira.


Rodeada de estrelas verdes, amarelas, azuis e vermelhas está a imagem de Jair Bolsonaro. Nesta representação feita em linhas o presidente chora de boca aberta, mãos a meia altura e semblante desesperado. Ao fundo em letra cursiva os dizeres tá na hora do Jair, já ir embora..!


Ibaneis Rocha. Desconhecido fora de Brasília, já a partir do nome é o governador mais feio do Brasil, quiçá da América Latina. Fez corpo mole e foi meigo com bolsonaristas que queimaram carros e ônibus. Ao ver que podia se estrepar, dançou uma polca para disfarçar que é de extrema direita.


Bananinha. O terceirogênito da famiglia orientou sua turba a clamar por um golpe na frente de quartéis —e fugiu à sorrelfa para o Qatar. Os otários tomavam chuva e ele pegava um bronze. Foi flagrado alimentando camelos com pen drives.


Micheque. Oficiou rituais de magia negra para se perpetuar como grã-sacerdotisa do Alvorada. Debalde: o Chifrudo tinha muito que fazer no Planalto. Agora precisará dos pré-datados do Queiroz para promover urucubacas. O PT cogita banho de sal grosso, descarrego, exorcismo e desratização dos palácios de Niemeyer: pé de pato, mangalô, três vezes!


Kelmon da Silva. Não pode ser chamado de padre porque foi denunciado pela CNBB e deletado pela Igreja Ortodoxa do Peru. É um picareta com duplo timbre canônico.


Tucanos. Foram tão para a direita que não souberam mais voltar para o ninho. Tentaram pegar carona numa motociata protofascista e morreram atropelados. Requiescat in pace.


Neymar. Foi um ás em ostentar, se atirar no chão e pedir pênalti, esguichar lágrimas de crocodilo e descolorir a juba murcha. Apesar de pôr no bolso US$ 55 milhões no ano, rastejou e implorou a Bolsonaro que lhe perdoasse uma dívida de US$ 1,5 milhão com o Fisco. Eles se merecem.


Carla Zambelli. Quis ser a versão feminina de Billy the Kid, mas quem nasceu para Mazzaropi nunca chega a John Wayne. Embora lhe tenham cassado a pistola, todo cuidado é pouco: tem um arsenal com peixeiras, estilingues, chicotes, canivetes, bolas de gude, foices, zarabatanas e tacapes.


Aécio. Os ingênuos pedem sua opinião sobre teto de gastos, déficit fiscal e meio ambiente. Não é a praia dele, gente. O mineirinho maneiro pode falar de cátedra, isso sim, sobre carniceiros que desovam malas de bufunfa em pizzarias —mas gravam telefonemas.


Elon Musk. É o sem alça da devoção dos listados acima e abaixo. O über-ególatra lhes serve de exemplo para as virtudes cerúleas da livre iniciativa, do tecno-turbo-capitalismo que pariu essa toupeira topetuda. Ô cara chato.


Milton Ribeiro. Esqueceu? É o pastor que foi ministro da Educação. Aquele das Bíblias com sua foto. O do bolsolão do MEC, um esquema com carolas de quinta e barras de ouro de primeira. O condenado a pagar R$ 200 mil por jurar que gays são produto de "famílias desajustadas". Aquele que pintava o bigode: agora lembrou, né?


Moro. Quis ser o grande malandro da praça falando grosso com voz fina. Juiz inapto e ministro inepto, almejou aboletar-se no Supremo e —audácia do bofe— na Presidência. Rompeu com Bolsonaro com rugido de leão e voltou ao seu colo ronronando como um gatinho. Acabou o ano nas garras da Justiça Eleitoral.


Temer. O mordomo de filme de terror é uma unanimidade única no país polarizado. Nem Lula nem Bolsonaro quiseram seu voto. Se a Record fizer uma novela sobre o calvário do Nazareno, fará o papel do Iscariotes.


Guedes. Irascível, parece padecer de constipação crônica. Mas foram o fracasso e a presunção que fizeram dele um czar das batatadas. Se o desemprego despirocava, ficava enfezado, imitava seu capo e injuriava mulheres.Brigitte Macron e empregadas foram alvos da sua sanha.


Janaina Paschoal. A jiboia do impeachment foi tão sinuosa que deu um nó pescoço e se enforcou. Os eleitores mandaram a Medusa de volta ao Tatuapé ao som de Orlando Silva: "Tudo porém foi inútil/ Eras no fundo uma fútil".


Bolsonaro. Buáááá! Depois de quatro anos escarrando peçonha, atolou-se num charco de choro e chorume. O mala ao quadrado deixou para o crepúsculo do mandato a revelação do ácido em ebulição no âmago de sua alma amarga: o coitadismo boçaloide. Perdeu, mané, não amola. É mau que o Mal tenha sido endeusado por quase metade da nação. Mas em verdade vos digo: que ressoem em júbilo as trombetas porque a maioria o lançou "na fornalha ardente onde haverá pranto e ranger de dentes" (Mateus, 13:42).


Feliz ano novo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Relações Exteriores: receita de Bolsonaro para tornar o país um pária - Rodolfo Lago (Congresso em Foco)

 Relações Exteriores: receita de Bolsonaro para tornar o país um pária

Congresso em Foco
24 de dezembro de 2022

Rudolfo Lago 

Em um evento de formatura de novos diplomatas em 2020, o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não teve pudores em indicar que caminhos pretendia para a diplomacia brasileira. Araújo disse na ocasião que preferia ver a política externa brasileira ser condenada por outros países que se aliar ao "cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos". E disparou: "Se a atuação da diplomacia brasileira faz de nós uns párias, então que sejamos esse pária".

Como outros nomes do núcleo mais radical do bolsonarismo, Ernesto Araújo acabou deixando o governo Bolsonaro antes do seu fim. Mas, de acordo com o diagnóstico contido no relatório de transição para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, os integrantes do grupo de trabalho que analisou os dados sobre relações exteriores, o sucesso de o Brasil atingir o objetivo almejado pelo ex-chanceler de se tornar pária ficou próximo de ser alcançado.

"A combinação entre o desmonte de políticas públicas, em nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo, no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a capacidade brasileira de influir sobre temas da agenda global", conclui o relatório.

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"Ao assumir posturas negacionistas, o Brasil perdeu protagonismo em temas ambientais, desafiou esforços de combate à pandemia e promoveu visão dos direitos humanos inconsistente com sua ordem jurídica", observa o texto do relatório. "Na América Latina, tornou-se fator de instabilidade. A política africana foi abandonada e pouca atenção foi dada às comunidades brasileiras no exterior".

Fim de políticas de integração

O relatório observa que o estímulo a processos de integração política, de formação de blocos, de multilateralismo, sempre foram características da diplomacia brasileira. Segundo os integrantes do GT de Relações Exteriores, tudo isso foi abandonado na era Bolsonaro. Adotando postura "diametralmente oposta", as ações do governo resultante do desmonte da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), da saída do país da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e no crescimento de forças favoráveis ao desmantelamento do Mercosul, bloco formado pelos países do continente sul-americano.

"Ao apostar no isolamento da Venezuela, o Brasil cometeu erro estratégico de transformar a América do Sul em palco da disputa geopolítica entre EUA, Rússia e China", analisa o relatório. "De catalisador de processos de integração, o país passou a ser fator de instabilidade regional".

O Brasil acabou perdendo protagonismo internacional em discussões nas quais sua voz era considerada. Como direito à saúde, direito à alimentação adequada, igualdade de gênero e racial, e enfrentamento a todas as formas de violência e de discriminação. "A mudança no discurso diplomático e a participação desastrada em alianças ultraconservadoras caminharam de mãos dadas com o desmonte de políticas públicas domésticas, em especial no que se refere a igualdade de gênero, direitos sexuais e reprodutivos e direito de minorias", diz o texto.

Dívida com organizações

Durante o governo Bolsonaro, o país se endividou com organismos internacionais que têm papel estratégico na discussão mundial. "A dívida com organizações internacionais representa grave prejuízo à imagem do país e à sua capacidade de atuação e compromete severamente sua política externa", considera o relatório da transição.

"O Brasil deve atualmente cerca de R$ 5,5 bilhões de reais" com organismos internacionais. "Se um valor mínimo dessa dívida não for pago ainda no atual exercício, haverá perda de voto em organizações como a ONU, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre outras", alerta o relatório.

Rudolfo Lago

Tércio Amaral

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Bolsonaro acelera nomeações, põe aliado para fiscalizar Lula - Felipe Frazão (Estadão)

 Bolsonaro acelera nomeações, põe aliado para fiscalizar Lula e dá consulado a auxiliar de Michelle

Decreto dá mandato a nomes da confiança do presidente em cargos estratégicos no futuro governo; ele também indica diretores para agências e diplomatas no exterior

Por Felipe Frazão

22/11/2022 | 05h00

BRASÍLIA - Isolado no Palácio do Planalto após a derrota eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) agiu para nomear aliados em cargos estratégicos do governo. Parte deles terá até mesmo poder de investigar a conduta do primeiro escalão durante o mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o caso do ministro da Secretaria de Governo, Célio Faria Junior, e do advogado João Henrique Nascimento de Freitas, chefe da Assessoria Especial de Bolsonaro, designados na sexta-feira para integrar por três anos a Comissão de Ética Pública da Presidência.

Os dois foram nomeados por decreto, a 44 dias de Bolsonaro deixar o Palácio do Planalto. Na prática, integrantes da Comissão de Ética podem apontar conflitos de interesse envolvendo ministros e até recomendar a exoneração de servidores por violação de conduta.

Na reta final do mandato, Bolsonaro descobriu um caminho para fustigar Lula. Ele também indicou diretores e ouvidores para agências reguladoras, além de diplomatas para embaixadas e consulados. Acelerou, por exemplo, a nomeação para o cargo de chefia das representações consulares em Londres, no Reino Unido, e em Orlando, nos Estados Unidos. Ambos são considerados importantes por integrantes da equipe de Lula.

O vice-consulado em Orlando, aberto por Bolsonaro em junho, foi entregue à conselheira Marcela Braga, assessora da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Marcela foi uma das diplomatas promovidas recentemente pela atual cúpula do Itamaraty, passando à frente de colegas mais experientes.

Gabinete do Ódio

Os decretos da Comissão de Ética Pública foram publicados há quatro dias no Diário Oficial da União. Servidor civil da Marinha, o economista Célio Faria Junior é um dos mais próximos auxiliares de Bolsonaro. Chefiou a Assessoria Especial e o gabinete do presidente no Planalto. É visto como um colaborador da ala ideológica conservadora, avesso à imprensa, e chegou a ser apontado como um dos integrantes do “gabinete do ódio”.

João Henrique Nascimento de Freitas, por sua vez, é ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com quem trabalhou por sete anos na Assembleia Legislativa do Rio. Foi alvo de investigação na denúncia sobre um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual, revelado pelo Estadão. No governo, atuou como presidente da Comissão de Anistia e assessorou o vice-presidente Hamilton Mourão, inclusive com assento no Conselho Nacional da Amazônia.

A Comissão de Ética Pública pode ser uma pedra no sapato de qualquer governo. Em dezembro de 2011, por exemplo, no primeiro ano do mandato da então presidente Dilma Rousseff, o ministro do Trabalho Carlos Lupi pediu demissão após receber uma advertência do órgão por denúncias de cobrança de propina e irregularidades em convênios com ONGs. Lupi sempre negou as acusações.

Órgão consultivo

Criada durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, em 1999, a comissão é um órgão consultivo. Todos os atuais sete integrantes foram indicados por Bolsonaro. Compete ao colegiado zelar pela aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal, analisar casos de potencial conflito de interesses e desvios de ocupantes de cargos de confiança, inclusive durante as eleições. O grupo tem acesso a dados sigilosos de patrimônio dos integrantes do primeiro escalão do governo.

O colegiado também vai decidir se os ministros de Bolsonaro deverão cumprir quarentena por até seis meses antes de exercer outras atividades profissionais. No caso dos novos conselheiros, há pouco o que fazer, segundo integrantes do gabinete de transição. Nomeados por decreto, eles não passam pelo crivo do Congresso e só podem ser substituídos em caso de renúncia. O mandato é de três anos.

A lei determina que a comissão seja integrada por “brasileiros que preencham os requisitos de idoneidade moral, reputação ilibada e notória experiência em administração pública”. Eles não recebem remuneração, uma vez que o trabalho é considerado como “prestação de relevante serviço público”.

Reformulação

No gabinete de transição, o grupo ligado aos órgãos de controle deve discutir uma reformulação da Comissão de Ética Pública. Há uma avaliação de que o colegiado perdeu protagonismo e não atuou em casos relevantes durante o mandato de Bolsonaro. A preocupação da equipe de Lula é a de que a comissão passe a “perseguir”, indo “da omissão ao excesso”.

Ontem, a comissão indicou haver conflito de interesses em consultas de ministros como Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência) e Daniel Duarte Ferreira (Desenvolvimento Regional), além do secretário do Tesouro, Esteves Colnago, do secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni e Silva, do diretor-presidente da Valec, André Kuhn, e da secretária de Articulação e Promoção da Ciência, Christiane Corrêa, braço direito do ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações e senador eleito por São Paulo, Marcos Pontes. Eles deverão cumprir a quarentena.

Além disso, o órgão optou por instauração de procedimento de apuração sobre o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, por denúncias de assédio sexual, e o assessor internacional da Presidência Filipe Martins, por suposto gesto racista. O ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo, acusado de assédio moral e discriminação a religiões, recebeu censura ética.

Agências

Bolsonaro também enviou ao Senado para avaliação os nomes de sete diretores e cinco ouvidores de agências reguladoras. As indicações, fruto de apadrinhamento político, envolvem as cúpulas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Agência Nacional de Mineração (ANM), Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O Estadão apurou que, assim como fizeram com as indicações para as embaixadas, o PT avalia recorrer ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que segure a votação de indicados de Bolsonaro. Parte das sabatinas deve ocorrer amanhã, com nomes para Antaq, ANTT e ANPD.

Relações exteriores

O Senado convocou um esforço concentrado para avaliar indicações nesta semana. Na Comissão de Relações Exteriores (CRE) há 21 sabatinas pendentes, de diplomatas já indicados por Bolsonaro. Nove ainda não foram encaminhados à comissão, o que deixa o processo em suspenso.

O Estadão apurou com integrantes do gabinete de transição que há um acordo nos bastidores com o Senado e o Itamaraty para que as sabatinas sejam destravadas a partir de hoje, mas comecem por postos de menor expressão política como FAO, Unesco, Tunísia, Mauritânia, Guiné Equatorial, Sudão e Jordânia. Já embaixadas consideradas estratégicas, como Buenos Aires, Paris, Organização Mundial do Comércio (OMC), Roma e até Santa Sé, não devem ser votadas sem o aval de Lula.

“O governo possui legitimidade para indicar, é o que define a Constituição. Mas essa indicação deve observar o contexto, não é vale-tudo. Algumas, como as de embaixador, podem implicar altos custos para ajuste posterior. É importante priorizar a prudência e o diálogo”, disse o senador Jean Paul Prates (PT-RN), integrante do governo de transição.

Consulados

A chefia do consulado em Londres foi entregue por Bolsonaro ao embaixador João Alfredo dos Anjos Junior, atualmente assessor especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), comandada pelo almirante Flávio Rocha. Será o primeiro posto dele de chefia no exterior. Apesar de servir no Planalto, o embaixador não é visto como um bolsonarista. Durante a gestão do ex-ministro Ernesto Araújo, ele chefiou a Assessoria de Imprensa do Gabinete e foi subchefe da Assessoria de Relações Federativas e com o Congresso Nacional.

Diferentemente das missões diplomáticas permanentes, as chefias de repartições consulares podem ser definidas por decreto pelo presidente da República. No caso das embaixadas é necessário aval do Legislativo.

Além de Londres e Orlando, haverá mudanças em ao menos mais dois consulados imediatamente. O embaixador Francisco Carlos Soares Luz vai trocar de posto. Cônsul-geral em Lagos, na Nigéria, ele foi removido para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.

A troca na chefia do consulado-geral em Madri envolve uma colaboradora direta de Amorim. A embaixadora Gisela Padovan, ex-assessora do chanceler durante o governo Lula, foi removida para a Secretaria de Estado em Brasília. No lugar dela assumirá a embaixadora Vera Cíntia Álvarez, atualmente representante do Brasil na Guatemala.

Além do apreço de Amorim até hoje, Padovan traz no currículo a direção do Instituto Rio Branco, em 2018, e experiências pregressas em missões de prestígio na diplomacia, nas Nações Unidas, em Nova York, em Buenos Aires e Washington.

Como o Estadão mostrou, o PT agiu para evitar que o Senado aprovasse às pressas embaixadores escolhidos por Bolsonaro, cujas sabatinas estão pendentes. O PT quer embaixadores escolhidos por Lula na linha de frente e em cargos considerados estratégicos.

A transição envolve nomes da cúpula do Itamaraty, inclusive o futuro do chanceler Carlos França, que já conversou com o ex-ministro Celso Amorim, principal conselheiro de Lula para a política externa e mais longevo titular do ministério. Amorim indicou que a equipe petista avaliará os embaixadores caso a caso sem “espírito de perseguição”.

Do lado petista fala-se em boa disposição para diálogo. Auxiliares do chanceler afirmam reservadamente que o atual ministro havia sinalizado interesse em ser designado embaixador em Londres. O cargo, porém, pode ser endereçado a outro ex-titular das Relações Exteriores, o embaixador Antônio Patriota, atualmente no Cairo, Egito. Lula viajou ao país para participar da Cúpula do Clima (COP-27). Diplomatas dizem que, além de ter bagagem, Patriota está “no lugar certo, na hora certa”.

A Presidência da República e o Itamaraty não esclareceram se haverá mais substituições na rede consular. O Ministério das Relações Exteriores informou apenas que a nomeação é competência legal do presidente da República. Questionado o gabinete de Lula havia sido consultado, o Itamaraty disse que segue a legislação em vigor e que “está em contato constante com a equipe de transição sobre todos os assuntos pertinentes, com total transparência”. O Palácio do Planalto não se manifestou sobre os decretos de Bolsonaro.


https://www.estadao.com.br/politica/bolsonaro-acelera-nomeacoes-poe-aliado-para-fiscalizar-lula-e-da-consulado-a-auxiliar-de-michelle/ 

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Lula e Bolsonaro: o limbo da política externa - Thiago de Aragão (Estadão)

 Lula e Bolsonaro: o limbo da política externa


Lula e Bolsonaro têm características eficazes na política doméstica, mas no exterior devem passar por refino

Thiago de Aragão
Estadão, 26/10/2022

É comum o tema de política externa não ser levado a sério por eleitores ou lideranças políticas durante o período eleitoral. Afinal, o Brasil não tem tradição de engajamento social em temas de política externa, apesar de contar com um dos serviços diplomáticos mais sofisticados e bem-preparados do mundo, o Itamaraty.

Mesmo com a existência do Itamaraty, uma andorinha só não faz verão. Cabe a cada chefe do Executivo eleito definir diretrizes básicas de inserção global e apontar qual o papel que ele espera que o país tenha nos anos subsequentes a sua eleição.

Infelizmente, não temos tido presidentes com fluência suficiente em política externa, ou até mesmo conhecimento básico sobre os impactos diretos e indiretos, positivos ou negativos gerados a partir das interações com outros chefes de estado.

No domingo, teremos a definição da eleição presidencial brasileira. Lula ou Bolsonaro disputam a o cargo. No entanto, já sabemos que, sem um auxílio profissional, não ideológico e eficiente, a grande possibilidade é termos uma política externa fraca, sem firmeza, seja com qualquer um deles.

Lula demonstrou nos seus governos anteriores que a “direção” da sua política externa era movida pelos interesses e apreços do Partido dos Trabalhadores. Enquanto o ex-presidente tentava passar uma imagem de pragmatismo na economia, a política externa era recheada de clichês no relacionamento com Cuba, Venezuela, Evo Morales, Kircheners etc.

A sensação de que o Brasil atingia uma espécie de liderança regional era deceptiva. Como matéria paga em jornais, a influência brasileira nos diversos países da região não aparecia forjada pela narrativa, valores ou poderio nacional, mas pelas benesses e empréstimos subsidiados oriundos do BNDES, por exemplo. Liderança comprada não se sustenta, a não ser que o saco seja sem fundo, como na relação da China com vários países da região.

Lula era visto por Obama como “o cara” e foi celebrado por vários líderes globais. O objetivo macro do Brasil no campo da política externa era, ao mesmo tempo, valoroso e inatingível: uma cadeira de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Aliás, esse objetivo é fantástico, pois o sentimento de propósito na busca do inalcançável mantém a máquina girando e oferece sentido no despertar de mais um dia (mais ou menos como os objetivos macros da política externa argentina de controle das Malvinas ou, de forma ainda mais surreal, da “Antártida” Argentina).

Obviamente a política externa de Lula não era apenas centrada na busca pelo lugar no Conselho de Segurança ou no fortalecimento da amizade com vizinhos por meio da carteira aberta.

Como disse, a qualidade dos nossos diplomatas gera inúmeros microcosmos de excelência pelo mundo, o que eleva a percepção positiva em relação ao Brasil. Isso ocorre apesar da política externa do presidente em exercício.

Caso Bolsonaro saia vencedor, espero que Carlos França siga à frente do leme do Itamaraty. Após alguns anos sem Ministro de Relações Exteriores (no início de seu mandato), Bolsonaro nomeou corretamente Carlos França para a função.

Mesmo assim, a característica de Bolsonaro como presidente não inclui o interesse ou a leitura do papel do Brasil no mundo. Alianças cristãs com a Hungria não contam, pois não fazem sentido para brasileiros ou húngaros.

O que realmente conta é como Brasil se posiciona no meio de um ambiente de tensão crescente entre as duas superpotências globais. Somos demasiados passageiros das decisões internacionais alheias para mantermos picuinhas com Joe Biden porque ele é do Partido Democrata, ou com Xi Jinping porque ele é do Partido Comunista.

Na política externa não há espaço para a esquizofrenia política tão comum na política doméstica. Por isso, a compreensão por parte do Executivo sobre tudo o que acontece em Pequim e em Washington é tão importante quanto o monitoramento legislativo feito em Brasília.

Para que o Brasil tenha um governo com posicionamento mais sofisticado no campo da política externa, temos de elevar as vozes que falam e escrevem sobre o tema. O CEBRI — Centro Brasileiro de Relações Internacionais — merece atenção do Parlamento e do Executivo, assim como especialistas espalhados pelo país.

Tanto Lula como Bolsonaro possuem características pessoais peculiares. Essas características se mostraram eficazes na política doméstica, tanto que cada um possui um volume alto de intenção de votos (apesar de serem igualmente rejeitados). Na política externa, as características dos dois precisam passar por um refino guiado e liderado pelo Itamaraty, por formadores de opinião e, acima de tudo, pelas circunstancias globais.

O mundo está mudando de uma forma que afetará a tudo e a todos pelos próximos 50 anos. Como falei, nosso costume de sermos passageiros das decisões alheias não condiz com as urgências que já estão aí dentro do contexto geopolítico.


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Rússia se declara satisfeitíssima com o apoio do Brasil, seja com Bolsonaro, seja com Lula - Jamil Chade (UOL)

 A Rússia do criminoso Putin está satisfeitíssima com a postura diplomática do Brasil e declara isso abertamente. Ou seja, a diplomacia brasileira ABANDONOU a defesa da Carta da ONU e de princípios elementares do Direito Internacional para ficar do lado de um criminoso de guerra e violador da paz internacional, causando problemas inclusive para o Brasil.


Moscou: relação com o Brasil é "excelente" e eleição não afetará contatos
Jamil Chade
Colunista do UOL
20/10/2022 07h00

A relação do Brasil com o governo de Vladimir Putin é "excelente" e, independente do resultado da eleição presidencial no país dia 30 de outubro, o Kremlin aposta na manutenção desse diálogo. O governo russo é acusado por investigações independentes da ONU de cometer crimes de guerra em sua invasão na Ucrânia, violar a Carta das Nações Unidas e reprimir a oposição interna na Rússia.

Em uma rara entrevista concedida nesta quinta-feira em Genebra, um dos diplomatas de mais alto escalão do Kremlin elogiou o posicionamento do governo de Jair Bolsonaro em sua relação com Moscou.

"Nossa relação com o Brasil é excelente. Não restam dúvidas", disse o embaixador da Rússia na ONU, Gennady Gatilov. "Claro, o Brasil tem posições específicas sobre temas específicos. Mas vamos continuar com nossa relação com os brasileiros", afirmou o negociador.

Segundo ele, a esperança do Kremlin é de que nada mudará após as eleições no país, dia 30 de outubro. "Independente do resultado, espero que a relação continue a avançar. Até mais, talvez", afirmou.

Entre as potências ocidentais, a visita do presidente Jair Bolsonaro ao Kremlin, dias antes da eclosão da guerra em fevereiro foi vista com desconfiança. Brasília, porém, insistia que precisava manter o canal de diálogo com os russos, principalmente por conta da importação de fertilizantes, chave para o agronegócio brasileiro.

Nos seis primeiros meses da guerra, a relação comercial do Brasil com a Rússia se expandiu de forma importante, com Brasília deixando claro que não iria aderir ao pacote de sanções impostas pelas potências Ocidentais.

Nas votações de resoluções na ONU condenando a Rússia, o Itamaraty tem optado pela abstenção. Um dos temores da chancelaria brasileira é de que o isolamento imposto sobre Moscou possa impedir qualquer retomada de um diálogo para um acordo de paz.

Em Genebra, o Brasil não deu seu voto para a proposta de criação de um relator especial para monitorar as violações de direitos humanos na Rússia. Mas, na Assembleia Geral, o Itamaraty votou pela condenação das anexações de quatro regiões ucranianas por parte do Kremlin. A resolução foi aprovada com 143 votos a favor.

Para Gatilov, nem mesmo o voto do Brasil ao lado das potências ocidentais no caso da anexação afeta a relação. "Todos têm o direito de ter suas posições. Mas isso não quer dizer que ela vai contaminar nossa relação com o Brasil", afirmou o diplomata, que destaca ainda a aproximação entre o Kremlin e os demais países dos Brics.

60 anos da crise dos mísseis em Cuba
Em uma hora de conversa com a imprensa estrangeira, o embaixador não falou uma só vez a palavra "guerra". "Fomos pacientes por oito longos anos. Mas não podemos mais aceitar os assassinos de russos na Ucrânia", disse.

Segundo ele, a "fonte" da crise foi a recusa dos EUA de reconhecer a necessidade de proteger interesses de segurança da Rússia.

Gatilov ainda fez uma comparação entre a atual guerra e a crise dos mísseis de Cuba, que nesta semana completa 60 anos.

Naquele momento, o posicionamento de armas soviéticas na ilha do Caribe gerou o momento mais tenso da Guerra Fria e, segundo analistas, o mundo esteve próximo de uma guerra nuclear.

"Naquele momento conseguimos evitar um desastre nuclear por meio de concessões mútuas e consideração de segurança de cada país", disse Gatilov. "Parece que os americanos não aprenderam essa lição do passado", alertou. "Oito meses depois do início da operação especial, o governo dos EUA não quer entender que a Rússia tem interesses legítimos de segurança".

Ucrânia nunca vai vencer
Numa declaração desafiadora, o embaixador ainda avisou: "a Ucrânia nunca vai vencer a guerra". "Vencer no campo de batalha é algo que nunca vai ser atingido", disse.

Para ele, hoje o governo de Kiev tem sido "comandado" pela Casa Branca. "Há uma guerra por procuração realizada contra Moscou. Kiev faz o que Biden ordena. Se isso não parar, não haverá negociação", disse.

Segundo o embaixador, antes mesmo do conflito começar, teria sido o governo Biden queteria ordenado Volodymyr Zelensky a abandonar as negociações que ocorriam com o Kremlin. "As potências Ocidentais queriam a guerra", completou.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/10/20/moscou-relacao-com-o-brasil-e-excelente-e-eleicao-nao-afetara-contatos.htm