O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brasil. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Brasil quer emplacar taxação de super-ricos no mundo- Deutsche Welle

 Brasil quer emplacar taxação de super-ricos no mundo

17 de abril de 2024

Governo defende criação de mecanismos internacionais de cooperação tributária e uso de imposto sobre os bilionários para financiar medidas contra pobreza e crise climática. 

Nada é certo nesta vida, a não ser a morte e os impostos, disse Benjamin Franklin (1706-1790), um dos "pais fundadores" dos Estados Unidos. Essa máxima é citada pelo economista americano Joseph Stiglitz no último relatório do Observatório Fiscal da União Europeia sobre evasão fiscal. Ele emenda: "Os bilionários podem não ter alcançado a imortalidade, mas certamente se tornaram mais espertos em evitar os impostos".

A taxação de super-ricos e o aumento da tributação de multinacionais será uma das propostas levadas pelo governo brasileiro para a reunião de ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos países do G20, que acontece nesta semana em Washington (EUA). Segundo o Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad apresentará nesta quarta-feira (17/04) a ideia, ao lado de representantes do Quênia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

A proposta é a de criar mecanismos internacionais de cooperação tributária e usar um imposto sobre os bilionários para financiar medidas contra a pobreza e as consequências da crise climática. O tema ganhou destaque na reunião do G20 realizada em São Paulo, em fevereiro. O Brasil assumiu a presidência anual do grupo em dezembro de 2023 e estabeleceu entre as prioridades da sua gestão o combate à pobreza e à desigualdade e o desenvolvimento sustentável. 

A autora da proposta, Esther Duflo, vencedora do Nobel de Economia de 2019, falará como convidada do governo brasileiro. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a economista francesa afirmou que cobrar "2% sobre a fortuna dos super-ricos e aumentar a tributação das multinacionais arrecadaria 500 bilhões de dólares por ano, que poderiam ser aplicados em favor dos mais pobres do planeta, maiores vítimas da emergência climática". 

Em 2023, para corrigir distorções internas sobre a tributação de super-ricos, o governo brasileiro publicou uma medida provisória para taxar em 15% rendimentos de fundos exclusivos – investimentos destinados apenas a milionários –  e sancionou um projeto de lei para tributar offshores, empresas abertas fora do país de residência, geralmente paraísos fiscais, onde a tributação é reduzida ou inexistente. A previsão inicial do governo é de arrecadar cerca de R$ 20 bilhões neste ano com as medidas.

Sistemas tributários regressivos

O Observatório Fiscal da União Europeia pontua que a globalização abriu, nas últimas décadas, muitas possibilidades de evasão fiscal, exploradas pelas multinacionais e pessoas ricas em todo o mundo. Essa disparidade ameaça o funcionamento da democracia, aprofunda as desigualdades e enfraquece a confiança nas instituições. 

O último relatório da instituição, divulgado em outubro de 2023, mostra que os sistemas tributários na maior parte dos países são regressivos, ou seja, os mais ricos pagam uma pequena fração de suas receitas em impostos em comparação com quem ganha menos. No caso dos bilionários, a taxa de imposto efetiva varia de 0 a 0,5% de sua riqueza. 

Pelos cálculos da instituição, se fosse cobrado um imposto de 2% sobre a fortuna de cerca de 3.000 bilionários no mundo, seria possível arrecadar 250 bilhões de dólares por ano. Em contrapartida, países em desenvolvimento precisam de 500 bilhões de dólares por ano para combater os efeitos das mudanças climáticas. 

Há entre os super-ricos quem defenda uma maior tributação. Em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, um grupo de mais de 250 bilionários e milionários divulgou uma cartapedindo que a elite política global aumente os impostos sobre suas fortunas, com o intuito combater as desigualdades e possibilitar melhoras nos serviços públicos às populações em todo o mundo.

"Estamos surpresos que vocês fracassaram em responder a uma simples pergunta que fazemos há três anos: quando vocês vão taxar a riqueza extrema? Se os representantes eleitos nas principais economias do mundo não adotarem medidas para lidar com o aumento dramático da desigualdade econômica, as consequências continuarão a ser catastróficas para a sociedade", destaca o texto.

Entre os signatários da carta, estão ricos de 17 países. O único brasileiro na lista é João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia.

JJá a iniciativa europeia Tributar os Ricos recolhe assinaturas para que a Comissão Europeia crie um imposto europeu sobre grandes fortunas. Os organizadores do projeto, entre eles o economista Thomas Piketty e a herdeira da multinacional BASF Marlene Engelhorn, defendem que os recursos arrecados com essa nova contribuição seja destinado à luta contra as mudanças climáticas e as desigualdades.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Os impasses do Brasil são de política econômica e de política externa - Paulo Roberto de Almeida

 As principais críticas ao governo do PT se devem à política econômica que fragiliza o crescimento, ao se basear em gastos desmedurados, e a uma política externa que retira credibilidade à diplomacia do Brasil, ao uni-la a ditaduras execráveis. 

Por que o PT tem de agir a contrário senso do que seria recomendável? 

Seria só burrice? Ou é teimosia, ao insistir em suas preferências ideológicas anacrônicas? 

O PT não pretende se modernizar?

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18/04/2024

sábado, 13 de abril de 2024

A busca por um navio negreiro no Brasil em 1852 - Terrence McCoy, Sammy Westfall The Washington Post

 

Today's WorldView

O Brasil e o seu processo de desenvolvimento - Paulo Roberto de Almeida

 O Brasil e o seu processo de desenvolvimento 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Ensaio composto dos trabalhos 4509 e 4510, Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido?” 1 e 2 (de 13 de novembro de 2023), e dos trabalhos 4594 e 4595, “O que falta ao Brasil para ser um país desenvolvido?”, 1 e 2 (de 7 de março de 2024), da série “Brasil em desenvolvimento”, nunca divulgados integralmente, agora reunidos num único arquivo. 

  

Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (1)

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4509: 13 de novembro de 2023


Por que o Brasil ainda não é um país desenvolvido? (2)

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4510: 13 de novembro de 2023

 

O que falta ao Brasil para ser um país desenvolvido? (1)

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4594: 7 de março de 2024.

 

O que falta ao Brasil para ser um país desenvolvido? (2) 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4595: 7 de março de 2024

 


Ler a íntegra do ensaio neste link da plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/117449322/4629_O_Brasil_e_o_seu_processo_de_desenvolvimento_2023_2024_


O Brasil e sua identidade ocidental - Paulo Roberto de Almeida

 O Brasil e sua identidade ocidental


Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

As respostas consignadas nas cinco questões apresentadas a seguir foram feitas para atender a consulta formulada por doutorando em relações internacionais, e encaminhadas previamente a longa entrevista online efetuada sobre a questão em janeiro de 2024 (não disponível). Como os argumentos podem apresentar algum interesse para outros estudantes, ou para o debate geral em torno do assunto, permito-me torná-los públicos.

Brasília, 13 de abril de 2024. 

 

1. Sabe-se que as identidades dos Estados são construídas por meio de um processo ativo e elaborado que envolve múltiplos agentes. Na sua opinião, quais são os papéis desempenhados pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) e pela diplomacia presidencial na formulação da identidade internacional contemporânea do Brasil? 

PRA: Trata-se de um complexo processo de construção da identidade nacional brasileira que se desenvolveu ao longo de mais de um século, precedendo inclusive a própria aquisição da autonomia política nacional. A diferenciação de percepções sobre suas próprias identidades entre os colonizadores portugueses e os naturais do Brasil foi sendo acumulada desde o século XVIII, quando a produção de metais e pedras preciosas a partir do território brasileiro – nomeadamente ouro e diamantes das “minas gerais” – entrou em decadência e o sentimento de “extorsão” e de “espoliação” dos agentes da Coroa portuguesa se fez de forma mais perceptível, gerando a chamada “inconfidência mineira”, ou seja, a proclamação da independência do território das minas. Isso se estendeu até com a vinda da Família Real portuguesa ao Brasil, em 1808, e resultou na primeira revolta independentista, a revolução de 1817 em Pernambuco, de breve duração: a repressão portuguesa foi especialmente brutal. 

A Revolução do Porto, em 1820 e a necessidade de a principal colônia portuguesa se fazer representar nas Cortes de Lisboa representaram um passo decisivo na construção dessa identidade nacional, pois os trabalhos da constituinte revelaram de pronto contradições entre as aspirações dos brasileiros e o desejo lusitano de reverter o então Reino Unido ao de Portugal à antiga situação de colônia. Deputados das províncias do Brasil – mais do Sul do que do Norte e Nordeste – romperam com o texto da primeira Constituição do reino de Portugal, retornaram clandestinamente ao Brasil e passaram a lutar pela sua independência.

Não se pode falar, obviamente, de diplomacia presidencial na época da autonomia nacional, mas a diplomacia, sim, foi essencial em forjar essa nova identidade, como revelado no livro do embaixador Rubens Ricupero, A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017), e assim continuou durante todo o Império e mais além. Essa identidade foi forjada nas negociações de fronteiras e nas disputas com os vizinhos do Prata, ainda que a defesa do tráfico e da própria escravidão tenha caracterizado igualmente uma parte dessa identidade, mesmo não reconhecida. No período contemporâneo, esse processo vem sendo reforçado via múltiplos canais, mas é óbvio que a diplomacia presidencial desempenhou um papel mais ativo desde a era Vargas (1930-1945 e depois 1951-54). O Itamaraty encarnou como poucas instituições nacionais essa pretensão de representar o Brasil como possuindo plena autonomia em sua projeção externa, o que é uma combinação de fatores ideológicos, instrumentais e conceituais. Mas não se pode dividir claramente o papel de um ou outro “personagem” na construção dessa identidade, uma vez que o Brasil não é uniforme nesse tipo de percepção, dependendo do governo, das personalidades que detêm o poder alternadamente e também porque o Itamaraty se mostra claramente submisso ao poder político em cada governo.

 

2. Historicamente, o conceito de Ocidente é um elemento de continuidade na estrutura identitária brasileira. No entanto, hoje o país possui uma relutância em se posicionar quer como totalmente integrado no ‘Ocidente’, quer completamente separado do ‘Ocidente’. Sendo assim, na sua opinião, como o Brasil manifestou sua identidade Ocidental na política externa dos governos petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff?

PRA: Essa noção de “Ocidente” é criada de forma mais consistente na Guerra Fria, quando havia uma clara bipartição do poder entre os dois grandes impérios remanescentes da Segunda Guerra Mundial. Anteriormente, a noção era mais cultural ou baseada nos valores do cristianismo e da identificação com o mundo europeu e, logo em seguida, americano. Durante a fase mais aguda da Guerra Fria, nos anos 1950-60, o Brasil se definia claramente como pertencente ao “mundo ocidental”, dado o papel central do anticomunismo na política brasileira desde pelos menos o entre guerras. Mas, ainda sob a ditadura militar, e muito por obra da diplomacia profissional, essa noção de Ocidente foi se diluindo no projeto mais amplo de construção de uma identidade própria do Brasil, como pertencente ao mundo em desenvolvimento e, portanto, menos restrito a identidades ideológicas e mais focado nos interesses econômicos e tecnológicos de uma fase de grande crescimento da capacidade produtiva nacional. O Itamaraty acompanhou, e de certa forma participou ativamente, desse processo de construção de uma nova identidade nacional, mais instrumental do que conceitual ou ideológica. 

Mas cabe registrar que o “anti-ocidentalismo”, não explícito ao início, mas presente doravante, se forja a partir do fortalecimento das forças de esquerda, socialistas e antiamericanas, nos anos 1970 e concretamente, explicitamente, desde a assunção ao poder do PT e seus aliados na mesma franja de opinião. Existe, a partir de então, governos Lula e Dilma (2003-2016) e ainda mais forte sob Lula 3, essa rejeição do Ocidente, por velhos e novos motivos, entre eles a noção de que o Ocidente está decadente e que novas forças estão emergindo no mundo. O que era antes puro resquício do antiamericanismo tradicional dos esquerdistas dos anos 1960 tornou-se, desde o surgimento do BRIC – depois BRICS e agora BRICS+ – uma clara orientação antiamericana e antiocidental. Trata-se, portanto, de uma postura explicitamente antiocidental, por motivos claramente ideológicos, uma vez que não se sabe ao certo quais vantagens poderiam trazer essas novas alianças, no confronto com o tradicional relacionamento com os países “ocidentais”.

 

3. Como o Brasil manifestou sua identidade Ocidental na política externa do governo de Jair Bolsonaro?

PRA: O governo Bolsonaro não pode ser considerado como parâmetro para qualquer avaliação da postura política-ideológica na política externa, pois tratou-se de um amálgama de ignorância com velhos preconceitos ultrapassados até na direita anticomunista dos meios militares. Ocorreu uma adesão acrítica dos novos donos do poder – de nenhuma maneira da diplomacia profissional –à visão do mundo da direita americana e, mais irracional ainda, à postura do seu líder Donald Trump. Não se pode, portanto, falar de Brasil ou de identidade nacional nesse caso, e sim de impulso desconectado de qualquer movimento real na sociedade em favor de um dos supostos polos de poder, mais por anticomunismo primário do que por uma reflexão ponderada sobre os interesses reais do Brasil (comércio com a China, por exemplo, nosso principal parceiro comercial e sustentáculo dos superávits absolutamente necessários ao equilíbrio das transações correntes). 

Não existe uma identidade Ocidental nessa política externa por não corresponder a um novo alinhamento da sociedade, muito menos ainda do Itamaraty, com novos ou velhos parâmetros de alianças externas. Tudo era proclamação sem qualquer racionalidade instrumental, e sem suporte no establishment diplomático profissional. 

 

4. Sabendo que o Brasil possui hoje uma identidade internacional multifacetada, de que forma, na sua opinião, a incorporação da identidade de ‘país em desenvolvimento’ e de ‘potência emergente’ afetou a identidade ocidental do Brasil? 

PRA: A noção de “país em desenvolvimento” está plenamente incorporada ao ethos diplomático e integrada nas posturas adotadas nos foros internacionais. A noção de “potência emergente” é mais o produto de analistas externos, dos meios jornalísticos ou acadêmicos, do que própria à “ideologia” do Itamaraty. Não se pode dizer que essas noções tenham afetado uma suposta “identidade ocidental” do Brasil, pois que essa identidade depende dos governos que ocupam o poder. Com exceção do esquerdismo do PT, nenhum dos governos de centro rejeitaram essa noção, mas ela não ocupa um lugar central nas concepções feitas sobre o país pela diplomacia ou pela opinião pública bem-informada do Brasil. Todos admitem nossa formação e cultura ocidentais, mas a noção de país em desenvolvimento, que pretende dotar-se de uma capacitação moderna nos terrenos econômico e tecnológico, é bem mais presente na imagem que a sociedade se faz de si mesma.

 

5. Na sua opinião, houve, em algum momento da história recente do país, uma ruptura, isto é, uma mudança significativa, na forma em que o Ocidente era percebido pela política externa brasileira?

PRA: Sim, ocorreu, e de forma explícita desde os primeiros governos do PT e de forma mais acentuada neste terceiro mandato de Lula, talvez por excesso de confiança de que possa surgir uma “nova ordem global” não comandada, não controlada ou não tutelada pelos Estados Unidos, mas isso é apenas a expressão de um anti-imperialismo anacrônico e enviesado – válido apenas contra os EUA – e de um antiamericanismo vulgar. O governo de Lula 3 é claramente antiocidental, mais por falta de uma reflexão adequada sobre a questão do que por alguma teoria conspiratória ao estilo da que existia sob o bolsolavismo diplomático esquizofrênico da gestão anterior. No governo Bolsonaro, assessores amadores, ignorantes em política internacional, seguiam as correntes da franja lunática existente sobretudo nos Estados Unidos caracterizada pelo antiglobalismo e antimultilateralismo, uma verdadeira aberração do ponto de vista da diplomacia profissional. Aquilo, sim, foi uma ruptura com padrões tradicionais da diplomacia brasileira. A ruptura atual é basicamente uma ignorância da esquerda rústica com respeito ao que significa o Ocidente para o Brasil e para suas oportunidades de desenvolvimento econômico e social no contexto de uma democracia de mercado, associada às liberdades iluministas da tradição ocidental. O anti-ocidentalismo petista é bem mais o reflexo de seu antiamericanismo anacrônico (e claramente contrário aos interesses nacionais do Brasil); alegoricamente, seria uma espécie de “doença de pele”, que vai passar, assim que pessoas mais esclarecidas dirigirem o país e a sua diplomacia.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4566, 22 janeiro 2024, 4 p.; revisão: 13/04/2024

 

Também disponível neste link da plataforma Academia.edu: https://www.academia.edu/117446360/4566_O_Brasil_e_sua_identidade_ocidental_2024_

O Brasil, com déficit fiscal nominal de 9,24% do PIB destina 43,46% da carga tributária para 6,34% da população - Ricardo Bergamini

 O Brasil, com déficit fiscal nominal de 9,24% do PIB destina 43,46% da carga tributária para 6,34% da população. 

No serviço público existe o crescimento vegetativo dos gastos com pessoal, assim sendo mesmo sem qualquer interferência do governante de plantão, os gastos com pessoal crescem com benefícios imorais existentes (promoções automáticas, quinquênios, licença prêmio, dentre centenas de outras aberrações ainda existentes no Brasil). 

 

Um grupo de trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) composto por 13,5 milhões de brasileiros (ativos, inativos, civis e militares) que representam apenas 6,34% da população brasileira, sendo 2,2 milhões federais, 4,9 milhões estaduais e 6,4 milhões de municipais custaram R$ 1.453,5 bilhões em 2022, correspondentes a 14,66% do PIB. Esse percentual representou 43,46% da carga tributária que foi de 33,71% do PIB em 2022. 

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2022, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 460,4 bilhões (4,68% do PIB). No acumulado em doze meses até fevereiro de 2024, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 1.015,1 bilhões (9,24% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 97,44%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2022.

 

Até quando a masturbação mental ideológica “esquerda-direita” vai continuar destruindo o Brasil? 

Ricardo Bergamini


Ministra diz que governo estuda reajuste a servidores acima de 19% até 2026

 

Prioridade para este ano são os técnicos da educação. Aumento pode beneficiar cerca de 200 mil funcionários da área

 

Agência o Globo

 

Publicado em 11 de abril de 2024

 

A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, disse nesta quinta-feira que o governo está estudando um reajuste salarial dos servidores acima de 19% até 2026. No momento, a prioridade para negociações são os técnicos de instituições federais, que mobilizam greves pelas universidades no país.

 

Matéria completa clique abaixo:

 

https://exame.com/economia/ministra-diz-que-governo-estuda-reajuste-a-servidores-acima-de-19-ate-2026/

 


terça-feira, 9 de abril de 2024

O Brasil tem problemas demais para ter pensamento estratégico- Rubens Barbosa (OESP)

AMBIÇÃO EXTERNA SEM PENSAMENTO ESTRATÉGICO

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 9/04/2024


No Brasil, os problemas sociais, pobreza, concentração de renda, falta de recursos para o Estado, gastos desnecessários e duplicados, déficit público, déficit educacional e cientifico e tecnológico, sem falar nos privilégios, nos problemas da segurança pública, na violência e na corrupção, segurança jurídica para garantir investimentos, para citar os mais dramáticos, deixam pouco espaço para um pensamento de meio e longo prazo, verdadeiro esforço estratégico para um país do porte do Brasil, potência média, a nona economia do mundo, com interesses importantes a preservar na área do agronegócio e com grandes deficiências e vulnerabilidades na área industrial e, sobretudo, de Defesa, pelo baixo aproveitamento dos avanços da tecnologia.

 

O mundo mudou e hoje as preocupações com a Defesa são prioritárias. No meio de duas guerras, na Europa e no Oriente Médio, 58 conflitos localizados em 35 países e, na nossa vizinhança, a ameaça bélica da Venezuela contra a Guiana, o Brasil não pode se dar ao luxo de ignorar esse pensamento estratégico.

 

A falta de uma visão estratégica tornou-se trágica para o ambiente da Defesa Nacional e para um projeto nacional, exemplificado agora com o anúncio da venda da AVIBRAS, empresa líder de tecnologia de ponta no lançamento de foguetes. Com problemas de gestão que se arrastam a mais de ano, com dívidas acumuladas, o governo Lula ao assumir, tentou encontrar uma fórmula para preservar a empresa nacional, sem sucesso.

 

Caso se concretize a venda da AVIBRAS, será a terceira empresa de grande porte e significado na Defesa que o Brasil perde, depois da Engesa (carro de combate) e da Mectron SIATT (míssil naval). Em comunicado, a Avibras e a empresa australiana Defend Tex informaram que vem mantendo tratativas para viabilizar a recuperação econômica-financeira da empresa para manter suas unidades fabris no Brasil, retomar as operações e manter o fornecimento previsto nos contratos. Apesar do grave dano à soberania, com a desnacionalização da empresa, a operação conta com a boa vontade do governo e das autoridades do Ministério da Defesa (MD), inclusive dos comandantes das três Forças.

 

O Centro de Defesa e Segurança Nacional (CEDESEN), junto com a ABIMDE, apresentaram proposta ao MD que poderia ser uma saída para a Avibras. Sugeriu-se a criação da Empresa Crítica de Defesa (ECD), visto que uma análise de risco observando impacto com a descontinuidade de operações ou com a perda do controle nacional mostra que certas empresas são Críticas para o presente e futuro da país. A proposta é simples e direta: Criação, por lei, da classificação adicional de ECD, que se somaria às Empresas Estratégicas de Defesa (EEDs) e Empresas de Defesa (EDs). Para se tornar ECD a empresa deveria ser uma EED. Uma análise de risco deveria apontar que a sua descontinuidade possuiria impacto significativo imediato e de longo prazo em áreas estratégicas e de interesse da Segurança Nacional (e não somente Defesa Nacional). O Estado deveria se organizar para realizar aquisições mínimas periódicas das ECD de forma manter a capacidade de P&D e produtiva ao menos com carga mínima, evitando-se assim a sua desmobilização. Como contrapartida, as ECD deveriam estar sujeitas a intervenção técnico-econômica direta da União em caso de iminência de perda de controle nacional ou de severo desarranjo econômico. Os mecanismos precisariam ser discutidos, mas poderiam incluir a criação de Golden Share, inclusive sendo este uma forma de aporte financeiro.

 

Segundo a legislação vigente, a lei 12.598, determina que, em EED, o controle fique restrito a 40% dos votos, além de desenvolver tecnologia nacional. Aparentemente, não foi isso o que ocorreu. A legislação deveria ser aplicada, mas pode deixar de ser por não existir um responsável por desenvolver e sustentar uma Base Industrial de Defesa estratégica para o país

 

Algumas sugestões apareceram para tentar contornar a questão das dívidas crescentes da companhia que parou de fornecer equipamento ao exterior e enfrenta ameaça de paralização total. A última instância seria estatizar a empresa em troca da dívida tributária sem colocação de recursos públicos ou controle administrativo para empresas, mas não teve apoio de Lula.

 

Essa transação ocorre quando o MD discute a atualização da Política Nacional de Defesa e a Estratégia Nacional de Defesa, embora a questão da Avibras certamente não tenha sido colocada no contexto mais amplo da capacidade de Defesa do país. Os interesses divergentes no contexto do establishment militar brasileiro não permitem ainda o entendimento de que a capacidade militar tem dois componentes essenciais. Capacidade operacional de combate, providas pelas FFAA e capacidade logística de defesa, provida pelas sinergias entre um órgão do Estado que gere a demanda por produtos e tecnologia de defesa e uma BID estratégica, sem a qual as FFAA não podem operar e mesmo existir. As FFAA exigem uma reforma estrutural para se modernizar e apoiar a indústria nacional de Defesa.

 

O assunto transcende as competências do Poder executivo e deveria merecer a atenção do Congresso já que envolve questões de Defesa e Segurança Nacional.

 

Rubens Barbosa, presidente do Centro Estudos de Defesa e Segurança Nacional (CEDESEN)