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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: a confusão ainda reina em Kherson - Svitlana Morenets

Transcrevo a nuvem de incerteza que ainda reina em Kherson, antes de outra grande dúvida que agora ameaça a Crimeia. Paulo Roberto de Almeida 

(recebido em 14/11/2022, de Carlos U. Pozzobon)

As últimas horas da ocupação russa de Kherson

Svitlana Morenets 

(Fonte desconhecida)

A única grande cidade ucraniana que a Rússia conseguiu capturar desde a invasão de fevereiro – Kherson – agora foi libertada. Mas algo mais extraordinário aconteceu: surgiram relatos russos de milhares de soldados sendo deixados na margem direita do rio Dnipro depois que os ocupantes explodiram a ponte Antonivsky de uma milha de extensão.

Moscou nega categoricamente isso, dizendo: “Nenhuma unidade de soldados, equipamento militar e armas foi deixada na margem direita do Dnipro”. Mas blogs militares pró-Kremlin estão repletos de informes diferentes, alguns dizendo que milhares de russos foram abandonados do lado errado do rio. Se até mesmo alguns forem capturados, eles podem ser trocados por prisioneiros de guerra ucranianos. A Ucrânia bombardeou o rio a noite toda, para desencorajar tentativas de fuga.

A névoa da guerra e a desinformação (que pode atingir ambos os lados) torna difícil dizer com confiança o que está acontecendo. O que se segue pode ser uma narrativa inteiramente ficcional do Kremlin, para atrair a Ucrânia para uma armadilha e uma cidade cheia de detonadores de explosivos (ou uma cidade prestes a ser arrasada por mísseis russos, como Grozny foi em 1999). Tropas ucranianas já entraram na cidade e estão sendo recebidas por moradores festejando.

Mas eu gostaria de apresentar uma seleção de comentários de blogueiros pró-Kremlin no Telegram de ontem à noite: guerreiros do teclado que normalmente seguem a linha de Putin,  agora estão extravasando fúria com a retirada e suas implicações.

"Acabei de receber uma mensagem de Kherson. As coisas estão muito piores lá do que imaginávamos”, escreveu o blogueiro de guerra russo Alex Parker na noite passada. “Houve algum tipo de acordo de evacuação em que o Kremlin acreditava, mas acabou sendo um golpe. Aparentemente, os americanos fizeram uma promessa que a Ucrânia ignorou.” Ele não diz qual foi essa promessa. Parker escreve sobre soldados russos em pânico abandonando equipamentos militares e tentando atravessar o rio, e afirma que “cerca de 20.000 soldados podem ser capturados”. Ele está lívido. “O Kremlin acabou de assassinar com as próprias mãos todo o agrupamento que detinha a margem direita de Kherson”, acrescentou Parker. A Ucrânia ainda não fez comentários sobre quaisquer tropas russas capturadas.

Outro blogueiro de guerra russo, Dimitriyev, descreve o pânico entre as forças russas em retirada. “Tem sido impossível cruzar [o rio Dnipo] pacificamente, o exército ucraniano continua bombardeando as travessias. Não houve anistia. Um desastre militar está se aproximando”, escreve ele. Suas palavras são seguidas por Valeria Petrusiewich, uma voluntária russa: 'As tropas ucranianas continuam bombardeando os cruzamentos de Kherson, esfaqueando nossos caras pelas costas.'

Um canal pró-russo do Telegram escreve que, em vez de serem evacuados, os soldados russos estavam tentando fugir “em qualquer coisa que pudesse flutuar. Há brigas por barcos pequenos, barcos de borracha, porque nas grandes travessias corre-se o risco de ficar sob fogo". O combatente russo anteriormente em Kherson, '13º', fala sobre as chances de reconquista de Kherson: 'Se continuarmos lutando assim, perderemos a Crimeia também'. O soldado acrescentou: "Em uma unidade, a última ordem foi trocar as roupas civis e se livrar de tudo".

O canal pró-russo do Telegram 'Volya' cita oficiais russos tentando atravessar o rio: 'As travessias estão sob fogo. Por que eles nos marinariam aqui por 24 horas sem ordens para nos expor à artilharia ucraniana assim? Se os ataques ucranianos forem bem-sucedidos, o exército russo sofrerá suas maiores perdas desde o início da guerra”.

Ainda não houve confirmação oficial de soldados russos sendo encontrados em Kherson. No entanto, esta tarde o serviço secreto ucraniano dirigiu-se aos soldados russos dizendo-lhes que tinham sido abandonados e que deviam render-se imediatamente. Ele também disse que vestir roupas civis, como alguns soldados russos teriam feito, não funcionará e as tentativas de escapar da área são inúteis.

Os comentários russos agora se desviaram do pânico sobre o que pode vir a seguir – falando não apenas da Crimeia (onde as trincheiras já estão sendo cavadas), mas da própria defesa da Rússia. Os militares da Ucrânia podem agora “começar a se dirigir para Moscou”, de acordo com o analista político russo Rostislav Ishchenko. “Em 7-8 horas, um comboio de equipamentos militares, se cruzar a fronteira perto de Gluhiv, chegará à capital a 70 quilômetros por hora.” Ishchenko diz que “os comandantes ucranianos não têm nada a perder” e podem até tomar o Kremlin. Os ucranianos riem de tais declarações - mas é engraçado pensar que passamos de 'vamos tomar Kyiv em três dias' para 'eles invadirão o Kremlin'.

A desinformação é uma arma usada regularmente nesta guerra. É claro que as unidades russas não estavam prontas para a velocidade da retirada; alguns não sabiam nada sobre isso devido a problemas de comunicação ou a falta de responsabilidade do comando russo. As tropas ucranianas já entraram na cidade. Muito em breve saberemos o que os espera.

https://www.spectator.co.uk/article/the-last-hours-of-the-russian-occupation-of-kherson/?utm_medium=email&utm_source=CampaignMonitor_Editorial&utm_campaign=BLND%20%2020221111%20%20House%20Ads%20%20IH+CID_15bf2b33542e06d7f1ca929ce7292cb4


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Alberto do Rego Rangel: engenheiro, diplomata, escritor (1871-1945: obras publicadas (sugestão de Carlos U. Pozzobon)

 Meu colega de redes, e muito mais leitor do que eu, Carlos U. Pozzon, recomendou que eu "visitasse" algumas obras de um colega diplomata da primeira metade do século XX. Eis o que coletei, abaixo, com a ajuda do Google, da Wikipedia e do catálogo das bibliotecas do Itamaraty: agora falta localizar os livros, mas preciso perguntar por quais obras começar...

Paulo Roberto de Almeida

Alberto Rangel, engenheiro, escritor, diplomata

 

Levantamento efetuado em 17/02/2021

Paulo Roberto de Almeida

sob recomendação de Carlos U. Pozzobon

 

 

Alberto do Rego Rangel (Recife29 de maio de 1871 - Nova Friburgo14 de dezembro de 1945) foi um engenheiro e escritor brasileiro[1][2]

Formou-se em Engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro, em 1899. No ano seguinte, com a patente de alferes, comandou uma brigada de artilharia durante a Revolta da Armada. Depois de atuar em projetos de engenharia no Maranhão e Pará, deixou o Exército (que criticou no panfleto Fora de forma, de 1900) e mudou-se para o Amazonas, onde foi diretor geral de Terras e Colonização e mais tarde secretário do governo, durante a gestão de Antônio Constantino Nery[3]

Enquanto trabalhava para o governo do Amazonas escreveu seu primeiro livro, a coletânea de contos Inferno verde. A obra só foi publicada em 1908, com prefácio de Euclides da Cunha, de quem se tornara amigo na Escola Militar. 

Entrou para o serviço diplomático e viajou para a FrançaInglaterraEspanha e Portugal. Nesse período, pesquisou os documentos que serviriam de base para seus livros de temas históricos e biográficos, além de continuar escrevendo contos. 

No início da II Guerra Mundial, deixou seu cargo no consulado brasileiro em Paris e voltou para o Rio de Janeiro[4]

From: Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Rangel

 

Obras

·     1900 - Fora de forma

·     1908 - Inferno Verde (cenas e cenários do Amazonas)

·     1913 - Sombras n’água: vida e paisagens no Brasil equatorial

·     1914 - Rumos e perspectivas

·     1915 - Quinzenas de campo e guerra

·     1916 - D. Pedro I e a Marquesa de Santos

·     1919 - Quando o Brasil amanhecia

·     1921 - Livro de figuras

·     1924 - Lume e cinza

·     1927 - Textos e pretextos

·     1928 - Papéis pintados

·     1930 - Fura-mundo!

·     1935 - Gastão de Orléans – o último Conde d’Eu

·     1937 - No rolar do tempo – opiniões e testemunhos respigados no Arquivo do Orsay – Paris

·     1945 - A Educação do Príncipe – Esboço crítico e histórico sobre o Ensino de D. Pedro II

·     1945 - Águas revessas[5]

 

Referências

1)  Alberto do Rego Rangel. Pernambuco de A a Z 

2)  Um percevejo. Jornal Rascunho 

3)  Alberto Rangel. Sistema de Informações do Arquivo Nacional 

4)  LEANDRO, Rafael Voigt. Alberto Rangel e seu projeto literário para a Amazônia. Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira, UnB, 2011 

5)   LEANDRO, Rafael Voigt. Inferno Verde: representação literária da Amazônia na obra de Alberto Rangel. Revista Intercâmbio do Congresso de Humanidades. UnB, 2009 

Ícone de esboço

Este artigo sobre um(a) escritor(a) é um esboço relacionado ao Projeto Biografias. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.

 

 

Obras constantes do catálogo das bibliotecas do Itamaraty (RJ e Brasília): 

 

1.

  

 

RANGEL, Alberto. Anotação às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 234 p. 

Call number: 94(81) R196an


2.

  

 

RANGEL, Alberto. Aspectos geraes do Brasil/ Alberto Rangel. Rio de Janeiro: [s.n.], [s.d]. v. 


3.

  

 

PEDRO Imperador do Brasil,; SANTOS, Domitila de Castro Canto e Melo Marquesa de,; RANGEL, Alberto. Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. 633 p. 

Call number: 94(81) P372c

 

4.

  

 

RANGEL, Alberto. D. Pedro I e a marquesa de santos, á vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. Rio de Janeiro: F. Alves, 1916. xii, 455 p. 

Call number: 551,01,014 ex. 2


5.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. [S. l.]: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. 


6.

  

 

RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. 120 p. (Publicações do Arquivo Nacional ; 67)

 

7.

  

 

RANGEL, Alberto. Dom Pedro primeiro e a Marquesa de Santos: a vista de cartas intimas e de outros documentos publicos e particulares. 2. ed. Tours, França: Arrault, 1928. 468 p. 

Call number: CRC 929(Pedro I) R196dp 2. ed.

 

8.

  

 

RANGEL, Alberto. A educação do príncipe: esboço histórico e crítico sobre o ensino de d. Pedro. Rio de Janeiro: Agir, 1945. 294 p., [1] f. 

Call number: 551,05,005


9.

  

 

RANGEL, Alberto. Euclydes da Cunha ( Um pouco do coração e do caráter). Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, Rodrigues & C., 1913. 38 p. 

Call number: 539,03,033

 

10.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-mundo ! (1773-1794). Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 

Call number: 574,03,003


11.

  

 

RANGEL, Alberto. Fura-Mundo: 1773-1794. Paris: Ducharte & Van Buggenhoudt, 1930. 388 p. 


12.

  

 

RANGEL, Alberto. Gastão de Orléans: o ultimo conde d'Eu. São Paulo: Companhia Editoria Nacional, 1935. 432 p. 

Call number: 550,05,033 ex. 2


13.

  

 

RANGEL, Alberto. Inferno verde: (scenas e scenarios do Amazonas). 4. ed. Tours: Arrault, 1927. 283 p. 


14.

  


RANGEL, Alberto. Lume e cinza: fantasmagorias, contos e recontos, fructos da terra. Rio de Janeiro: Scientifica, 1924. 288 p. 


15.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 533 p. 

Call number: 04 R196ma

 

16.

  

 

RANGEL, Alberto. Marginados: anotações às cartas de D. Pedro I a D. Domitila. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974. 534 p. (Arquivo Nacional. n. 76Pub. ;) 

Call number: 476,03,026


17.

  

 

RANGEL, Alberto. No rolar do tempo: opiniões e testemunhos respigados no archivo de Orsay-Paris. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936. 230 p. (Coleção documentos brasileiros ; 6). 

Call number: 94(81) R196n

 

18.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 


19.

  

 

RANGEL, Alberto. Papeis pintados: (avulsos e fragmentos). Paris: Duchartre & Van Buggenhoudt, 1928. 294 p. 

Call number: CRC 821(81)-94 R196pp

 

20.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 

  

 

21.

  

 

RANGEL, Alberto. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Lisboa: Classica, 1919. 368 p. 


22.

  

 

RANGEL, Alberto; FILGUEIRAS, Philomena. Quando o Brasil amanhecia: (fantasia e passado). Ed. comemorativa do centenário de nascimento do autor. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1971. 261 p. (Coleção de literatura brasileira ; 5)


23.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana ; 26) 


24.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: (discursos e conferencias).... São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934. 251 p. (Brasiliana 26) 


25.

  

 

RANGEL, Alberto. Rumos e perspectivas: discursos e conferências. Porto: Comp. Portuguesa, 1914. 264 p. 


26.

  

 

RANGEL, Alberto. Sombras n'agua: (vida e paizagens no Brasil equatorial). Rio de Janeiro: Livraria Scientífica Brasileira, 19--. 360 p. 


27.

  

 

RANGEL, Alberto. Textos e pretextos: incidentes da chronica brasileira à luz de documentos conservados na Europa. Tours: Arrault, 1926. 295 p. 


28.

  

 

RANGEL, Alberto. Trasanteontem: (episódios e relatos históricos). São Paulo: Martins, 1943. 242 p. 

 

O inacreditável "romancista" dadaista-surrealista-confusionista EA, e sua obra estrambótica - resenha de Carlos U. Pozzobon; comentário PRAlmeida

Antes da "Miséria da diplomacia", a "miséria da literatura"

Nesta mesma madrugada, para trás, fiz uma breve apreciação sobre a trajetória do nosso inacreditável chanceler acidental, como registrado nesta postagem: 

3857. “Sobre a resistível ascensão de um oportunista no Itamaraty”, Brasília, 16 fevereiro 2021, 2 p. Comentários sobre a trajetória do chanceler acidental. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/02/sobre-resistivel-ascensao-de-um.html).

 Um amigo, colega de redes sociais e grande intelectual, Carlos U. Pozzobon, teve o cuidado (e a pachorra) de postar um comentário que é uma espécie de "resenha" – se isso é possível – sobre uma das obras do dito colega diplomata, mas que eu NUNCA tive curiosidade de ler (pois fui avisado discretamente, por quem comprou ou recebeu, que "não valia a pena"). 

Devo dizer que, entre 2004 e 2020, eu resenhei praticamente TODOS os livros publicados pelos diplomatas, em todos os gêneros, e durante algum tempo passei a receber vários (mas só resenhava aqueles que eu achava que "valiam a pena"). Informo abaixo sobre essas publicações, que estão todas disponíveis aos interessados.

Transcrevo abaixo o "comentário-resenha" de Pozzobon sobre um dos livros do candidato a "Borges de Cabrobó da Serra", seguido de meu próprio comentário na postagem acima, mas que posto aqui, para tornar mais explícito este "exercício literário" tão auspicioso quanto as tiradas diárias do capitão, chefe do chanceler acidental. Não se tem notícia, ainda, de outros "romances" inspirados no desgoverno do capitão, mas o estilo é praticamente o mesmo: confuso, caótico, sem qualquer atratividade.

A sorte me poupou de receber uma dessas "obras". Mas já li toda a "produção" não literária do chanceler acidental, e afirmo que é mais ou menos no mesmo estilo. 

Paulo Roberto de Almeida


Logo que tomou posse encomendei A Porta de Mogar a partir de comentários na imprensa sobre os dotes literários do novo chanceler. Algumas semanas depois comecei a ler o pequeno livro precedido por uma dedicatória a um certo ministro (não cito o nome) pelo apoio literário que recebeu. O ministro deve ter esquecido da dedicatória e o livro foi parar em um sebo e dali nas minhas mãos.
Mas o que se pode dizer de A Porta de Mogar? Trata-se de um samba de uma nota só. Começa assim: 
“A primeira coisa é decidir o teu nome, que imagino pode ser Arétsei, já que nasceste no país de Lham, ao som do realejo do cais de Aleufar. Na verdade nasceste num domingo de janeiro, que eu voltava de uma galeria e encontrei na rua o velho Kedad, que me saudou e ofereceu-me um cigarro. Conversamos um pouco sobre a pontuação e o calendário, e decidimos passar logo ao capítulo 2”.
E de fato, termina o capítulo 1 e começa o 2. E o que diz o capítulo 2? 
“O segredo do homem é fixar limites. E descumpri-los. E dividir-se entre esses dois segredos, que são um só. 
O que se pode conhecer do segredo, senão o seu entorno físico, a paisagem que dele se avista, seu endereço? Se soubermos onde o segredo fica, já estamos sabendo um pouco o que o segredo diz?
– Como é simples – comentou Kedad.
– O que é simples?
– Está vendo? Já complicou”.

E acaba o capítulo 2. Ainda estamos na página 1 e já chegamos ao capítulo 3. 
O leitor não sabe se está na presença de um gênio, um vanguardista, um inovador ou de um idiota. Como não sou de desistir no primeiro embate, criei coragem e avancei na leitura. Depois de páginas e mais páginas, o leitor nota um traço comum: todos os nomes são esquisitos, todos os lugares estrambóticos, a paisagem é desértica, o nonsense invade cada capítulo minúsculo e o tema se repete sempre o mesmo. Parece que o chanceler pretendeu imitar Borges em Ficções no conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, mas logo percebe que seu texto não diz nada com nada. 
Os personagens trocam de nomes em desfile sucessivo a cada página como Kedad, Ftob, Xirdac, e cidades ou aldeias como Alquizia, Dezlum e Gaidehob e Crechêbiu.
A cada página me pergunto: mas o que é isso? E na minha perseverança continuo atento na expectativa de que em algum momento as futilidades vão acabar, mas nada: 

Na página 52 [que também é o capítulo 52] lemos coisas assim: 
“O momento da flecha de fogo surge uma vez em cada batalha. No meio da retranca e do alarido [o livro é uma repetição de batalhas no deserto com a caracterização do tempo histórico por espadas e flechas disparadas entre tribos] sobrevém um minúsculo silêncio, como um instante de clareza no meio do sono. O capitão, se o percebe, toma o seu arco (que só serve para isso), embebe a flecha no óleo, acende-a e dispara, tal qual uma certeza pelo arco do pensar. [Noto que o arco da flecha é também o arco do pensar, mas não se trata de uma metáfora, pois fico confuso se afinal o arco do pensar é uma certeza ou o arco da flecha propriamente]. “Neste momento, apenas nesse momento, a flecha faz o efeito”. [Lindo, não? “A flecha faz o efeito”]. “Os olhos do inimigo se arregalam, e é a hora de forçar o centro de sua linha. A flecha de fogo, no momento certo, é sempre uma surpresa, para os dois lados, sabida mas inesperada”.

Essas galimatias me faz supor que o autor está bêbado, e que o pileque vai passar, mas não passa. Todo o livro foi feito para se rir do autor e não dos personagens. Ele diz bobagens enfileiradas como “uma nação se aprende na derrota”, ou “civilização é complexidade”. Fiquei desconfiado que o livro foi escrito com alguma finalidade de longo prazo, como o de disputar um lugar na ABL ao término do mandato, se abrir uma vaga entre os imortais.

Chego no capítulo 68 saturado e sôfrego:
"- Tsanash, você tem irmãos?" [Segue- se uma digressão e por fim a resposta:]
"- Tenho.
“Ao que me lembre, além do Tsanash, somente a ti te fiz essa pergunta tremenda". [É uma pergunta tremenda que deixa o leitor tremendo].

Me arrastando chego ao capítulo 86:
"Eu e Ftob ouvíamos ao longe o choque das armas e os relinchos. A primeira linha hestiaque foi rompida e a desordem se espalhou. Ftob juntou-se à tropa e me deixou sozinho. Formou-se uma segunda linha para deter os riombes, mas também foi quebrada. Para o vilarejo indiferente [pode haver indiferença no meio de uma batalha?] era apenas mais um dia úmido. Eu não enxergava nada e não entendia, sentia todos os músculos presos, como se estivesse cercado por quinhentos credores [parece incrível que no meio de uma batalha alguém se lembre dos credores], como se não houvesse nada para ser defendido. Como se eu não valesse nada, como se eu fosse um burro carregando nas costas o incômodo da vida [Pode estar aí uma autorrevelação]. Bandos dispersos de soldados fugiam, procurando esconderijo”. 
Logo adiante (88) um pirueta estonteante: "para ti não existe o amor, mas apenas amar alguém, e para mim amar alguém é apenas um exemplo do amor. Por isso não nos comunicamos"... "pensas que cada ser está preso ao seu sido". [Sido? Isso mesmo, sido].
"Toda a filosofia é um esforço para retraduzir o mundo, de tal modo a poder rasgá-lo". 

Neste caso encontrou seu destino no olavismo. Poderia ser diferente? Não há nada que se salve. O chanceler fez da literatura o que Bolsonaro fez da política. Os gênios sempre se encontram. E encerrei nocauteado no capítulo 90 que por acaso se chama “Para que servem as ideias?” 
As dele, as dele todo mundo sabe.

[Fim de transcrição]


Meu comentário à resenha acima: 

PRA: "Carlos U. Pozzobon

: É inacreditável. Acho que tenho sorte de nunca ter topado com essas aberrações nos 17 anos durante os quais fiz mini-resenhas de (quase) todos os livros publicados pelos diplomatas para o Boletim (agora Revista) da ADB: do que escapei (poderia ter desistido da missão self-assumed). 

Mas tem um que leva o nome de EA como co-autor, junto com seu chefe (meu amigo), embaixador Sergio Florencio: Mercosul Hoje (1996; 2a ed. 1999). Nunca perguntei quem fez o que, mas a resenha é positiva, nos meus requerimentos rigorosos. Está com centenas de outras resenhas, grandes e pequenas, num livro que deveria ter sido publicado pela Funag, muito antes que eu fosse diretor do IPRI: como quiseram censurar duas resenhas (ainda nos tempos do lulopetismo diplomático), me opus aos cortes e publiquei eu mesmo o livro: 

Prata da Casa (2014) e edições sucessivas, com outras organizações: Polindo a Prata da Casa; Codex Diplomaticus Brasiliensis; Rompendo Fronteiras, tudo disponível em Academia.edu. 

Quero agradecer e reconhecer o sacrifício de Carlos Pozzobon por ter enfrentado a “desinteria mental” de um dos “livros” (sic três vezes) do chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/02/2021