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terça-feira, 14 de junho de 2022

Renda é a menor em 10 anos - Marcelo Reis Garcia

Em 2015-16, quando da Grande Destruição lulopetista da economia, sob a inepta da Dilma, eu já dizia a meus alunos que a recessão provocada era maior do que a da crise de 1929 e da Grande Depressão dos anos 1930, para o Brasil, e que a renda recuaria dez anos. Acho que acertei, mas com muito pesar.

Também previ que a recuperação fiscal, a partir de Temer, se estenderia até 2022-23, mas não contava com a pandemia, nem com a guerra, nem com a grande destruição bolsonarista (e do Paulo Guedes e do Centrão) da economia. Agora prevejo a extensão da recuperação até o final da década, e o grau de investimento só voltando na década de 2030 em diante.

Desculpem ser pessimista.

Paulo Roberto de Almeida

 

 

RENDA É A MENOR EM 10 ANOS!

Marcelo Reis Garcia
(via Cesar Maia) 

Entre os 5% mais pobres a queda foi de 48% desde 2012. Entre o 1% mais rico, de 6,9%.

A desigualdade no Brasil explodiu e nenhum governo (federal, estadual ou municipal) está sabendo enfrentar essa questão.

O 1% mais rico do Brasil ganha o equivalente a 38,4% do rendimento de 50% dos mais pobres.

Todas as famílias perderam desde 2012, mas entre os 5% mais pobres o rendimento despencou 48%, passando de RS 75 per capita em 2012 para RS 39 per capita.

Já o 1% mais rico saiu de RS 17 mil per capita para RS 15,9 mil per capita.

Em 2022 o Cenário é bem difícil.

O Nordeste segue com menor rendimento médio familiar, RS 843,00 enquanto a média nacional é de RS 1.353,00

Importante destacar que é a renda da família e não renda per capita.

A Desigualdade aumentou em todas as regiões, sobretudo nas norte e nordeste.

Analistas indicam escalada da desigualdade.

Constatações da PNAD a partir de minha avaliação.

1- Pressão sobre os Serviços Públicos;

2- Urgência de uma Reorganização Social para segurar a reconstrução de bases de Desenvolvimento Familiar;

3- Incapacidade total dos governos atuarem sobre desigualdade;

4- Entre 2023 e 2025 será necessário fortalecer Transferência de Renda. O esforço deveria ser por um cartão único e não pela dispersão atual;

5- Garantir condições mínimas para as equipes sociais nos municípios. Sem essas condições o trabalho não gera nenhum resultado.

 


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Chile: mais avanços na democracia social ou retorno ao passado autoritário? - Cesar Maia (Estadão)

 KAST, BORIC E O PARADOXO DA POLÍTICA CHILENA!

Cesar Maia
O Estado de S. Paulo., 25/11/2021 

O segundo turno da eleição presidencial do Chile será uma corrida em direção ao centro, já que a maioria dos eleitores quer mudanças, mas sem radicalismos. Algum dos candidatos conseguirá isso?

Em um primeiro olhar, algo parece inexplicável: apenas um ano depois de 80% dos eleitores terem comparecido às urnas para pedir uma nova Constituição, e seis meses depois de escolherem a Assembleia Constituinte encarregada de redigir a nova Carta, com clara maioria à esquerda, no domingo, os chilenos demonstraram pluralidade no primeiro turno, ao votar em José Antonio Kast, um ex-deputado conservador que se opõe à nova Constituição e tem minimizado violações de direitos humanos cometidas pela ditadura militar.

Com um evidente impulso a seu favor, Kast tem agora chance real de se tornar o próximo presidente do Chile, no segundo turno que será realizado em 19 de dezembro. Estarão os eleitores chilenos se comportando de maneira errática? Estarão arrependidos do processo de redação da nova Constituição?

Eu argumentaria que não, que não há nenhum tipo de confusão nem arrependimento. No ano passado, a maioria dos chilenos queria – e continua querendo até hoje – mudanças pragmáticas e moderadas em políticas sociais e inclusão econômica, mas sem jogar a criança fora com a água do banho. Ainda que os chilenos queiram uma nova Constituição, que lhes conceda mais direitos sociais, eles também querem manter muitos aspectos do modelo econômico que levou seu país a tanta prosperidade ao longo das três décadas recentes. Querem que a nova Constituição garanta mais direitos sociais, mas também um governo que siga a lei e a ordem. A disputa pela presidência deverá ser vencida pelo candidato que articular melhor esse equilíbrio.

RUMO AO CENTRO. Conforme esperado, Kast e Gabriel Boric, esquerdista e deputado no segundo mandato, acabaram em primeiro e segundo lugar no primeiro turno das eleições presidenciais. Kast e Boric receberam, respectivamente, 28% e 25,7% dos votos – em linha com as previsões das pesquisas. Já que os outros 46% dos eleitores optaram por outros candidatos, a corrida para vencer o segundo turno obrigará Kast e Boric a conquistar esses eleitores.

Com um comparecimento às urnas pouco abaixo de 50%, o primeiro turno não atraiu mais eleitores do que as disputas presidenciais anteriores, colocando em dúvida a alegação de que os chilenos estão altamente polarizados e mais interessados em política do que nos pleitos anteriores.

É improvável que o comparecimento às urnas seja muito maior no segundo turno. Por isso, os candidatos terão de conquistar os eleitores cujas primeiras escolhas já não estão na disputa. Será mais fácil para Kast atrair eleitores que votaram no primeiro turno em Sebastián Sichel (12,7%), candidato do atual presidente, Sebastián Piñera. Por sua vez, será mais fácil para Boric atrair quem votou em Yasna Provoste (11,6%), candidata do Novo Pacto Social, de centro-esquerda (coalizão que ocupou o poder na maior parte do período dentre 1990 e 2018), e nos candidatos de esquerda Marco Enríquez-ominami (7,6%) e Eduardo Artés (1,5%).

Mas o grande trunfo serão os eleitores que votaram no candidato que surpreendeu a todos, terminando em terceiro lugar, com 12,9% dos votos: o economista Franco Parisi, que vive nos EUA e fez campanha somente pela internet (já que estava alegadamente impossibilitado de viajar ao Chile em razão de um processo que sofre por falta de pagamento de pensão alimentícia dos filhos). Ele já havia disputado a presidência anteriormente, em 2013, com uma plataforma populista de direita e amigável ao mercado.

Desta vez, Parisi fez campanha como candidato antissistema. Alguns desses eleitores poderão se abster, mas Kast tentará atraí-los com uma mensagem de igualdade de condições no capitalismo e respeito à lei e à ordem, enquanto Boric deverá tentá-los com segurança social e uma agenda moralmente progressista.

Em seu discurso de vitória, Kast falou diretamente com o eleitor médio, enquanto Boric colocou foco mais nos eleitores de esquerda e no grande desafio adiante. Ainda que inflamar as bases seja mais importante para Boric, ele também precisará do apoio de eleitores mais moderados, que se preocupam com sua falta de experiência, pouca idade (35 anos) e suas propostas radicais. Por sua vez, Kast precisará convencer eleitores de que é sensato e precisará abandonar propostas mais populistas de direita (como isenções fiscais e aumentos de gastos).

O campo político de Kast tentará transformar as eleições em uma escolha entre democracia e comunismo, enquanto o campo político de Boric tentará transformá-las numa escolha entre democracia e fascismo. Como ambos tentarão apavorar os eleitores em relação ao rival, veremos muita campanha negativa.

Como em outros segundos turnos de eleições presidenciais, os candidatos buscarão apresentar a si mesmos como moderados e qualificar o rival como radical. A população poderá acabar escolhendo entre o menor dos males e, quando o próximo presidente assumir, sua aprovação poderá despencar rapidamente, à medida que os eleitores se desapontarem com as prioridades de um presidente que não foi sua primeira escolha.

O próximo Congresso também será um ambiente difícil para aprovar reformas, com ambas as Casas tendendo um pouco à esquerda como resultado da votação do domingo, mas sem nenhuma maioria clara para os candidatos.

MENSAGEM. Como os candidatos de ambos os extremos ideológicos foram para o segundo turno, alguns podem se ver tentados a afirmar que os chilenos estão polarizados. Mais eleitores, porém, votaram em candidatos moderados – apesar do apoio fragmentado ter impedido que algum deles passasse para o segundo turno. Além disso, os chilenos sabem que todos os candidatos precisam adotar posições mais moderadas no segundo turno.

O país teve disputas em segundo turno em todas as eleições realizadas desde 1999.

Os chilenos também sabem que o impacto da eleição presidencial deste ano será mais limitado, já que uma nova Constituição está sendo redigida. Se a nova Carta realizar mudanças grandes o suficiente no sistema político, novas eleições poderão ser convocadas quando (e se) a Constituição for aprovada num referendo a ser realizado no segundo semestre de 2022. Colocado de outra maneira: o mandato tanto de Kast quanto de Boric poderia ser encurtado, e o Chile poderia adotar, por exemplo, um sistema parlamentarista.

Isso explica por que o impacto que a Assembleia Constituinte surtirá nas instituições políticas chilenas será muito maior do que qualquer prioridade política que o governo seja capaz de levar adiante. Na realidade, se a Assembleia Constituinte e o novo governo discordarem a respeito de prioridades, a Assembleia Constituinte terá a última palavra, já que completará a redação da nova Constituição meses depois de o novo governo ser empossado.

Como um conflito entre um novo governo que avance com suas prioridades e a Assembleia Constituinte, que tem prioridades próprias, parece possível, os chilenos poderão querer introduzir provisões de pesos e contrapesos votando por um governo capaz de restringir o ímpeto fundamental da Assembleia Constituinte.

De fato, quatro meses após iniciadas suas deliberações, mais chilenos rejeitam do que aprovam o trabalho que a Assembleia Constituinte está realizando. Assolada por escândalos e controvérsias em razão de comentários exagerados de alguns de seus integrantes (como mudar o nome do país ou alterar sua bandeira), a Assembleia Constituinte está começando a causar preocupações entre os que temem que a nova Constituição possa trazer mudanças demais.

Ainda assim, o crescente descontentamento em relação à Assembleia Constituinte não deve ser confundido com uma rejeição à nova Constituição. Da mesma maneira que pais descontentes com a escolha de seus genros, mas animadíssimos com o fato de que serão avós, os chilenos ainda adoram a ideia de ter uma nova Constituição que tornará seu país um lugar mais justo.

IGUALDADE. Mesmo sabendo também que redução de desigualdade de renda e mais oportunidades para todos dependem de uma economia forte, os chilenos parecem ter sinalizado na eleição de 21 de novembro que, agora que a Assembleia Constituinte está colocando o foco nas maneiras de distribuir melhor a riqueza, eles querem um governo que coloque o foco em fazer a economia crescer novamente e priorize a lei e a ordem.

Enquanto a campanha para o segundo turno está só começando, e Boric e Kast precisam duplicar a quantidade de votos que tiveram no primeiro turno para se tornar o próximo presidente do Chile, ainda é cedo demais para sabermos o nome do próximo líder. O que bem sabemos é que os chilenos recompensarão quem fizer um bom trabalho em convencer os eleitores moderados.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Rio Branco, a diplomacia e o conhecimento da história - Cesar Maia

Conhecer a história é essencial. Melhor, em todo caso, do que ficar repetindo o que disseram filósofos alemães que não têm absolutamente nada a ver com a nossa diplomacia ou política externa...

RIO BRANCO E O PRATA!Da coluna de Cesar Maia, 9/10/2019

(José Alfredo Vidigal Pontes, historiador, autor dos livros ‘A Política do Café com Leite: Mito ou História?’ E ‘1932: O Caráter Nacional de um Movimento Democrático’ - O Estado de S. Paulo, 07)

“Um diplomata não serve a um regime e sim a um país”
Barão do Rio Branco

Nada mais atual e oportuno do que essa frase em epígrafe de José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como barão do Rio Branco. Monarquista convicto, serviu a cinco presidentes republicanos. Graças a ele resolvemos exemplarmente nossos problemas fronteiriços, propiciando boa coexistência e frutíferas relações.

No sul do País as trocas entre os povos antecederam o próprio estabelecimento das fronteiras, numa época em que eram apenas domínios espaciais ainda indefinidos dos impérios coloniais ibéricos. O comércio platino fortaleceu tanto os hispânicos como os luso-brasileiros, numa relação mútua de prosperidade, em meio a pontuais conflitos armados.

Apesar de seu passado monarquista, o barão foi convidado em 1893 por Floriano Peixoto a defender o Brasil numa querela fronteiriça com a Argentina, a qual envolvia boa parte da região oeste dos atuais Estados do Paraná e Santa Catarina. Em alguns meses preparou um estudo de seis volumes, A Questão de Limites Entre o Brasil e a República Argentina, e o enviou a Grover Cleveland, o então presidente norte-americano e árbitro da questão. Esse litígio, conhecido na época com a Questão de Palmas, foi decidido inteiramente a favor do Brasil por decisão de Cleveland, acatando os sólidos argumentos de Rio Branco. Pois ele não só conhecia profundamente os termos do Tratado de Madri (1750), como também a minuciosa e sigilosa cartografia hidrográfica luso-brasileira acumulada sucessivamente pelos brilhantes diplomatas Luís da Cunha e Alexandre de Gusmão.

O barão demonstrou claramente que não existe diplomacia eficiente sem conhecimento histórico, nem História sem embates diplomáticos.

Outra questão tratada na época por Rio Branco, ainda como embaixador especial, foi a do condomínio de acesso dos uruguaios ao Rio Jaguarão e à Lagoa Mirim, com civilizadas concessões da parte do Brasil. Três anos depois, em 1902, o barão era convidado a assumir o Ministério das Relações Exteriores, no governo Rodrigues Alves, sendo confirmado por todos os presidentes até sua morte, em 1912.

Como ministro, resolveu satisfatoriamente as questões do Acre e do Amapá, mas, anteriormente, ainda como advogado, deu prioridade às questões pendentes no Prata, pois tinha plena consciência de sua vital importância geopolítica para o Brasil. A partir da independência das antigas colônias sul-americanas, no século 19, foram realizadas as últimas grandes definições de fronteiras platinas mediante conflitos armados: a Questão Cisplatina, que resultaria na formação do Uruguai, e a Guerra do Paraguai. Na última década ainda restavam a Questão de Palmas, citada cima, e a da Lagoa Mirim para resolver e nesse momento Rio Branco foi convocado dado seu notório saber acerca dos antecedentes históricos das relações platinas.

A partir de 1580 houve um grande fluxo de comércio entre Buenos Aires e o Rio de Janeiro, durante a união das coroas ibéricas. Os luso-brasileiros levavam açúcar, tabaco, tecidos e escravos africanos em troca de prata e couros. Porém, a partir de 1640, com a restauração da independência portuguesa, essas transações diminuíram. O império português estava vulnerável e descapitalizado, tendo como inimigos os espanhóis e os holandeses. Foi dentro desse contexto de penúria monetária que, em 1680, o Conselho Ultramarino, em Lisboa, decidiu fundar Colônia do Sacramento, atrevida cidadela na banda oriental do Prata, bem defronte a Buenos Aires, a qual procurava retomar o fluxo de comércio com a América espanhola e o consequente acesso a pagamentos em moeda.

Enfrentamentos bélicos nessa região começaram a partir de então, mas também um próspero comércio entre as duas praças. Nessa época Buenos Aires era um pequeno porto com cerca de 8 mil habitantes, atrofiado pelo centralismo de Lima, que monopolizava a aduana da prata de Potosí.

Quase um século depois, quando Colônia do Sacramento passou para o domínio espanhol, o censo de 1778 apontou 24 mil habitantes em Buenos Aires, o triplo. Era então uma cidade bem equipada de serviços, cuja atividade comercial havia favorecido a expansão urbana.

De outro lado, a existência de Colônia do Sacramento contribuiu para a formação de uma identidade local portenha, a qual seria o embrião de um sentimento regional, aumentando a importância relativa de Buenos Aires no império espanhol e resultando na criação do Vice-Reinado do Prata.

A cidadela portuguesa do Prata, além de ter criado condições geopolíticas para a assinatura do Tratado de Madri, estimulou a ocupação dos atuais Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul: gado selvagem dos pampas começou a ser levado para o abastecimento de Minas Gerais e Rio de Janeiro por tropeiros paulistas. O tropeirismo passou, então, a se constituir num fator estrutural no desenrolar de nossa história econômica, tornando viável a ocupação do sul do País, o abastecimento das minas de ouro e acumulando capital privado em São Paulo, que se imbricaria posteriormente com o açúcar, o café, as ferrovias e a indústria.

É curioso registrar que essa contribuição é originária inicialmente de muares, equinos e bois soltos pelos hispânicos que haviam retornado à vida selvagem. Rio Branco era ciente de todo esse histórico do processo de ocupação da Bacia do Prata, no qual o comércio foi o grande protagonista.

Uma reflexão sobre esse passado nos remete à importância da saudável integração econômica entre países vizinhos sem barreiras tarifárias.

O barão demonstrou que não há diplomacia eficiente sem conhecimento histórico...

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Intervenção federal no RJ: guerra contra o crime organizado


O presidente da CD expõe as razões da intervenção federal no RJ. Alguns fingem não ver os problemas, muitos são ingênuos, a maioria quer que se faça alguma coisa, qualquer coisa...
Paulo Roberto de Almeida
DISCURSO DO PRESIDENTE DA CÂMARA, DEPUTADO RODRIGO MAIA, NA SESSÃO QUE APROVOU A INTERVENÇÃO NA SEGURANÇA DO RIO DE JANEIRO!

1. Desde a redemocratização do Brasil, marcada pela promulgação da Constituição de 1988, é a primeira vez que o Executivo Federal decide intervir num Estado, numa Unidade da Federação, no caso o Rio de Janeiro. Mais forte do que isso, pela segunda vez na história da República, o Governo intervém num Estado federado em plena vigência das liberdades democráticas e submete o seu ato ao rito constitucional disposto na Carta de 1988.

2. Estamos seguindo a Constituição democrática de 1988. Por isso, Câmara e Senado têm de votar o decreto de intervenção, aprovando-o ou suspendendo-o, como estabelece o art. 49, inciso IV, da Constituição Federal. Somos chamados a superar diferenças ideológicas, conceitos diversos de gestão da máquina pública, para mostrar união contra um inimigo comum a todos os homens e mulheres de bem, um inimigo comum a todos que têm espírito público: o crime organizado.

3. Estamos numa guerra contra o crime. A nossa arma é a Constituição e a nossa missão é defender a democracia, dando aos Estados os poderes excepcionais previstos na Constituição para assegurar a manutenção da ordem e do Estado Democrático de Direito. As Forças Armadas, a Força Nacional, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal estão sendo convocadas pelo Presidente da República, que é o seu comandante, para uma missão fundamental na defesa da democracia: combater e vencer o crime organizado.

4. Não se trata de intervenção militar — longe disso —, vamos votar aqui um decreto de intervenção do Governo Federal no Estado do Rio de Janeiro. Diga-se, de forma clara e direta: se fosse uma intervenção militar, esta Casa — com toda razão e com todo o meu apoio e energia — a derrotaria. Estamos nos preparando para votar um decreto de intervenção constitucional e democrática em um dos entes da Federação da nossa República. Isto está previsto no art. 84 da nossa Constituição. Infelizmente, essa intervenção torna-se urgente e necessária porque o poder estadual exauriu sua capacidade para impor autoridade.

5. É necessário asseverar isso: o Governo do Rio de Janeiro sucumbiu à desordem. Torna-se urgente e inadiável fazer prevalecer a ordem, levar de volta a paz de espírito às ruas do Rio de Janeiro e as de todo o País também. A intervenção fará a máquina do Estado convergir todo o seu poder e todos os seus instrumentos para a vitória contra o crime, contra os criminosos, contra os bandidos.

6. A intervenção é um instrumento constitucional, é dispositivo do livro basilar das democracias: a Constituição. A democracia é o poder do povo para o povo. Quando esse poder exercido pelo Estado é sequestrado, é roubado, é espoliado pelo crime organizado, só resta a esse mesmo Estado reagir usando as suas ferramentas, as armas que a Constituição nos dá para combater os bandidos. A intervenção é, neste momento, a maior das ferramentas.

7. O art. 49, inciso IV, da Constituição diz expressamente que cabe ao Congresso Nacional, por meio de votações em maioria simples, na Câmara e no Senado, aprovar ou suspender a intervenção já decretada pelo Chefe do Poder Executivo. O texto constitucional é claro quando fala em suspensão do decreto. A eventual rejeição do ato presidencial o suspenderia — e ele já produz efeitos desde a sua publicação. Ou aprovamos ou rejeitamos o decreto presidencial. Não cabe, portanto, a esta Casa eventuais emendas modificativas — é o que diz a nossa Constituição.

8. Não é razoável imaginar que o Rio consiga superar sozinho a exaustão da autoridade e a falência da gestão. É por isso que a intervenção federal se impõe. E é por isso que os três Poderes da República, cada um deles cumprindo seu papel constitucional, com a independência e a harmonia previstas na Carta Magna — e, sobretudo, ouvindo o apelo da sociedade —, agem firme e decisivamente para dizer aos criminosos e aos bandidos:

9. “Basta! Basta de assistir a famílias destroçadas por tragédias! Basta de nos chocarmos com a imensurável dor de pais e mães que perdem seus filhos e filhas brutalmente assassinados, em alguns casos cidadãos ou cidadãs, crianças mortas dentro de suas próprias casas por balas perdidas, vítimas inocentes tragadas pela criminalidade e transformadas em estatísticas. Basta de ver as nossas metrópoles como cidades partidas e medievais, onde muralhas e aparatos sofisticados de segurança são necessários e até indispensáveis para garantir ao cidadão o simples direito de andar nas ruas. Basta!” Conheço esta Casa. Sei que neste grave momento ela não faltará à sua responsabilidade.

10. O nosso papel não é apenas chancelar a intervenção no Rio, onde ela se impõe agora e já, mas é também o de deixar claro que o Estado brasileiro e nós, o Congresso Nacional, não seremos omissos onde e quando o crime organizado seguir ameaçando a autoridade do Estado. Afinal, cabe ao Estado — e só a ele — o uso coercitivo da força para manter a lei e a ordem. Ao colocar aqui, como Presidente da Câmara e como Deputado do Rio de Janeiro, a minha posição, faço-o com todo respeito a cada partido político, a cada um dos Parlamentares, a cada grupo ideológico representado neste Plenário.

11. E este Plenário é a representação do conjunto da sociedade brasileira. Sras. Deputadas, Srs. Deputados, o Governo Federal assegura ter realizado extensos estudos sobre todos os passos dessa intervenção. Ela é um caminho árido, é uma estrada na qual todas as forças do Estado, sob o comando do Presidente da República, só têm uma saída: vencer — vencer o crime organizado, vencer sem recuo. Estou certo de que o Poder Executivo sabe bem disso. Esta Casa acompanhará, avaliará e fiscalizará todos os atos dessa intervenção, que seguramente não encontrará limites nem orçamentários, nem burocráticos ou de qualquer ordem para assegurar a vitória do Estado e da sociedade sobre a bandidagem, sobre os criminosos, que a todos ameaçam.

12. O crime não pode vencer. Os criminosos têm que ser derrotados. Há uma frase de Winston Churchill que diz: “Na guerra é inútil dizer que vamos fazer o possível. Precisamos fazer tudo que for necessário.” Convoco cada um dos presentes a debater e deliberar o decreto presidencial da intervenção no Estado do Rio de Janeiro. Este é o papel necessário que nos cabe agora.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Sucessao carismatica e partido neobolchevique: contradicao nos termos - David Samuels

Transcrevo nota do ex-prefeito Cesar Maia, sobre problema clássico de sociologia política: a sucessão do carisma, um dos mais poderosos fatores de ruptura nos sistemas políticos não racionais-legais.
Os chineses parecem ter evitado os dramas que se abateram sobre a União Soviética pós-Stalin, ao adotar uma espécie de "rotinização do carisma".
Parece que os companheiros não terão a mesma sorte...
Paulo Roberto de Almeida

EM 2003, DAVID SAMUELS, DA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA, MOSTRAVA QUE O CRESCIMENTO DO PT DEPENDIA DO DE LULA! E AGORA? 

(Nota do Ex-Blog em 01/12/2010) 

1. O exercício de maior risco na ciência politica é a previsão para um período de tempo de médio prazo. O professor David Samuels, da Universidade de Minnesota, em base a dados que vão até 2002, procurou explicar as razões que poderiam levar o PT a crescer ou não. Ou seja, o que levaria um eleitor a votar no PT. O trabalho foi publicado no Brasil pela revista OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. X, nº 2, Outubro, 2004, p. 221-241.

2. A partir das regressões sobre diversos temas que poderiam estar relacionados com o voto no PT, Samuels chega a conclusões, na época, surpreendentes. Hoje se pode afirmar que a precisão de suas conclusões é impressionante. Segue uma lista de situações que não levam ao petismo. "A classe socioeconômica não está diretamente relacionada ao petismo. Categorias sociais como – raça, gênero, religião e idade – não apresentam relação com o petismo. Não é verdade que os católicos sejam mais petistas e que os evangélicos menos. A variável raça também não mostra relação significativa."

3. "O atrativo do PT de reduzir a desigualdade socioeconômica não se reflete nos resultados de regressão. O desejo de maior influência do governo na economia e maior regulamentação desta, bem como o apoio ao nacionalismo econômico não estão associados ao petismo. Brasileiros que se opõem às práticas clientelistas e ao rouba-mas-faz não apresentam maior probabilidade de serem petistas. Os brasileiros que apoiam a liberdade de expressão política e que têm ideias menos hierárquicas da sociedade também não mostram maior probabilidade de serem petistas."

4. "A variável mais importante que surge em termos do impacto sobre ser petista é a opinião sobre Lula. O resultado aqui mostrado indica que a predição aumenta quase 65% para um brasileiro que dá nota 10 a Lula numa escala de 0 a 10, em comparação com quem dá nota 5 na mesma escala. "

5. "A importância para o petismo da popularidade de Lula tem implicações substanciais para o futuro do PT. Ele continua a ser o único líder petista que pode atrair um número de adeptos bem maior do que o partido. Quando ele deixar o palco, podemos prever não somente uma difícil sucessão na liderança, como também algum grau de problemas para o partido em termos de sua capacidade de reter seguidores e assim continuar crescendo eleitoralmente. O partido ainda não está inteiramente livre de sua conexão a um único líder político. Os resultados deste estudo têm implicações adicionais para o futuro do petismo."

6. "A ideologia de esquerda, que o próprio partido abandonou em larga medida, tem uma influência muito limitada na identificação dos brasileiros com o PT. O petismo também não mostra uma relação clara com políticas públicas determinadas, nem com classes sociais. Se o petismo fosse principalmente uma função dessas três variáveis (ideologia, políticas e classe), o crescimento do PT poderia ficar severamente limitado, pois muitos brasileiros possuem posturas ideológicas fracas, têm pouco conhecimento sobre políticas específicas e não têm uma consciência de classe clara."

7. David Samuels merece um máximo reconhecimento. Foi provavelmente o único cientista político que teve a coragem de acreditar em seus estudos econométricos, e dar publicidade, contrariando o que a academia, a imprensa e os políticos imaginavam e repetiam à exaustão.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Sistema politico-eleitoral no Brasil: proposta de reformas - Cesar Maia

 O ex-prefeito Cesar Maia apresenta aqui reflexões muito interessantes para uma reforma provisória, e uma de corte mais definitivo, para a nova configuração eleitoral-partidária para um Brasil governável, ou seja, para eliminar o grande foco de tensão permanente no Brasil, que é a diferença entre a maioria presidencial, direta, e a falta de maioria no parlamento, dada a proporcionalidade deformada que temos hoje.
Eu acrescentaria o fim do Fundo Partidário, que até mais do que o sistema distrital misto para a representação dos deputados, contribuiria enormemente para o fim da fragmentação partidária hoje existente. Mas, acrescento, não acredito que os parlamentares, atuais e futuros, votem o fim do seu próprio financiamento. Mas a sociedade precisaria pressionar nesse sentido.
Paulo Roberto de Almeida

Da coluna diária do ex-prefeito do RJ, Cesar Maia, 28/07/2017
NÃO HÁ REFORMA POLÍTICO-ELEITORAL NEUTRA! O VOTO DISTRITAL MISTO E O SISTEMA PROVISÓRIO DE TRANSIÇÃO! 

1. Quando se debate a necessidade de uma reforma político-eleitoral com urgência, no Brasil, a primeira pergunta a fazer é em relação a seus objetivos. E que distorções do sistema atual pretende superar. Muitos elogiam o sistema alemão do voto distrital-misto - 50% na lista partidária e 50% nominal.
2. Mas por que a Alemanha adotou esse sistema no pós-guerra? A resposta é simples. Os traumas do pré-guerra exigiam um sistema eleitoral que eliminasse os riscos de crescimento de partidos de extrema direita e de extrema esquerda. Nesse sentido, o voto Distrital Misto deu absolutamente certo na Alemanha.
3. O voto distrital puro uninominal, como no Reino Unido e nos Estados Unidos, reduz o peso ideológico do voto e aproxima o eleitor dos eleitos. Mais ainda no Reino Unido, com distritos com cerca de 40 mil eleitores. Nos EUA são distritos de cerca de 600 mil eleitores.
4. As distorções do atual voto proporcional aberto brasileiro são conhecidas. O maior adversário de um candidato a deputado é aquele -de sua própria legenda- cujo perfil político mais se aproxima do dele. Nesse sentido, é fratricida. Por outro lado, com financiamento eleitoral aberto para empresas, a probabilidade do poder econômico formar suas bancadas é muito grande. Bem, desde 2016 essa distorção foi eliminada, com a proibição do financiamento eleitoral por empresas.
5. O voto proporcional aberto estimula a criação de bancadas das corporações. É o que a prática vem demonstrando, o voto proporcional aberto brasileiro multiplica os partidos e pulveriza os parlamentos. Ou seja, aumenta a possibilidade de ingovernabilidade. No Brasil, há muitas eleições, esse sistema limitou quase sempre a menos de 20% o maior partido na Câmara de Deputados.
6. A Câmara de Deputados brasileira tem 28 partidos com deputados e o maior deles (o PMDB) tem uns 15% dos deputados. Com isso, o presidente precisa construir todo tipo de acordos para ter uma maioria para governar.
7. Por isso tudo, o debate leva a um sistema que reduza drasticamente o número de partidos e limite a eleição de deputados carregados pelas legendas e com votação inexpressiva. Fala-se em proibição das coligações na eleição parlamentar e da cláusula de barreira em que um partido precisa atingir uma certa porcentagem dos votos para entrar no parlamento.
8. Essas são medidas positivas, mas, mesmo que sejam positivas, são paliativas e sozinhas não atingiriam os objetivos maiores.
9. A prioridade para a representatividade e para um sistema operacional e governável conduz para uma reforma eleitoral que aponte, de uma outra forma, para um desenho distrital - seja uni ou plurinominal, seja majoritário ou proporcional, misto ou não.
10. No entanto, o desenho dos distritos em quaisquer das hipóteses não é tarefa para poucos meses, seja pela complexidade dos recortes, seja pela necessidade de aprovações legislativas ou confirmações jurídicas.
11. Portanto, há a exigência de um sistema provisório entre duas eleições, ou seja, 4 anos. E este sistema provisório tem que ser coerente com o definitivo, especialmente em relação ao ordenamento parlamentar e a governabilidade, garantindo um parlamento que forme maiorias, ou seja, com um número muito menor de partidos.
12. A menos que se queira fazer uma reforma que terá que ser reformada em pouco tempo, só há dois caminhos para uma primeira e única legislatura: o voto em lista ou o chamado distritão com eleição dos mais votados. Qualquer um destes garantirá a preliminar da governabilidade.
13. As críticas à ambos são conhecidas. E seriam consensuais se fosse para um novo sistema permanente. Mas não é assim. Ambos, lastreados pela proibição da coligação na proporcional e pela cláusula de barreira, resultariam no desenho de um parlamento governável, abrindo o tempo e as portas para um sistema distrital -digamos- misto que é o que conduz a um maior consenso.
14. Mas o voto em lista tem um defeito insuperável como sistema intermediário: inibe e mesmo impede que a reforma eleitoral aponte também para uma reforma político-partidária.
15. Sendo assim, com esse ou aquele problema, que um ou outro apontam, o Distritão cumpre amplamente as necessidades do melhor sistema provisório e de transição. Eleições autofinanciáveis e de custo extremamente baixo. E eventuais e pontuais distorções, essas serão naturalmente corrigidas pelo voto distrital misto, na legislatura seguinte.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Peron, o primeiro e unico, o demagogo, e suas contrafacoes - Cesar Maia

Cesar Maia, ex-prefeito do Rio, usa as informações disponíveis, e uma recente entrevista a um jornal brasileiro do filho de Tomas Eloy Martinez, que fez um documentário a partir da entrevista gravada que seu pai fez com Perón, exilado em Madrid, antes de retornar à Argentina, para tecer algumas considerações e selecionar alguns trechos dos dizeres de Perón naquela gravação.
Perón foi o homem, o demagogo político, o populista econômico, o líder carismático, essencialmente fascista, que afundou a Argentina, que construiu uma "decadência programada", se ouso dizer, e os argentinos continuam até hoje reféns de um cadáver insepulto, o de Perón e o de sua esposa mítica e mistificada.
Perón foi o líder destruidor que construiu uma única coisa: a República Sindical, mas o fez com uma doutrina justificadora, embora mentirosa: o Justicialismo, que aliás rima com fascismo. A República Sindical destruiu a Argentina, como ela está destruindo o Brasil, com seu patrimonialismo de tipo gangsterista, com seu corporativismo prebendalista, fisiológico, nepotista, rentista, expropriatório, concentrador, até mafioso.
A grande diferença entre a "nossa" República Sindical -- tentada em 1963-64, e desmantelada pelos militares, mas renascida com as hostes lulopetistas e cutistas de 2003 em diante -- e a dos hermanos é que a essa "nossa" não tem nenhuma doutrina, nenhuma conceituação política, mas pura demagogia e puro oportunismo, quando não roubalheira desenfreada. Trata-se de um peronismo de botequim, uma contrafação do original, um rentismo sem qualquer sentido nacional, atividades quadrilheiras no mais alto grau.
Vejamos aqui uma das avaliações finais de Cesar Maia sobre o resultado do peronismo:
"Erro maior dos peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas para repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955."
No nosso caso, a contrafação também tentou repetir a era Geisel, aquela que, em meio aos grandes projetos de desenvolvimento econômico, acabou por ser um processo amplamente fracassado, aumentando a inflação e a dívida externa, sendo diretamente responsável pelas década e meia perdida, em sua sequência. O lulopetismo, geiseliano em intenção, mas corrupto por vocação e fundamentalmente inepto, levou o Brasil à Grande Destruição que atravessamos atualmente, à margem de (e sem qualquer conexão com) qualquer conjuntura externa de crise ou recessão.
Transcrevo abaixo a coluna de Cesar Maia desta quinta-feira, 4 de maio de 2017.
Paulo Roberto de Almeida 

PERÓN, NA ÉPOCA, COM 75 ANOS! ENTREVISTA: ENSINAMENTOS QUE SERVEM AOS NOSSOS POLÍTICOS DE HOJE!

1. O consagrado escritor argentino Tomás Eloy Martínez, em 1970, com 36 anos, conseguiu que Perón -75 anos e já com 15 anos de exílio- concedesse em sua casa em Madrid (Puerta de Hierro) uma entrevista gravada. Foram 4 dias de gravações. Em base a essa entrevista, Eloy Martinez escreveu dezenas e dezenas de artigos e dois livros de grande sucesso: Santa Evita e A Novela de Perón.

2. Essas fitas, mantidas em caixas, ficaram guardadas até agora. Nos últimos meses foram transformadas em filme e documentário. Dias atrás, antecipando o lançamento, foram divulgadas 5 partes deste documentário, que vão desde a sua infância até sua morte. As respostas de Perón a Eloy Martinez são comentadas por politólogos, historiadores, políticos sêniores e até publicitários.

3. Deveriam ser vistas e revistas por nossos políticos de hoje, pois contêm experiências acumuladas até a sua maturidade. Seguem trechos que este Ex-Blog selecionou.

4. “O líder, primeiro, se faz ver, para que o conheçam. Depois se faz obedecer espontânea e naturalmente para passar a ser percebido como infalível. O que conduz deve ser percebido como infalível. Isso tudo é uma arte.

5. Não sou um político: sou um condutor. Carisma é o produto de um processo técnico de condução.

6. Condução é unificar as ideias dispersas em direção a um objetivo que conhece o condutor.

7. Ao se chegar ao poder se tem 2 objetivos: fazer a felicidade do Povo e a grandeza da Nação. Se se excede em um, se sacrifica o outro. Deve-se conseguir um equilíbrio entre os dois.

8. A política deve ser pendular entre o sindicalismo que está sempre a direita e a esquerda que está na política.

9. A Condução política é sui generis. As pessoas estão acostumadas à gestão da ordem (que de fato é uma gestão militar). Mas em política jamais existe ordem. Há que se preparar e se acostumar a gerir a desordem.

10. A política não pode ser um corpo rígido. Tem que ser flexível.

11. Fui criado com os animais; adoro os animais. Na política há 10% de idealistas e 90% de opiniões dispersas. Estes 10% são como os cães (tenho 4) e 90% como os gatos. Os cães são fiéis e acompanham silenciosamente. Os gatos são dispersos. Saem para caçar à noite. Quando são contrariados preferem ficar num canto e até se ocultar. Mas quando se veem cercados, reagem atacando. São felinos. 

12. Estar longe dos fatos é melhor que se estar perto. De longe se vê a totalidade.

13. Comentários finais. Perón sempre teve o controle do movimento peronista. Só perdeu o controle quando voltou do exílio ao governo em 1973. / Erro maior dos peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas para repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Argentina: parada no tempo, dificil retomada - Orlando J. Ferretes (La Nacion)

Cesar Maia transcreve em seu blog diário (17/02/2017), traduzindo (com diversas imperfeições no texto), artigo de Orlando J. Ferretes (La Nación, 15/02/2017) sobre a difícil situação argentina, que enfrenta uma tentativa de retomada de políticas econômicas de boa qualidade, depois de anos, décadas, de destruição progressiva dos fundamentos do país por elites ineptas e corruptas (tanto quanto no Brasil, mas lá nem os militares conseguiram modernizar o país).
Basta dizer que um século atrás, os argentinos exibiam 73% do PIB per capita americano, à frente de vários países europeus, e hoje mal chegam a 30% disso, quando nós, que partimos de 11% apenas, chegamos no máximo a 28% nos tempos do "milagre econômico brasileiro" (1968-1979), e hoje temos menos de um quinto da renda dos americanos.
Estive recentemente na Argentina e o que pude observar é que, à parte da modernização superficial (internet, celular, essas coisas), a Argentina parou no tempo, vítima, como explicado no artigo, dos confiscos de poupança feitos por vários governos (com destaque para os peronistas) e de uma inflação impressionante, que destruiu qualquer esperança no país, tanto é que existe pouca bancarização e o argentino mantém seus ativos em dólares.
Instrutivo essa leitura, mas já sabemos o que aconteceu na Argentina em termos de destruição de valor.
Aqui tivemos um peronismo de botequim, sem doutrina, sem qualquer racionalidade, mas os nossos "peronistas" também conseguiram destruir o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida

SITUAÇÃO DA ARGENTINA!

(Orlando J. Ferretes - La Nacion, 15)

1. Estamos em um período de transição de um país decadente para um país que pode ser recuperado. De fato, a Argentina é o país que mais diminuiu em relação a outros países desde 1910, ainda que isso seja mais percebido a partir de 1930. O mais inaceitável para um habitante da Argentina é ter passado do oitavo lugar mundial, naqueles anos com valores semelhantes aos do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, para os números atuais, onde estes países têm cerca de 45.000 dólares de renda per capita e a Argentina cerca de 12.000 dólares per capita.

2. O que aconteceu conosco? Não investimos o suficiente. Atualmente existem mais de 30 países que investem mais de 30% do PIB, incluindo a China, Coréia e muitos outros, enquanto nós estamos apenas em um esforço de investimento de 14,8% do PIB, quando entre 1880 e 1910, investíamos 42% do PIB. Sei que é muito difícil de investir esse montante de forma permanente, mas tampouco se pode explicar por que reduzimos a um valor de investimento tão baixo.

3. Confirmado o fato de que o nosso esforço de investimento tem sido muito baixo, temos de encontrar as causas desse comportamento. Por um lado temos incentivado o consumo de forma adequada, mas não temos o equipamento para sustentar essa produção. Por outro lado, temos expropriado a poupança dos argentinos e estrangeiros com uma inflação média anual de cerca de 70% desde 1944 e periodicamente temos tido um padrão de hiperinflação. Isso fez com que ninguém queira ter suas economias em pesos argentinos.

4. No máximo o necessário para se observar como temporariamente se incrementava nosso saldo bancário acima de um valor mínimo. Superado esse valor, já nos preparávamos para salvar essa economia em divisas fortes, seja na Argentina ou no exterior, mas sempre fora do sistema bancário ou financeiro do nosso p aís.

5. Houve duas expropriações de poupança em 1990 e 2002, onde substituíram todos os depósitos por títulos estatais de 10 anos e os argentinos não se esqueceram daqueles terríveis momentos. Agora, com o plano de anistia fiscal proposto pelo governo, que pode atingir 150 bilhões de dólares, está acontecendo uma reversão das expectativas de confisco por 10 anos. Não se acredita que o atual governo se atreva a expropriar novamente a poupança em troca de um bônus estatal de 10 anos, como aconteceu naquelas oportunidades.

6. Ainda não há muito investimento físico, mas esse processo leva pelo menos três anos para se consolidar desde que não existam ruídos macroeconômicos e que tudo funcione bem para investir. Nós que estão infectados com o vírus populista, que queremos resultados imediatos naquilo que estamos tentando alcançar, precisamos saber que esses resultados não vão acontecer. Vai demorar mais do que um ou dois anos para que nos recuperemos do nosso baixo investimento, pois é um processo que está em andamento há mais de oitenta anos desde 1930, quando a grande crise global começou.     

7. Outros países se remodelaram e mudaram significativamente sua orientação, mas decidimos continuar da mesma forma, exceto em raros momentos de raciocínio. Mauricio Macri, que é engenheiro, tem vários objetivos a alcançar e trabalha em função dos mesmos, mas sabe que não se podem alcançar todos esses objetivos simultaneamente. A Argentina precisa de tempo para ver os resultados e, enquanto isso, precisa que trabalhemos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Polonia: governo de direita pode estar se distanciando da democracia - Cesar Maia

Cesar Maia, ex-prefeito do Rio, político que já foi de esquerda, virou de centro e atualmente pode ser classificado na "direita" -- se isso existe no Brasil -- faz uma exposição sucinta, sem se pronunciar substantivamente quanto ao mérito, sobre o que está acontecendo atualmente na Polônia, que se encontra, digamos assim, sob vigilância da União Europeia, por práticas que poderiam ser classificadas de arbitárias e inconstitucionais.
O único governo que sustenta a atual coalizão governativa da Polônia é o da Hungria, ele mesmo sob sérias acusações de direitista, autocrático, xenófobo, enfim, o coquetel conhecido do populismo de direita na Europa.
Transcrevo tal qual.
Paulo Roberto de Almeida

A NOVA CRISE POLÍTICA NA POLÔNIA!
Ex-blog do Cesar Maia
18/01/2017

1. Manifestações contra o Partido Lei e Justiça (PiS) têm sido constante, tendo-se agravado no último mês. A reforma constitucional levou Bruxelas a abrir um inquérito e a oposição quer uma nova votação do orçamento. O PiS chegou ao poder em 2015 - conquistando as presidenciais em maio e as legislativas em outubro - tornando-se o primeiro partido com maioria absoluta na Polônia desde a queda do comunismo. Jaroslaw Kaczynski escolheu os discretos, mais leais, Beata Szydlo e Andrezj Duda para primeira-ministra e presidente, opções que os analistas dizem que se deve parcialmente a preocupações de que a sua imagem poderia prejudicar o partido.
             
2. Mas, a partir dos bastidores, é Jaroslaw Kaczynski, o líder do PiS, quem manda no país, o que ele nega. "Na esfera política, pode dizer-se que eu tenho uma verdadeira autoridade. Mas na realidade, a maioria das decisões é tomada sem o meu conhecimento", garantiu na entrevista que deu na semana passada à Reuters. O partido de Kaczynski chegou ao poder prometendo mais segurança social, mais valores católicos e uma posição mais dura em relação à União Europeia e à Rússia. Passado um ano, continua com o apoio das áreas rurais, mas perdeu seu prestígio dentre a população urbana, mais liberal, e os críticos internos e internacionais acusam o governo de minar a democracia com o seu programa.
            
3. As questões sobre os esforços do PiS para exercer um maior controle sobre a economia e as instituições do Estado levaram a Standard and Poor’s a baixar o rating do país em janeiro. Mas Kaczynski disse estar disposto a ver o crescimento econômico desacelerar um pouco se esse for o preço de levar avante a sua proposta para a Polônia. As mudanças no Tribunal Constitucional, por exemplo, foram discutidas este mês pelo colégio dos comissários e levaram a Comissão Europeia a abrir uma investigação sobre o funcionamento do Estado de Direito, tendo dado, no dia 22, dois meses a Varsóvia para dar uma resposta. Bruxelas não adiantou possíveis consequências, que poderiam passar no caso de a Polónia perder o seu direito de voto com a concordância dos restantes 27 Estados membros, mas tal não acontecerá porque a Hungria já anunciou o seu veto. "É uma absoluta comédia, porque não está acontecendo nada na Polônia que contrarie o Estado de Direito", afirmou Kaczynski, em resposta ao inquérito europeu.
            
4. O líder do PiS - que já classificou o Constitucional como "o bastião de tudo o que é mau na Polónia" - defende que as reformas deste tribunal são necessárias para garantir que não haja bloqueios legais às políticas do governo.  "O objetivo desta legislação é destruir o tribunal, desintegrá-lo, criar uma espécie de conselho privado para o nosso "amado líder"", declarou Andrzej Rzeplinski a The Guardian dia antes de abandonar a presidência do Constitucional, o que aconteceu no dia 19. "O país está no caminho da autocracia", sublinhou o magistrado. No dia 18, milhares de polacos juntaram-se em Varsóvia, em frente ao Constitucional, para agradecer a Rzeplinski por se ter oposto a alterações que, na opinião da oposição, são ilegais.
            
5. A situação no Parlamento também não é pacífica. Os deputados da oposição ocuparam a sala do plenário no dia 16 e dizem que o seu objetivo é lá ficar até, pelo menos, 11 de janeiro, data em que está marcada uma nova sessão de trabalhos.  Em causa está a decisão do governo em limitar o acesso dos jornalistas aos trabalhos parlamentares. O que levou também milhares de pessoas a protestarem na porta do Parlamento. "É um triste e simbólico protesto, o primeiro no Parlamento da Polônia", disse à AFP Joanna Scheuring-Wielgus, deputada do Moderno.
         
6. Em outubro, o PiS retirou um plano para proibir o aborto, depois de um grande número de mulheres vestidas de preto terem protestado por todo o país. Agora, o governo também parece ter cedido na restrição aos jornalistas. Mas a ocupação do plenário continua, pois os deputados da oposição pretendem também a repetição do debate e votação do Orçamento para 2017, que na semana passada, por decisão do presidente do Parlamento, foi realizado fora do plenário e sem a presença dos deputados da oposição, que questionam a legalidade do ato.
          
7. No dia 13, dia do 35.º aniversário da Lei Marcial, milhares de poloneses manifestaram-se nas ruas de Varsóvia em protesto contra as políticas do governo. O mesmo aconteceu em outras cidades do país. Nesse mesmo dia, o Parlamento aprovou uma lei para restringir encontros públicos, o que a oposição considerou um atentado à liberdade de expressão. Em seguida, o presidente recusou-se a assinar esta lei - é a primeira vez que o faz - e enviou-a para o Constitucional.

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terça-feira, 10 de maio de 2016

O Itamaraty, segundo Cesar Maia

Cesar Maia, 9/05/2016


O ITAMARATY: ONTEM, HOJE E AMANHÃ!
      
(Embaixadores A, B, C...) 
1. Nos últimos 13 anos, a política externa brasileira padeceu de uma excessiva ideologização, que comprometeu os interesses nacionais e a posição do Brasil no cenário internacional. O alinhamento automático com regimes populistas e autoritários, o distanciamento de parceiros tradicionais e a negligência de áreas prioritárias, como a diplomacia econômica e comercial, resultaram no atual quadro de isolamento, paralisia e perda de liderança, sobretudo no entorno regional. Além desse aspecto substantivo, os anos PT também causaram danos significativos ao Itamaraty, como instituição. O Ministério está desprestigiado, seu orçamento degradado (tomado em termos proporcionais), seus funcionários desmotivados. Embaixadas estão ameaçadas de despejo e as dívidas do Brasil com organismos internacionais vêm fazendo com que o país chegue ao ponto de perder direito a voto. A tanto chegamos. 

2. A perspectiva de impeachment da Presidente Dilma Rousseff abre a possibilidade para que se façam as necessárias e urgentes correções de rumo. Dada a natureza da transição, não haverá tempo para improvisos e tentativas de acerto. Para tanto, será necessária uma liderança corajosa e com clareza de propósito à frente do Itamaraty. Uma liderança dotada de uma visão mais pragmática, moderna, liberal e democrática sobre posição do Brasil no mundo. Em sua gestão, o ex-Ministro Celso Amorim executou verdadeiro expurgo entre seus pares e promoveu a posições de chefia uma nova geração de diplomatas leais à sua liderança. 
      
3. Nesse período, deixaram o Itamaraty os Embaixadores Rubens Barbosa e Sérgio Amaral, dois nomes que contam com o respeito dos colegas. E, nesse período, surgiram, sob a égide da dupla Celso Amorim-Samuel Pinheiro Guimarães, secundados pelo prof. Marco Aurélio Garcia, a nova geração de chefes da Casa, devidamente alinhados com a ideologia do partido de turno: Antonio Patriota (Nova York), Guilherme Patriota (Genebra), Mauro Vieira (Ministro de Estado), Rui Pereira (Venezuela), Antonio Simões (Madri), José Antonio Marcondes de Carvalho (Subsecretário de Meio Ambiente e Energia), Paulo de Oliveira Campos (Paris) e Everton Vargas (Buenos Aires), entre outros.
       
4. Essa política reflete-se na dificuldade, hoje, de se identificar, na Casa, diplomatas independentes, com “signority” e que tenham tido a oportunidade de exercer funções de relevo que lhes confiram as credenciais necessárias a ocupar o cargo de Ministro. Uma rara exceção é o atual Embaixador na OMC, Marcos Galvão. Talvez, no atual momento, uma liderança de fora, com perfil elevado e peso político próprio, poderia melhor atender as necessidades políticas e institucionais da política externa brasileira. Essa liderança, além de projetar nossos interesses com maior efetividade, poderia devolver prestígio ao Itamaraty, preservando-o como instituição. O Itamaraty é uma das burocracias do Estado brasileiro mais preparadas para o desempenho de suas funções. Seu alto grau de profissionalização é um patrimônio que deve ser preservado e valorizado.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Politica externa: artigo de Cesar Maia, nota de Defesa.net

Defesa.net, 19 de Janeiro, 2015 - 14:53 ( Brasília )

Geopolítica

ITAMARATY - Crise Externa pior que a Econômica

A Crise da Política Externa do Brasil é muito mais grave que a econômica


Cesar Maia

Listando todos os problemas econômicos, sejam eles fiscais, financeiros, cambiais, recessão..., todos eles somados não chegam perto da crise das relações externas brasileiras, percebida internacionalmente.
   
Na gestão Lula, a política interna foi entregue aos moderados do PT e a externa aos "revolucionários", através de Marco Aurélio Garcia. Irmandade com os bolivarianos, aproximação com o Irã, com a Líbia, com o Hamas...
   
Havia uma expectativa que com Dilma a política externa fosse suavizada. Ao contrário: foi radicalizada. Ruptura branca com os EUA por causa das invasões de sistemas eletrônicos. Isso ocorreu com todos, Reino Unido, Alemanha... Mas só o Brasil "rompeu" através da ausência simbólica de Dilma em contatos com os EUA. O Brasil de Dilma liderou a invasão dos chanceleres ao Paraguai, respaldando um golpe militar bolivariano, que não veio.
   
Em discurso na ONU, Dilma "compreendeu" o extremismo árabe. Agora suspende a ida em Davos pela posse de Evo Morales. Ora, o avião presidencial poderia levar umas 4 horas entre ir a La Paz participar da posse e levantar voo para a Suíça. Ou vice-versa. O evento dura uns 10 dias.
   
O Brasil perdeu credibilidade em todos os organismos internacionais, com exceção do bolivariano - hoje - UNASUR. A Venezuela implode e o Brasil de Dilma é solidário irrestritamente com Maduro. A Argentina se desorganiza e Dilma lidera o apoio ao caos kircherista. E assim por diante.  Submete-se a uma política externa grupal bolivariana como no caso agora com a China.
   
E Dilma reitera que é essa a sua política externa e que a aprofundará. Troca de ministros para ganhar tempo e nada vai mudar. Uma situação de extrema gravidade que não se resolve com a nomeação de um ministro de confiança do mercado como na economia. Parceiros externos geram compromissos de médio e longo prazos. A crise da política externa brasileira não tem e não terá solução neste governo.
   
Resistência e torcida para não se agravar ainda mais.

Nota DefesaNet
O mais correto é afirmar que o Brasil abdicou de uma Política Externa Soberana. Suas ações e limites foram ditados do exterior. O articulista contorna a principal qiuestão, que o "Itamaraty do B" conduzido por Marco Aurélio Garcia, somente cumpriu ordens, que vinham do exterior e eram referendadas por Lula e Dilma Rousseff.
Mais a ridicula a posição de "adolescência tardia" do Governo Rousseff com críticas e ações  de pura birra juvenil ao Governo Americano.
Hoje o Brasil sofre um cerco que tende a estrangular o nosso domínio e liderança na América Latina por um novo aliado incondicional do Palácio do Planalto: a China



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Eleicoes 2014: Cesar Maia sobre as pesquisas de intencoes de votos

Uma boa análise do ex-futuro candidato ao Senado pelo Rio, infeliz com o TRE, mas muito realista e percuciente na análise dos dados de pesquisas.
Paulo Roberto de Almeida

PESQUISA PRESIDENCIAL: DILMA DERRETE, MAS INTENÇÃO DE VOTO AINDA NÃO MUDA
Cesar Maia, 21/07/2014
           
1. Curiosa situação das pesquisas presidenciais, das quais o último Datafolha é um exemplo. A intenção de voto para presidente da república, no primeiro turno, está basicamente estática há uns 3 meses, com Dilma um pouco acima dos 30%, Aécio nos 20%, Campos nos 10% e os demais somados um pouco abaixo dos 10%. Mas a intenção de voto  no segundo turno é diferente e aproxima tanto Aécio quanto Campos de Dilma. Por quê?
               
2. A avaliação de Dilma segue uma curva sistematicamente declinante, degrau a degrau. Neste momento, em nível nacional, aqueles que marcam para Dilma –ótimo+bom- se igualam àqueles que marcam ruim+péssimo, no entorno dos 30%. É assim no resultado nacional global.
               
3. Mas quando se entra nas avaliações regionais e estaduais, excluindo quase que apenas o Nordeste e ainda e alguma coisa o Norte, a avaliação de Dilma despenca verticalmente. Em alguns casos –como no Rio de Janeiro- Dilma mantém sua intenção de voto no primeiro turno, mas sua avaliação despenca e se torna negativa.
               
4. Em S. Paulo há algum paralelismo entre intenção de voto e avaliação. A intenção de voto equilibra Dilma e Aécio em torno de 25%, mas a avaliação de Dilma a lança num precipício de impossível reversão.
               
5. Como se interpretar este quadro: estável no primeiro turno, com empate ou quase no segundo turno e queda sustentável na avaliação? A resposta é simples. A rejeição a Dilma indica que nas pesquisas de segundo turno –com apenas dois nomes- a rejeição a ela caminha em direção a qualquer nome que a enfrente num segundo turno. É como se o segundo turno fosse –a favor x contra- Dilma.
               
6. A intenção de voto estável no primeiro turno nos informa que as candidaturas de oposição ainda não transformaram o NÃO a Dilma, num SIM enfático a cada uma dessas outras duas candidaturas. Quando, ao lado da rejeição a Dilma, surgir a identificação de seu opositor –hoje Aécio- como a alternativa, a rejeição a Dilma e a intenção de voto produzirão tal sinergia que as extrapolações poderão apontar até uma inversão do resultado no primeiro turno.
               
7. Essa é a tendência. Mas vêm os programas eleitorais, a ficção política na TV e o populismo eletrônico. Ao lado disso, o abuso da máquina pública e da publicidade das estatais. Estas podem continuar durante o processo eleitoral sob alegação que estão em mercado, competindo. Mas não é o conteúdo que importa e sim a distribuição de recursos na busca da “boa vontade” de uma parte da mídia espontânea. O que prevalecerá? Hoje tudo leva a crer que a ‘tendência’ terá mais força que a máquina e a TV eleitoral.

(Cesar Maia)