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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Militar brasileiro no Comando Sul dos EUA - RFI

Indicação de brasileiro às Forças Armadas dos EUA não implica em intervenção do Brasil na Venezuela, diz especialista

mediaO general Alcides Valeriano de Faria Junior foi indicado para ocupar o cargo de subcomandante de interoperabilidade das Forças Armadas dos Estados Unidos. Captura de vídeo
A indicação de um militar brasileiro para o Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos (Southcom) gerou uma enxurrada de especulações sobre uma possível participação do Brasil em uma intervenção militar na Venezuela. Entrevistado pela RFI, o professor Vinicius Mariano de Carvalho, do Departamento de Estudos sobre Guerra do King’s College, em Londres, descartou a hipótese: “De uma perspectiva de diplomacia de defesa brasileira, não há nenhuma intenção ou interesse que haja uma intervenção militar na Venezuela”, afirma. 

Pela primeira vez, o Brasil terá um oficial no Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos. O general de Brigada Alcides Valeriano de Faria Junior teve seu nome confirmado há poucos dias para ocupar o cargo de subcomandante de interoperabilidade do Southcom. 
A informação teve forte repercussão no Brasil. Há especulações que, com a nomeação do general brasileiro, os Estados Unidos estariam contando com a ajuda do Brasil para uma intervenção militar na Venezuela. 
Ajuda humanitária ou pretexto para intervenção?
Desde o início deste mês, toneladas de ajuda humanitária enviadas pelos Estados Unidos estão bloqueadas na fronteira da Colômbia com a Venezuela. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, proibiu que os carregamentos de alimentos e remédios entrem no país, alegando que o envio do material é um pretexto para a ingerência dos Estados Unidos. 
Carvalho reconhece o interesse americano no fim do regime chavista, mas descarta uma colaboração do Brasil em uma operação militar. “É claro que esse apoio humanitário que tem sido mandado pelos Estados Unidos à Venezuela está vindo com um rótulo de mudança de regime. Mas embora o Brasil venha se manifestando contra Maduro desde a presidência anterior, também se mostra contrário a qualquer tipo de intervenção militar nesse nível”, diz.
Ao contrário das especulações, um brasileiro no Southcom poderia, segundo o especialista, evitar um conflito na região. “Podemos pensar que a presença brasileira no Comando Sul seja de certa forma até um contrabalanço desta percepção ou sonho de uma intervenção militar na Venezuela”, avalia. 
Segundo ele, ter um brasileiro dentro deste comando não fere a soberania militar nacional e pode ser algo positivo para o Brasil. “Ao contrário, esse representante dentro do Southcom é alguém que pode defender o interesse nacional em relação à segurança e à estratégia nacional de defesa em um ambiente diplomático externo.”
Primeiro brasileiro no Southcom
O anúncio da nomeação de um militar brasileiro foi realizado pelo almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos, durante uma audiência na Comissão das Forças Armadas do Senado americano, em 7 de fevereiro. Já a decisão pela indicação do general Alcides Valeriano de Faria Junior teria acontecido após uma visita de Faller ao Ministério da Defesa ao Brasil, em 11 de fevereiro. 
O Ministério da Defesa do Brasil nega, no entanto, que a visita de Faller tenha relação direta com a nomeação do general brasileiro ao Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos. Em nota, o governo brasileiro afirmou que o objetivo da visita do oficial foi “promover a cooperação no âmbito da defesa entre o Brasil e os Estados Unidos, além de fortalecer os laços de amizade entre as duas nações”. 
Em Brasília, o almirante americano se reuniu com o comandante da Marinha do Brasil, Ilques Barbosa Júnior, que a apresentou as operações desenvolvidas pelas forças brasileiras, no país e no exterior, além de projetos estratégicos, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub). Faller também se encontrou com o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Raul Botelho, segundo ele, para discutir “possíveis tratativas entre os dois países”.  
Para Carvalho, a nomeação de Faria Junior tem relação direta com a aproximação do governo Bolsonaro com a administração americana. “O governo que assumiu o Brasil em 2019 declarou-se claramente mais favorável a uma política externa alinhada com os Estados Unidos. Consequentemente, uma série de linhas de relações exteriores vão se estabelecer neste sentido. Portanto, é um momento favorável ou oportuno para que essas relações de diplomacia e de defesa também se reforcem.”
Como atua o Southcom
Ligado ao Departamento de Defesa americano, o Comando Sul dos Estados Unidos ou Southcom é uma das dez unidades de combate do país e integra tropas do Exército, Força Aérea, da Marinha e guarda costeira dos Estados Unidos. O órgão é responsável pelo planejamento de contingência e por operações de cooperação no setor de segurança para as Américas do Sul, Central e Caribe. 
O especialista do King’s College não se surpreende com indicação de um brasileiro para integrar o Comando Sul dos Estados Unidos e considera que a decisão não passou de “um procedimento”. De acordo com Carvalho, o Southcom conta com a presença de outros militares de vários países sul-americanos.
“Faz parte de instrumentos de diplomacia de defesa esse convite para que militares de outros países participem até mesmo de tomadas de decisão entre nações amigas. Eu, pessoalmente, não sou pessimista sobre a nomeação do general brasileiro”, conclui.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Celso Amorim condena general brasileiro no Comando Sul dos EUA

Celso Amorim: participação do Brasil no Comando Sul com EUA é uma arapuca

Ex-chanceler considera grave o país estar ao lado dos EUA diante de nações que eles têm como “inimigos”. Objetivo do Comando Sul é assegurar a hegemonia americana sobre a América Latina e o Caribe

São Paulo – A decisão brasileira de indicar um general para assumir um posto no Comando Sul (SouthCom) das Forças Armadas norte-americanas, no fim do ano, “é uma coisa espantosa”, na opinião do ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim. A informação foi revelada no dia 7 pelo almirante Craig Faller, responsável pela divisão incumbida da segurança dos Estados Unidos na América Central, Caribe e a América do Sul, mas foi divulgada no Brasil apenas esta semana. Para Amorim, o Brasil entra numa arapuca.
“Mesmo na intervenção da República Dominicana (1965), que é algo muito criticável, feita durante o governo militar, o general brasileiro tinha autonomia dentro da ação dele, pelo menos teoricamente. Nesse caso, não. Ele está integrado dentro do Comando Sul, dedicado a cuidar dos interesses norte-americanos no hemisfério. Ou seja, o brasileiro está dentro de uma cadeia de comando estrangeira. É uma coisa para mim espantosa”, diz o ex-ministro brasileiro.
O objetivo do Comando Sul, explica, é assegurar, não a estabilidade, como dizem os norte-americanos, mas a hegemonia deles sobre a América Latina e Caribe.
Amorim considera grave o fato de que a aceitação da participação brasileira no Comando Sul implica estar ao lado dos Estados Unidos diante de nações que eles consideram “inimigos”, mas que são parceiros importantes do Brasil.
Em documento encaminhado pelo almirante Faller ao Congresso dos Estados Unidos, ele aponta como ameaças aos interesses estadunidenses na região Rússia, China, Irã, Venezuela, Cuba e Nicarágua. Segundo o documento, Colômbia, Brasil e Chile são “parceiros”.
“É um grande erro, porque, se olharmos o conjunto da declaração do almirante Faller no Congresso, ele próprio define o quadro geopolítico: é para defender os interesses da América do Sul dos inimigos, que não são inimigos nossos. Podem ser inimigos deles, mas não deveriam ser, deveriam ser competidores. Mas eles veem como inimigos”, observa Celso Amorim.
O almirante Faller disse aos senadores de seu país: “Queremos inimigos que nos temam e amigos que façam parceria conosco”. A questão é que, ao entrar no Comando Sul, o próprio Brasil está ignorando importantes parceiros.
“A Rússia, mas a China principalmente. Lembro das gestões importantes que fizemos, por exemplo, para a venda de carnes para a Rússia, e conseguimos abrir um mercado grande, importante. E a China nem se fala”, observa Amorim. O gigante oriental é hoje o maior parceiro comercial do Brasil.
“Estamos nos metendo numa arapuca. É preciso seguir a velha sabedoria mineira. Como dizia Magalhães Pinto, ‘em briga da Jacu, Inhambu não entra'”, pontua. “A estratégia não é a nossa. Tudo isso se baseia numa visão de defesa do hemisfério, em que você tem uma superpotência e tem um quintal. E quando se está no quintal e é promovido a chegar perto da cozinha, parece que é uma grande coisa, mas não é”, diz o ex-chanceler.

Livro Branco

Amorim aponta que o Brasil fazer parte da estratégia militar dos Estados Unidos contraria a Estratégia Nacional de Defesa brasileira e os princípios inscritos no Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN).
Segundo texto no site do Ministério da Defesa brasileiro, o Livro Branco, “para fora do país, tem o objetivo de compartilhar as motivações e finalidades do instrumento militar junto à comunidade internacional para, assim, constituir mecanismo de construção de confiança mútua entre o Brasil e as nações amigas, especialmente as vizinhas”. O texto explica ainda que o Livro Branco contribui “também para fortalecer a cooperação entre os países da América do Sul”.
Amorim lembra que a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco são documentos enviados pelo Executivo e aprovados pelo Congresso Nacional.
A Câmara dos Deputados aprovou em setembro de 2013 os textos da Política Nacional de Defesa (PND), da Estratégia Nacional de Defesa (END) e do Livro Branco, que haviam sido encaminhados ao Legislativo no ano anterior. As ideias inseridas nos documentos já existiam anteriormente, mas foram redefinidas no período de Amorim no Executivo.
“Pode não ser a intenção, mas as Forças Armadas brasileiras estarão sob a égide norte-americana, dentro de uma visão de segurança hemisférica, que é uma herança da Guerra Fria, algo que não tinha mais que existir”, diz Amorim, ministro da Defesa de agosto de 2011 a dezembro de 2014. “O mundo que o Brasil quer é multipolar, plural, está implícito e explícito na da Estratégia Nacional de Defesa e no Livro Branco, que construímos junto com os chefes militares brasileiros.”

FONTE: Rede Brasil Atual