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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Roberto Campos: livro de Ernesto Lozardo (Topbooks)

JÁ DISPONÍVEL PELO SITE WWW.TOPBOOKS.COM.BR
EM BREVE, NAS LIVRARIAS
ROBERTO CAMPOS foi um dos mais brilhantes e cultos brasileiros do século XX. Mostrou-se incansável na busca de soluções para transformar o Brasil em uma economia capitalista democrática de mercado.
Campos não produziu uma obra acadêmica sobre economia, mas deixou um vasto conhecimento teórico relacionado às políticas de desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Este ensaio teve como objetivo organizar os fundamentos do pensamento econômico de Roberto Campos no período mais profícuo da sua atuação como ministro do Planejamento. Ele foi intelectualmente mais sofisticado e culto que os proponentes cepalinos do processo de industrialização nacional.
No seu entender, a industrialização era necessária porém não suficiente para promover a prosperidade econômica. Ela seria exitosa se concebida para competir globalmente. Segundo sua visão, a completude do desenvolvimento equilibrado ocorreria por meio de um conjunto de políticas e medidas institucionais articuladas ao processo de financiamento da expansão tanto da indústria como dos demais setores (o agrícola e os serviços vinculados à industrialização). O financiamento dar-se-ia pelo mercado de capitais, jamais com recursos do Tesouro Nacional, como fez o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Campos manteve no seu ideário as prerrogativas básicas do desenvolvimento socioeconômico, ressaltando as premissas do crescimento sustentável: a qualidade do capital humano e do capital físico, financiamento do crescimento não inflacionário, capitalismo de mercado democrático e eliminação das desigualdades sociais – todos esses propósitos atrelados à segurança da prosperidade. Nesse sentido, ele foi voz única.
Este estudo concentra-se no período mais fértil das realizações de Roberto Campos (1964-66), que possibilitou a exuberância do crescimento acelerado entre 1967 e 1973: feito que nunca mais se repetiu. No capítulo sobre as memórias dos amigos de Roberto Campos, o ex-presidente da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, enfatiza que, no período em que foram senadores da República, debateram e divergiram muito. Embora se encontrassem em lados opostos ideologicamente, FHC afirma: “Eram outros tempos, mas Campos estava certo”. O ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, considerava-o um dos homens mais notáveis que conheceu. O livro traz, ainda, depoimentos de Delfim Netto, João Carlos Martins e Ernane Galvêas, que rememoram seu convívio com o biografado.
Até o fim da vida, Campos se opôs ao autoritarismo dos militares da “linha dura” e ao atraso das políticas xenófobas de desenvolvimento. Sempre manteve a coerência intelectual e o inquebrantável desejo de semear as bases da liberdade democrática e da eficiência da economia de livre mercado. Sua formulação de política de desenvolvimento para o Brasil permanece intacta. Seus ensinamentos são atuais e sua crença no Brasil é inspiradora.

O AUTOR
ERNESTO LOZARDO é administrador e economista, com mestrado em economia pela Columbia University (EUA). Formou-se em administração de empresas na New York University, onde obteve o Bachelor of Science, com honra, e o Master of Business Administration; e, por seu desempenho acadêmico, o prêmio de honra da Honor Society of Alpha Kappa (EUA). Professor de economia na EAESP-FGV desde 1977, dirigiu empresas públicas e privadas. Membro de conselhos de administração e fiscal de empresas, secretário estadual de Planejamento do Estado de São Paulo, foi presidente da Prodesp e preside o IPEA. Autor dos seguintes livros: Globalização: a certeza imprevisível das nações; Derivativos no Brasil: fundamentos e práticas; Déficit Público Brasileiro: política econômica e ajuste estrutural.
OPINIÕES
Roberto Campos foi um dos mais controversos e brilhantes economistas brasileiros. Suas ideias podem ser criticadas ou endossadas, mas jamais ignoradas. A nova biografia de Campos por Ernesto Lozardo traz à tona, de forma pungente, sua rica personalidade como teórico e como formulador de políticas.
Mauro Boianovsky / UnB
A profundidade da pesquisa permite compreender toda a genialidade de Roberto Campos: visão neoliberal do desenvolvimento em contraste com o “estruturalismo” cepalino que dominou a política econômica na América Latina durante muitos anos. Mais do que uma sofisticada biografia, este livro é, na verdade, estudo inédito sobre as transformações econômicas do Brasil no período crítico de 1964-1973. Ele estava, sim, à frente de seu tempo.
Carlos Geraldo Langoni / FGV
Roberto Campos perseguia sempre o rigor intelectual naquilo que fazia, inclusive na vida com a política pública, algo raro ainda hoje. Este belo e oportuno livro joga luz na obra do admirável brasileiro. É leitura obrigatória para os interessados em entender a política do desenvolvimento econômico no Brasil, e para todos aqueles comprometidos com a busca por melhores dias para nosso país.
Jorge Arbache / UnB
Roberto Campos foi um dos mais destacados brasileiros do século XX. Verdadeiro ídolo dos que, como nós, são amantes da liberdade de escolha, foi duramente combatido pelos inimigos do capitalismo. Como economista, diplomata, político e escritor, deixou extraordinárias contribuições a serem seguidas pelas futuras gerações. O livro de Ernesto Lozardo contribui para manter viva a memória desse excepcional brasileiro, o que é mais relevante ainda num país que não costuma dar importância à sua história e aos seus heróis.
Roberto Castello Branco / FGV

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Censura na ditadura e na democracia: Paul Samuelson a Ernesto Lozardo - Elio Gaspari


Paul.Samuelson@edu para Lozardo@gov
Gudin e Campos fingiam discutir meu livro, mas o que eles queriam era bajular o governo, tire o Ipea dessa

Elio Gaspari, colunista do Globo, 23/10/2016

Prezado professor Ernesto Lozardo, ilustre presidente Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea
O senhor me conhece, estudou no meu clássico “Introdução à analise econômica” e viu quando ganhei o Prêmio Nobel. Escrevo-lhe para compartilhar um episódio de 1973 que invadiu minha memória quando li a censura pública que o senhor impôs a dois pesquisadores do Ipea que criticaram os efeitos de uma medida proposta pelo governo que lhe nomeou.
À época, não dei maior importância ao que me aconteceu. Hoje, vejo o papelão em que me meteram. No segundo semestre de 1973 a editora Agir, que publicava meus livros no Brasil, estava traduzindo a nona edição do “Economics”. A certa altura, discutindo o fascismo, mencionei o regime militar brasileiro e seu crescimento de 10% ao ano. Lembrei que todos os regimes semelhantes tinham ido à breca.
O diretor da editora escreveu-me dizendo que não publicaria aquilo. Dias depois, outra carta, desta vez do economista Eugênio Gudin, o grande liberal brasileiro. Passaram algumas semanas e veio a terceira, do economista Roberto Campos. Todos reclamavam do meu texto, da comparação e do tom.
Pareceu-me uma tempestade em copo d’água, pois a minha política era de permitir que os editores expurgassem trechos que pudessem criar problemas com as traduções, sobretudo nos países comunistas. Resultado: quem leu a edição americana aprendeu que o Brasil ia quebrar. Quem leu a tradução da Agir comprou Samuelson e levou Gudin-Campos.
Eu achava que as duas cartas poderiam ser reflexões de intelectuais, dirigidas a um professor. Coisa nenhuma, o que eles queriam era alavancar suas posições junto ao governo do general Ernesto Geisel, que tomaria posse meses depois. Queriam me operar, e operaram.
Digo isso porque toda a correspondência enviada a mim, bem como as minhas respostas a Gudin e Campos, foram parar nas mãos do general Golbery do Couto e Silva, conselheiro de Geisel. A minha decisão foi comemorada pelo dono da editora, o banqueiro Candido Guinle de Paula Machado. Num cartão que enviou a Golbery ele sugeriu: “Se puder, dê um telefonema ao Dr. Gudin, pois ele ficaria satisfeito.”
Encontrei o general Geisel num jantar na casa do compositor Richard Wagner (ele estava com o professor Mário Henrique Simonsen) e perguntei-lhe o que aconteceu. Geisel contou-me que Golbery aceitou a sugestão de Guinle e almoçou a sós com Gudin. Impressionou-me a malquerença do presidente com o patriarca do liberalismo econômico brasileiro. O melhor adjetivo que lhe dá é o de “patife”.
Os autores da Nota Técnica excomungada têm a minha solidariedade e saiba que não a li. Era desnecessário dizer que o texto não refletia a opinião do Ipea. Essa informação sempre está no cabeçalho desse tipo de trabalho. O senhor disse que “a posição institucional do Ipea é favorável à PEC 241”. A “posição institucional” de Gudin, Campos e Paula Machado era favorável ao regime. Direito deles, mas o que a trinca queria era outra coisa. Fiz-me entender?
Converse com o Pedro Malan. Ele foi um servidor do Ipea respeitado pela ditadura e ministro da Fazenda na democracia. É um homem correto e muito bem educado. Pode lhe ajudar.
Cordialmente,
Paul Samuelson.
Elio Gaspari é jornalista

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/paulsamuelsonedu-para-lozardogov-20311569#ixzz4O0JSeZpj