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domingo, 9 de dezembro de 2012

Refugiados do nazismo no Brasil - Fabio Koifman

Meus Fantasmas Colaboradores
POR FÁBIO KOIFMAN
Historiador Fabio Koifman - professor de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) - fala sobre sua pesquisa a respeito dos perseguidos do nazismo que imigraram para o Brasil e as coincidências que encontrou longo de suas investigações.
Entre 1997 e 2000 investiguei a história do diplomata Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954), em especial, o empenho dele em ajudar os perseguidos do nazismo quando serviu em Vichy, como embaixador do Brasil na França ocupada.
Uma vez levantadas nos arquivos públicos todas as informações relativas à biografia do diplomata, faltava o essencial: uma lista das pessoas que haviam sido salvas. Gente que corria perigo sob o regime nazista, como judeus, comunistas, homossexuais... Quais seriam os seus nomes? Como atribuir ajuda humanitária sem indicar a quem essa ajuda se destinou?
Carteira de identificação de Adele Ots, a sra. Kowarzki, que recebeu visto do embaixador Souza Dantas
O jeito foi estudar todas as listas de passageiros dos navios vindos dos portos europeus no período de junho de 1940 a fevereiro de 1942. A partir dessa fonte, elaborei uma lista com milhares de nomes e passei a pesquisar um por um de modo a identificar o responsável pela concessão do visto para o Brasil.
A lista de portadores de vistos emitidos irregularmente pelo embaixador chegou a 500 nomes. A partir daí busquei localizar os que ainda estavam vivos e entrevistá-los. Meu intuito era instrumentalizar o processo que acabou sendo formado no Museu do Holocausto em Jerusalém com depoimentos dos beneficiados visando o reconhecimento do diplomata como um dos "Justos entre as Nações".
Esses depoimentos, somados a algumas centenas de documentos que remeti junto com o livro que escrevi ("Quixote nas Trevas", Record), contribuíram para que Souza Dantas fosse reconhecido nessa categoria junto àquela instituição em 2003.
Além do suor e da metodologia, outro fator contribuiu para a pesquisa: a ação do que eu chamava de "fantasmas". Para amigos céticos, eram "coincidências". Com a sucessão das "coincidências", passei a brincar dizendo que os fantasmas estavam me ajudando.
Considerando o complexo montar de quebra-cabeças que a pesquisa se constituiu, a localização de pessoas, dados e documentos em um universo tão amplo de possibilidades muitas vezes parecia ação do sobrenatural. Até que um dia descobri a provável identidade dos meus fantasmas.
Homônimos se constituíram em uma das maiores dificuldades para a identificação dos estrangeiros salvos pelo embaixador. Um exemplo foi o nome Lazar Kowarzki. Entre a Primeira e a Segunda Guerra, quatro estrangeiros entraram no Brasil com esse mesmo nome.
Na esperança de entrevistar o próprio ou os filhos, telefonei para duas cidades brasileiras. Nada. Descobri uma viúva brasileira de um dos Lazar Kowarzki vivendo em Miami. Ao telefone, informou também que se tratava de homônimo. Restou um quarto e último, cuja documentação, naquele momento, o Arquivo Nacional não estava disponibilizando.
Ainda assim solicitei o processo que, por milagre, "desceu". Na época, eu vivia em um antigo prédio no Flamengo construído no início dos anos 1940, em um apartamento no qual meus avós viveram por mais de 30 anos.
O prédio possui 68 unidades e a minha era a de número 403. Conferindo os dados do processo de Lazar Kowarzki confirmei o visto concedido pelo embaixador e fui surpreendido pelo fato de Lazar ter chegado ao Brasil acompanhado da esposa e dos pais idosos.
Os quatro vieram com vistos irregulares emitidos por Souza Dantas. Fui verificar o endereço residencial que constava no processo. Para minha surpresa, o endereço era exatamente o meu, com uma diferença apenas: viviam no apartamento 503, a unidade exatamente acima da minha.
Em 1998, localizei a filha do casal Kowarzki e por ela soube que todos já haviam falecido. Ao telefone, disse que eu então habitava o 403. Alguns segundos de silêncio se seguiram. A senhora então disse um pouco assustada: "mas ali vivia dona Rebecca". Esclareci que essa era exatamente a minha avó.
Os Kowarzki viveram dos anos 1940 até os anos 1960 ali e depois se mudaram. A filha passara a infância no prédio.
Anos depois, fui morar em outro apartamento no mesmo bairro. Lendo a escritura, descobri o nome dos primeiros proprietários do imóvel: Zalamans e Frieda Snejers. Ambos já falecidos e antigos portadores de vistos do Souza Dantas.
Deixei os meus quatro fantasmas no antigo apartamento e encontrei outros dois novos para companhia.
Outras tantas "coincidências" ocorreram e seguem ocorrendo. Sorte deste rato de arquivo que enfrenta muitos quilômetros lineares de papel para tentar contribuir com a compreensão de outros tempos neste país. Para tal empreitada, não dispensa a ajuda sempre bem-vinda dos seus fantasmas colaboradores.
O texto foi gentilmente cedido ao Café História pela Folha de S.Paulo e pelo autor, Fabio Koifman.

domingo, 23 de setembro de 2012

Fabio Koifman e a politica da imigracao no Brasil - Livro

O mesmo historiador que escreveu Dom Quixote nas Trevas, sobre o papel do Embaixador Souza Dantas no salvamento de judeus perseguidos pelo nazismo na França, comparece agora com outro livro sobre o mesmo período, mas enfocando o regime restritivo de concessão de vistos para candidatos à imigração no Brasil.
Estou esperando para ler
Paulo Roberto de Almeida

Imigrante ideal: O Ministério da Justiça e a entrada de estrangeiros no Brasil (1941-1945)
Autor:Fábio Koifman
ISBN:8520010261
Gênero:Ciências Sociais
Páginas:446
Formato:16 x 23 cm
Editora:Civilização Brasileira
Preço:R$ 49,90


Até a década de 1930, a imigração era considerada indispensável ao Brasil, para suprir a carência de mão de obra e ajudar no processo de povoamento do território de dimensão continental. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial a política migratória mudaria, seguindo a tendência que vinha dos Estados Unidos de tentar restringir a entrada de estrangeiros, principalmente de idosos e deficientes, sob a argumentação de que era fundamental promover a “eugenia de nossa gente a saúde do nosso povo”. O governo assumiu uma política nacionalista de controle, que resultou num sistema autoritário repleto de preconceitos étnicos, religiosos e culturais, permitindo que parte de seus altos funcionários se tornassem verdadeiros “porteiros do país”.
Koifmann, nesta obra amplamente documentada e de pesquisa exemplar, traz a público o que se passou no Brasil da ditadura de Vargas, revelando detalhes a respeito da natureza sombria do Estado Novo.