O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Fidel Castro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fidel Castro. Mostrar todas as postagens

domingo, 28 de julho de 2013

Cada qual com seu mestre: tomando as ordens para a proxima fase...

Pelo menos quando não se pode fazer de outro jeito, e a dependência (em alguns casos a chantagem) pode ser um indutor poderoso...

Maduro se reunió con Fidel Castro en Cuba
Cuba – EFE – 28/07/13. El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, se reunió en La Habana con el líder cubano Fidel Castro, y conversaron sobre el fallecido Hugo Chávez, a quien el exmandatario también recuerda en una carta sobre el 60 aniversario del inicio de la revolución que publican hoy medios oficiales.
==============

'Eu e Lula somos indissociáveis', diz Dilma a jornal

Presidente Dilma Rousseff

Presidente afirma que seu antecessor "não vai voltar porque não saiu" da vida pública


Presidente Dilma Rousseff (Ueslei Marcelino/Reuters)
A presidente Dilma Rousseff disse que seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva "não vai voltar porque não saiu" da vida pública e que os dois são "indissociáveis". "Esse tipo de coisa não gruda, não cola. Falar em 'Volta, Lula' e tal... eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi", afirmou, em entrevista publicada neste domingo no jornal Folha de S.Paulo. Dilma assegurou que tentativas de usar o ex-presidente como crítica a seu estilo não a incomodam "nem um pouquinho". Desde que pesquisas começaram a registrar queda de popularidade do governo, após as manifestações de rua de junho, ressurgiram no PT defensores de que Lula volte a disputar a Presidência.
Questionada sobre o resultado dos últimos levantamentos de intenção de voto e avaliações do governo, a presidente desconversou e disse saber "perfeitamente que tudo o que sobe, desce, e tudo o que desce, sobe". A presidente negou que esteja pensando em cortar o número de ministérios, medida defendida por aliados de peso, como o PMDB. Dilma garantiu ainda a permanência do ministro Guido Mantega na Fazenda.
Com um forte discurso de defesa da política econômica do governo, a presidente afirmou que sua equipe tomou todas as medidas para a "redução de custeio" e, ao falar de inflação, criticou o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso: "Cumpriremos a meta de inflação pelo décimo ano consecutivo. Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta? Em três dos quatro anos dele (em que a meta vigorou)".
Para Dilma, a inflação está "cadente" e o desemprego, sob controle. A presidente disse ainda que é "tolice meridiana falar que o País não cresce puxado pelo consumo", mas concordou que é preciso investir mais. Um ministro próximo à presidente disse que a entrevista deixou um recado: "Ela (Dilma) quer dizer que os cabeças ocas que falam 'Volta, Lula' vão ficar falando sozinhos".
Para o ex-governador de São Paulo e vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, Dilma está certa ao dizer que é "indissociável" de Lula, pois ela seria uma "criatura" do ex-presidente, "sem vida própria". Goldman também critica o fato de a presidente afirmar que a inflação está sob controle: "Essa é uma atitude de quem desconhece a realidade e tenta fugir do momento difícil pelo qual o País passa".
(Com Estadão)

domingo, 14 de abril de 2013

Um cacete bem dado no ex-ministro da (in)Justica... (so' imaginando, claro...)

Seria interessante o cenário final, em que um dos passantes sairia com um olho bem roxo, merecido, por criminoso e amigo de ditaduras.
Paulo Roberto de Almeida

Na madrugada deste domingo, o pugilista deportado por Tarso Genro nocauteou a ditadura cubana e seus sabujos brasileirosAugusto Nunes,
Direto ao Ponto, 14/04/2013

O que se viu num ringue em Nova York, na madrugada deste domingo, foi muito mais que um grande combate pela unificação do título mundial da categoria supergalos. Quem assistiu à luta no Radio City Music Hall em que o cubano Guillermo Rigondeaux derrotou o filipino Nonito Donaire testemunhou, sobretudo, o triunfo de um homem livre sobre a ditadura dos irmãos Castro e seus sabujos em ação no Brasil. Ao fim de 12 assaltos, Donaire perdeu por pontos. Tarso Genro e o governo Lula foram nocauteados mais uma vez

Em agosto de 2007, depois de fugirem do alojamento dos atletas cubanos que participavam dos Jogos Panamericanos do Rio, Rigondeaux e o também pugilista Erislandy Lara tentavam alcançar a Alemanha e a liberdade quando descobriram que o ministro da Justiça do Brasil era um capitão-do-mato a serviço de Fidel Castro. Capturados pela Polícia Federal, ambos foram devolvidos à ilha-presídio a bordo de um avião militar venezuelano.

“Eles quiseram voltar”, mentiu Tarso Genro. A falácia abençoada pelo presidente Lula foi implodida em janeiro de 2009 pela segunda e bem sucedida fuga das duas vítimas da política externa da canalhice. “Enquanto ficamos na polícia, fomos proibidos de conversar com jornalistas ou advogados”, disse Erislandy Lara ao finalmente desembarcar na Alemanha. Até a chegada do avião emprestado por Hugo Chávez, os carcereiros procuraram alquebrar moralmente os cativos com informações aflitivas e promessas falsas.

Souberam, por exemplo, que Fidel Castro os havia rebaixado a “traidores da pátria”, que alguns parentes já tinham sido demitidos e que seus amigos estavam sitiados por ameaças de morte. Mas o ditador colérico agiria com magnanimidade, e revogaria todos os castigos, caso voltassem para Cuba em silêncio, ressalvaram os mensageiros de Tarso Genro. Outra cilada: já no aeroporto de Havana foram informados de que nunca mais voltariam a lutar.

Três anos depois da deportação dos cubanos insatisfeitos com a democracia proclamada por Fidel em 1959, o ministro da Justiça impediu que o terrorista em recesso Cesare Battisti fosse extraditado para a Itália e ali cumprisse a pena de prisão perpétua aplicada ao matador de quatro “inimigos do proletariado”. Para livrá-lo da ditadura italiana que só bandidos ou vigaristas enxergam, Tarso promoveu o amigo comunista a  “asilado político” e concedeu-lhe a cidadania brasileira.

Hoje com 32 anos, Rigondeaux só não onseguiu ganhar mais cedo o título que o eternizará na história do boxe porque foi vencido em 2007 pelo supergalo gaúcho que ganhou uma vaga na história universal da infâmia. Tarso gosta de passear em Nova York, lembrei na madrugada deste domingo. E, enquanto erguia um brinde ao vitorioso, não resisti à tentação de imaginá-lo cruzando com Rigondeaux em alguma esquina de Manhattan.

Se isso acontecer, pensei, tomara que o campeão reconheça o homem que o derrotou num duelo repulsivamente desigual. E decida que a hora da revanche chegou.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Castro da terceira idade, e da quarta...

CUBA: PAÍS PARA VIEJOS
Foreign Policy en Español, 26 de octubre de 2011

La disiente cubana Yoani Sánchez habla de las ruinas del papá Estado, donde papá Fidel sólo es ahora el paciente en jefe.

AFP/Getty Images

Al final de su emisión del 31 de julio de 2006, el presentador de las noticias de la televisión cubana, visiblemente nervioso, anunció que habría un anuncio de Fidel Castro. Esto no era ni mucho menos inusual, y sin duda muchos cubanos apagaron la televisión esperando una más de las diatribas del comandante en jefe acusando a Estados Unidos de cometer alguna nueva maldad contra la isla. Pero aquellos de nosotros que seguimos el programa esa noche vimos, en su lugar, a un enrojecido Carlos Valenciaga, secretario personal de Fidel, aparecer ante las cámaras y leer, con voz temblorosa, un documento tan extraordinario como breve. En unas pocas frases cortas, el invencible guerrillero de antaño confesaba que estaba enfermo y repartía las responsabilidades de gobierno entre sus más cercanos colaboradores. En especial, su hermano Raúl quedaba al cargo de los deberes de Fidel como primer secretario del Comité Central del Partido Comunista, comandante en jefe de las Fuerzas Armadas Revolucionarias, y presidente del Consejo de Estado. La sucesión dinástica había comenzado.
Fue un milagro que las viejas centralitas telefónicas, con su anticuado equipamiento de la década de los 30, no se colapsaran esa noche cuando los cubanos corrieron a compartir la noticia en un código que no era secreto para nadie: "Estiró la pata", "El Caballo se ha ido", "El Uno está terminal". Yo cogí el auricular y llamé a mi madre, que nació en 1957, en vísperas de la revolución de Castro; ninguno de las dos había conocido a ningún otro presidente. "Ya no está aquí, mamá", dije, casi en un susurro. "Ya no está aquí". Al otro lado de la línea, ella comenzó a llorar.
Al principio lo que cambió fueron las pequeñas cosas. Las ventas de ron aumentaron. Las calles del centro de la Habana estaban extrañamente vacías. En ausencia del prolífico orador aficionado a interrumpir los programas de televisión para dirigirse a la audiencia, las amas de casa se sorprendían de ver cómo sus telenovelas brasileñas se emitían en los horarios previstos. Los actos públicos comenzaron a disminuir, entre ellos las llamadas manifestaciones “antiimperialismo” que se celebraban regularmente por todo el país para protestar contra el enemigo del norte. Pero el cambio fundamental se produjo en el interior de la gente, de las tres generaciones de cubanos que habían conocido sólo a un único primer ministro, un único primer secretario del Partido Comunista, un único comandante en jefe. Ante la repentina perspectiva de abandono por el papá Estado que Fidel había construido, los cubanos se enfrentaban a una especie de orfandad, aunque una orfandad que traía más esperanza que dolor.
Cinco años después, hemos entrado en una nueva fase en la relación con nuestro gobierno, una relación que es menos personal pero que todavía rinde un profundo culto al hombre que algunos llaman ahora el "paciente en jefe". Fidel continúa viviendo, y Raúl -cuyo poder, como todo el mundo sabe, proviene de sus genes más que de sus aptitudes políticas- ha gobernado desde que finalmente se produjera su toma de posesión en febrero de 2008 sin pasar siquiera por la formalidad de las urnas, suscitando una muestra de humor negro que se cuenta a menudo en las calles de la Habana: "Esta no es una dictadura sangrienta, sino una dictadura consanguínea". Pepito, el travieso muchacho que protagoniza todos nuestros chistes populares, llama a Raúl “Castro Versión 1.5” porque ya no es el número 2, pero todavía no le dejan ser el Uno. Cuando el comandante -ahora apenas una sombra de lo que fue- apareció en la sesión final del sexto congreso del Partido Comunista este abril, cogió el brazo de su hermano y lo elevó entre una clamorosa ovación. Este gesto pretendía consagrar el traspaso de poder, pero para muchos de nosotros los dos hombres parecían estar agarrándose de la mano para intentar darse apoyo mutuo, no como celebración de victoria.
Las tan comentadas reformas de Raúl siguieron a esta supuesta entrega del poder, pero en la realidad no se han tratado tanto de pasos hacia delante como de intentos de reparar las absurdidades legales del pasado. Una de ellas fue el levantamiento del apartheid turístico que impedía a los cubanos disfrutar de las instalaciones hosteleras de su propio país. Durante años, para conectarme a Internet, tenía que disfrazarme de extranjera y murmurar unas cuantas frases breves en inglés o alemán para poder comprar una tarjeta de acceso a la red en la recepción de algún hotel. La venta de ordenadores fue finalmente autorizada en marzo de 2008, aunque para entonces muchos cubanos más jóvenes habían montado sus propios ordenadores con piezas compradas en el mercado negro. La prohibición de que los ciudadanos tuvieran contratos de móvil también fue revocada, acabando con el triste espectáculo de ver a gente suplicando a los extranjeros que les ayudaran a establecer cuentas para teléfonos de prepago. Las restricciones sobre la agricultura se suavizaron, permitiendo a los campesinos arrendar terrenos del gobierno por periodos de 10 años. La liberalización sacó a la luz la triste realidad de que el régimen había permitido que gran parte de las tierras del país (el 70% de ellas estaban en manos del Estado) quedaran descuidadas e invadidas por las malas hierbas.
Aunque oficialmente siga siendo socialista, el Gobierno también ha fomentado la expansión del llamado "autoempleo", enmascarado por el eufemismo de "formas de producción no estatal". Es, en realidad, un sector privado que va emergiendo a trompicones. En menos de un año, el número de autoempleados creció de 148.000 a 330.000, y hay ahora un florecimiento de la producción textil, los puestos de comida, y la venta de CD y DVD. Pero los fuertes impuestos, la ausencia de mercado al por mayor y la incapacidad para importar materias primas independientemente del Estado actúan como un freno a la inventiva de estos emprendedores, al igual que la memoria: la última parte de los 90, en la que el regreso a la centralización y la nacionalización barrió las iniciativas privadas que habían surgido en la economía cubana tras la caída del Muro de Berlín, no está tan lejana.
Así que por ahora, los efectos de las tan publicitadas reformas son apenas perceptibles en nuestros platos y nuestros bolsillos. El país continúa importando el 80% de lo que consumimos, a un coste de más de 1.500 millones de dólares. En las tiendas en dólares, las latas de maíz dicen “Made in the USA”; el azúcar que se proporciona mediante las cartillas de racionamiento viaja desde Brasil; y en los hoteles para turistas de Varadero, una buena parte de la fruta viene de la República Dominicana, mientras que las flores y el café llegan desde Colombia. En 2010, 38.165 cubanos abandonaron la isla para no volver. Mis impacientes amigos declaran que ellos no van a quedarse a "apagar la luz de El Morro" -el faro situado a la entrada de la Bahía de La Habana- "después de que se haya ido todo el mundo".
El nuevo presidente comprende perfectamente que las transformaciones demasiado profundas podrían hacerle perder el control. Los cubanos comparan bromeando su sistema político con una de las desvencijadas casas de La Habana Vieja: Los huracanes no la tiran y las lluvias no la tiran, pero un día alguien intenta cambiar la cerradura de la entrada y todo el edificio se viene abajo. Y por eso el truco más practicado por el Gobierno es el de intentar ganar tiempo con proclamas de supuestas reformas que, una vez puestas en práctica, nunca alcanzan los efectos prometidos.
      
Durante los últimos cinco años el Gobierno ha perdido innegable e irreversiblemente el control sobre la difusión de información
      
Pero esto no puede continuar indefinidamente. Antes de que acabe diciembre, Raúl Castro tendrá que cumplir su promesa de legalizar la venta de viviendas, que ha sido ilegal desde 1959, una medida que inevitablemente dará como resultado la redistribución de la gente en las ciudades según su poder adquisitivo. Uno de los más resistentes bastiones de la imaginería revolucionaria -cubanos de clase trabajadora viviendo en los suntuosos hogares de la desaparecida élite- podría desplomarse con el establecimiento de estas acusadas diferencias económicas entre vecindarios.
Pero la vieja Cuba aún persiste en modos sutiles y siniestros. Raúl actúa más discretamente que Fidel, y desde la sombra. Ha aumentado los efectivos de la policía política y los ha equipado con tecnología avanzada para que puedan controlar las vidas de sus críticos, entre ellos yo. Hace mucho que aprendí que lo mejor para burlar la seguridad es hacer público todo lo que pienso, no esconder nada, y al hacerlo quizá pueda reducir los recursos del país que se gastan en los  agentes encubiertos, la cara gasolina de los autos en los que se mueven, y los largos turnos de búsquedas en Internet de nuestras divergentes opiniones. Aún así, oímos hablar de breves detenciones que incluyen fuertes dosis de violencia física y verbal que no dejan ningún rastro legal. Las grandes ciudades de Cuba están ahora llenas de cámaras de vigilancia que graban tanto a los que hacen contrabando de puros como a aquellos de nosotros que lo único que portamos son nuestros pensamientos rebeldes.
Pero durante los últimos cinco años el Gobierno ha perdido innegable e irreversiblemente el control sobre la difusión de información. Escondidas en los tanques de agua y detrás de las sábanas que cuelgan de los tendederos, las antenas parabólicas ilegales llevan a la gente noticias prohibidas o censuradas en los medios estatales. La aparición de blogueros críticos con el sistema, la maduración de un periodismo independiente y el aumento de espacios autónomos para el arte han erosionado el monopolio del Estado sobre el poder.
Fidel, mientras tanto, se ha desvanecido. Rara vez aparece, y sólo en fotos, siempre vestido con el chándal de un mafioso avejentado, y nosotros comenzamos a olvidar al hombre combativo y enfundado en uniforme que se inmiscuía en casi cada minuto de nuestra existencia durante medio siglo. Hace sólo un año, mi sobrina de ocho años estaba viendo la televisión y al ver la marchita cara del viejo comandante en jefe, le gritó a su padre: “Papi, ¿quién es este señor?”.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dom Paulo Evaristo Arns e Cuba socialista - Janer Cristaldo (1989)

Um texto antigo, de 1989, sobre o ex-cardeal brasileiro D. Paulo Evaristo Arns e sua relação com a Cuba de Fidel, de autoria do jornalista Janer Cristaldo, mais conhecido hoje por seu saboroso blog, texto que me foi mandado numa lista de discussão política, mas que por acaso relembrou-me um texto, também sobre Cuba, que escrevi alguns anos atrás:

A História não o Absolverá: Fidel Castro e seus amigos brasileiros: um caso de renúncia à inteligência?
Espaço Acadêmico (ano 6, nº 64, setembro 2006; link).

PRIMEIRA EPÍSTOLA AO AIATOLÁ DE FORQUILHINHA
Janer Cristaldo
A Notícia (Joinville, SC), 05.02.1989

Florianópolis — De Forquilhinha, Santa Catarina, conheço dois cidadãos. Ou melhor, um cidadão e uma cidadã, o Paulo e a Albertina. O Paulo, conheço apenas de nome. A Albertina, de meu dia-a-dia. Ambos nasceram em lares humildes mas — coisas da vida! — tiveram diferentes destinos. Albertina veio a ser minha faxineira e Paulo doutorou-se pela Sorbonne. Paulo viu no sacerdócio sua chance de chegar ao poder e a Albertina, coitada, enfrenta bravamente o mundo com sua vassoura. Paulo, ao que tudo indica, prefere uma metralhadora.

Falar em metralhadora me faz lembrar um distante 1º de abril, como também aquela pergunta que nos anos 70 se tornou moda: onde você estava no 1º de abril de 1964? Eu estava em Santa Maria, mais precisamente na sede dos Sindicato dos Ferroviários, mais conhecido como Casa Rosada. Era jovem e idiota. Do alto de meus dezessete anos, trepado em uma mesa, trazia aos operários o apoio da classe estudantil, denunciava Carlos Lacerda, louvava Brizola e exigia do comandante da guarnição local, general Pope de Figueiredo, uma definição sobre o governo João Goulart. Em meio a meu discurso, o salão foi se esvaziando aos poucos, o que era no mínimo desconfortável para quem se julgava bom orador. Mas o problema não era o verbo. Era a definição que chegava, trezentos homens armados de fuzis e metralhadoras, baionetas caladas. Minha platéia se evaporava. Desci da mesa, sentindo-me ridículo até a medula. Na Casa Rosada, restamos eu e mais dez operários. Fui até a porta. A um metro e meio de mim, centenas de soldados, todos de minha idade, formavam semicírculos concêntricos de baionetas. Não senti medo, não acreditava que alguém desse ordem de fogo. Mas tive de desarmar um operário bêbado que, com seu facão, pretendia enfrentar o exército. Algum tempo depois, surgiram os mensageiros da guerrilha. Convidado para a luta armada, recusei-me. Considerava suicídio lutar de bodoque contra tanques. A esta mesma conclusão chegaram meus companheiros de geração, só que vinte anos mais tarde, após centenas de mortes e sofrimentos no exílio. Mas falava de Paulo. Não no de Tarso, o maior matador de cristãos de seu tempo e que acabou construindo o cristianismo, Stalin precursor que se tornou um enviado de Deus para suas vítimas. Falava do Paulo de Forquilhinha. Conterrâneo de Albertina.

Pois o Paulo, ou Dom Paulo, como prefere ser chamado, ou melhor ainda, Dom Paulo Evaristo Arns, escreveu há pouco afável cartinha a um dos mais antigos tiranos da América Latina, que há trinta anos oprime com seus coturnos toda uma nação. Não, a carta não foi dirigida a Stroessner. Bem poderia ser. Pois como disse o estafeta episcopal, o ficcionista Carlos Alberto Libânio Christo, vulgo frei Betto, o pecador não deve ser confundido com o pecado. Muito menos a Pinochet, que parece ainda pouco maduro nos meandros do poder — afinal tem só quinze anos de ditadura! — para merecer tapinhas no ombro de um príncipe da Igreja. A carta foi dirigida a Fidel Castro Primeiro e Único, Real Imperador de la Isla de Cuba. E eu que me queixava da Albertina, a coitada, cujo único pecado é tentar organizar por altura das lombadas os livros de minha biblioteca.

Pois Dom Paulo, de certa forma, já me aprontou outra. Quando estava sendo traduzido ao brasileiro o livro Nunca Mais, o relatório da Conadep (Comisión Nacional sobre la Desaparición de Personas), cujos trabalhos foram coordenados por Ernesto Sábato, Dom Paulo tomou a dianteira: endossou trabalho semelhante feito no Brasil, o que é bom, digno e justo. Só não é bom, digno e justo roubar título alheio como o fez, usufruindo indevidamente da publicidade internacional de que gozava o trabalho coordenado por Sábato. A Albertina de vez em quando junta Casanova com Tomás de Aquino, só porque os tomos são da mesma altura, mas jamais subtraiu nada de minha biblioteca.

"Queridíssimo Fidel" — começa o corajoso cardeal — "Paz e bem". Digo corajoso porque coragem intelectual é o mínimo que se exige de um homem culto e bem informado para assim saudar o único ditador do continente que ainda mantém intelectuais no cárcere e proíbe aos nacionais saírem de seu gulag tropical. Em sua epístola ao tirano, Paulo abraça Castro e saúda o povo cubano pelo trigésimo aniversário da ditadura: "Hoje em dia Cuba pode sentir-se orgulhosa de ser no nosso continente, tão empobrecido pela dívida externa, um exemplo de justiça social". Não é bem o que pensa a Anistia Internacional, cujas investigações embasam em boa parte o Brasil: Tortura Nunca Mais, de Dom Paulo. Muito menos o que pensam dois milhões de cubanos que votaram com os pés, fugindo para Miami. Como dizia a Albertina, "que paraíso é esse, professor, onde as pessoas estão proibidas de sair e quando saem não voltam mais?"

"A fé cristã descobre" — continua Paulo em sua epístola aos castrenses — "nas conquistas da Revolução, os sinais do Reino de Deus que se manifestam em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor". Ora, se fronteiras fechadas, ausência de eleições livres, imprensa e oposição sufocadas e vida a nível de miséria são sinais do Reino de Deus, vamos então canonizar logo este santo homem chamado Joseph Vissarionovitch Djugatchivili, mais conhecido como Stalin, "o de aço".

Ao dar notícias do Brasil, sua Excelência Reverendíssima, nosso cardeal Arns, não perde a oportunidade de evocar "a vitória popular alcançada nas últimas eleições". Supomos que quando fala de vitória popular se refira ao avanço do PT, pois não é de hoje que temos conhecimento deste namoro entre a Igreja e o partido que se diz dos trabalhadores mas, fundamentalmente, é constituído por acadêmicos. Tal vitória, continua o cardeal, "renova o marco político do país e abre esperanças de que o indescritível sofrimento do nosso povo possa ser minorado no futuro".

Que em algo renova, disso não tenho dúvida alguma, pois pela primeira vez vejo uma prefeita, Luiza Erundina, eleita folgadamente pelo voto popular, declarar via Embratel que a solução dos problemas nacionais passa pela luta armada. Marília Gabriela, sua entrevistadora na TV Bandeirante, em vez de ficar esbanjando charme, bem que poderia propor-lhe três questõezinhas mais:

a) Luta armada exige preparação. O PT está se preparando para ela?

b) Se está, quem o prepara e financia?

c) Se a luta armada é necessária, contra quem vai ser a luta? Contra os empresários? Contra as Forças Armadas? Contra o Congresso? Quem é o inimigo?

Pois atribuo mais sensatez à minha inculta Albertina: "Derramamento de sangue, Deus nos livre, professor!"

Não contente em esfregar-se junto à caspa da ditadura, Paulo Evaristo, cardeal Arns, vai mais longe, reza diariamente por Castro e pede "ao Pai que lhe conceda sempre (o grifo é meu) a graça de conduzir os destinos de sua Pátria". Ora, conceder sempre a graça de conduzir os destinos da pátria, a meu ver não tem diferença alguma de conceder a graça de sempre conduzir os destinos da pátria. Estará Paulo, o de Forquilhinha, pedindo ao Pai pela permanência do tirano?

Paulo de Tarso, que na verdade, não era de Tarso, mas da Cilícia, fariseu fanático que mais matou cristãos no primeiro século do cristianismo, era mais singelo e não usava de meias palavras, matava quem quer que seguisse o Cristo e estamos conversados. Quando viu no cristianismo então emergente um potencial instrumento de controle do poder, não teve dúvidas, converteu-se às novas circunstâncias. Dom Paulo de Forquilhinha parece estar percorrendo a estrada de Damasco em rumo contrário. Depois de velho, vai esfregar-se em prepostos de Moscou, que preferem manter um país a nível de fome para garantir a presença soviética na África, regada com o sangue de jovens cubanos.

Passou aqui em Florianópolis, há coisa de um ano e pouco, um destes senhores que adora sangue e cultua quem o faz derramar. Chamava-se Antonio Callado e fez palestra nos salões da Universidade Federal de Santa Catarina. Hospedou-se em hotel de luxo, foi caitituado pelos intelectuais autóctones e vinha financiado por uma multinacional. Disse esperar que no Brasil estoure uma revolução violenta. Desafiado por um repórter, disse que assinava embaixo. E assinou mesmo, o velhote sanguinário. Disse ainda que este caminho, o da revolução violenta, passa pela Igreja e pelo PT. Os sinais do Reino de Deus parecem estar fechando. Frei Betto levando quitutes da mamãe para o tiranete das Antilhas, portando cartas de Paulo de Forquilhinha ao ditador. Leonardo Boff namorando Ernesto Cardenal, mais conhecido internacionalmente como o aiatolá do Caribe por seu apoio a Khomeiny. Erundina falando em luta armada. Lula estabelecendo vínculos com os aprendizes de tirano da Nicarágua. Estará próximo o Reino de Deus?

Ou talvez o da estupidez, como diria Albertina, sem talvez ter idéia da profundidade do que diz. Nenhum homem medianamente informado desconhece o preço pago em sangue pelos espanhóis durante a Guerra Civil. A nenhum homem honesto é permissível ignorar quem foi Pol Pot. Latino-americanos, todos sabemos em que resultaram essas tentativas desvairadas de tomada do poder no Uruguai, Chile, Argentina e Brasil. O massacre está sendo reeditado no Peru. Um grupo de assassinos com vocação para o suicídio tomou recentemente um quartel em Buenos Aires. Eram paranóicos a ponto de portar no bolso um programa de governo. Luís Carlos Prestes, outro sanguinário impenitente, do alto de suas oito décadas de vida, que nada parecem ter-lhe ensinado, declarou que o assalto a La Tablada foi uma loucura. Nisto concordamos. Mas preferiria que o Cavaleiro da Esperança (sic!) reconhecesse, antes de morrer, seu ataque de loucura em 1935, quando, aterrissando na praia do Campeche, cá na ilha, voltou de Moscou para inaugurar a guerra civil, em sua tentativa messiânica de instalar no Brasil o reino, sei lá se de Stalin ou de Deus, pois afinal estes dois eram bastante confundidos na época e — o que é pior — parece que até hoje, pelo menos na América Latina, em pouco ou nada se distinguem.

Tenho mais de quarenta anos. Há umas boas décadas deixei de ser o jovem idiota de 64, que obedecia palavras de ordem que não entendia e que levaram parte de minha geração ao massacre. Não quero mais viver, nem quero ver alguém vivendo, aqueles dias de opressão, medo, exílio, desconfiança mútua, prisões arbitrárias e tortura, inerentes a tais processos de assalto ao poder. Vivi dias em que a amizade era exercício quase impossível, pois se buscávamos a convivência de um colega já contaminado pelo vírus da ideologia, ou tínhamos de concordar em tudo ou, automaticamente, éramos classificados como inimigos. Vivi seis meses na Espanha, em 87. A Guerra Civil terminara há meio século e observei que, até hoje, os espanhóis continuam divididos e ainda alimentam velhos rancores. Pior ainda: a Espanha é hoje nação livre, rica e democrática, e nunca falta intelectual que continue a sonhar com a vitória dos republicanos, o que teria levado o país, e certamente toda a Europa junto, à paupérrima condição dos países do bloco soviético.

Paulo Evaristo, cardeal Arns: bem ou mal, pertenço à sua Igreja. Fui batizado, à revelia, é verdade, como à revelia se tornam partícipes do Corpo Místico de Cristo crianças que prefeririam uma chupeta a serem aspergidas com água benta. Dentro de vossa ótica, talvez seja um membro doente deste Corpo. Mas a ele pertenço. Uma vez a ele pertencendo, sinto-me no direito de pedir a meu pastor que não mais abrace tiranos. E não mais escreva bobagens. Não fica bem para um cardeal.

Ou o cardeal nos deseja um novo Primeiro de Abril?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fidel Castro: ultimo pronunciamento televisivo (despedida do socialismo)

Absolutamente inédito, aliás ainda não aconteceu: é só o rascunho...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel Castro: despedida da vida pública e do socialismo
Fidel Castro Ruz
Ex-Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, Ex-comandante supremo da Revolução, ex-comunista, ex-socialista, ex-várias outras coisas...
Via Política, 24/04/2011

Fidel Castro, por Gon
(Esboço de último pronunciamento público a ser transmitido em rede nacional na única cadeia de televisão existente na República de Cuba; obtido antecipadamente.)

Caros amigos, caros irmãos, caros concidadãos,
Esta é, provavelmente, a última vez que me dirijo a vocês, e já não o faço, como antes, de um palanque na Praça da Revolução, obrigando vocês a ficarem horas sob o sol causticante de nossa ilha, enquanto eu desfilava meus argumentos em favor da revolução e do socialismo.

Não, o Fidel Castro que aqui aparece já não é mais o mesmo; não que eu já esteja velho de decrépito, o que também é o caso, mas não é por isso que eu escolhi falar a vocês em pronunciamento gravado por nossa única rede de televisão. É que, tendo chegado, de fato, ao ocaso de minha vida, e acabado de renunciar ao cargo de Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, cargo que eu já acumulei com o de presidente desta República, e tendo passado todos esses cargos a meu irmão mais jovem, resolvi que era chegada a hora de acertar contas com a História, e assim, de me despedir dignamente de vocês.

Este Fidel Castro que aqui se despede de cargos, de responsabilidades e de vocês, quer juntar-se a outras figuras históricas do século 20, mas quer fazê-lo na paz de sua consciência, e que por isso decidiu dirigir estas palavras sinceras a todos vocês.

Não sei bem o que farão depois deste pronunciamento, apenas espero que possamos realizar nossa transição política em paz, sem derramamento de sangue, sem vingança contra qualquer pessoa ou instituição, provando ao mundo que nós, cubanos, temos consciência e dignidade suficientes para tratar dos nossos próprios assuntos internos, sem interferências de qualquer poder estrangeiro.

Eis aqui, portanto, o que eu tenho a dizer a vocês.

Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano

Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...
Enquanto estávamos ocupados realizando o 6o. Congresso do Partido Comunista de Cuba, minha mente estava longe, muito longe. Eu estava pensando naquele longínquo 26 de Julho de 1953, quando teve início nossa revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.

Naquele 26 de julho, que depois virou, talvez equivocadamente, nossa data máxima, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início à nossa luta contra um regime ditatorial, submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento, que me condenou logo em seguida, eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, mas, antes dela me absolver, eu fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início assim à nossa luta, uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único e aborrecido jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.

Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase 60 anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.

Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, em 1961, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que nos ocupou pelos últimos 50 anos. E que, a julgar pelos dizeres de meu irmão no congresso que acaba de se encerrar, ainda não terminou. Sinto discordar dele, para dizer claramente. Terminou, sim: a construção do socialismo acabou por aqui, e já não devemos persistir nesse caminho insano.

Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo nossa opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e se afastaram da revolução: o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram. Foi uma decisão errada, pois dividimos a ilha, dividimos o povo, dividimos as famílias. Estima-se, hoje, que um quarto da população cubana tenha abandonado nossa bela ilha para ir viver no exterior, geralmente nos Estados Unidos.

Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo, que manteve um duro embargo contra nossa economia, Não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, 20 anos atrás. Nosso socialismo começou a patinar desde então, e nunca nos recuperamos.

Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente. O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos. Belo discurso, não é mesmo?

Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo. Eu pensei, sinceramente, mas hoje reconheço que errei redondamente, que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, nos textos que nos prometiam um futuro brilhante pela via do socialismo. Tudo parecia simples: bastava socializar a produção, construir o homem novo, e pronto: todos viveriam bem e satisfeitos na igualdade absoluta e na eliminação da pobreza.

Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – de tudo o que fosse considerado patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.

Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de dezenas de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas.

Aliás, já matamos também muita gente: alguns de fome, muitos afogados ou comidos pelos tubarões, ao tentar escapar da ilha, outros de doença nas masmorras que herdamos da ditadura, vários outros, centenas deles, fuzilados nas primeiras horas da revolução. Talvez, proporcionalmente, tanto quanto os chineses. Chega!

Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Em sua versão oficial, eles dizem que construíram um socialismo com características chinesas, mas na verdade, como dizem os próprios chineses, se trata de um capitalismo com características chinesas, o que significa a preservação do monopólio do poder político do Partido Comunista.

Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba. Essa tentativa de meu irmão de introduzir o capitalismo, preservando o monopólio do Partido Comunista Cubano, simplesmente não vai dar certo. Só vamos prolongar os sofrimentos e as angústias de todos os nossos concidadãos, que esperam ver realizada a profecia de José Martí: homens livres, numa república democrática. O que temos hoje, vamos ser sinceros em reconhecer, são prisioneiros de uma ditadura, homens servos, numa ilha-prisão.

Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. O único lugar em que se come bem, nesta ilha, é naquela porção de terra ainda dominada pelo imperialismo: Guantánamo. Desculpem a ironia.

Não tenho mais para onde ir; nenhum país me estende convites; só me restam uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa, como vemos um pouco em todas as partes, sobretudo no Oriente Médio. De socialista, mesmo, só sobrou um canto recuado na Ásia, cujo povo vive uma situação de miséria e de opressão ainda pior do que a nossa, se isso é possível conceber.

Sei que nosso irmão socialista do Caribe, um coronel com jeito de Mussolini, que nos financia generosamente, agora que perdemos os subsídios da falecida União Soviética, esse líder político diz que o socialismo não acabou, que ele está apenas começando a se renovar. Isto não é verdade! Quem tem olhos para ver, sabe que o socialismo morreu, o dele tanto quanto o nosso, e estamos assistindo agora à lenta deterioração da situação econômica em seu país, que antecipamos inevitável.

Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma. A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. Esta é minha última vontade.

O Partido Comunista tem de anunciar, imediatamente, que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembleia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos 50 anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.

Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.

Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres.
Que a História os proteja!


Fidel Castro Ruz
(com uma pequena ajuda de um escriba intrometido: Paulo Roberto de Almeida).

24/4/2011
Fonte: ViaPolítica/O autor
Diplomata, professor de Economia Política Internacional no Uniceub, Doutor em Ciências Sociais.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Fidel-ZéDirceu-Chavez: os humoristas da vez (não consigo parar de rir...)

Incrível essa: a gente acaba justo de fechar uma notícia hilariante, como a que eu postei logo abaixo, e pensa que vai descansar, parar de sacudir a barriga de tanto rir, e esse pessoal não perdoa, não dá trégua: aí vem eles outra vez para nos fazer morrer de rir...
Vou ter de mudar de ramo nesta coisa de blog: só notícias mortuárias, para ninguém sair por aí rindo do que não se deve...
Vejam essa:

José Dirceu segue Fidel e acusa EUA de manipular noticiário contra… Kadafi!
O Estado de S.Paulo, 27/02/2011

Na última terça-feira, Fidel Castro escreveu em uma das suas “reflexões” que a Líbia era vítima de uma forte campanha midiática e isentou o ditador Muamar Kadafi do massacre que deixou centenas de mortos na última semana. Ontem, as palavras do líder cubano ganharam o apoio do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. Em seu blog, ele atribuiu aos EUA a responsabilidade por uma “manipulação do noticiário e uma intervenção branca”. Dirceu criticou ainda as sanções unilaterais anunciadas na sexta-feira pelos americanos, dizendo que seu real objetivo, ao apressar a queda de Kadafi, seria “comandar a transição para controlar as reservas e a produção de petróleo e evitar um governo antiamericano ou pró-palestino ao fim da crise líbia”. Dirceu questiona a razão para que sanções não tenham sido impostas ao Egito.

No texto de Fidel, que também contou com o apoio do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o líder cubano sustentou que os EUA não hesitariam em enviar ao país as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se isso lhes conviesse. Ao final, reforçou seu apoio a Kadafi, ressaltando os laços que uniam os dois países.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cuba e o comunismo: a quadratura do circulo (e a total falta de logica)

Primeiro, a transcrição do que disse um dinossauro que não sabe que ele já está extinto.
Depois comento a falta de lógica.
Paulo Roberto de Almeida

Raul Castro defende abertura, não capitalismo, em Cuba

Em discurso na Assembleia, líder cubano diz que 'geração histórica' precisa corrigir 'erros dos últimos 50 anos'.

BBC Brasil, 19 de dezembro de 2010 | 14h 12

Castro: 'Não me elegeram presidente para restaurar o capitalismo'
O presidente de Cuba, Raúl Castro, defendeu mudanças no regime cubano, sem abrir mão do socialismo.
Em um discurso de duas horas encerrando os trabalhos da Assembleia Nacional, no sábado, Raul Castro disse que não foi eleito para "restaurar o capitalismo em Cuba", mas reconheceu que foi um erro "estatizar quase toda a atividade econômica do país".
"Temos o dever fundamental corrigir os erros que cometemos nessas cinco décadas de construção do socialismo em Cuba", afirmou o líder cubano.
Castro lembrou que tanto Karl Marx quanto Vladimir Lênin, ideólogos do comunismo, definiram que o Estado só deveria "manter a propriedade sobre os meios fundamentais de produção".
Entretanto, o presidente cubano estabeleceu o limite das mudanças. "O planejamento, e não o mercado, será o traço definitivo da economia e não se permitirá a concentração da propriedade. Mais claro que isso, nem água".
Mudanças
Em seu discurso, Castro delineou a estratégia política que seu governo continuará no ano que vem, tanto no plano econômico quanto no social e político.
Segundo o presidente, as mudanças estruturais continuarão: créditos e subsídios serão eliminados, as funções do partido e do governo serão separadas, o emprego autônomo será promovido e o governo colocará um ponto final em restrições "desnecessárias".
Entre os anúncios mais importantes feitos por Raul Castro está o de que ele pretende separar as estruturas do governo e do Partido Comunista - que atualmente se confundem em todos os níveis, dos municípios para à Presidência da República.
"O partido deve dirigir e controlar, e não interferir nas atividades de governo, em qualquer nível", disse Raúl Castro.
Presidente disse que quer separa o partido e o governo
O tema será discutido na Conferência Nacional do Partido Comunista, em meados do próximo ano, o último do qual participará o que ele chamou de "geração histórica".
Descentralização
Castro assegurou que promoverá uma descentralização do poder de Havana, "aumentando gradualmente a autoridade dos governos provinciais e municipais, dando-lhes maiores poderes para administrar seus orçamentos."
Hoje, a dependência dos governos municipais em relação a Havana é tal que os seus representantes não têm sequer autoridade para comprar ou receber um carro doado, ou para abrir uma conta bancária em Cuba.
Para o presidente cubano, estes governos devem assumir o controle real de suas regiões, cobrar impostos de empresas localizadas em sua jurisdição e até mesmo investir em projetos de desenvolvimento regional.
Para implementar algumas das novas políticas econômicas, Cuba teria de mudar a Constituição. Castro informou que as leis serão adaptadas para permitir as mudanças.
Sobre as relações com Washington, Raul Castro disse não ver sinais de distensão, porque nos EUA "não existe a menor vontade de corrigir a política contra Cuba, mesmo para eliminar os seus aspectos mais irracionais".
* Com reportagem de Fernando Ravsberg, da BBC Mundo em Havana. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

========

Comento:
Como é possível restaurar a economia da ilha miserável sem abandonar o socialismo, que é, justamente, o responsável pela situação deplorável ali vivida?
Mas a falta de lógica continua, de modo alucinante:
Raul Castro "reconheceu que foi um erro "estatizar quase toda a atividade econômica do país". "Temos o dever fundamental corrigir os erros que cometemos nessas cinco décadas de construção do socialismo em Cuba", afirmou o líder cubano."
Se eles querem corrigir os erros cometidos DURANTE 50 ANOS, como, então, afirmar que "O planejamento, e não o mercado, será o traço definitivo da economia..."
Ou seja, ele pretende que algo mude, mas não quer mudar nada???!!!

Mas, a maior dislexia mental, a total falta de lógica aparece nesta frase de Raúl Castro"
"O partido deve dirigir e controlar, e não interferir nas atividades de governo, em qualquer nível".
Ou seja, o partido deve dirigir e controlar, mas não vai interferir???!!!
Alguém entendeu?
Prêmio IgNóbil de falta de lógica.
Falta algum remédio no menu do gerontocrata...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Noticias de uma outra Casa: Cuba - um morto-vivo reaparece para falar do Nosso Guia

Um pequeno registro inicial: não considero os cubanos, ou chineses, contrários a seus regimes liberticidades, "dissidentes". Eles são apenas ativistas, ou seja, têm coragem de se opor a regimes autoritários, quando não totalitários. 

Dissidentes são os governos, que não cumprem tratados internacionais que eles mesmos assinaram. Esses regimes são os dissidentes da liberdade, da democracia, dos direitos humanos.

 Paulo Roberto de Almeida

Direitos humanos

Revista Veja, 22/10/2010 - 13:27

‘Lula será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Fidel e Raúl Castro’

A opinião é do dissidente Guillermo Fariñas, laureado nesta semana com um prêmio europeu que homenageia a liberdade de pensamento

Mariana Pereira de Almeida
O dissidente Guillermo Fariñas na frente de sua casa, na cidade de Santa Clara, após ser laureado com o prêmio europeu Sakharov 2010 O dissidente Guillermo Fariñas na frente de sua casa, na cidade de Santa Clara, após ser laureado com o prêmio europeu Sakharov 2010 (Adalberto Roque/AFP)
“Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é o presidente”
O dissidente cubano Guillermo Fariñas enxerga no Prêmio Sakharov 2010 de liberdade de pensamento, concedido a ele pelo Parlamento Europeu na quinta-feira, um reconhecimento internacional à causa dos presos políticos do país. Mas, lamenta que o mundo tenha prestado atenção no problema apenas com a morte do também dissidente Orlando Zapata Tamayo, em fevereiro, após 85 dias em greve de fome.
Fariñas acusa o regime cubano de assassinato e reprova a atitude do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva ao visitar o país logo após a morte de Zapata. Na ocasião, Lula comparou o dissidente aos presos comuns das cadeias brasileiras. “Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro”, disse Fariñas, por telefone, ao site de VEJA. “Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente do Brasil”, acrescentou.
Fariñas iniciou 23 greves de fome contra a ditadura cubana. A mais recente delas, que durou 135 dias, só foi encerrada quando a Igreja Católica de Cuba anunciou a libertação de 52 presos políticos, em julho último. A seguir, a entrevista completa concedida pelo dissidente:

O que o senhor sentiu ao receber um prêmio que trata da liberdade de pensamento enquanto vive em Cuba, onde tudo é proibido?
O meu primeiro sentimento é de compromisso com a causa cubana, com a democratização do país, com meus irmãos que ainda estão presos, com todos homens e mulheres de boa vontade que querem a democracia na ilha. Creio que este é o meu grande compromisso que tenho.

O senhor dedicou o prêmio a Orlando Zapata, que morreu fazendo uma greve de fome. Foi preciso a morte de um homem para o mundo perceber a situação dos dissidentes cubanos?
Creio que sim. Infelizmente, um de nossos irmãos teve que morrer assassinado de maneira planejada em uma prisão cubana - por fazer uma oposição pacífica - para que o mundo se desse conta de todos os maus tratos que os presos políticos sofrem em Cuba.

O senhor disse assassinado, mas ele morreu por fazer greve de fome...
Sim, mas ele foi chantageado. Zapata tomava água em sua greve de fome. As autoridades cortaram sua água durante muitos dias para que se rendesse. Ele não se rendeu e teve problemas renais que o levaram à morte.

O que o senhor diria ao presidente brasileiro sobre sua conduta ao visitar Cuba logo depois da morte de Zapata?
 Luiz Inácio Lula da Silva, que foi preso político e tem memória ruim, veio ao país exatamente quando Orlando Zapata estava sendo assassinado. Ele comparou aqueles que faziam greve de fome pela morte de Zapata com delinquentes de São Paulo. Por isso, Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado na história cubana como cúmplice da ditadura sanguinária de Raúl e Fidel Castro. Com este prêmio em mãos, eu diria a Lula o seguinte: 'Ao deixar o poder, trate de se retificar'. Ele não está sendo capaz de fazê-lo enquanto ainda é presidente.

O reconhecimento ao senhor veio pouco depois do Nobel da Paz concedido a outro dissidente, o chinês Lu Xiaobo. É um sinal de que as coisas podem mudar em países, como Cuba e China?
 Sim. Mesmo que nossas lutas pareçam impossíveis, nós dissidentes sempre teremos fé que nossas idéias são boas, que são para o bem do mundo. Sempre lutaremos por elas.

O senhor acha que a União Europeia pode mudar a chamada Posição Comum, que determina como o bloco lida com a situação cubana, em uma reunião que será realizada na próxima segunda-feira?
Eu considero que Cuba ainda não fez nada para que a UE levante a Posição Comum. Nossos irmãos que estão presos em Cuba e serão colocados em liberdade estão sendo tratados como moeda de troca pelo governo cubano, como se fossem escravos e reféns do regime. Creio que o governo cubano deixou intactas as leis que lhes permitem prender de maneira arbitrária aqueles que fazem oposição pacífica.

Então o senhor acredita que a libertação dos presos políticos pelos irmãos Castro foi uma maneira de conquistar a simpatia do mundo para obter benefícios políticos?
Sim. O governo usou os dissidentes para reduzir o desprestígio causado pela morte de Zapata e por minha greve de fome. Se o governo cubano realmente quisesse respeitar os direitos humanos, os oposicionistas poderiam expor de maneira pacífica suas opiniões, ter bibliotecas independentes e ler livros censurados pelo regime.

Como o senhor se sentiu antes e depois de sua greve de fome?
Me senti bem, de verdade, porque não pensei que ia morrer, mas sim que estava fazendo o possível pelo bem da minha pátria e para que outros dissidentes não fossem assassinados na prisão.

O que o senhor fará com o prêmio de 50.000 euros?
Não sei exatamente o que vou fazer, mas será algo pela causa dos dissidentes e que traga alguma contribuição à democracia em Cuba.

Noticias da (Santa) Casa, 2: (quase) hospedando indesejaveis...

Blog do Ricardo Setti - Revista Veja
03/12/2010 às 16:3

Recusar presos de Guantánamo é coerente com a política pusilânime de direitos humanos do Brasil

Suspeitos de terrorismo em Guantánamo: contra muitos deles não há provas
Amigos do blog, vocês estranharam a notícia de hoje segundo a qual o governo brasileiro se recusou a receber, como refugiados, prisioneiros vindos da base militar de Guantánamo, em Cuba, segundo revelam documentos sigilosos vazados pelo site WikiLeaks?
Cheio de filigranas jurídicas, como sempre, o Itamaraty argumentou com o governo americano que seria ilegal os suspeitos de terrorismo liberados da ilha, pois “não poderia considerar como refugiado alguém que ainda não estava em solo brasileiro”. A informação consta de um telegrama emitido em 2005 para Washington pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich.
Será que, se o governo brasileiro realmente tivesse uma orientação decente em relação aos direitos humanos, não poderia ter feito o que fizeram vários países amigos dos Estados Unidos? Claro que sim. Tanto é que, no ano passado, o secretário especial de Direitos Humanos, ministro Paulo Vanucchi, defendeu que o Brasil abrigasse ex-prisioneiros. A maioria dos atuais detentos de Guantánamo está preso há anos sem provas, e os já libertado que seguiram para o Canadá ou a França assumiram o compromisso de não manter atividades ilegais e aceitar ter movimentos monitorados. Vários já conseguiram emprego e levam vida normal.
Não por acaso, outros dois telegramas obtidos pelo WikiLeaks mostram que o Itamaraty manteve o mesmo discurso quando procurado para receber cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro.
Nada a estranhar de um governo que, de forma pusilânime, se abstém para não condenar, na ONU, regimes que violam sistematicamente os direitos humanos como os de Irã, China, Sudão, Coréia do Norte, da própria Cuba e da Síria.

03/12/2010
às 18:42 \ Política & Cia

Receber como refugiados presos em Guantánamo sem culpa formada, não pode. Ficar com o terrorista assassino Cesari Battisti, pelo andar da carruagem, pode. Este é o Brasil de Lula e Celso Amorim

Quer dizer, pessoas acusadas de terrorismo há uma década, presas na base americana de Guantánamo, em Cuba, mas contra as quais não há provas de ter cometido crimes, nem culpa formada — e que os Estados Unidos querem libertar, mas não para seus países, onde se sentem ameaçados –, não podem vir para o Brasil como refugiados (leia post abaixo).
Já o terrorista italiano Cesare Battisti, frio assassino de quatro pessoas, condenado à prisão perpétua legalmente na Itália, país democrático e amigo do Brasil, pelo jeito que as coisas vão, pode. Ou seja, muito provavelmente não será extraditado para a Itália, e será libertado da carceragem da Polícia Federal em Brasília e poderá juntar-se, livre, leve e solto, a seus amigos na esquerda brasileira (leia aqui post a respeito).

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A descoberta da semana (talvez do mes, ou do ano...)

‘La ONU está agotada’
Fidel Castro

El ex presidente cubano Fidel Castro consideró hoy que la Organización de las Naciones Unidas (ONU) "está ya agotada" y debe ser cambiada por un foro verdaderamente democrático y "no un feudo imperial"

PRA: O que será que a ONU acharia do regime cubano, aos 51 anos da "revolução libertadora"? Que está tinindo de novinho? Pronto para mais 50 anos?
Paulo Roberto de Almeida

Dois, alias tres primeiros testes para a presidenta: Cuba, Iran e China

Bem, vamos ver como se responderá a essas demandas contraditórias, uma pela abertura e democracia, outra pelo apoio nas suas virtudes, digamos, autoritárias, de não querer sequer discutir política cambial no G20. Bem, se o G20 não serve para isso, serve para quê, então: para tomar chá?
Duas correções de imediato a este despacho do correspondente do Estadão em Genebra:
1) Chamar ativistas pela democracia e pelos direitos humanos de "dissidentes" é um equívoco e uma indignidade, como se o Estado tivesse razão e os ativistas estivessem errados em fazer e demandar o que fazem e pedem. Se Cuba assinou protocolos em defesa dos direitos humanos, a começar pela Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, então é o Estado cubano que é dissidente, não o ativista. É o Estado que atua ilegalmente, de maneira criminosa e celerada.
2) Um erro monumental incorreu aqui o jornalista: "A [última] viagem [de Lula a Cuba], porém, ficou marcada pela morte do dissidente, Orlando Zapata. Lula preferiu não comentar a situação durante sua visita."
Não é verdade isso; Lula comentou, sim, e para horror nosso e de todos os que defendem os direitos humanos, criticou o uso da greve de fome como instrumento político, quando ele mesmo usou dessa "arma" no passado (embora burlada por ele mesmo, como já confessou, sem qualquer dignidade). Ele não só comentou, como criticou o prisioneiro, que se "deixou morrer", por certo por culpa dele mesmo. E comparou a situação dos prisioneiros de consciência em Cuba, na verdade condenados políticos, em total abuso da própria legislação cubana, a prisioneiros de direito comum, criminosos e assassinos da pior espécie. Uma ofensa indigna de alguém que preza mais a ditadura cubana que os direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida
Addendum: Em tempo: nossos amigos iranianos não poderiam ficar de fora, claro, dessa deixa. Já que o presidente "sainte" tinha um carinho especial por Ahmadinejad, quem sabe sua sucessora não poderá manter essas excelentes relações "anti-imperialistas"?

Dissidentes cubanos lançam apelo à Dilma

Jamil Chade, correspondente em Genebra
O Estado de S.Paulo, 2 de novembro de 2010

Objetivo é pressionar para que questão dos direitos humanos entre na agenda diplomática

 GENEBRA - Dissidentes cubanos pedem que a presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, modifique a forma pela qual o governo brasileiro tem lidado com o regime de Raul Castro e pressionam para que a questão dos direitos humanos entre na agenda entre Brasília e Havana.
"Não queremos nada de extraordinário. Apenas que a nova presidente do Brasil defenda ao povo cubano as mesmas liberdade que ela defenderia para sua própria população", afirmou Dagoberto Valdés, um dos dissidentes ainda mantido em liberdade em Cuba.
O dissidente é um dos responsáveis pelo movimento Convivência e foi em nome do grupo que fez a declaração à Dilma. Sem liberdade para publicar seu comunicado em Havana, o dissidente foi obrigado a usar "contatos" que tem na Espanha para tornar pública sua declaração.
"Em Cuba, a liberdade é um ingrediente raro", disse o dissidente ao Estado por telefone. "Felicitamos a nova presidente por sua eleição e queremos que o Brasil continue a manter sua relação com Havana. Mas insisto que temos esperanças de que suas relações com Cuba trabalhem pelos mesmos direitos que ela (Dilma) quer para os brasileiros", afirmou.
Durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil se transformou no segundo maior parceiro econômico e comercial de Cuba no Hemisfério Ocidental, superado apenas pela Venezuela. Entre 2003 e 2009, o comércio bilateral triplicou, chegando a quase US$ 600 milhões no ano passado.
Em sua última visita à ilha, Lula assinou dez acordos de cooperação e prometeu investimentos de US$ 300 milhões na ampliação do Porto de Mariel. A viagem, porém, ficou marcada pela morte do dissidente, Orlando Zapata. Lula preferiu não comentar a situação durante sua visita.
Na segunda-feira, o governo cubano havia já feito declarações de apoio à Dilma. "As relações com o Brasil são muito boas, tanto no aspecto político como econômico. Esperamos que essas relações continuem a se desenvolver com a presidente Dilma", afirmou o ministro de Comércio Exterior, Rodrigo Malmierca, que lembrou a presença do "capital brasileiro" na ilha.
Excluída
Nos últimos meses, Cuba tentou dar sinais de que poderia estar aceitando uma revisão de sua repressão e negociou com o Vaticano e com a Espanha a liberação de presos políticos. Mas, na ONU, as suspeitas em relação à Cuba são cada vez maiores. Em seu novo índice de desenvolvimento humano, a ONU optou neste ano por simplesmente excluir Cuba do ranking. O motivo: não tinha como confirmar se os dados enviados pelo governo de Havana sobre saúde, educação e outros índices sociais tinham alguma relação com a realidade.

=========

Dilma fortalece bloco antiamericano, diz Irã

Jamil Chade
O Estado de S.Paulo, 2 de novembro de 2010

País vê vitória da petista como ‘vistoso progresso’ nos laços de amizade e afirma que América Latina entrou em corrente de oposição aos EUA

GENEBRA - O Irã comemorou a vitória de Dilma Rousseff nas eleições no Brasil e destacou que o resultado "fortalece o bloco antiamericano". Ontem, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deixou claro sua satisfação com a vitória da sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na esperança de que sua política externa siga os mesmos passos da diplomacia do governo que terminará no final de dezembro.
Na ONU, países africanos e algumas das ditaduras mais criticadas do mundo também não disfarçaram a satisfação com o resultado das eleições.
Acusado de manter um sistema perverso de violações aos direitos das mulheres e de ainda manter leis como a do apedrejamento de adúlteras, Ahmadinejad fez questão de elogiar o fato de o Brasil ter escolhido sua primeira mulher presidente. Segundo o líder, isso vai impulsionar o "vistoso progresso" nos laços entre os dois países. Lula chegou a intervir no caso de uma iraniana condenada à pena de morte, sob a acusação de adultério.
"As relações entre Irã e Brasil se desenvolveram nos últimos anos e estou convencido de que sob vossa presidência estas relações continuarão se aprofundando", afirma Ahmadinejad em mensagem enviada a Dilma. "A relação entre o Irã e o Brasil continuará e será consolidada sob a liderança de Dilma", disse Ahmadinejad à agência de notícias estatal Irna.
Nos últimos anos, o governo Lula fez questão de se opor às sanções impostas contra o Irã e tentou intermediar um acordo para solucionar a questão nuclear em Teerã. O processo fracassou e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chegou a alertar o Brasil de que estava sendo usado por Ahmadinejad.
Uma nova negociação começa a ser organizada. Mas Teerã insiste que o Brasil deve fazer parte do processo. A Casa Branca não vê isso com bons olhos. "A cooperação entre a República Islâmica do Irã e o Brasil foi muito boa sob a presidência de Lula e trouxe benefícios apreciáveis a nível bilateral, regional e internacional", destacou Ahmadinejad.
O presidente da Comissão de Segurança Nacional e Relações Exteriores do Parlamento Iraniano, Alaedin Boroujerdi, foi além. "A vitória de Dilma Rousseff é uma boa notícia para o Iraque [SIC!; deve ter sido engano do debiloide do tradutor], já que fortalece o bloco antiamericano", disse. "A América Latina entrou em uma corrente de oposição aos Estados Unidos", afirmou à agência Irna. "O mundo será testemunha, em breve, de uma ampliação e expansão das relações entre o Irã e os estados da América Latina", disse.
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem ampliado sua estratégia de impedir que países sejam isolados da comunidade internacional por conta de acusações de violações de direitos humanos.
Na ONU, delegações de países africanos e de outros em desenvolvimento não escondem o alívio com a vitória de Dilma. "A África está aberta a investimentos de todo o mundo. Mas a realidade é que o Brasil entende melhor como funciona nossa cultura, nossas realidades", afirmou ao Estado a ministra de Justiça da Libéria, Christiana Tah.
=========

Governo chinês espera que ‘parceria estratégica’ com o Brasil continue no governo Dilma

Cláudia Trevisan, correspondente do Estadão em Pequim
02.novembro.2010 14:19:52


O governo chinês afirmou ontem esperar que a “parceria estratégica” com o Brasil continue a se desenvolver sob o governo de Dilma Rousseff, a quem o presidente Hu Jintao cumprimentou pela eleição de domingo. “Atualmente, as relações sino-brasileiras mantêm uma boa dinâmica”, declarou ontem o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hong Lei, em briefing regular com a imprensa em Pequim. O cumprimento de Hu Jintao foi transmitido a Dilma por meio da embaixada chinesa em Brasília.
A China se transformou neste ano no principal parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos, e caminha para se tornar um dos principais investidores estrangeiros no país. Mas o maior peso econômico é acompanhado da preocupação de parte da indústria nacional, que vê no câmbio desvalorizado da China uma vantagem desleal na competição por mercados dentro e fora do Brasil.
A questão cambial ganhou peso adicional com a recente desvalorização do dólar, ao qual a moeda chinesa está atrelada. Depois de dois anos de “congelamento”, Pequim voltou a permitir a apreciação do yuan em junho, mas desde então o ganho foi inferior a 3%. Muitos economistas sustentam que seria necessária uma valorização de pelo menos 20% para levar a moeda chinesa ao patamar que deveria alcançar caso seu valor fosse definido por forças de mercado e não pela intervenção do banco central.
Dilma assumirá a Presidência em um momento de fortalecimento institucional da relação entre os dois países, que passou a ser moldada pelo Plano de Ação Conjunto assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao em abril.
O documento traça as metas e princípios que vão reger a relação bilateral pelo período de 2010 a 2014. Entre os itens do programa está a necessidade de diversificação das exportações do Brasil para a China, formadas hoje principalmente por produtos primários – 80% das vendas são de soja, minério de ferro e petróleo. Porém não está claro no plano como esse objetivo poderá ser alcançado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ufa!: Fidel Castro salvou os ultimos true believers de serios problemas de consciencia...

Era o fim da picada: tudo ameaçava ruir. Ainda bem que o alívio veio rápido...
Um dos dois últimos dinossauros totalitários do finado socialismo estava causando um choque e uma depressão terrível nos, também últimos, verdadeiros crentes do nosso planeta.
Fidel Castro, um iconoclasta repentino -- mas felizmente temporário -- tinha ameaçado deixar no orfanato ideológico aquele punhado de fiéis do verdadeiro socialismo, os que só tinham Cuba como modelo (sim, pois o outro tirano está muito longe, e de todo modo não deixa ninguém entrar no seu gulag asiático).
Ainda bem que ele se redimiu rapidamente e disse que o jornalista americano -- só podia ser um americano -- tinha entendido al revés o que ele tinha falado: o que está em crise é o capitalismo, não o socialismo, pelo menos na sua modalidade especificamente cubana.
Para provar que o socialismo continua vivo, seu irmão Raul vai colocar meio milhão de trabalhadores cubanos num novo empreendimento socialista: a construção do "hombre nuevo", aquele que sobrevive mesmo sem a ajuda do Estado, o que convenhamos, depois de 50 anos de socialismo centralizado, já não era sem tempo.
O socialismo veio, justamente, para libertar o homem da exploração do capitalismo, e agora eles deixam de ser explorados pelo Estado, para se tornar seus próprios exploradores, num regime inédito nos anais da história econômica mundial.
Oiga Fidel: seus amigos brasileiros, entre eles dois frades dominicanos (assim dizem), meia dúzia de inteliquituais universitários, e toda a tropa do PSOL (deve dar mais de duas Kombis), respiram aliviados por essa importante correção ideológica.
Eles podem voltar a dormir tranquilos, sem essas ameaças de depressão, pesadelos inesperados e outros comichões ideológicos.
Vamos aguardar os próximos capítulos desta novela emocionante:
"Esqueçam o que eu disse" (com Fidel como único ator...).
Paulo Roberto de Almeida

PS: Como me lembra a Maria do Carmo Barbieri, no primeiro comentário a este post, faltou dizer que o Oscar Niemeyer já pode morrer tranquilo: seu herói, seu ídolo, não renega o socialismo...
================

Jornalista se diz surpreso com recuo de Fidel sobre modelo cubano
ESTEBAN ISRAEL - REUTERS
13 de setembro de 2010

Segundo Jeffrey Goldberg, líder já havia dito coisas parecidas sobre falência do sistema da ilha
Um jornalista norte-americano a quem Fidel Castro declarou que o sistema cubano já não serve mais afirmou nesta segunda-feira, 13, estar "surpreso" com a retificação apresentada pelo ex-presidente depois da publicação da entrevista.
Fidel diz ter sido mal interpretado por Goldberg

Fidel disse na sexta-feira que sua declaração a Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic Monthly, significava na verdade que é o capitalismo que não serve.

"Não sei como se pode interpretar a frase 'O modelo cubano já não funciona nem sequer para nós' como o contrário", disse Goldberg em teleconferência com jornalistas organizada pelo Conselho de Relações Exteriores, entidade de Washington que também participou da entrevista por intermédio da pesquisadora Julia Sweig.

"Surpreendeu-me o discurso em que (Fidel) disse ter sido mal interpretado, não só porque disse coisas parecidas antes, mas porque a realidade subjacente em Cuba mostra que o modelo cubano não funciona, e é por isso que estão começando uma experiência de privatização em grande escala", acrescentou.

Muitos analistas viram na entrevista de Fidel um sinal de reformas no regime comunista, agora dirigido por seu irmão Raúl.

Mas Fidel disse na sexta que suas palavras foram tomadas "ao pé da letra", e significavam "exatamente o contrário".

Na segunda-feira, no entanto, o governo anunciou que 500 mil empregos públicos serão extintos nos próximos seis meses, para dar mais espaço à iniciativa privada.

Fidel, de 84 anos, passou quatro anos afastado da vida pública, quando deixou a presidência para Raúl devido a problemas de saúde. Recentemente, voltou a aparecer, principalmente para fazer alertas sobre o risco de uma guerra nuclear envolvendo EUA, Israel e Irã.

Muitos analistas dizem que a volta do veterano revolucionário à vida pública pode frear reformas planejadas por Raúl. Mas a pesquisadora Sweig disse na segunda-feira que não notou divergências entre os dois.

"Ele não está bloqueando os esforços do seu irmão. De muitas maneiras, os temas em que não se envolve e as coisas de que não falam indicam que ele aprova o caminho implementado por seu irmão", afirmou ela na mesma.

"Ele tem 84 anos, esteve muitíssimo doente, e parece estar abrindo um novo capítulo da sua vida, em que não se envolve no dia a dia do governo como antes."

sábado, 11 de setembro de 2010

Adios comandante? Ahora si...

Sim, desta vez é o Fidel.
Mas se ele não disse adiós, tampouco disse algo inteligível, o que permite duvidar de sua integridade mental. Não que ele esteja maluco, agora. Sempre foi, e continua achando que o capitalismo vai acabar. Um caso de esquizofrenia aguda que vem de longe...
Claro, o capitalismo não funciona: se funcionasse direito para enriquecer a todos, Cuba não teria se convertido ao socialismo.
O que funciona mesmo é o socialismo: o método mais rápido, mais certeiro e mais eficaz para converter a todos em pobres e miseráveis, com exceção da nomenklatura. Isso os socialistas brasileiros já perceberam: tanto que nem querem ouvir falar em socialismo, só querem ser sócios do capitalismo dos outros...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel dice ahora que lo que no funciona es el capitalismo
Emilia C. de Paula
El País, 11/09/2010

Enmienda a la totalidad. Fidel Castro aseguró ayer que el socialismo cubano sí tiene validez, lo que no funciona, a su juicio, es “el sistema capitalista” que “ya no sirve ni para Estados Unidos, ni para el mundo, al que conduce de crisis en crisis, que son cada vez más graves, globales y repetidas”. El líder comunista no pudo ser más rotundo al matizar sus recientes declaraciones al periodista norteamericano Jeffrey Goldberg, a quien dijo, en una entrevista en la revista The Atlantic, que “el modelo cubano no funciona ni siquiera para nosotros”. Castro aseguró que el reportero no inventó la frase, pero que le malinterpretó absolutamente.

El ex mandatario cubano, de 84 años, dio su versión de lo sucedido en la entrevista durante la presentación de un libro autobiográfico suyo en La Habana. Según Castro, Goldberg le pregunto “si el modelo cubano era algo que aún valía la pena exportar”. A su entender, la pregunta llevaba “implícita la teoría de que Cuba exportaba la revolución”. Fue entonces cuando le respondió que “el modelo cubano” ya no les funcionaba ni a ellos.

“Se lo expresé sin amargura ni preocupación. Me divierto ahora al ver como él lo interpretó al pie de la letra y consultó con [la académica norteamericana] Julia Sweig, que lo acompañó y elaboró la teoría que expuso”, afirmó. Según Castro, “lo real” es que su “respuesta significaba exactamente lo contrario de lo que ambos periodistas norteamericanos interpretaron”. “Mi idea, como todo el mundo conoce, es que el sistema capitalista ya no sirve ni para Estados Unidos, ni para el mundo, al que conduce de crisis en crisis, que son cada vez más graves, globales y repetidas, de las cuales no puede escapar”.

Declaración matizada
El ex presidente cubano también desechó las interpretaciones de Goldberg sobre lo que le dijo sobre la crisis de los misiles. El periodista norteamericano le preguntó si había valido la pena haber pedido en 1962 al líder soviético Nikita Jruschov, durante la crisis de los misiles, que atacara a Estados Unidos con armas nucleares si era necesario. Según Fidel, le contestó textualmente: “Después de haber visto lo que he visto y de haber sabido lo que ahora sé, no valía la pena en lo absoluto”.

Castro dijo que lo que él recomendó a Jruschov era que si “EEUU invadía Cuba”, en ese momento con armas nucleares rusas, “no debía dejarse dar el primer golpe”.

============

E uma crônica à propos:

CASTRO NEGA CASTRO E CONFIRMA NIEMEYER
Janer Cristaldo, Sábado, Setembro 11, 2010

E não é que Niemeyer tinha razão? Fidel Castro veio a público para dizer que não disse o que disse. Não nega a entrevista concedida ao jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic. Mas acha que Goldberg foi longe demais. "Me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra. Sigo pensando que Goldberg é um grande jornalista. Não inventa frases, as transfere e as interpreta", disse, segundo o site oficial cubadebate.cu, sem trocadilhos.

- Minha idéia – continuou o tiranete – como todo o mundo conhece, é que o capitalismo já não serve para os Estados Unidos, nem para o mundo, ao qual conduz de crise em crise, que são cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não consegue escapar.

Ah bom! Não falava do socialismo. Quando disse que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba, não queria dizer que o modelo cubano não serve nem mesmo para Cuba. Pura interpretação do jornalista. O que queria dizer era que o capitalismo não serve nem mais para os Estados Unidos. Hugo Chávez, Chico Buarque, Ariano Suassuna, Luis Fernando Verissimo, Lula, dona Dilma, Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim e Tarso Genro podem respirar aliviados. A utopia continua viva. Niemeyer, o decano do stalinismo no continente, tinha razão. Castro não poderia ter dito tal bobagem.

Só não deve ter convencido os cubanos, que há meio século sabem que o regime cubano não serve para Cuba.

domingo, 8 de agosto de 2010

A Mumia: o retorno

Não creio que os cubanos estejam se divertindo com este remake. Já não diria que eles temem ficar no sol por 5 ou 6hs ouvindo discursos inúteis, mas quando eles pensavam que já estavam livres de um dos hermanos, e prontos para entrar numa nova era, eis que a múmia retorna para infernizar as suas vidas...
Paulo Roberto de Almeida

Fidel Castro warns of nuclear risk in 1st speech to Cuban parliament in 4 years
By Will Weissert
The Washington Post, Sunday, August 8, 2010

Fidel Castro's first government appearance since 2006 raises questions about how much of a leadership role he is ready to reassume.

HAVANA -- A lively and healthy-looking Fidel Castro appealed to President Obama to stave off global nuclear war in an emphatic address to the Cuban parliament Saturday that marked his first official government appearance since emergency surgery four years ago.

Castro, who turns 84 in a week, arrived on the arm of a subordinate who steadied him as he walked. The nearly 600 lawmakers present sprang to their feet and applauded as he took the podium, grinning broadly and waving. "Long live Fidel!" they chanted.

Castro has been warning in opinion columns for months that the United States and Israel will launch a nuclear attack on Iran and that Washington could also target North Korea -- predicting Armageddon-like devastation.

"Eight weeks ago, I thought that the imminent danger of war didn't have a possible solution. So dramatic was the problem that I didn't see another way out," Castro told the National Assembly. "I am sure that it won't be like that and, instead . . . one man will make the decision alone, the president of the United States."

His address, along with a spate of recent appearances after a four-year absence from public view, is likely to raise more questions about how much of a leadership role he is ready to reassume.

The speech lasted barely 11 minutes -- possibly a record for the man who became famous for his hours-long discourses during his 49 years in power.

He took a seat after his speech and was briefly approached by his wife, Delia Soto del Valle. In the past, the couple rarely appeared in public together, but Soto has been seen with Castro more frequently of late.

It was Castro's first appearance in parliament or at a government act since shortly before a health crisis in July 2006 that forced him to cede power to his younger brother Raúl -- first temporarily and then permanently.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Fidel Castro: sugestão de pronunciamento

Fidel Castro: sugestão de pronunciamento
Paulo Roberto de Almeida
(apenas um intermediário...)

Fidel Castro apareceu: asi no más, sem anunciar previamente a ninguém, resolveu conceder uma entrevista televisionada, imediatamente repercutida por todos os meios de comunicação do mundo: a CNN, imparcial, explicou que era sua primeira aparição “pública” em mais de um ano, e que ele exercitou seu esporte favorito, atacar os Estados Unidos. Sim, Fidel Castro responsabilizou os EUA pelo ataque com míssil que afundou o barco de patrulha da Coréia do Sul, provocando a morte de 46 marinheiros. Claro, os EUA, segundo o comandante (alguns dividem esta palavra), tinham interesse em sabotar o processo de paz entre as duas Coréias, continuar com o clima de guerra e assim assegurar a continuidade de sua presença na região. O imperialismo não recua diante de nada para conseguir seus intentos malévolos. Bem, tem gente que até aceita essa hipótese, mas eu não preciso dizer quem é...

Prefiro me dedicar a outro exercício: sugestões de cartas, ou pronunciamentos. Já fiz dois, dirigidos a seu irmão, Raul Castro, mas parece que ele não me atendeu. Sequer deve ter lido, e se leu não pretende, obviamente, seguir meus conselhos. Na última recomendação, eu sugeria a Raul Castro a ser menos Ceausescu e mais Gorbatchev, mas parece que ele não tem intenção de mudar de comportamento (tendo em vista, aliás, que Gorby perdeu seu emprego em pouco tempo, e os irmãos Castro pretendem continuar eternamente no poder, não se sabe bem como...).
Não seja por isso, eu (e vários outros companheiros) sou brasileiro e não desisto nunca. Mesmo que minhas recomendações não sejam seguidas, que eu seja uma nulidade no jogo do poder mundial – no máximo eu poderia me habilitar a disputar concursos mundiais de pingue-pongue e de mahajong – vou ainda assim fazer minha sugestão, desta vez dirigida ao próprio Fidel, já que ele parece em forma outra vez. Eu sugiro que ele faça um pronunciamento ao povo cubano, nestes termos.

Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano (no único canal oficial existente, embora a CNN também possa retransmitir e os cubanos vão ver com suas antenas clandestinas)

Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...

Estamos próximos de mais um 26 de Julho, nossa data máxima, a que comemora o início da revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.
Naquele 26 de julho de 1953, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início com isso à nossa luta contra um regime ditatorial e submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento que me condenou pouco depois eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, assim como fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início à luta uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.
Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase sessenta anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.
Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que tem nos ocupado pelos últimos cinquenta anos.

Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo a opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram.
Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo – que manteve um duro embargo contra nossa economia – e não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, vinte anos atrás. Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente.
O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos.
Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo, quanto a que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, e que nos prometiam um futuro brilhante na via do socialismo.
Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – e de tudo o que fosse patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.
Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas. Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba.

Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. Não tenho mais aonde ir, nenhum país me estende convites, só me restaram uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa. Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma.
A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. O Partido Comunista anuncia que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembléia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos cinquenta anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.
Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.
Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres. Que a História os proteja!

Fidel Castro Ruz (com uma pequena ajuda de um escriba intrometido).
(13.07.2010)

=============

Cartas anteriores:
Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
Via Política (17.08.2009).

Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
Via Política (16.11.2009).