O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador França. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador França. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de março de 2024

Os dez maiores bancos do mundo, 2023

 World's largest banks, 2023.

1. 🇨🇳 ICBC

2. 🇨🇳 China Construction Bank

3. 🇨🇳 Agricultural Bank of China

R. 🇺🇸 Bank of America

6. 🇺🇸 JPMorgan Chase

7. 🇯🇵 Mitsubishi 

8. 🇬🇧 HSBC

9. 🇫🇷 BNP

10. 🇫🇷 Crédit Agricole


(S&P Global Market Intelligence)

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

O avanço do islamismo preocupa a França - Gilbert Collard

 A paranoia atinge muita gente, que não confia no vigor da cultura nacional para controlar o fervor religioso de estrangeiros imigrantes.


Prezados Todos

A França (liberal e pioneira na criação de permissividades) está passando por uma fase de "muçulmanização" nos hábitos e na leis.

Um advogado francês chamado Gilbert Collard resolveu se manifestar:

- "Fui obrigado a tomar consciência da extrema dificuldade em definir o que é um infiel, para poder escolher entre Alá ou o Cristo; até porque o Islamismo é de longe a religião que progride mais depressa no nosso país. Participei de um estágio anual de atualização, necessária para renovação da minha habilitação de segurança nas prisões. 

Nesse estágio houve uma apresentação por parte de quatro palestrantes, representando respectivamente as religiões Católica, Protestante, Judaica e Muçulmana, explicando os fundamentos das suas doutrinas respectivas. 

Foi com um grande interesse que esperei a exposição do Imã.

A apresentação deste ultimo foi notável, acompanhada por uma projeção em vídeo.


Terminadas as intervenções, chegou-se ao tempo de perguntas e respostas, e quando chegou a minha vez, perguntei: 


- “Agradeço que me corrija se eu estiver enganado, mas creio ter compreendido que a maioria dos Imãs e autoridades religiosas decretaram o “Jihad” (guerra santa), contra os infiéis do mundo inteiro, e que matando um infiel (o que é uma obrigação imposta a todos os muçulmanos), estes teriam assegurado o seu lugar no Paraíso. Neste caso poderá dar-me a definição do que é um infiel?”


Sem objetar à minha interpelação e sem a menor hesitação, o Imã respondeu:

- *_"Infiel é todo não muçulmano”_*.


Eu respondi: 

- “Então permita-me assegurar se compreendi bem; os adoradores de Alá devem obedecer às ordens de matar qualquer pessoa não pertencente à vossa religião, a fim de ganhar o seu lugar no Paraíso, não é verdade?


A sua cara, que até então tinha tido uma expressão cheia de segurança e autoridade, transformou-se subitamente na de um menino, apanhado em flagrante com a mão dentro do açucareiro!!!


- _*"É exato"*_, respondeu ele num murmúrio.


Eu retorqui: 

- “Então, eu confesso ter bastante dificuldade em imaginar o Papa dizendo para os católicos que massacrem todos os vossos correligionários, ou o Pastor Stanley dizendo o mesmo para garantir a todos os protestantes um lugar no Paraíso.”


O Imã ficou sem voz !


Continuei: 

- “Tenho igualmente dificuldades em me considerar vosso amigo, pois que o senhor mesmo e os vossos confrades incitam os vossos fiéis a cortarem-me a garganta!”


Além disso, me aflige uma outra questão: 

- “O senhor escolheria seguir Alá que vos ordena matar-me a fim de obter o Paraíso, ou o Cristo que me incita a amar-vos a fim de que eu aceda também ao Paraíso, porque Ele quer que eu esteja na vossa companhia?”


Nessa hora, dava para ouvir uma mosca voar, enquanto que o Imã continuava silencioso.


Será inútil afirmar que os organizadores e promotores do Seminário de Formação não apreciaram particularmente esta maneira de tratar o Ministro do culto Islâmico e de expor algumas verdades a propósito dos dogmas desta religião.


No decurso dos próximos trinta anos, haverá suficientes eleitores muçulmanos no nosso país para instalar um governo de sua escolha, com a aplicação da “Sharia” como lei.


Parece-me que todos os cidadãos deste país e do mundo deveriam poder tomar conhecimento destas linhas, mas como o sistema de justiça e das “mídias” liberais combinados com a moda doentia do "politicamente correto", não permitirão de forma nenhuma que este texto seja publicado de forma intensiva.


É por isto que eu vos peço para enviar a todos os seus contatos via Internet.

Obrigado, 

Gilbert Collard, cristão, cidadão francês e advogado.

terça-feira, 2 de maio de 2023

O Brasil já teve constituições demais? E a França?

 Vcs acham que o Brasil já teve constituições demais? 

Foram sete ou oito, segundo se possa considerar as extensas emendas introduzidas em 1969, depois do AI-5 à Constituição de 1967, uma nova Constituição, ou seja, tantas quantas foram as nossas moedas desde o abandono do mil-reis em 1942. 

Mas e a França, novamente comvulsionada por uma nova mini-revolução, na impossibilidade de debater uma reforma consensuada sobre seu regime previdenciário? Ela já teve 14 constituições, o DOBRO do Brasil;

“Ainsi, depuis 1789, la France a-t-elle connu 14 constitutions (trois sous la Révolution , trois sous le Consulat et l'Empire, deux chartes plus la Constitution de 1815 dite des "Cent-jours", puis les constitutions de 1848, 1852, 1875, 1946 et 1958), auxquelles il faut ajouter d'une part les constitutions non appliquées ...”

Ou seja, já está na hora de ter mais uma…

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Reformas previdenciárias são absolutamente e permanentemente necessárias, mas sindicadilistas se opõem, contra toda a sociedade

 No Brasil é a mesma coisa...

GREVE GERAL NA FRANÇA DESAFIA REFORMA DA PREVIDÊNCIA DE MACRON E PROMETE CAOS!

Folha de S. Paulo, 18/01/2023

O fantasma de grandes manifestações contra o governo, que os coletes amarelos fizeram ser uma das marcas do primeiro mandato de Emmanuel Macron na França, agora rondam seu segundo governo. O país enfrenta nesta quinta-feira (19) uma greve geral, convocada em reação à reforma da Previdência anunciada no último dia 10 pela primeira-ministra, Elisabeth Borne.

Trata-se da primeira paralisação a unificar as principais centrais sindicais francesas em 12 anos. O presidente, que desde a vitória na eleição de 2022 enfrentou o revés da perda da maioria no Legislativo e os impactos amargos da Guerra da Ucrânia na Europa, agora vê uma articulação que promete gerar uma quinta-feira caótica no país.

Escolas devem fechar, parte dos serviços de transporte e saúde será suspensa e o trabalho dos correios ficará interrompido, bem como o dos setores de energia e petróleo. "Será uma mobilização muito, muito grande", afirmou à rádio France Info o sindicalista Philippe Martinez, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). "Diante de uma reforma tão séria, é um sinal importante que todos os sindicatos estejam unidos."

Os indícios de adesão maciça de trabalhadores aos protestos devem marcar o início de uma campanha que pretende continuar até fevereiro —e que tem tudo para ressuscitar as revoltas que geraram convulsão em 2018 depois do anúncio do aumento de uma taxa sobre combustíveis.

Revelados os planos de reforma no dia 10, os coletes amarelos já deram as caras em Paris e cidades como Toulouse, a quarta maior da França, onde uma marcha no último fim de semana fechou ruas do centro sob gritos contra Macron e sua proposta para a Previdência.

Diante de um cenário explosivo, em meio a uma população já enfurecida pela alta nos preços de alimentos e combustíveis, analistas têm sido cautelosos ao avaliar que proporções a greve pode tomar. Na saída da reunião do conselho de ministros, nesta quarta (18), o porta-voz Olivier Véran deu o tom da relação do Eliseu com a frente grevista: "Não se pode confundir manifestação e direito de greve com bloqueio".

Menos ambiciosa do que a proposta defendida por Macron na campanha pela reeleição, a reforma anunciada pelo governo quer aumentar em dois anos a idade mínima para aposentadoria, de 62 para 64 anos, até 2030. Também pretende elevar o tempo exigido de contribuição para ter acesso à pensão completa, de 42 para 43 anos, antecipando essa mudança para 2027 —uma lei de 2014 prevê a medida apenas para 2035. Esta alteração atingiria mesmo trabalhadores que se enquadram em regimes especiais, que deverão ser extintos para os novos ingressantes no sistema previdenciário.

Segundo estimativas do Ministério do Trabalho, aumentar os anos de contribuição pode render um adicional de € 17,7 bilhões ao ano para os fundos previdenciários.

"Quando há mais idosos trabalhando, aumentamos nossa riqueza coletiva, porque há mais impostos", defendeu Borne. "Esses recursos podem ser usados para reduzir nosso déficit orçamentário e para áreas prioritárias da política financeira, como saúde, educação e transição ambiental."

Para Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), o maior sindicato do país, trata-se de "uma reforma para equilibrar o Orçamento [do país] apenas nas costas dos trabalhadores".

A idade de aposentadoria na França é menor do que na maioria dos países europeus. Britânicos, por exemplo, têm acesso ao regime de Previdência aos 66 anos e os italianos, aos 67.

Macron já havia apresentado uma primeira proposta de reforma do setor em 2019, no primeiro mandato. Na ocasião, enfrentou ruas tomadas por manifestações e a mais longa greve nos transportes da história da França. O início da pandemia de Covid-19, então, o fez colocar os planos de volta na gaveta.

Quase quatro anos depois, o presidente francês afirmou, em seu discurso de Ano-Novo, que a reforma é "essencial para salvar o sistema" previdenciário e equilibrar as contas do Estado. Talvez antevendo ruídos, pediu ainda que a população se mantivesse unida.

Dias depois, a primeira-ministra explicou que, pelo modelo atual, "os membros ativos financiam as pensões dos membros aposentados". E continuou, argumentando em defesa das mudanças que viriam na proposta: "Estamos vivendo cada vez mais tempo, portanto o número de trabalhadores em relação ao número de aposentados está diminuindo constantemente".

Aos ouvidos dos franceses, no entanto, a fala soou como desculpa para a retirada de direitos. Em um comunicado conjunto, as principais centrais sindicais do país classificaram a reforma como brutal e sem justificativa, alegando que ela vai atingir duramente todos os trabalhadores.

"Se vivemos mais do que nos anos 1950, por outro lado somos muito mais produtivos", rebateu a CGT em outra nota. "Produzimos mais riqueza através de nosso trabalho, e ninguém pode contestar isso. Em teoria, temos os meios para financiar a aposentadoria."

Segundo pesquisa encomendada pelo jornal econômico Les Echos, o mais importante na área, 61% dos franceses concordam que alguma reforma da Previdência é necessária ao país, mas 66% discordam da mudança na idade mínima e 60% rejeitam o aumento no tempo mínimo de contribuição.

Para além da pressão das ruas, a proposta da dupla Macron-Borne também uniu os partidos de oposição, embaralhando campos políticos antagônicos. "É uma grave regressão social", disse Jean-Luc Mélenchon, líder da legenda de ultraesquerda França Insubmissa. Do lado oposto, Jordan Bardella, presidente da Reunião Nacional de Marine Le Pen, usou os termos "injusto e brutal" para definir o texto.

Completando o cenário, o presidente centrista aparece com a popularidade em baixa nas pesquisas, o que impõe dificuldades extras aos planos reformistas em um cenário em que não há maioria no Parlamento —perdida apenas dois meses depois de sua reeleição, em 2022.

A proposta deve ser apresentada formalmente ao conselho de ministros no próximo dia 23, para então seguir à Assembleia Nacional, onde Macron espera obter o apoio da direita para aprovar o texto ainda no primeiro trimestre. Durante esse tempo, a união dos sindicatos da França não deve dar trégua.

PRINCIPAIS MEDIDAS DA REFORMA PROPOSTA POR MACRON

Mudar progressivamente a idade da aposentadoria: de 62 anos hoje, chegaria a 64 em 2030. A idade mínima aumentará em três meses por ano a partir de 1º.set.2023

Aumentar o tempo mínimo de contribuição para ter acesso a pensão na íntegra: de 42 anos hoje, passaria a 43 em 2027. O tempo de contribuição aumentará três meses a cada ano

Quem começou a trabalhar cedo, entre 14 e 16 anos, poderá se aposentar ao completar 58 e 60 anos, respectivamente

quarta-feira, 11 de maio de 2022

O fim da carreira na França e o futuro da diplomacia no Brasil - Pedro de Abreu e Lima Florêncio (Revista Interesse Nacional)

 O fim da carreira na França e o futuro da diplomacia no Brasil


Por Pedro de Abreu e Lima Florêncio*

Revista Interesse Nacional, maio 2022


Decisão de Macron de extinguir formação específica do corpo diplomático francês a fim de dar mais dinamismo à atuação externa do país abre questionamento sobre o ainda importante lugar dos diplomatas, mas não deve ser replicada em países como o Brasil

Em abril, antes das eleições presidenciais, Emmanuel Macron, como parte de sua reforma administrativa, extinguiu a carreira diplomática na França. Isso significa que, desde então, não se exige mais formação específica para o corpo diplomático francês, que passará a ser composto por funcionários de diversos ministérios e admitirá a possibilidade, inclusive, de funcionários recrutados do setor privado.

A decisão, que teve parca repercussão na mídia tradicional na França, contou com fortes reações no Ministério das Relações Exteriores. Diversos diplomatas prontamente reagiram com críticas contundentes. O receio maior seria a perda de excelência no serviço prestado pelos prestigiosos funcionários franceses. Macron quis, com a decisão, dar mais dinamismo à atuação externa do país, e ter a possibilidade de contar com corpo de funcionários com leque de expertise em diversos ramos do conhecimento e com histórico profissional mais amplo e variado em termos de atribuições. Esse objetivo, no entanto, para a maior parte dos críticos, causará prejuízo incomensurável no desempenho específico da função diplomática, que requer, para eles, profundos e dedicados anos de especialização.

Críticos dizem que medida causará prejuízo no desempenho específico da função diplomática, que requer profundos e dedicados anos de especialização

Será que não seria importante para o diplomata contar com formação e carreira específicas par o seu ofício? O que pode prenunciar essa decisão do governo francês?

Não se sabe ao certo quando exatamente surgiram os primeiros diplomatas, mas pode-se inferir com razoável grau de precisão que a função está intimamente vinculada com a premência de se evitar guerras. Os primeiros relatos de algum nível de especialização datam da necessidade do estabelecimento de regras mínimas para o envio de mensagens entre reinos e povoados distintos. Imprescindível preservar a segurança dos mensageiros para garantir que a mensagem chegaria. Com o tempo, os embaixadores passam a ser os próprios mensageiros, normalmente emissários de um rei específico com propostas de paz, de aliança, e quiçá algum matrimônio entre príncipes para consolidá-los. Normalmente esses funcionários eram pessoas de alta confiança dos mandatários e detinham ocupações prestigiosas nas cortes.

Com o maior intercâmbio entre países ocorre progressiva especialização do ofício diplomático e, na primeira metade do século XX, o Brasil e diversos outros países já passam a contar com carreira específica, com método de seleção meritocrático e curso de aperfeiçoamento próprio. Em 1945 cria-se o Instituto Rio Branco com a dupla missão de formar, promover o aperfeiçoamento dos diplomatas brasileiros e de constituir núcleo de estudos sobre a diplomacia e relações internacionais.

Em função da excelente formação de nossos diplomatas e do rigoroso processo seletivo, esses funcionários rapidamente destacam-se no seio da administração pública e no exterior. Nos anos 1980 e 1990, um giro rápido nos gabinetes dos altos escalões da esplanada dos ministérios em Brasília era garantia certa de encontro com embaixadores, ministros de segunda classe e conselheiros. Nos fóruns internacionais, da ONU à OMC, imperavam absolutos representando com competência, desenvoltura, independência e altivez os interesses nacionais. Nossa diplomacia era razão de orgulho, ilha de excelência da administração pública e reflexo da política acertada de investimento em carreiras típicas de Estado bem desenhadas, meritocraticamente selecionadas e com formação de qualidade.

Felizmente a carreira diplomática manteve a excelência, mas deixou de ser ilha, e o modelo foi replicado. Ao longo dos anos 1990, surgem diversas carreiras específicas em inúmeros ministérios. Carreiras bem estruturadas, em funções típicas de Estado, selecionadas por intermédio de competitivos concursos públicos e com programas de formação e aperfeiçoamento. O quadro da administração pública federal passa a progressivamente contar com servidores muito bem qualificados e formados, muitos com excelentes conhecimentos em línguas, e mestrado e doutorado em prestigiosas instituições no Brasil e no mundo.

Como resultado, hoje há menos diplomatas, em termos proporcionais, nos gabinetes de alto escalão da esplanada. Hoje eles concorrem nessas funções com analistas de comércio exterior, especialistas em políticas públicas e gestão governamental, analistas de planejamento e orçamento, funcionários do Banco Central e do Tesouro Nacional. No exterior, por sua vez, cada vez menos a performance do Brasil em fóruns internacionais depende do diplomata, cada vez menos necessário que ele avalie em profundidade o mérito dos assuntos, o conteúdo. Hoje é comum vermos em reuniões internacionais diversos funcionários do governo brasileiro comunicarem-se com desenvoltura e precisão sobre temas técnicos específicos da área de suas respectivas carreiras.

‘Ninguém melhor do que o diplomata para divulgar e representar o país perante nações amigas com pleno conhecimento de causa’

Isso significa que o ocorrido na França é um possível prenúncio de desdobramentos semelhantes no Brasil?

Provavelmente não. As dificuldades para eventual decisão nesse sentido são diversas. Em primeiro lugar, há determinadas tarefas específicas e particulares de negociação e de representação do país que dependem muito de conhecimento e formação especializada, e a burocracia brasileira tem ciência e valoriza isso. No auge de uma negociação de acordo regional de suma importância, por exemplo, logicamente que, munido da informação técnica de áreas específicas, caberá ao embaixador desenhar e implementar a estratégia mais efetiva para os interesses nacionais. Por outro lado, ninguém melhor do que o diplomata para divulgar e representar o país perante nações amigas com pleno conhecimento de causa.

Além disso, a retirada da formação direcionada e a possibilidade de nomeações de outros funcionários públicos pode dar margem a excessiva politização de uma carreira que prima pela excelência profissional. Outra dificuldade é de como ensejar racionais e eficazes mecanismos de progressão funcional para um corpo técnico que pode ter origens muito díspares.

Mas a resposta à questão formulada, acima, também vai depender muito de como os interesses e os embates das carreiras de Estado ocorrerão. Inevitável, por um lado, que as carreiras mais novas, empoderadas e com cada vez mais domínio e proeminência sobre áreas de conhecimento técnicas especializadas projetem-se ao exterior. Por outro lado, não se espera, tampouco, que os excelentes quadros do Itamaraty se contentem a cada vez menos se debruçar sobre o mérito de assuntos de suma importância para os interesses nacionais.

A situação, caso não resolvida, pode gerar constrangedores impasses. Suponhamos, hipoteticamente, o seguinte caso: Deve o Brasil, por exemplo, baixar suas tarifas de bens de capital, se isso gera maior eficiência a toda cadeia produtiva nacional? Um gestor federal ou analista de comércio exterior poderia dizer que sim, munido por análise técnica de impacto na economia nacional. Um diplomata, premido pela lógica da estratégia e do poder de barganha em negociações internacionais, pode alegar que a medida é precipitada, uma vez que o país se encontra em diversos fóruns de negociação. Não deveríamos, portanto, “ceder” sem antes de obtermos algo em troca. Logicamente que ambas “rationales” têm sua validade nos seus devidos ofícios e na lógica de pensamento própria das formações especificas.

O problema é justamente como acomodar essas lógicas distintas. A solução perpassa, como na maioria das situações concretas do dia-a-dia, por algum nível de contemporização. A acomodação racional e menos traumática demanda, por uma lado, que as novas carreiras de Estado, valorizem e respeitem o ofício da representatividade tradicional, estratégica e especializada, essencial, sem sombra de dúvida. Por outro lado, fundamental também que os diplomatas aceitem que na complexidade do mundo globalizado e interdependente de hoje, cada vez mais ele depende do conhecimento técnico específico de qualidade, que não pode dominar na íntegra.

Lógico que atualmente não há nenhuma perspectiva de mudança no Brasil da carreira que, de acordo com Raymond Aron, congrega as funções públicas por excelência, junto com os militares. Além das razões acima, o prestígio e a tradição também são fatores preponderantes. Vale, no entanto, manter acompanhamento constante dos resultados da reforma francesa, que podem trazer louváveis ensinamentos, no futuro, para o Brasil.

________________________________________

*Pedro  de Abreu e Lima Florêncio é especialista em políticas públicas e gestão governamental do Ministério da Economia, atualmente em exercício no CADE. Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), e em direito pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Possui mestrado em direito econômico internacional pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, e doutorado em direito, com ênfase em regulação e direito econômico, pela mesma instituição.


sábado, 7 de maio de 2022

Lend-Lease: da história para a atualidade: Adam Tooze no Chartbook 119

 

Chartbook #119: Lend-Lease & Escalation

Containers of Dodge trucks awaiting shipment to Russia under the lend-lease agreement, August 1943. Library of Congress, Washington, D.C.; Alfred T. Palmer, photographer (LC-USE6-D-002838)

In 2022, we wait with bated breath to see how Putin will mark “Victory day”, the day of celebration that marks the Soviet Union’s defeat of Nazi Germany. Meanwhile, in Washington DC as well, they are summoning the ghosts of the past. If Putin evokes the Great Patriotic war, on our side the references are to the Cold War, World War II, the spirit of the enlightenment, ancient battle of democracy against autocracy and so forth.

To offer lessons and inspiration at times of crisis is a classic role for history. Indeed, it is, perhaps, the classic role for public history, But, in this role, history is closest to myth-making. It serves as much to close off, as to open debate. “We all know that appeasement was a disaster, so …. ” etc etc. 

To deny the significance of history in this role would be naive and unrealistic. After all, sometimes we need to act and often we need inspiration. 

But, there is also a role for critical history. Not to prejudge the question at hand but precisely to ensure that quasi-mythic history is not being used to foreclose the evaluation of the options that are available to us and the likely consequences of those decisions. Capsule histories, long ago smoothed into triumphant narratives promise outcomes far neater than what we can actually expect. 

In this sense, critical history is not merely academic pee-shooting. It is part of the daily struggle to preserve a realistic attitude. It is part of the daily struggle to orientate ourselves in medias res - in the middle of things - in the actual middle of the actual things, here and now and not in the 1940s. 

During the spring meetings of the Bretton Woods institutions a few weeks ago, the talk was of the Marshall Plan. I discussed in the New Statesman and in a previous Chartbook whether that example is really relevant to our situation. 

The historical Marshall Plan was more complicated and less massive than is commonly imagined. It was also a postwar program. That does not mean that the Marshall Plan was innocent in geopolitical terms. On the contrary, it was a key driver of Cold War division of Europe. By the 1950s it merged with US military assistance to drive the rearmament of Europe and Asia. But the Marshall Plan is not remembered for starting World War III. Instead, we invoke it like a comfort blanket - a big fix for a big problem with a happy end. 

The program under which America bankrolled and supplied Allied victory in World War II was Lend-Lease. Launched in March 1941 It was originally intended to back the British Empire, Greece, China in their separate struggles against Nazi Germany and Imperial Japan. After the Nazi invasion of the Soviet Union American assistance was extended to the Soviet Union as well. 

Vastly larger than the Marshall Plan and launched into a middle of on-going wars, Lend Lease was a dramatic act of escalation. As the best known history of Lend-Lease remarks: “The Lend-Lease Act marked the point of no return for American policy regarding Hitler’s Germany.” Lend Lease tied together the separate struggles in Europe and Asia to create by the end of 1941 what we properly call World War II. 

Source: Hyperwar

It is striking - to say the least - that already in January 2022, before Putin’s invasion, the US Congress had taken up Lend-Lease as the historical inspiration for a legislative measure that frees the Biden administration’s hands in providing aid to Ukraine. 

The Ukraine Democracy Defense Lend-Lease Act was unanimously approved by the Senate and passed by the House of Representatives by a vote of 417 to 10. Now, according to remarks made by press secretary Psaki, Biden may sign it into law on May 9th. 

Will a new Lend Lease Act be America’s answer to Putin’s “Victory day”? 

As well-informed defense journalists point out, the Lend Lease Act of 2022 adds very little to Biden’s already extensive powers to support to Ukraine. Far more consequential in that regard are the $33 billion in additional aid that Biden has requested. But that isn't the point of the Congressional measure: 

… this is the actual genius of the Ukraine Democracy Defense Lend-Lease Act. Even if the exemption of certain lease provisions isn’t going to do anything that existing authorities don’t already cover, invoking the memory of Lend-Lease is an entirely different issue. Frankly, nobody will wax poetic about the 1961 Foreign Assistance Act. … But Lend-Lease is a term that is ingrained in the American story.

… it’s the spirit of the law that’s vital here. … Achieving something other legislative proposals have not, it has set the proper tone for the conversation. The clear decision of the American people, as represented in Congress, to put the power of American industrial might, guided by Ukrainian hands, into the fight against Russian aggression.

“The American story” was very much to the fore, when, in supporting the measure in the House, Speaker Nancy Pelosi invoked the legacy of her fatherwho was one of the House members who followed FDR’s call to vote for the original bill. 

81 years ago, President Franklin Delano Roosevelt came here to the Congress of the United States, to the House of Representatives – where I’m proud to say my father, Thomas D'Alesandro, served as a Member of Congress – and President Franklin Roosevelt delivered a bold and historic request.

Symbolism aside, the scale of the aid now being envisioned by the Biden administration is unprecedented. As Ben Freeman and William Hartungpoint out at Responsible Statecraft

if Congress signs off on this new request the U.S. will have authorized $47 billion in total spending to Ukraine. That’s more than the Biden administration is committing to stopping climate change and almost as much as the entire State Department budget.

This is twice the maximum amount of money ever provided in a single year to the Afghan army (as opposed to money spent by the US in Afghanistan) and seven times the US military aid budget for Israel. The total request amounts to one third of Ukraine’s prewar GDP. As far as Ukraine is concerned, the US is bankrolling a total war effort and the US political class has with near unanimity declared that the appropriate historical analogy for this effort is 1941 - “All measures short of war”.

As Lockheed Martin has announced it is ramping up production of Javelin anti-tank missile systems to meet the unexpected surge in demand. As Chief executive James Taiclet announced.

“I went over to the Pentagon with my team and basically told the senior leadership there, ‘Look, we’re already investing in increasing the capacity, please make it right and give us the contracts and agreements we need down the road, but we’re going to start investing now,’”.

In a short piece in The Guardian last week I queried what the implications might be of this discursive move. What history are we summoning in evoking the Lend-Lease act of 1941?

Last year, the 80th anniversary of 1941 saw the publication of three substantial books that throw new and often alarming light on that moment. 

As Stephen Wertheim - one of the founders of the Quincy Institute for Responsible Statecraft - spells out in his book Tomorrow, the Worldfollowing the collapse of British and French resistance on the continent of Europe to early 1941, American strategists shifted from the Wilsonian stance of wanting to arbitrate world affairs from a vantage point of armed neutrality, to a full-throated interventionism. What was now envisioned was that that the United States should reshape the world order through direct and massive engagement on a global scale. Though this shift in strategy began within the Roosevelt administration in 1940, it was in 1941, with Lend Lease, that it broke into the open. 

In order to supply the fight against the Axis, Roosevelt sought the assent of Congress, as he had not done over the destroyers deal (in 1940). He wagered that noninterventionists, if brought into the open, would suffer a crushing defeat. He was right. The Lend-Lease Act, debated in January and February and passed in early March, removed the cash-and-carry restrictions and empowered Roosevelt to designate future recipients of aid. Under international law, no neutral could assist a belligerent as America was aiding Britain. Interventionist lawyers thus decided that America was not a neutral. Led by Quincy Wright, the political scientist and international lawyer, they popularized the category of nonbelligerent to characterize the U.S. position.31 By shedding the vestiges of neutrality, Roosevelt freed up interventionists to think and speak about the kind of world for which the Anglophone Allies stood. Even before the LendLease Act passed, Borchard lamented that noninterventionists had been “out-shouted.”32

Roosevelt’s wager that he could defeat the non-interventionist would be vindicated. But as Wertheim reminds us it was more of a stretch than the bards of the “American story” might be comfortable remembering. 

In 1940-1941, polling by Gallup showed considerable opposition to greater intervention in the war against Hitler and Mussolini. The original Lend-Lease act passed through Congress against far tougher opposition than the revival of the Act has faced in 2022. Eventually, it passed the House by 260 to 165 and the Senate 60 to 31. 

As Wertheim points out, it was in the course of the Lend-Lease debate, in February 1941, that Henry Luce launched his appeal for his fellow Americans to take up the mantle of the “American Century”, an idea that continues to hang over the “American story” today. 

The question that must haunt us today is whether Lend Lease in 1941 set America on an inescapable path towards war. Both critics and supporters of FDR always insisted that Lend Lease had in effect set a trap. As Warren F Kimball reports in The Most Unsordid Act. Lend-Lease 1939-1941

A day or so after Roosevelt’s announcement of the Lend-Lease idea, Hull (Secretary of State) remarked to Breckinridge Long (Assistant Secretary) that, depending upon Hitler’s actions, America could be in the war within ten days or six months. Long, who was closely akin to Joseph Kennedy in his views of the situation, was more inclined to believe that America’s belligerency would depend on the amount and type of aid given to Great Britain. Either way, both men found their thoughts running in the direction of war as a result of the President’s newly announced program.

On the other side of the Atlantic, Britain of course devoutly hoped that Lend Lease was just the beginning and the US would soon be dragged, willy-nilly into the war. As the debate raged, Britain waited anxiously to know how the Congressional vote would go. As Kimball reports, 

H. Duncan Hall, who was attached to the British Embassy in Washington at the time, captured the tense emotion: “For the first time in its history the United Kingdom waited anxiously on the passage of an American law, knowing that its destiny might hang on the outcome. London waited with an imperfect knowledge of American legislative processes and little understanding of American public opinion.” 73 The effects of the Great War, long hidden from public view, had wrought a permanent change in the Britain of Castlereagh, Kipling, and Churchill. The king was dead—long live the king!

But, as Cordell Hull had remarked, assuming that American public opinion would not back a unilateral declaration of war by the United States, the future depended not on Washington or London, but on the reaction in Berlin. 

In Wages of Destruction, back in 2006, this is how I described the reaction of Germany to the announcement of Lend-Lease. 

 The first line of the report from the Washington embassy on lend-lease, received by the Foreign Ministry, the Wehrmacht high command, the army and the Air Ministry, stated bluntly: 'The Lend-Lease Act currently  before Congress . . . stems from the pen of leading Jewish confidants of the President. It is intended to give him the possibility of pursuing without limitation his policy of influencing the war through all means "short of war". With the passage of the law the Jewish world-view will therefore have firmly asserted itself in the United States.' It then went on to itemize the huge deliveries that could now be expected by 'England, China and other vassals'.46

For me, as for Tobias Jersak and an interpretive line that runs back to Saul Friedländer’s early book Prelude to downfall: Hitler and the United States 1939–1941 (1967), Lend Lease was a key moment in the escalating tension between the United States and Nazi Germany that impelled not just military strategy but also the radicalization of the regime’s racial policy. 

The idea that FDR was under the control of Jewish influence did not originate with Lend-Lease but in earlier antagonism between the Third Reich and the United States. The attention of Nazi racial ideologues had shifted to the US over the winter of 1938-1939 following FDR’s denunciation of the Kristallnacht pogrom and the so-called war of words between Hitler and the White House. 

Most openly the coming confrontation with the United States was anticipated by Hitler in his ominous speech to the Reichstag of 30 January 1939 in which he linked the prospect of a world war i.e. a war with the United States, to the threat that European Jewry would be annihilated. 

Throughout 1939 and 1940 German military planners paid anxious attention to America’s armaments efforts and purchases in the US by Britain and France. Regime literature directed towards the inner core of the Nazi party and the SS was studded with references to Jewish influence in the United States. 

Against this backdrop, Lend-Lease was a dramatic escalation that confirmed the Nazi’s worldview. Britain and the United States were linked in an antagonistic alliance, motivated by dark forces bent on Germany’s destruction. 

In the compass of the very short Guardian piece, the editors and I decided to bracket this dimension of the history of 1941. It is simply too explosive and too easily misread as some kind of absurd equation between Hitler and Putin. But if you want to wrestle with the actual history of Lend Lease you cannot side step its entanglement in Hitler’s Manichean anti-semitic worldview. 

2021 saw the publication of two new historical studies that reinforce this line of interpretation. As we learn from Klaus Schmider’s meticulous reconstruction of the build-up to the German declaration of war on the United States on December 11, in Hitler’s Fatal Miscalculation (2021), Hitler was, indeed, deeply concerned about Lend-lease. As he told his entourage on March 24 1941: 

‘the Americans have finally let the cat out of the bag; if one felt so inclined, it would be legitimate to interpret this as an act of war. He was now in a position to allow a war to break out without further ado. However, right now, it was not something he was keen on. The war with the US was sure to come sooner or later anyway. Roosevelt and the Jewish financiers have no other choice to than to strive for this war, since a German victory in Europe would mean enormous financial losses for the American Jews. It is merely regrettable that as yet no planes existed which could bomb American cities. This is a lesson he would like to teach the American Jews. To be sure, this new Lease Law would bring him additional major problems. He had now come to the conclusion that its success could only be prevented by ruthless naval warfare.’

When Hitler met Japan’s Foreign Minister in April 1941 he told him that war with the United States was already “taken into account”. 

As Lend-Lease deliveries ramped up, this set the stage for the Atlantic Charter meeting between FDR and Churchill on 14 August 1941, from which would emerge the United Nations. That too, as Tobias Jersak first argued, was interpreted in Berlin as a tightening of the global conspiracy against the Nazi regime. And that had ominous implications. 

Throughout the autumn of 1941 as the struggle on the Eastern Front entered its climactic stage, references multiply to Hitler’s prophecy i.e. his Reichstag speech of 30 January 1939. 

In his address to the troops of Army Group Centre on 2 October ahead of the final push to Moscow (operation Typhoon), Hitler linked the decisive battle for Moscow directly to the racial struggle not just on the soil of the Soviet Union but worldwide. Germany was now at war both with Bolshevik Russia and capitalist Britain, behind which stood the United States. Superficially different, the two economic systems were in fact fundamentally alike. Bolshevism was no better than the worst kind of capitalism. It was a creator of poverty and destitution and 'the bearers of this system', 'in both cases', were 'the same: Jews and only Jews!’ The assault on Moscow was to deliver a 'deadly thrust' against this arch-enemy of the German people.”

Hitler’s problem was how to conduct that global war. Without a powerful navy or a strategic air force he had few ways to strike at the British Empire, let alone the United States. It was that calculation that ultimately bound Nazi Germany to Imperial Japan and drove Hitler towards his declaration of war on the United States on December 11.

As Brendan Simms and Charlie Laderman make clear in their extraordinary reconstruction of the events between Pearl Harbor and Germany’s declaration of war, Hitler did not stumble into war, his declaration of war on December 11 1941 was a deliberate gamble

Simms and Laderman’s book deserves far more attention than it has received. Its effort to reconstruct a week in global history - perhaps the most fateful week in history - on a minute by minute basis strikes me as a fascinating and original way of writing the history of an “event”. Others may know better, but I have never read a historical account that starts with a map of global timezones. In the current moment, it is hauntingly evocative. 

The pay off from Simms and Laderman’s meticulous blow by blow account is to sharpen our sense of how vertiginously contingent the escalation to global war seemed in the second week of December 1941, even as it was happening. Above all they highlight the fact that the immediate impact of Pearl Harbor was not to confirm the logic of Lend Lease but - to the horror of London and Moscow - to cause Lend Lease to be suspended. If Hitler’s intention was to ally himself with Japan so as to divert resources from the Atlantic to the Pacific, his strategic vision was, for those few days at least, massively confirmed. 

Indeed, as Simms and Ladermann argue, FDR was convinced that Japan was acting essentially as a German proxy. He refused to credit Japan with strategic autonomy. Hitler knew better and it was with a view to binding Japan to the German cause that he took the decision to declare war on the United States. After all, as far as Hitler was concerned, war between Germany and the United States was already “taken into account”.

As Simms and Ladermann remark:

It was Hitler’s declaration of war on the United States, much more than Pearl Harbor, that created a new global strategic reality and, ultimately, a new world. America did not enter “the war”—the conflict with Hitler—on December 7, 1941. Rather, the United States was plunged that day into a new and initially separate struggle against Japan. America did not truly join the war until December 11, 1941, and unlike the First World War, the United States did not take the initiative. It was, as British air marshal Arthur Harris had predicted, “kicked into the [European] war.”

As Roosevelt’s speech writer Robert Sherwood put it, Hitler had followed Japan in solving Roosevelt’s “sorest problems”. For Hitler too this was a moment of culmination. On 12 December, the day after Hitler’s declaration of war, Goebbels spoke to the Gauleiter, the regional officials of the Nazi party, and spelled out the connection. 

“Regarding the Jewish question, the Führer is determined to clear the table. He warned the Jews that if they were to cause another world war, it would lead to their own destruction (30 Jan 1939). Those were not empty words. Now the world war (the war with the USA, AT) has come. The destruction of the Jews must be its necessary consequence. This question is to be regarded without sentimentalism. We are not here to have sympathy with the Jews, but rather with our German people. If the German people have sacrificed 160,000 dead in the eastern campaign, so the authors of this bloody conflict will have to pay for it with their lives.”

It was no coincidence that within a few weeks of Hitler’s declaration of war on the United States, Reinhard Heydrich and the State Secretaries would convene at the conference center on the Wannsee to scheme out what they called the final solution of the Jewish question in Europe. Originally, the Wannsee meeting had been scheduled for December 9 1941. It marked the culmination of a year-long planning project that had been set in motion over the winter of 1940-1941 when the invasion of the Soviet Union and the global escalation of the war came clearly into view. Heydrich’s meeting was put back to 20 January 1942, on account of the crisis on the Eastern front and the declaration of war on the USA. 

Behind the sugar-coated narrative of a “good war” won by the “arsenal of democracy” - “the American story” evoked in Congress in recent weeks - lurks the actual history of the haphazard and contingent unleashing of an apocalyptic world war. To complete the picture, it was in October 1941 that Roosevelt issued an executive order green-lighted the atomic bomb program and cooperation with the British on scientific research. 

****

In openly declaring our intention to adopt all measures short of war to ensure Russia’s military defeat and in invoking Lend Lease in doing so, we must surely ask ourselves that question, what is our theory of Putin? And beyond Putin what is our model of the escalatory dynamics at work in 2022? 

In swathing ourselves in historic garments, are we inviting Putin to do the same? Are we inviting him to fully inhabit the role of the maniacal dictator who can only be crushed out of existence? Are we, as in 1941, crossing the point of no return? Are we, consciously or not, assuming further escalation? 

In so doing, are we assuming that escalation will have the same kind of “happy end” that World War II eventually had for the United States in 1945? The kind of “happy end” that makes Lend Lease into a myth shrouded in good feelings - a grand chapter. in the “American story”? 

Or, are we, in fact, hoping that 2022 unfolds as 1941 did not? That Putin is not suicidal? That this time the escalation remains confined to Ukraine and Russia? That this becomes, as some American strategists envisioned Lend Lease in 1941, a calculated exercise in using the dogged resistance of a client - then the British now Ukrainians - to attrit a geopolitical antagonist? 

These are not comfortable questions. So much so that merely raising them can lay you open to accusations of defeatism. But that is beside the point. Supplying weapons may well be the best thing to do under the circumstances. It is certainly what the Ukrainian government is asking for. But to weigh the consequences of our actions and the risks attendant on them, to assess the costs and who pays them is a basic imperative of responsible politics. In so doing we need a clear head and democracy demands that clarity is not just something that is achieved behind closed doors. 

Ukrainians at this moment may need history to give them courage. For us to revel in mythic references to the 1940s and “the American story” is a shameful, sentimental self-indulgence. If we are to evoke the past at all, let us do so in a critical and exploratory fashion, not to “prove” facile points one way or another, but to better understand how we arrived at this moment and to infer what its possibilities and risks might be.

sábado, 23 de abril de 2022

Eleições francesas, 2do turno das presidenciais: Editorial do Le Figaro

L’éditorial du Figaro, par Vincent Trémolet de Villers

Étrange veillée d’armes. La politique, ces derniers jours, malgré le débat, malgré les meetings, semblait comme assourdie. Le grand rendez-vous démocratique qu’est l’élection présidentielle relégué au rang des préoccupations secondaires. Pourtant, la guerre est en Europe, l’économie mondiale retient son souffle, la menace islamiste couve toujours et l’instabilité générale devrait être accentuée par la possibilité d’une alternance politique périlleuse. Certes, les appels résonnent contre «la menace Le Pen», mais ils tiennent plus du rituel que de l’expression d’une angoisse profonde. Comme si les Français, peuple politique, avaient compris dès le soir du premier tour que la reconduction du chef de l’État avait la force de l’évidence.

Les quinze jours qui s’achèvent, d’enquêtes d’opinion en confrontations télévisuelles, ont confirmé cette impression première. Il faut dire que la candidate du Rassemblement national a montré dans sa stratégie (à gauche toute) l’étroitesse de sa vision…

(...)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Bolsonaro está sem sorte no plano da política externa: sua diplomacia está em frangalhos (a despeito do Itamaraty) - matérias de imprensa

 


Bastidores: Alemanha se soma à França como dor de cabeça para diplomacia bolsonarista

Diplomatas preveem tensão com novo novo governo alemão e reclamam de embaixador em Brasília
 
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
08 de dezembro de 2021 | 15h00

BRASÍLIA - A França, de Emmanuel Macron, não está mais sozinha. Com a posse do novo chanceler Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, a Alemanha se junta à condição de alvo internacional da ira bolsonarista. O motivo da insatisfação contra Paris, que agora já se estende a Berlim, é o tom das cobranças europeias ao governo Jair Bolsonaro, por causa da destruição ambiental na Amazônia.

Em Brasília e em Berlim, a expectativa diplomática é que o novo governo alemão aumente a pressão sobre Bolsonaro. Ouvidos reservadamente pelo Estadão, embaixadores dos dois países dizem que a situação tende a "piorar".

A maior economia europeia vai ser governada por uma coalização à esquerda, se comparada com a da democrata-cristã Angela Merkel, que ficou 16 anos no poder como chanceler. O bloco que compõe o governo é formado por social-democratas, liberais e verdes. A coalizão foi apelidada de "semáforo", pela ordem das cores dos partidos - vermelho, amarelo e verde. Olaf Scholz já compunha a gestão de Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças.

Um problema foi acrescido após a COP 26, em Glasgow, na Escócia. A delegação brasileira chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deixou de apresentar os dados mais recentes de desmatamento na Amazônia, um recorde de 13 mil km² devastados, e assegurou que o cenário seria positivo. Nos bastidores, diplomatas brasileiros reconhecem que a credibilidade foi prejudicada e que seus pares estrangeiros saíram com a percepção de que foram enganados.

Berlim, assim como parte das capitais da União Europeia, entende que a confiança em Bolsonaro foi perdida. Não por outro motivo, o embaixador alemão em Brasília, Heiko Thoms, disse ao Estadão que os compromissos anunciados pelo Brasil na Cúpula do Clima eram só palavras e manifestou descrédito na capacidade de o governo cumprir a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Ele negou a possibilidade de o país retomar contribuições ao Fundo Amazônia.

O embaixador e sua equipe têm manifestado em conversas preocupações com direitos humanos, ameaças à liberdade de imprensa e às instituições democráticas e com o desmantelamento de órgãos ambientais brasileiros. Para eles, o governo Bolsonaro não percebeu que a pauta climática virou preocupação de toda a sociedade alemã e se vê refletida no espectro político mais amplo, à exceção da extrema-direita. As eleições internas ocorreram meses após enchentes históricas que provocaram quase 200 mortes na Alemanha.

O tom mais duro do diplomata alemão acendeu o sinal amarelo no Itamaraty. Dois embaixadores ligados à cúpula do Ministério das Relações Exteriores (MRE) manifestaram restrições ao novo comportamento de Thoms. Por enquanto, as respostas públicas serão dadas por ministros do primeiro escalão bolsonarista, como virou costume.

Um diplomata ligado à área econômica disse que o embaixador alemão vestiu a camisa do novo governo antecipadamente para "mostrar serviço" a Berlim, deixando em segundo plano relações de mais longo prazo que norteiam as duas diplomacias. O outro, responsável pela agenda de meio ambiente, afirmou que as críticas de Thoms eram uma atitude inadequada diplomaticamente e que ele deveria optar por canais formais junto ao MRE. "Imagine se nosso embaixador em Berlim (Roberto Jaguaribe) comentasse assuntos domésticos deles… Não cabe", protestou.

Apesar das reclamações com a eloquência de Thoms, o tom deve escalar alguns níveis acima, e o embaixador certamente tem respaldo superior.  A nova ministra das Relações Exteriores será a advogada Annalena Baerbock, de 40 anos, ex-candidata a chanceler e uma das líderes do Partido Verde. Ela é uma política ecologista, ex-atleta e crítica do presidente Bolsonaro, favorável a movimentos de pressão global sobre a Amazônia, que podem impactar o comércio.

Outro líder do partido, Robert Habeck, vai chefiar o novo ministério do Clima e da Economia. Também ficaram com os verdes as pastas de Agricultura e do Meio Ambiente.

Do outro lado da fronteira, a França vai passar por eleições nacionais no ano que vem, depois de os verdes assumirem mais protagonismo nas municipais de 2020, o que joga pressão para a reeleição de Macron como presidente. Os franceses também irão assumir a presidência de turno do Conselho da União Europeia, o que pode deixar ainda mais longe progressos no acordo comercial com o Mercosul.

Posse de Scholz encerra Era Merkel
A posse do líder social-democrata Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, pôs fim a um dos capítulos mais importantes da história contemporânea da Alemanha: os 16 anos de Angela Merkel como dirigente da maior economia da zona do euro. Primeira mulher a governar o país, Merkel deixou o cargo após 5.860 dias, apenas nove a menos do que seu mentor, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Aos 63 anos, Scholz foi escolhido como novo chanceler pelo Parlamento alemão nesta quarta, após conquistar 395 votos dos 736 possíveis na atual composição do Bundestag. A eleição era certa após a coligação com os Verdes (que conquistaram 118 cadeiras na eleição de setembro) e com os liberais (92 cadeiras) ser anunciada na terça-feira, 7.

Scholz respondeu "sim" à presidente do Parlamento, Bärbel Bas, ao ser questionado se aceitava o resultado da votação, e recebeu  o documento que oficializa sua nomeação e marca o início de seu mandato do presidente Frank-Walter Steinmeier. Ele prestou juramento, ao lado dos seus ministros, diante dos deputados e leu o artigo 56 da Lei Fundamental, no qual promete "dedicar suas forças ao bem do povo alemão".

Merkel também esteve presente na votação e recebeu muitos aplausos em sua despedida. Nas últimas semanas, a agora ex-chanceler recebeu várias homenagens, reconhecendo importantes avanços de seu governo e o papel central que desempenhou como liderança na União Europeia.

"Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito", elogiou Scholz recentemente, ao homenagear uma governante que "permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças"./ Com informações da AFP

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,bastidores-alemanha-se-soma-a-franca-como-dor-de-cabeca-para-diplomacia-bolsonarista,70003920390


"Brasil deve esperar cobranças mais duras da Alemanha", diz professor da Universidade de Berlim

Novo governo alemão promete mais proteção ao clima. Má notícia para Bolsonaro, avalia professor Sérgio Costa

Cristiane Ramalho DW
08 de Dezembro de 2021 às 13:35

Professor da Universidade Livre de Berlim, e observador da política alemã há mais de 20 anos, o sociólogo Sérgio Costa aposta que a mudança de governo na Alemanha terá impacto direto sobre o Brasil, tanto nas relações diplomáticas quanto comerciais: "O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã - mas com sinal negativo. Não como aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar."

Três ministérios que interessam diretamente ao Brasil passarão para as mãos do Partido Verde: Economia e Clima; Meio Ambiente; e Relações Exteriores. O novo governo promete uma política externa voltada para a defesa do meio ambiente e das minorias. A pressão sobre o governo brasileiro vai aumentar: "Haverá um endurecimento nas relações", avalia Costa.

O novo enfoque no combate às mudanças climáticas pode levar, por exemplo, a restrições à importação de produtos que contribuam para o aumento do efeito estufa, como a carne e a soja - inclusive do Brasil.

Em relação ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), as perspectivas também não são boas. "As coordenadas já não são favoráveis, e agora pode ter uma reviravolta", diz Costa. Pelo menos, enquanto o atual governo estiver no poder: "O grande fantasma para o acordo entre a UE e o Mercosul se chama Bolsonaro."

Já o Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, ficará com os social-democratas do SPD – o que também deve evidenciar ainda mais as diferenças em relação ao governo Bolsonaro, segundo o professor.

Também diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos, em Berlim, Costa lembra que SPD, verdes e liberais se comprometeram ainda a apoiar os movimentos sociais "que defendem a democracia" e a "fortalecer as lutas contra populistas e autocratas" na América Latina e Caribe. O que pode ser uma boa notícia para organizações que trabalham com os mesmos valores na região.

Com 20 livros publicados como autor ou coeditor, o sociólogo diz que não só a Alemanha vai mudar, mas também a União Europeia - que passará a ter papel mais pronunciado na proteção do clima e do meio ambiente: "Esta passa a ser uma agenda europeia."

Nesta quarta-feira, o Parlamento alemão confirmou o nome de Olaf Scholz como novo chanceler federal, colocando fim à era Merkel. É a primeira vez que o país sera governado por numa coalizão formada por social-democratas, verdes e liberais.

DW Brasil: Como o Brasil será visto pela nova coalizão de governo nessa era pós-Merkel que se inicia?

Sérgio Costa: O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã – mas com sinal negativo. Não como um aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar.

Com a nova coalizão, teremos partidos que são muito mais programáticos do que a CDU (União Democrata Cristã, de Angela Merkel) – especialmente o Partido Verde. Devemos esperar, portanto, mudanças tanto nas relações diplomáticas quanto nas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha.

O ministério das Relações Exteriores – uma pasta que interessa diretamente ao Brasil – ficou justamente com o Partido Verde. Haverá um endurecimento nas relações bilaterais?

Com a copresidente do Partido Verde (Annalena Baerbock) à frente do Ministério das Relações Exteriores, haverá uma linha geral de política externa que enfatize o multilateralismo, e o fortalecimento dos direitos humanos e de minorias, tais como indígenas, negros, mulheres e LGBTQ, e uma posição muito clara em relação a temas de meio ambiente e clima, no sentido da mudança climática.

E o Partido Verde não estará sozinho. Esses itens são uma pauta importante também para os social-democratas e os liberais. Em todos esses campos, haverá realmente um endurecimento nas relações com o Brasil.

Os verdes vão assumir ainda dois ministérios que também dizem respeito ao Brasil: o de Meio Ambiente e o superministério de Economia e Clima. Como isso deve afetar as relações entre o governo alemão e o governo Bolsonaro, em meio a recordes de desmatamento na Amazônia?

É de se esperar cobranças mais duras do governo brasileiro. Com o novo enfoque no clima pode haver, por exemplo, mais controle sobre as emissões de gases do efeito estufa na cadeia produtiva – o que pode levar a restrições na importação de produtos do Brasil, como a carne, e também a própria soja, na medida em que fique configurada a correlação entre o desmatamento e a expansão da soja.

Mesmo que o governo brasileiro tente negar, essa relação é óbvia. Tudo vai depender da capacidade do partido Verde de impor os seus valores na disputa interna de poder entre os diferentes ministérios. [Continua após o vídeo.]

O Partido Liberal Democrático, que assumirá a pasta das Finanças no novo governo, não poderá frear essa pressão em nome dos interesses comerciais da Alemanha – que tem no Brasil seu maior parceiro na América do Sul?

Nós vamos ver um jogo de forças. O novo ministro das Finanças, Christian Lindner, é a favor da liberdade completa da economia. E o partido liberal é, por definição, muito favorável aos atores econômicos. Em que medida esses interesses poderão ser contrariados para atender aos interesses do respeito ao meio ambiente e das minorias, e à contenção da mudança climática, para que lado vai pender a balança entre essas duas forças, é algo que ainda está em aberto.

Mas os liberais ratificaram, no acordo de coalizão, a proposta de fortalecimento das sociedades na luta contra o populismo, os movimentos autoritários e as ditaduras na América Latina. Nesse aspecto, pelo menos, eles não estão afinados?

Com certeza. Ainda que possa haver diferenças em relação à economia, no que diz respeito à proteção da democracia e das liberdades individuais, como na manifestação da sexualidade, o Partido Liberal é tão rigoroso e intransigente quanto os social-democratas e os verdes.

Nesse sentido, eles têm nos liberais um aliado muito forte. E a parte que se refere à América Latina e ao Caribe diz claramente que uma das prioridades é apoiar os movimentos sociais que defendem a democracia, e fortalecer as lutas contra populistas ou autocratas nessa região. Isso indica que o novo governo irá incentivar movimentos que trabalhem com os mesmos valores que ele, buscando alianças. E isso pode ter consequências, obviamente, em relação ao Brasil. Sob esse ponto de vista, pode ser esperar uma clareza maior do que nos governos comandados por Merkel.

::Análise | O fim da Era Merkel e a volta da centro-esquerda ao poder na Alemanha: e agora?::

O acordo de coalizão condiciona o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia a compromissos vinculantes nas áreas de meio ambiente e direitos humanos. Haverá impacto sobre a ratificação desse acordo?

Sim, as coordenadas já não são favoráveis, e agora pode haver uma reviravolta. Não existe a menor dúvida de que o grande fantasma – mesmo que não seja mencionado o nome dele – para o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se chama Bolsonaro.

O medo do que Bolsonaro significa em termos de clima, direitos humanos e democracia é que impede esse acordo de já estar completamente consolidado e assinado. É de se esperar que a nova coalizão seja ainda mais intransigente na exigência de compromissos com relação à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos. Não só a Alemanha vai mudar, como a UE deve ter um papel mais pronunciado em relação à proteção do clima e ao meio ambiente. Com a influência da Alemanha, essa passa a ser uma agenda europeia.

O Ministério para Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, vai passar para as mãos dos social-democratas. As diferenças em relação ao governo Bolsonaro devem se aprofundar ainda mais?

Sem dúvida. Simbolicamente, esse é um ministério muito importante. Ele tem capilaridade e penetração social, e atinge desde instituições de caridade até ONGs, inclusive na região Amazônica. Nele se define qual o desenvolvimento que se quer promover e cofinanciar.

E é claramente o desenvolvimento sustentável, não só socialmente, mas também ambientalmente. A discussão sobre o Fundo Amazônia estava nas mãos do partido CSU (União Social Cristã, conservadora), que detinha o ministério, e endureceu a relação a ponto de cortar esses recursos.

Duas pautas frequentes das negociações com o Brasil eram a proteção do meio ambiente e de minorias - sobretudo da população indígena. Mas sempre houve um cuidado de não provocar rupturas. Sob a regência do partido social-democrata essas exigências devem ser ainda mais enfáticas, com programas de cooperação e transferência de recursos sendo usados para pressionar o governo brasileiro.

Um novo governo na Alemanha seria capaz de influenciar, de alguma forma, as eleições no Brasil em 2022, levando em conta a antiga relação entre os social-democratas, que estarão no poder, e Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje desponta como favorito?

Não acredito que a política externa possa ter uma importância tão grande nas eleições do Brasil, um país continental onde os eleitores se preocupam pouco com a política externa. Nas últimas eleições, a Venezuela ganhou importância. Mas era muito mais porque as pessoas temiam que o Brasil se tornasse uma Venezuela.

Episódios recentes, porém, dão uma boa medida das relações entre Brasil e Alemanha hoje. Por exemplo, a liderança de um partido de extrema-direita, a AfD, foi recebida no Brasil por Bolsonaro. Este é um partido marginal na política alemã. Nenhum ator democrático aceita qualquer cooperação com a AfD na Alemanha e na Europa.

Ao mesmo tempo, Lula foi recebido pelo futuro chanceler federal (Olaf Scholz) quando veio à Europa. Isso tem uma importância simbólica. Pode ressaltar as diferenças entre Lula e Bolsonaro, que nunca conseguiu ter receptividade na Europa - a não ser da extrema direita. E pode até ter algum impacto para um eleitorado mais escolarizado e atento. Mas a influência disso na eleição será muito pequena.

SAIBA MAIS: Encontro de Bolsonaro com extremista alemã expõe "articulação global da extrema direita"

Bolsonaro também não foi recebido por Angela Merkel – que, por sua vez, nunca visitou o Brasil durante o  governo dele. Esse distanciamento tende a piorar?

O Brasil, do ponto de vista da política exterior, ficou completamente isolado, sobretudo depois da derrota do Trump (Donald Trump, ex-presidente americano), que não foi reeleito. Seus parceiros internacionais são hoje países sem grande expressão. Ninguém quer se aproximar do Brasil na arena internacional. Não é, obviamente, pelo país, nem pela sociedade, nem pela sua potencialidade econômica e social. É pelo governo que ele tem. Há um distanciamento claro do governo Bolsonaro.

Os diplomatas, inclusive embaixadores brasileiros no exterior, estão isolados, porque nenhum país democrático quer cooperar estreitamente com o Brasil. O governo da Merkel não foi diferente. Colocou o Brasil na geladeira.

Apesar do histórico de relações bastante intensas, não só econômicas, mas também políticas e diplomáticas, essa cooperação estratégica perdeu a importância nos últimos anos. O que pode acontecer agora, com a nova coalizão, é que esse distanciamento passe a ser ativo. Não como no governo Merkel, que evitou as relações com o Brasil. Com a nova coalizão, pode haver uma cobrança de fato em relação ao Brasil.

https://www.brasildefato.com.br/2021/12/08/brasil-deve-esperar-cobrancas-mais-duras-da-alemanha-diz-professor-da-universidade-de-berlim