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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Venezuela: relacoes "carnais" com o governo lulopetista? - Valor (telegramas do Itamaraty)

07/01/2017 às 11h43 5 
Brasil pressionava Venezuela por dívida bilionária com a Odebrecht 

SÃO PAULO  -  Em meio a dívidas bilionárias da Venezuela com a Odebrecht, o governo do Brasil pressionou autoridades do país vizinho a honrar os compromissos e quitar suas obrigações com a empresa. As informações constam em relatórios do Itamaraty produzidos durante o governo Dilma Rousseff, obtidos pela reportagem.
Os documentos afirmam que os atrasos, que vinham desde o governo de Hugo Chávez, chegaram a US$ 2 bilhões em 2014, já sob a Presidência de Nicolás Maduro. Outras empreiteiras, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, e a Petrobras também viviam rotinas de atraso, de acordo com os despachos do Itamaraty, mas a Odebrecht era a mais afetada.
De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o grupo baiano pagou US$ 98 milhões em propina na Venezuela desde 2006 -o maior valor em um país depois dos pagos no Brasil. Os documentos afirmam que empresas brasileiras tinham vantagens de dispensa de licitação no regime chavista em casos envolvendo "nações amigas".
Um dos despachos dizia que o governo local buscava, em uma "diplomacia do petróleo", fortalecer o apoio externo ao bolivarianismo com alianças comerciais.
A embaixada ressalta a importância da aproximação política entre Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, que morreu em 2013, para a concretização desses negócios.
Mas relata o clima de "insegurança jurídica" para o comércio com o país e o medo das empresas brasileiras de estatização de operações pelo governo local, como ocorreu com multinacionais de outros países.
"Não obstante Chávez ter dito, diversas vezes, que as empresas brasileiras estariam a salvo de expropriações, casos como a estatização da Techint argentina reforçam a conveniência de manter sempre fortes os laços políticos entre os dois países", diz documento de 2011.
Criatividade
Também em 2011, em um relatório enviado a Dilma, com informações prévias para um encontro dela com Chávez, a embaixada reforça a necessidade de cobrar do venezuelano "atitude mais assertiva com relação a dívidas e interesses de empresas e investidores brasileiros". "A parte venezuelana tem sido, via de regra, evasiva sobre o pagamento de tais obrigações, o que recomendaria uma intervenção presidencial objetiva", diz o documento.
Semanas depois, um despacho que descreve detalhes da reunião de Dilma e Chávez não traz informações sobre a questão. Na transcrição dos principais trechos da conversa, há um pedido do venezuelano por um teto mais alto de financiamento Brasil pressionava Venezuela por dívida bilionária com a Odebrecht do BNDES em projetos em seu país. Ele fala em "acelerar o cronograma de obras".
Dilma, segundo o despacho, sugere ir a Caracas com uma delegação de empresários e diz que a Odebrecht "pode ajudar muito com habitação". Ainda de acordo com a transcrição, Chávez diz à então presidente que a Odebrecht aceitou adotar um outro "mecanismo de
remuneração". Ele se referia a uma solução encontrada pela empresa para ser paga no país vizinho, chamada de "criativa" em um despacho: compensaria créditos detidos na área de construção civil com compras de nafta da Venezuela pela Braskem, braço petroquímico do grupo. Com os atrasos, a Odebrecht acabou retirando funcionários e parando projetos, como a construção da hidrelétrica Tocoma, em 2014.
Outro documento do Itamaraty, de 2011, relata cobrança de dívidas em encontro da diplomacia com Maduro, que então chanceler da Venezuela. O relato da reunião cita que foi dito ao venezuelano que, para continuar com uma boa relação bilateral, seria preciso "não criar dificuldades", mencionando as dívidas com a Odebrecht e subsidiárias da Petrobras. Maduro disse, segundo o documento, que Chávez ordenara a quitação da dívida. O diplomata pede "discrição, sem alto-falantes" ao venezuelano na negociação.
Além da hidrelétrica, a Odebrecht mantinha projetos em diversas áreas, como o metrô de Caracas, um monotrilho chamado "Cabletren Bolivariano" e um polo agrícola de soja intitulado "projeto agrário socialista Abreu e Lima".
Procurada, a empreiteira disse apenas que mantém compromisso de colaborar com a Justiça e que está implantando práticas de controle internas.
(Folhapress)

domingo, 7 de fevereiro de 2016

As 6 ideias mais estúpidas defendidas por Dilma Rousseff - Felippe Hermes (Spotniks)

ECONOMIA  4 DE FEVEREIRO DE 2016 
As 6 ideias mais estúpidas defendidas por Dilma Rousseff
Felippe Hermes, Spotniks, 4/02/2016

Pouco mais de 25 anos separam as duas “décadas perdidas” da economia brasileira. Dos anos de 1980 aos anos 2010, muita coisa mudou. Nos tornamos uma economia mais ampla, diversificada e sólida; a hiperinflação e os fracassados planos de tentativa de estabilização tornaram-se história, assim como os efeitos das ideias que lavavam consigo, como a indexação e o congelamento de preços.
Se por um lado qualquer brasileiro com mais de 35 anos, seja uma dona de casa ou o presidente da FIESP, está apto a dar uma aula prática de economia sobre os efeitos de tais planos econômicos e suas ideias, para a geração mais nova, avaliar tais ideias é uma tarefa complicada. Para os economistas, no entanto, ausência de vivência ou experiência não é e jamais será desculpa aceitável.
Albert Einstein definiu certa vez que “insanidade é fazer a mesma coisa diversas vezes e esperar resultados diferentes”. Na economia, fracassos encontram justificativas das mais variadas – são, em geral, culpa de fatores externos ao fato (ou “externalidades” no economês). Na prática, costuma indicar que tal governo baseia suas ideias mais em ideologias do que em fatos e dados.
Ao analisar as causas que levarão o Brasil a chegar a 2020 com a mesma renda per capita de 2010, economistas e historiadores possivelmente se debruçarão sobre as ideias e os personagens que lavaram a esta recessão que se estende de 2014 a 2016 (ao menos até o momento). Ao selecionar tais ideias, é inevitável que encontrem aí erros há muito superados pela maior parte do mundo. Abaixo listamos 6 destes erros especialmente relacionados ao personagem da década na economia brasileira: Dilma Rousseff.

1. A VOLTA DA CPMF
Tratada pelo PT e por Lula como “um roubo, uma usurpação dos direitos do trabalhador” na época de sua criação, ainda no governo FHC, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, uma alíquota de 0,38% sobre qualquer movimentação bancária (incluindo aí sacar a sua aposentadoria ou o Bolsa Família), tornou-se a tábua de salvação do falido ajuste fiscal brasileiro, e segundo Dilma Rousseff, “a única solução de curto prazo para o país”.
Defender uma ideia como “estúpida” nunca é uma tarefa fácil. Toda ideia em economia tem seus prós e contras. As defesas e os usos que se fazem destas ideias é que em geral merecem o adjetivo. No caso de tratar o aumento da carga tributária como salvação para o país (em um país cuja carga tributária é maior do que a de países como Canadá, Suíça e Austrália, além de todos os demais países emergentes), Dilma comete um absurdo. E ao expor essa como “única alternativa”, acaba por mentir.
Com cerca de 80% dos seus gastos comprometidos e 60% deles indexados à inflação (onde 42% dos gastos do governo referem-se a aposentadorias e pensões da previdência e os demais em benefícios do INSS e salários de servidores), cortar gastos nunca é uma tarefa fácil diante do problema que o governo criou para si ao dar estabilidade ao funcionalismo e indexar a previdência ao salário mínimo. Menos de R$1 em cada R$ 5 gastos pelo governo correspondem a gastos administrativos. Ainda que se corte 30% dos gastos em água, luz, telefone, aluguéis, passagens aéreas e coisas do tipo, nenhum ajuste fiscal pode ser feito. Joaquim Levy, ciente da situação, buscou no corte de investimentos (em especial da educação e no “Minha Casa Minha Vida”), o ajuste – além de aumentos de impostos nos mais variados setores.
Para além das reformas de longo prazo, as atitudes no curto prazo, como venda de ativos que até mesmo a base aliada consideraria “não estratégicos” (como a participação do governo na maior operadora de cartões de créditos do país, ou a carteira de investimentos em ações e debentures do BNDES), não aconteceram. Em suma, 2015 iniciou-se e terminou sem o governo explicar o porque, enquanto pedia aumentos de impostos e mantinha investimentos especulativos em um frigorífico. Para efeito de comparação, o BNDES possui R$ 71 bilhões em ativos – o governo gasta R$ 35 bilhões para subsidiar grandes empresas. Com uma canetada a presidente poderia elevar os juros e parar de subsidiar empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões, ou mesmo vender ativos como as loterias federais (R$ 4 bilhões). A despeito de não ter tentado nada disso, Dilma defende que a CPMF é a “única” alternativa. É estupidez, pura e simples.

2. O RETORNO DA NOVA MATRIZ ECONÔMICA
Antes de sua visita ao Congresso, entretanto, a presidente teve de lidar com a troca de comando no Ministério da Fazenda, indicando para o cargo seu ex-ministro do planejamento, Nelson Barbosa. Atuando no governo na maior parte dos últimos 12 anos, Barbosa é um dos muitos pais da Nova Matriz Econômica. Em 2015, ao lado de Joaquim Levy, Barbosa aceitou o desafio de aplicar o ajuste fiscal. Ao longo do ano saiu-se vencedor da maior parte dos inúmeros embates que teve com o então ministro da Fazenda. No último deles defendeu uma meta de superávit de 0,5% do PIB, incluindo o direito de se abater da conta os investimentos do PAC. Levy foi contra, e perdeu.
Nomear alguém cujas passagens pela Secretária do Tesouro e Ministério do Planejamento o colocam no epicentro do nascimento da política que levou à atual recessão, a maior da história brasileira, qualifica esta como uma ideia estúpida. Em sua primeira aparição como ministro de fato, Barbosa ficou ao lado de Dilma para defender como “forma de reativar a economia” um pacote de crédito de R$ 83 bilhões, dos quais, como se soube depois, mais de R$ 21 bilhões já estavam disponíveis através do FI-FGTS e outros R$ 12 bilhões (aqueles que podem ser sacados dando-se o FGTS como garantia) é mera suposição do governo. Criar números fantásticos para dar a ilusão de crescimento (como os Programas de Aceleração do Crescimento que prometiam literalmente trilhões em investimento) e irrigar a economia com crédito subsidiado são partes importantes da antiga Matriz que até agora se pretendia superar.

3. BAIXAR OS JUROS VIA DECRETO
Assumindo o comando do Banco Central em 2003, Henrique Meirelles foi o mais longevo presidente da instituição desde sua criação em 1964. Sob seu comando o país viu as taxas de juros saíram de 26,5% em fevereiro de 2003 para 10,75% em 2010, com uma inflação saindo de 12,53% em 2002 para 5,9%. Cenário perfeito, exceto por um porém: Henrique Meirelles, a despeito de ter integrado um cargo tão importante ao longo de todo o governo Lula, nunca foi ligado à base aliada do governo ou nutriu paixões ideológicas pelo PT – de fato, Meirelles foi filiado ao PSDB até 2002, quando era então presidente do Bank Boston no Brasil.
Ao colocar um banqueiro não alinhado à sua equipe no comando do BC, Lula deu o maior dos sinais de independência ao BC que poderia dar. O trabalho de grandes resultados, entretanto, pareceu tímido aos olhos governistas. Quando assumiu, em 2011, Dilma pode então consolidar o sonho de ter uma equipe econômica inteiramente alinhada à ela e ao partido. Para tanto, escalou Alexandre Tombini, o presidente do BC (que se mantém no cargo até hoje), que passou a ser alguém alinhado com a ideia de que, mais do que atuar em defesa da moeda e contra a inflação, o Banco Central deve ser parte da política de governo.
Diminuir os juros para até 7,25% por meio de imposição e sem o gradualismo anterior, foi portanto uma ideia que se pode chamar de estúpida. Em consequência deste conjunto de atos, a inflação interrompeu o ciclo de queda e passou a subir ano a ano, atingindo o limite em 2014 e ultrapassando o teto da meta em 2015. A despeito da queda na taxa SELIC (a taxa que regula o SELIC – sistema especial de liquidação e custódia, onde são negociados os títulos da dívida pública), o governo não reduziu a quantia paga em juros, e a dívida manteve-se na trajetória ascendente, mostrando que a economia não aceita imposições, apenas fatos.

4. MANIPULAR A INFLAÇÃO
Medir a inflação de um país é uma tarefa mais complexa do que aparente. Para tal, o governo por meio do IBGE, elabora uma cesta de bens que sejam consumidos pela população, e atribui a cada um deles um %. Vamos supor que 15% da renda da população seja gasta com transporte, significa dizer que em um eventual aumento de 100% no preço do transporte, a inflação do consumidor irá subir 15%. Desta lógica nascem as desculpas de que a inflação alta é culpa ora do tomate, ora do chuchu, ou de qualquer outro item. Suponha que 10% dos seus gastos com alimentos sejam em tomate e chuchu, e agora suponha que alimentos sejam 30% dos seus gastos: com um aumento de 300% no preço de ambos a inflação poderia subir até 9%!
Como qualquer agregado de dados, a inflação também está sujeita a esperteza dos economistas. Por se tratar de um índice que mede o aumento de preços na boca do caixa, na gôndola do mercado, economistas do governo descobriram que ao impedir aumentos de preços utilizando-se o Tesouro – ou seja, os impostos – os índices de preços não sofreriam alterações. Desta forma, ao invés de repassar ao consumidor aumentos no preço da energia, o governo pagava às distribuidoras e elas então não necessitavam de um aumento. Ao utilizar-se desta prática, como no caso dos combustíveis, o governo lançou dúvidas sobre os índices oficiais e causou prejuízos bilionários (uma consultoria do Deutsche Bank estima em mais de R$ 100 bilhões as perdas da Petrobras com o não repasse de preços), ajudando a quebrar ainda mais a companhia e outras empresas estatais, além do próprio governo.
Achar que manipulando preços de combustíveis é o mesmo que obter apoio da classe média é uma aposta arriscada. Achar que é possível enganar a todos e não ter de pagar a conta é uma ideia estúpida, cujo mérito, se não todo, em boa parte cabe à Dilma Rousseff. Em 2015, a inflação de preços administrados (nos quais se incluem muitos daqueles que foram represados pelo governo) foi superior a 18,08% – com destaque para 51% na conta de luz e 20,1% na gasolina.

5. MANTER GUIDO MANTEGA NA FAZENDA
Ao despedir-se do ministério da Fazenda em dezembro de 2014, Guido Mantega pode ostentar o título de mais duradouro ministro da Fazenda desde 1808. Foram 8 longos anos nos quais Guido pode dar conselhos a Lula e Dilma, além de ajudar a Petrobras como seu conselheiro (cargo que lhe rendeu até R$ 36 mil mensais quando somados ao salário de ministro). Guido atuou anteriormente como presidente do BNDES, assumindo o ministério da Fazenda em sucessão a Antônio Paloci, afastado do cargo após denúncias de abuso do cargo para coagir uma testemunha no Mensalão.
Como ministro, Guido orquestrou ao lado de Barbosa, Luciano Coutinho (presidente do BNDES) e Arno Augustin (secretário do Tesouro), os repasses de R$ 450 bilhões em dívida ao BNDES, permitindo ao banco emprestar recursos para empresas com juros subsidiados. A prática, cujos custos estimados devem ser de R$ 184 bilhões, garantirão apenas em 2016 prejuízos de R$ 36 bilhões ao governo (enquanto os lucros permanecem com os empresários). Mantega é ainda responsável direto pelas pedaladas fiscais (o que pode lhe render processo) e por ter feito da contabilidade criativa (fraude nas contas públicas), uma forma de governabilidade.
Em dezembro de 2012, a revista britânica The Economist defendeu abertamente a demissão de Mantega e sua equipe, em função do crescimento de 0,9% da economia brasileira daquele ano (contra 7,5% registrados em 2010). A revista alegava, então, que as projeções sempre excessivamente otimistas do ministro levavam o governo a perder credibilidade. O medo da The Economist era então que as excessivas intervenções de Mantega fossem feitas a mando de Dilma, o que culminaria por minar a credibilidade do país.
A ideia de que uma revista estrangeira pudesse demitir um ministro causou alvoroço em Brasília. A despeito de 6 ministros terem sido demitidos após denúncias de corrupção feitas pela revista Veja, Dilma considerou que a hipótese de seguir o conselho iria lhe causar um dano à imagem. Ignorar avisos ao longo de anos e manter um ministro no cargo apenas para concordar consigo foi uma das mais estúpidas ideias já passadas por Brasília ao longo das últimas décadas.

6. IMPROVISAR SEUS DISCURSOS
Aquilo que começou possivelmente como uma brincadeira, o ato de deixar Dilma improvisar suas falas na esperança de gerar empatia e reforçar a marca de que a presidente era então uma gestora e não uma política, pode ter se tornado uma marca registrada da absurda falta de coordenação e rumo com que se segue o seu próprio governo. A hipótese acima, do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco na obra “Antologia da Maldade”, que reúne citações de Dilma a Voltaire, é possivelmente a melhor explicação sobre as razões pelas quais uma presidente que emprega 18 mil funcionários no Palácio do Planalto abstêm-se de empregar alguém que lhe alcance um discurso com início, meio e fim, evitando desta forma as constantes gafes cometidas.
Ao longo de sua gestão, a presidente pouco afeita aos discursos e inaugurações acabou sofrendo um baque em sua imagem. De início seus marqueteiros trataram de plantar notícias com manchetes sugestivas como “Dilma manda“, ou “Dilma garante”, denotando que a presidente exercia de fato um caráter gerencial em seu governo. Sem sucesso em angariar simpatias, Dilma apelou até mesmo para o “humor a favor”, uma peculiaridade brasileira que acabou por gerir um fake na internet que buscava passar uma imagem de “presidente antenada e descolada”.
Mais do que um concurso de miss simpatia, gerenciar um país é servir de exemplo e apontar rumos que gerem consenso. Neste sentido, permitir-se continuar fazendo do cargo de presidente motivo de zombaria foi uma ideia bastante estúpida. Do vento estocado à figura oculta (que é um cachorro atrás), os 5 anos de Dilma no governo serviram para desmoralizar o cargo e a própria presidente. No fim, ao menos nesta estupidez ganhamos todos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Uma carta singela, agradecendo o (nao) estado atual do Brasil - de P para D

Mais uma carta a Dilma
(esta também vazou)

                Salvador, 08 de dezembro de 2015.

Senhora mulher sapiens,

Carpe diem (disseram que é chique começar em latim)

Ao contrário do que está pensando, escrevo para agradecer. Sim, juro. Estou muito satisfeita com o bem que a sua gestão tem feito para o país. Em menos de 5 anos de governo, você fez mais oposição ao PT do que o PSDB em toda a sua existência. Seu governo é um case de sucesso na demonstração empírica de todos os princípios liberais. De um jeito meio torto, é verdade. Mas ajudou muito. Obrigada.

1) Você mostrou a merda que dá deixar empresas (Petrobras, Eletrobras, Correios, etc) sob a administração estatal;

2) Provou que interferir artificialmente em preços e juros definitivamente não dá certo, pois uma hora a bomba estoura;

3) Que incentivar o consumo por meio de crédito só gera uma multidão de endividados a médio prazo;

4) Demonstrou divinamente que Thatcher tinha razão: o dinheiro dos outros um dia acaba;

5) Cortou Bolsa Família, Ciência sem Fronteiras, Fies, Minha Casa Minha Vida, etc, apenas para mostrar que se não há produção de riquezas, também não há o que distribuir

6) Acabou com a falácia de que regimes de esquerda são bons para os pobres a longo prazo;

7) Não tem a mesma habilidade do Molusco Al Capone da Silva para esconder os mal feitos e dizer que não sabia de nada (apesar de ser absolutamente crível que tenha assinado Pasadena sem ler);

8) Fazendo tudo errado, fez surgir/crescer no Brasil uma nova corrente de pensamento para se contrapor à intelectualidade de esquerda predominante desde a época da ditadura;

9) E como se não bastasse, ainda ganhou a eleição no ano passado e teve que pagar você mesma pelos erros cometidos, arrasando não apenas a sua própria popularidade, como respingando também no companheiro que fez tudo que você fez, mas era pós – graduado em cara-de-pau (Ok, a gente está tendo que pagar também, mas pelo menos assim ficou claro de quem é a culpa).

Obrigada, valeu mesmo, thank you e gracias!

Agora que já fez o seu papel, acabou a brincadeira. Se pique dessa cadeira e deixe alguém arrumar a bagunça.

Respeitosamente,

Priscila

PS: Estou pensando se a carta que escrevi vai ou não vazar. O linguajar talvez seja impróprio para menores de idade, pois quando penso em Dilma, meus instintos mais primitivos afloram em mim...


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"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada".

Ayn Rand

sábado, 4 de abril de 2015

Corrupcao: a mais gigantesca escala desde Cabral

Estupefatos: eis como estamos todos.
Nunca Antes na história do Brasil tinhamos tido tanta roubalheira em tão vasta escala. Foge pelo ladrão, se ouso dizer, o volume de dinheiro desviado de TODAS as obras públicas.
Esse é o Brasil companheiro.
Paulo R. Almeida
Jornais e jornalistas vão raspando pelas beiradas. Nada mais adianta, senão a renúncia de Dilma e a erradicação do PT. A República está podre. Com este governo e este partido no poder, não há saída. A única saída é constitucional: impeachment, embora o blogueiro prefira a renúncia de Dilma. Mas não se pode esperar grandeza onde a polícia rasteja no esgoto:

Em um dos primeiros testemunhos prestados sob o regime de delação premiada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao Ministério Público e ao juiz Sérgio Moro, ele deixou registrado que o esquema de corrupção montado entre partidos (PT, PP, PMDB, no caso da estatal) e empreiteiras não se resumia à companhia, se espraiara pelos canteiros de grandes obras — usinas hidrelétricas, aeroportos etc.

Agora que as investigações sobre a roubalheira na Petrobras estão mais avançadas, alguns dos mesmos protagonistas do escândalo na estatal passam a falar também da corrupção em outros grandes projetos patrocinados pelo Estado.

Noticiou-se, primeiro, que a hidrelétrica Belo Monte gerara propinas para PT e PMDB — provavelmente lavados como doações “legais” — de 1% do valor do contrato fechado com a Camargo Corrêa. Cada legenda teria levado R$ 51,2 milhões, para a empreiteira ganhar o negócio, segundo o presidente da empresa, Dalton Avancini.

Agora, é a Ferrovia Norte-Sul, obra que se eterniza. O mesmo Avancini, em confissão também sob as normas da delação premiada, relatou a atuação do “clube de empreiteiras”, o mesmo do petrolão, para dividir entre si trechos da obra e o pagamento de propinas: 1% para cada um dos mesmos PT e PMDB; 5%, no caso de aditivos, muito usados para superfaturar ainda mais os contratos.

A história dessa ferrovia, ainda longe de ser completada, é um monumento à incúria do poder público. Lançada no governo Sayney (1985-1990), o projeto ganhou manchetes de denúncias em 87, quando a “Folha de S.Paulo” revelou o conluio entre empreiteiras para dividir 18 lotes da obra. Estavam lá a Camargo, a Odebrecht, Queiroz Galvão, Mendes Jr., entre outras. Ou seja, as de sempre.

Muito tempo depois, em 2012, no governo Dilma, um ex-presidente da Valec, estatal responsável pela construção de ferrovias, José Francisco das Neves, o Juquinha, chegou a ser preso pela Polícia Federal, numa operação de sugestivo nome: Trem Pagador. Juquinha tinha a proteção do PR, “dono” do Ministério dos Transportes desde Lula.

A ampliação do mesmo esquema de corrupção do petrolão a segmentos do PAC tem lógica: afinal, por que o PT e aliados (PMDB, PP...) que patrocinaram o assalto à Petrobras não fariam o mesmo em Belo Monte, na Norte-Sul e assim por diante? Até porque o outro lado, as empreiteiras contratadas, também é o mesmo.

Assim, a matriz da alta corrupção no Brasil envolvendo grandes obras públicas começa a ser desvendada a partir do petrolão. O PT não inventou o assalto aos cofres públicos, é certo, mas foi com ele que a roubalheira atingiria escala industrial, ficaria sistêmica. Como o PT se rendeu ao fisiologismo na montagem dos ministérios de Lula e Dilma e da base parlamentar, o que era artesanal virou ampla e veloz linha de montagem. 

sábado, 4 de outubro de 2014

Estamos em janeiro de 2011: leia o primeiro pronunciamento a nacao da nova presidente...

Enfim, quase isso.
Em 20 de janeiro de 2011, antecipando sobre o possível discurso que ela faria ao Congresso, por ocasião de sua primeira mensagem no dia da abertura dos trabalhos da nova legislatura, ou mesmo pela via de um pronunciamento à nação por rede nacional de comunicação, eu resolvi ajudar a nova administração preparando eu mesmo esse primeiro discurso programático do que poderia ter sido uma proposta de trabalho do novo governo, tal como apresentado sinceramente ao Congresso e à nação.
Leiam e vejam se um governo com um programa de ação nessas linhas não teria sido uma boa coisa, garantido à incumbente um segundo mandato tranquilo.
Em lugar disso, estamos aqui nos despedindo da soberana, ao término patético de um governo lamentável a todos os títulos.
Paulo Roberto de Almeida


Primeiro pronunciamento à Nação da Presidente da República
20 de Janeiro de 2011
Brasileiras e brasileiros,
Estou desde o dia 2 de janeiro no comando efetivo do país e esta é a primeira vez que eu tenho a honra e a oportunidade de me dirigir diretamente a vocês. Meu discurso de vitória, no dia 31 de outubro de 2010, e o de investidura no cargo, no Congresso Nacional, em 1o. de janeiro de 2011, trouxeram a vocês o que eu poderia dizer, respeitando as formalidades dessas ocasiões cerimoniosas, numa linguagem politicamente correta, feita com base em subsídios preparados por meus assessores de campanha. Agora pretendo ser menos cerimoniosa, dirigindo-me diretamente a vocês, neste primeiro pronunciamento público, que pretendo seja o mais franco e aberto possível. Em primeiro lugar, vou pedir para cessar essa “coisa” de me chamar de presidenta: meu feminismo não chega a esse ridículo de feminizar todos os cargos existentes na Nação; daqui a pouco, algum assessor subserviente vai querer me chamar de chefa de Estado, de governanta, ou de coisas piores...

Brasileiras e brasileiros, ou vice-versa,
Desejo falar a vocês, de coração aberto, sobre os problemas do Brasil; quero propor, com a franqueza e a sinceridade possíveis, algumas soluções que antevejo aos nossos mais angustiantes problemas, falar das dificuldades que o Brasil enfrenta como resultado de várias heranças malditas, e não apenas daquelas normalmente apontadas com alguma má fé e muita enganação. Vou transmitir meus sentimentos, partilhar com vocês minha percepção dos problemas e antecipar algumas linhas gerais dos caminhos que pretendo trilhar para construirmos um Brasil melhor e mais solidário.
Para isso vou precisar da compreensão, da participação e da colaboração de todos os brasileiros e brasileiras, além e acima dos partidos e líderes políticos com que conta nosso sistema representativo, certamente não o melhor possível, mas o que nos foi possível construir ao longo das últimas três décadas de consolidação democrática. Nas iniciativas mais relevantes espero contar, isso é óbvio, com o apoio do Congresso, na missão indispensável de fazer passar as reformas indispensáveis ao progresso da Nação e à prosperidade de seus cidadãos. Pois bem, vamos ao que interessa sem mais delongas.

Brasileiros e brasileiras, em qualquer ordem,
Todo nós, mesmo os da oposição, somos capazes de reconhecer, sinceramente, que a vida melhorou sensivelmente para a maior parte dos brasileiros, sobretudo os mais humildes, nos últimos oito anos. Mas muito ainda resta a ser feito para que essas melhorias se transformem em prosperidade permanente para o povo, e não sejam apenas um alívio temporário derivado do crescimento econômico mundial, das transferências governamentais, a exemplo do Bolsa-Família, e dos aumentos reais do salário mínimo ou do crédito ao consumidor. Todos esses mecanismos possuem limites materiais, nos quadros de uma economia “normal”, isto é, não inflacionária, caso no qual essas conquistas se dariam um preço insuportável sobre os mais pobres, sob a forma de erosão do poder de compra ou de mais impostos um pouco adiante.
Todos sabem reconhecer, também, que muito ainda resta a ser feito nos terrenos da saúde, da infra-estrutura, do saneamento básico, da educação e da segurança cidadã, sem mencionar os problemas da corrupção, sempre presente, e da criação de um bom ambiente de negócios, sem o qual nossos empresários não poderão produzir para os nossos cidadãos e competir num mundo globalizado como o de hoje.
Todos sabem, igualmente, que eu me comprometi, formalmente, com a erradicação da pobreza no Brasil. Sei que é uma promessa exagerada, e talvez eu devesse ter proposto a eliminação da miséria extrema, ou uma redução significativa da pobreza, que são objetivos mais razoáveis. Enfim, seja qual for o resultado final, vou me engajar resolutamente na tarefa, mesmo reconhecendo que se trata de um objetivo ambicioso demais, mesmo em quatro anos de mandato.
Sei que o Estado brasileiro, por maior que seja – e ele já é “muuuiuto” grande, reconheço – não é capaz, sozinho, de realizar essa tarefa grandiosa, que deve envolver toda a sociedade, a começar pelos empresários. Sendo assim, talvez fosse melhor deixar a sociedade resolver o problema por ela mesma, e isso por uma razão muito simples: se o Estado tiver de coletar os recursos na sociedade para tal tarefa – e todos vocês sabem que o Estado não produz rigorosamente nada – ele sempre vai cobrar um pedágio na entrada e na saída do dinheiro para resolver o problema da pobreza, pois esse é o preço da burocracia estatal. Bem melhor, nesse caso, deixar todo o dinheiro com a sociedade, com os próprios indivíduos e as famílias, para que eles descubram as melhores formas de gastá-lo, eventualmente pela realização de novos investimentos produtivos, que criam empregos, renda e riqueza. Essa é a minha visão do mundo.
Infelizmente – e nisso eu sou obrigada a discordar da maior parte de meus colegas de partido – ainda não inventaram nada melhor do que a livre iniciativa e a economia dos mercados livres para criar prosperidade social. Isso não é uma opinião: basta vocês olharem o mundo para constatar que as sociedades mais livres são também as mais ricas; essa lição eu aprendi, depois de muitos percalços na vida.
Por isso, e para isso, estou disposta a liberar as energias criativas dos brasileiros, dos empreendedores, dos investidores nacionais e estrangeiros, facilitando ao máximo seus negócios, e taxando ao mínimo seus fatores produtivos, assim como seus ganhos, que são a justa remuneração pelos riscos incorridos em suas atividades. A reforma tributária que eu pretendo implementar vai reduzir na máxima extensão possível o peso sobre o emprego – ou seja, sobre o trabalho – e sobre a renda, inclusive o lucro dos empresários, que deve transformar-se em novos investimentos. A tributação deve incidir sobretudo sobre o consumo, de preferência o chamado consumo conspícuo, não o consumo dos mais pobres, ainda que mais numerosos.
Em linha com essa intenção, caras brasileiras e brasileiros, pretendo operar uma redução drástica da máquina do Estado. Com um gabinete composto de 37 ou 40 ministros, secretários de Estado e assessores diretos, mesmo que eu quisesse seria impossível despachar com cada um dos titulares dos tentaculares serviços da administração federal central, mesmo que eu recebesse cada um deles continuamente ao longo de uma semana inteira. Como eu pretendo seguir o trabalho de meus ministros com a atenção que eles merecem, vou reduzir o número de ministérios ao total concebido originalmente para a Esplanada dos Ministérios: não mais do que duas dezenas, de preferência menos do que isso. Esperem novidades nessa frente.
Aliás, vou começar imediatamente, suprimindo o ministério da propaganda, também conhecido como Secretaria de Comunicação de Governo. Nenhum governo sensato e responsável necessita fazer propaganda; tampouco é preciso de um ministério inteiro para se comunicar com a sociedade: para isso, o governo já tem porta-voz. Quanto ao resto, ou seja, os ministérios que sobrarem, incluindo a presidência da República, não há o que se preocupar: basta disponibilizar as informações relevantes que tiverem, que a imprensa séria, aquela que não precisa de gorjeta para existir ou se comunicar com a sociedade, divulgará gratuitamente, na exata medida do interesse público que elas realmente tiverem. Chega de propaganda: com isso, vou fazer as economias necessárias para aplicar em saúde e educação.

Justamente, passo agora à educação, pois ela me parece – parece não, é! – a questão chave para se obter crescimento da renda, eliminação da pobreza e redução das desigualdades. Estou plenamente consciente de que o Brasil, em lugar de avançar, só recuou nas últimas décadas, e isso desde antes do regime militar, que, a despeito de ter feito muito pela formação pós-graduada, deixou praticamente abandonados os dois primeiros ciclos de ensino público. As gerações seguintes não souberam corrigir o problema, provavelmente por causa da ampliação democratizante das oportunidades de ensino, mas certamente também por erros de concepção na formulação e implementação dos parâmetros curriculares. Durante anos, ou até hoje, se ouso dizer, nossas orientações didáticas ficaram entregues à influência nefasta de uma tal de “pedagogia do oprimido”, uma coleção de bobagens pretensamente educativas, mas que apenas serviram para atrasar a educação no Brasil, criando uma viciosa divisão da sociedade em classes, como se houvesse uma luta inevitável entre elas.
Pior ainda que essa perniciosa pedagogia do atraso, alegadamente maoísta (quando os próprios chineses abandonaram esse tipo de estupidez há muito tempo), é o sindicalismo exacerbado, de baixa extração, que prevalece para a categoria dos professores: recheado de profissionais das reivindicações salariais, sem qualquer compromisso com a qualidade do ensino, focados num isonomismo doentio que impede o reconhecimento do mérito individual na avaliação do desempenho dos professores e que cuida apenas dos seus direitos, jamais de suas obrigações. Sei que será muito difícil corrigir as deformações da educação brasileira e confesso até que considero tomar a iniciativa de iniciar uma carreira paralela para o professorado, sem as falsas garantias da estabilidade, mas com níveis de remuneração compatíveis com as responsabilidades do cargo, proporcionais ao desempenho efetivo nas salas de aula.
Essa questão da estabilidade dos funcionários públicos, aliás, é uma das pragas do sistema político brasileiro. Não se trata exatamente de uma jabuticaba – pois existe também em outros países em decadência progressiva – mas de um peso crescente que a parte da sociedade que trabalha e paga impostos (mas sem dispor dos privilégios da aposentadoria pública) suporta com cada vez menor paciência. Tenho plena consciência, também, de que o peso do Estado já representa um problema para o Brasil e os brasileiros: de promotor do desenvolvimento, que ele foi décadas atrás, o Estado se tornou um obstrutor do crescimento econômico, pela despoupança que ele provoca ao retirar recursos privados que de outra forma serviriam a novos investimentos, pela enorme carga tributária e pela irracionalidade dos sistemas de arrecadação, que além de seus males declaratórios, costumam ser cumulativos e incidir sobre os mais pobres.
Acho que já está na hora de reduzir o peso do Estado; isso tem de ser feito de alguma forma. Como também sei que não existe entendimento possível entre todos os entes federativos sobre a estrutura tributária ideal, uma que contemple todos os interesses em causa (e que até aumente as receitas, segundo alguns), proponho uma fórmula mais simples e equânime: todos os impostos, sem exceção – o que compreende também as muitas contribuições exclusivas do governo central – serão incluídos num programa de redução automática, progressiva e calendarizada de todas as suas alíquotas básicas, eliminando pelo menos um terço do que essa arrecadação representa hoje como extração compulsória dos recursos legítimos dos cidadãos e das empresas.
Minha intenção é fazer com que, em uma década e meia aproximadamente, cortando poucos pontos percentuais por ano, ou a cada semestre, a carga fiscal total seja trazida dos atuais 2/5 da renda nacional – sim, estamos a 38% do PIB, caminhando para 40% – para menos de 30% da riqueza nacional, valor que deveria ser o máximo admissível para um país como o Brasil. Dessa forma, tratando todo mundo igual, e colocando essa meta num prazo de 15 anos, estados e municípios não poderão reclamar de um corte de impostos drástico ou desequilibrado; eles irão adaptar-se progressivamente à redução gradual de receitas. Na verdade, a experiência histórica ensina que quando se reduzem os impostos, a arrecadação aumenta, pois as pessoas e empresas ficam menos propensas a evitar ou elidir os impostos quando eles são percebidos como menos perversos ao terem suas alíquotas reduzidas.
Quando esse processo for iniciado, e todos se engajarem nele, trataremos de fazer os ajustes necessários no sentido de se reduzir a carga tributária sobre os extratos de baixa renda – o que não é difícil, bastando taxar menos os produtos de consumo popular – bem como sobre o capital e o trabalho, para estimular o emprego e os investimentos.

Brasileiras e brasileiros,
Eu tenho muitas propostas a fazer a vocês, e ao Congresso, neste quadriênio que agora tem início de verdade, e as farei sem arroubos, sem a pretensão de monopolizar a verdade, apenas e tão somente com a intenção de continuar um processo de reformas que teve início duas décadas atrás e que foi momentaneamente interrompido por razões que não cabe agora abordar. Nunca, neste país, deveríamos ter abandonado o caminho das reformas, sobretudo as que foram feitas em termos de estabilização e de modernização do Estado; não pretendo amarrar o país às fantasias estatizantes de um passado que não volta mais. Temos de olhar para a frente, saber o que de melhor está sendo feito em outros continentes e adaptar essas lições de crescimento rápido às nossas próprias necessidades, não ficar cultivando o dirigismo caduco que vigorou durante muito tempo, e que ainda parece ser cultivado em certos países da região. Não existem obstáculos técnicos para isso, nem os recursos para os investimentos produtivos fazem falta, pois há abundância de liquidez no mundo. O que nos atrapalha, e bastante, é a mentalidade atrasada de certos líderes políticos, em total descompasso com a abertura da sociedade às mudanças e inovações.
Estou pronta a fazer a minha parte, e espero receber a ajuda de todos vocês, independente de partidos e de escolas econômicas. O que interessa é o progresso do Brasil e a prosperidade das brasileiras e brasileiros, como vocês.
Conto com vocês, para enfrentar esses enormes desafios.
Obrigada.
Presidente Dilma Rousseff

Com a ajuda (involuntária, mas deliberada) de
Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 20 de janeiro de 2011]

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O governo e a (des)economia brasileira - Carlos Alberto Sardenberg

A economista-presidente

Talvez fosse o caso de incluir na Constituição brasileira uma cláusula de barreira especifica: economista não pode ser presidente da República.
E acho que os economistas brasileiros, na maioria, concordarão ao menos provisoriamente com essa discriminação. Ocorre que não raro os governos precisam mudar a política econômica. É relativamente fácil: coloca-se a culpa no ministro da Fazenda, demite-se o titular e se convoca outro quadro, alinhado com uma diferente doutrina.
Guido Mantega, por exemplo, desde a primeira reunião ministerial do governo Dilma, em janeiro de 2011, vem prometendo crescimento do PIB superior a 5% ao ano, com inflação na meta de 4,5%. Dizia que a nova política garantiria esses extraordinários resultados. Bom, estamos fechando o terceiro ano do governo — e o melhor que ele poderá entregar será crescimento na média de 2%, com inflação de 6%.
Hora de mudar, não é mesmo?
Aí está o problema da presidente Dilma. Economista, ela tem ideias firmes, tem lado (o do nacional-desenvolvimentismo) e aplica sua doutrina.
Observem as declarações da presidente, em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, em março de 2011:
“Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano.... A meta (de inflação) é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo, mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.”
Quando colocada diante da tese, ortodoxa, digamos, segundo a qual não seria possível, ao mesmo tempo, crescer 5% e trazer a inflação para a meta, a presidente retrucou:
“Tem um artigo interessante escrito pelo Delfim, a respeito de que não existe uma lei divina que diz que a taxa de crescimento será de 3% e que a inflação será de 6%. Eu acho que isso é adivinhação... Vamos mostrar que não, isso não está dado e... e que depende da gente.”
De fato, a adivinhação não estava certa. A inflação de 2011 não foi levada para a meta de 4,5%. Deu 6,5%, no limite máximo da banda. E o crescimento não foi de 3%, mas de 2,7%...
Não era mesmo possível forçar a queda dos juros, para estimular o crescimento, e derrubar a inflação. Mas o governo conseguiu fazer pior: derrubou o crescimento e elevou a inflação.
Tem mais: nos foros internacionais, a presidente deu lições de recuperação econômica, criticando todos os governos que optavam pelo ajuste das contas públicas. Em especial, deu uma bronca em Angela Merkel, que impunha a ortodoxia em toda a Europa. Justificava assim sua política de forte expansão do gasto público para turbinar o crédito e o crescimento.
Também não deu certo. As contas públicas pioraram, a dívida bruta subiu, e o crescimento de novo não veio.
Dizem os economistas que é preciso insistir em qualquer política econômica, dar tempo para que faça efeito. É o que Dilma fez. Mas, agora, com o país entrando no quarto ano de crescimento baixo e inflação alta, com deterioração das contas públicas e externas, a mudança se impõe.
A presidente até está tentando fazer isso. Por exemplo, os juros voltaram a subir, devem passar dos atuais 10%. E ela tem prometido aperto nas contas públicas.
Mas há dois problemas aí. Um, que o pessoal não acredita que a mudança é para valer. Faz sentido: uma política mais ortodoxa vai contra a vontade, as ideias e a determinação da presidente, que explicitou tudo de maneira muito clara. Segundo, como essa mudança de rumo é mesmo de má vontade, acaba sendo feita pela metade e mal executada.
Um corte de gastos aqui, um aumento ali. O Banco Central sobe os juros, mas o governo manda o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil emprestarem mais dinheiro a juros baratos.
Eis o problema da economista-presidente. Se a política fosse apenas do ministro Mantega, era só demiti-lo e colocar no seu lugar alguém tipo Palocci (o Palocci ministro da Fazenda do primeiro mandato de Lula) ou tipo Henrique Meirelles.
Mas se a presidente Dilma fizer isso, a dúvida vai aparecer imediatamente: será que ela mudou mesmo de opinião e admite isso? Rasgou os livros?
E falta de confiança, todos sabemos, é o veneno que mata qualquer política econômica.
Previsões?
A presidente deu uma informação errada quando, na semana passada, disse que o PIB de 2012 seria corrigido de crescimento de 0,9% para 1,5%. Na terça, o IBGE de fato corrigiu, mas para 1%, quase nada.
Comenta o jornalista João Borges, da Globonews: “O governo, que já errava as previsões sobre o futuro, agora também erra as previsões sobre o passado.”
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Politica economica, falhando no que mais conta: confianca dos agentes, credibilidade dos operadores

O fim da trégua

 Cristiano Romero
Valor Econômico, 6/11/2013

Os mercados indicam que acabou a trégua das últimas semanas em relação ao Brasil. O clima de quase tranquilidade durou pouco. Dólar e juros futuros, dois mercados onde confiança é a principal mercadoria, se moveram fortemente nos últimos dias, e para o lado ruim. A motivação é a mesma: a falta de credibilidade da política fiscal.
Brasília, evidentemente, reage de forma catatônica, negando sistematicamente a existência dos problemas. Na opinião de integrantes do governo, está tudo certo com a política econômica; o problema é o péssimo relacionamento do Palácio do Planalto com empresários e banqueiros, algo que, na visão oficial, pode ser consertado até a eleição de outubro de 2014.
O curioso é que há consciência na cúpula do poder de que, mesmo favorita na eleição presidencial, a presidente Dilma Rousseff precisa reconstruir as pontes com o empresariado. Assessores alegam que, nos últimos meses, Dilma recuperou parte da popularidade perdida e maioria no Congresso, mas segue sem apoio no meio empresarial. "Ganhar a eleição é fácil; o difícil é governar [sem interlocução com o setor privado]", diz um auxiliar da presidente.
Dilma sabia da operação Lula para dar autonomia ao BC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com a situação, e não é de agora. Em abril, instado por grandes empresários, que já reclamavam da falta de credibilidade da política econômica, fez um movimento para convencer Dilma de que ela precisava mexer no time. Os empresários sugeriram o nome de Henrique Meirelles, mas Lula preferiu apenas dizer à presidente que ele não seria um obstáculo à saída de Guido Mantega.
Dilma optou por mudar a política em vez de trocar a equipe. Devolveu as políticas monetária e cambial ao Banco Central, desistindo da "nova matriz macroeconômica", e determinou a Mantega que procurasse formas de melhorar o quadro fiscal.
No fim de maio, mercados no mundo inteiro entraram em período de grande nervosismo graças aos sinais do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, de que começaria a diminuir os estímulos monetários. Em junho, o Brasil passou a ser sacudido por ruidosas manifestações populares. Some-se tudo isso à desconfiança dos agentes econômicos no governo.
De 22 de maio a 21 de agosto, a cotação do dólar saltou de R$ 2,05 para R$ 2,45. O juro futuro, medido pelo swap pré de 360 dias, pulou, no mesmo período, de 8,28% para 10,07% ao ano. Dois fatos ajudaram a acalmar o ambiente depois disso: o Fed postergou o início da retirada dos estímulos e o Banco Central adotou um programa de venda diária de hedge cambial.
O que os números dos últimos dias mostram é que o nervosismo voltou. Em apenas nove dias, o dólar saiu de R$ 2,18 e foi a R$ 2,28 e o juro futuro (swap pré de 360 dias) já está num nível mais alto que o do pior momento da recente turbulência - 10,59% ao ano (ver gráfico).

Uma vez mais, Lula tentou ajudar Dilma. Desta vez, a ideia foi montar uma operação sigilosa para fazer o Senado aprovar projeto que dá autonomia formal ao BC. Lula faria, por vias tortas, o que Tony Blair fez quando assumiu o poder na Inglaterra, em 1997: acalmar os mercados dando independência ao BC.
O plano era aproveitar a tramitação do projeto do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), modificá-lo - na visão de Lula, a proposta do senador, ao prever mandato de seis anos para diretores do BC, era excessivamente conservadora -, aprová-lo e tratar do tema, rejeitado desde sempre pelo PT, pelas esquerdas e também por setores da oposição, como um fato consumado.
Um detalhe importante: a presidente Dilma sabia da operação desde o início. Estava tudo combinado com Lula.
As coisas caminhavam bem até que a informação vazou para a imprensa. Do jeito que saiu, Lula apareceu articulando a independência do BC contra a vontade de Dilma, uma forma de tutelá-la. "Ficou parecendo uma operação do Lula contra a Dilma, quando, na verdade, era uma operação de como recuperar a linha de contato do Palácio do Planalto com o mercado financeiro", explicou um colaborador da presidente. "Politicamente, ficou inviável."
No quesito credibilidade, retornou-se, portanto, à estaca zero. Com um agravante. O BC vem aumentando a taxa de juros desde abril e indicou que ela voltará a dois dígitos no fim deste mês. A situação é desafiadora porque, mesmo já tendo trazido a Selic de 7,25% para 9,5% ao ano, o BC não conseguiu melhorar as expectativas de inflação.
A tendência do BC é parar de elevar a Selic apenas quando as expectativas melhorarem. Estas, por sua vez, não vão melhorar enquanto a taxa de câmbio estiver volátil e desvalorizando. Como a situação fiscal não ajuda, muito pelo contrário, só atrapalha, tudo concorre para a turbulência, o que, num círculo vicioso, obriga o Banco Central a ser mais conservador.
Diante disso, o risco para a presidente Dilma está na conjunção de dois fenômenos: o possível rebaixamento da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco, uma possibilidade que já começou a ser antecipada pelo mercado; e o início, no fim primeiro trimestre de 2014, da redução dos estímulos monetários nos EUA. Pode ser a chegada da tempestade perfeita, com impactos imprevisíveis na popularidade da presidente e em seu favoritismo eleitoral.
Cristiano Romero é editor-executivo do Valor Ec.

sábado, 31 de agosto de 2013

"Esse corrupto que fugiu para o Brasil" - encontro Dilma-Evo em Paramaribo (FSP)

Dilma fala a Evo em 'repúdio completo' por fuga de senador
Pouco antes do encontro na cúpula da Unasul, presidente da Bolívia chama Roger Pinto Molina de 'delinquente'
Chanceler brasileiro diz que permanência do político no país depende de decisão do Conselho Nacional de Refugiados
FABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL A PARAMARIBO
Folha de S.Paulo, 31/08/2013

Em encontro com o colega boliviano Evo Morales na cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), no Suriname, a presidente Dilma Rousseff manifestou seu "repúdio completo" à fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina com a ajuda de um diplomata brasileiro, mas disse que sua permanência cabe ao Conare (Conselho Nacional de Refugiados).
Já Morales disse que seu país enviará informações sobre os supostos crimes cometidos por Pinto Molina, incluindo o de corrupção, mas classificou o assunto como da esfera da Justiça boliviana e não pediu sua extradição.
O teor da conversa foi relatado pelo novo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, que substituiu Antonio Patriota nesta semana justamente por causa da crise gerada pela fuga de Pinto.
Segundo Figueiredo, Dilma explicou a Morales que Pinto Molina solicitou refúgio ao Brasil, cuja análise está a cargo do Conare. Não há prazo para uma decisão.
Em entrevista pouco antes de se encontrar com Dilma, Morales chamou Pinto de "delinquente" e disse: "Que devolvam delinquentes que têm problemas de corrupção", declarou.
Questionado sobre eventuais mudanças no Itamaraty com a sua chegada, Figueiredo disse que "a política externa é a do governo Dilma Rousseff".
Ele afirmou que "há várias coisas sob exame": "O caso da retirada do senador de uma embaixada brasileira e a sua condução sem garantias ao território brasileiro é um fato grave e que está sendo apurado."

MERCOSUL
Por iniciativa de Dilma, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Paraguai, Horacio Cartes, também se reuniram ontem para discutir a situação do Mercosul.
Em rápida entrevista com jornalistas, Dilma disse que não iria revelar o teor da conversa, que durou meia hora. "Mas, na minha avaliação, foi uma reunião muito positiva, muito construtiva"
Venezuela e Paraguai estão com as relações estremecidas desde o ano passado, quando o então presidente Fernando Lugo, um aliado de Caracas, foi deposto. Os demais membros do Mercosul na época suspenderam Assunção do bloco e, em seguida, promoveram o ingresso da Venezuela, cuja entrada estava bloqueada por causa da falta de aprovação do Senado paraguaio.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A elevacao da diplomacia brasileira para alturas nunca antes alcancadas - Estadao

Em direção dos Andes, algo como 3 mil metros de altura, talvez até mais, pois a subida ainda não terminou...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma conversa com Evo Morales por telefone sobre troca de embaixadores no Brasil

Presidente conversou por cerca de cinco minutos com o líder boliviano e chamou caso do senador boliviano de 'grave episódio'; Dilma e Evo devem se encontrar na sexta-feira

28 de agosto de 2013 | 20h 53
Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
O Palácio do Planalto confirmou que a presidente Dilma Rousseff telefonou nesta quarta-feira para o presidente da Bolívia, Evo Morales. A conversa, realizada às 15 horas, quando Dilma estava no Palácio da Alvorada, durou cerca de cinco minutos. Mas a equipe da presidente evitou divulgar o teor da conversa, limitando-se a dizer apenas que "foi cordial".
No telefonema da tarde desta quarta, entretanto, Dilma disse a Morales que trocou o ministro das Relações Exteriores, sinalizando que já tomou providências sérias por causa do que ela mesmo considerou como um "grave episódio". Dilma e Morales combinaram de se reunir na próxima sexta-feira (30) em Paramaribo, no Suriname, onde ocorrerá reunião da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
O desgaste entre os dois países remete à fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava na missão diplomática do Brasil em La Paz desde maio de 2012. Pinto Molina chegou ao Brasil no último sábado (24), após uma viagem de 22 horas em veículo diplomático brasileiro. O caso gerou impasse entre Brasil e Bolívia, pois Pinto Molina é opositor do presidente Evo Morales. O caso derrubou Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores (MRE) na segunda-feira (26). Hoje o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado assumiu o comando do MRE.
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Inconformados: 

Bolívia estuda meios para obter extradição

Governo Evo Morales quer que Roger Pinto, condenado por corrupção, seja devolvido ao país; Promotoria diz estudar opções legais para pedido

27 de agosto de 2013 | 23h 22
LA PAZ - O governo de Evo Morales e o Judiciário da Bolívia analisavam nesta terça-feira, 27, que atitude tomarão diante da fuga do senador opositor Roger Pinto ao Brasil. Entre as manobras consideradas por La Paz, que o considera um fugitivo da Justiça, está um pedido de extradição, segundo fontes do Executivo boliviano.
A Promotoria da Bolívia esteve "analisando o referido (caso) sob a normativa internacional e nacional com o objetivo de ver quais são as opções que tem o Ministério Público", afirmou o promotor-geral interino, Roberto Ramírez.
O senador fugitivo poderá ser requerido pela Justiça boliviana, que o acusa de rebeldia - por não comparecer a audiência judiciais - e o condenou a 1 ano de prisão, decisão em que cabe apelação, por um caso de corrupção. O promotor disse ainda que existem duas ordens de detenção contra o político opositor.
"Vamos buscar, como governo, que Roger Pinto regresse ao país e responda diante da Justiça boliviana pelos delitos que cometeu", disse o ministro da Defesa, Rubén Saavedra, acrescentando que o governo de Evo tem "os ânimos e a decisão" de esclarecer e não deixar impune a fuga do senador.
A presidente do Senado boliviano, Betty Tejada, afirmou que a Casa "solicitará à Promotoria-Geral que proceda ao trâmite de extradição".
‘Herói’. A oposição boliviana comemorou nesta terça o sucesso da fuga do senador, iniciada na sexta-feira, para o Brasil.
"As pessoas têm de compreender que existia uma situação extrema, que feria os direitos humanos. Pinto havia deixado de comer havia quatro dias (antes de ser retirado da Embaixada do Brasil em La Paz). Estava profundamente deprimido, falando de suicídio a todo momento", disse ao Estado o deputado Tomás Monasterio, da opositora Convergência Nacional, partido do senador fugitivo.
O político afirmou que sua legenda está organizando uma "carta pública", com a assinatura de parlamentares, prefeitos e governadores da oposição boliviana ao diplomata Eduardo Saboia, responsável por trazer Pinto ao Brasil. "Saboia é o verdadeiro rosto da diplomacia brasileira. Saudamos ele como a um herói. Deveria receber uma medalha pelo que fez."
Monasterio acusou o ex-chanceler brasileiro Antonio Patriota, demitido do cargo na segunda-feira após o início da crise diplomática, de ser "cúmplice" do governo de Evo e não ter sido firme para obter de La Paz o salvo-conduto que autorizaria o trânsito do senador fugitivo para fora da Bolívia.
O deputado ainda agradeceu a presidente Dilma Rousseff pela "preocupação pela vida" de Pinto, que a brasileira expressou em seu discurso de ontem.
O ex-presidente boliviano Jorge Quiroga também elogiou a fala de Dilma, afirmando que ela "assinala que o asilo (que Pinto deve pedir novamente, segundo a Advocacia-Geral da União) está garantido." / AFP COM GUILHERME RUSSO
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E a teia de conveniências...

Planalto blinda Amorim para conter danos

Ministério da Defesa nega que sabia da fuga, mas comandantes militares foram avisados informalmente por adidos em La Paz

27 de agosto de 2013 | 23h 12
Tânia Monteiro
BRASÍLIA - Para impedir que a crise se alastrasse do campo da diplomacia para o da Defesa, a presidente Dilma Rousseff comandou uma operação de blindagem do ministro Celso Amorim. Os escalões superiores das Forças Armadas sabiam informalmente da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que teve escolta de militares, e Dilma ordenou que Amorim explicasse o ocorrido.
Amorim preferiu fazer a declaração por meio de nota. Ele justificou que, no dia da viagem de Pinto Molina, os três adidos militares da embaixada em La Paz estavam fora da capital, em Cochabamba. "Em momento algum, eles foram informados da ação de deslocamento do senador boliviano para o Brasil", disse Amorim.
Apesar da negativa oficial, informações sobre a transferência do senador foram repassadas à cadeia de comando, segundo disseram aoEstado fontes graduadas das três Forças. Os comandantes evitam fazer comentários sobre o caso ou negam que tenham sido informados porque os avisos dos adidos vieram por canais informais. A cúpula militar prefere não se envolver no episódio por não se tratar de um tipo de operação militar.
Nesta terça-feira, em palestra na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, Amorim disse que "é um absurdo completo" afirmar que ele sabia da operação para retirar o senador boliviano e trazê-lo ao Brasil.
Segundo fontes militares, as comunicações sobre o que ocorria em La Paz foram feitas informalmente pelos adidos. "Se um adido não repassar esse tipo de informação para Brasília, ele simplesmente não serve para ser adido e deve perder o cargo", avisou um oficial-general do Alto-Comando das Forças Armadas, ao falar sobre o que chamou de "natural" e "correta" atitude dos militares que trabalham em La Paz.
Contenção. A própria presidente Dilma, que na manhã desta terça chegou a tratar do tema com Amorim, pedindo a ele explicações, não quer abrir uma nova frente de problemas. Segundo interlocutores diretos da presidente, ela considera que todo o erro no processo de fuga do senador boliviano foi de ordem diplomática, sem relação com a área militar.
No Palácio do Planalto, há entendimento até que, se realmente houve repasse de informação extraoficial dos adidos aos seus superiores, isso não pode ser colocado como quebra de hierarquia em relação a Amorim, porque os militares não tinham conhecimento da operação e não foram convocados para ela.
O Planalto dá o benefício da dúvida aos escalões superiores, porque os comandos poderiam achar, de fato, que se tratava de uma operação sigilosa oficial, em que não deveriam se envolver. Assim, o governo brasileiro considera que a situação de Amorim nada tem a ver com a Patriota.