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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A economia brasileira segundo os dados oficiais - Ricardo Bergamini (IBGE, BCB, etc.)

 Somente o saber e o conhecimento serão capazes de demolir o extremismo de esquerda ou de direita (Ricardo Bergamini)

 

Prezados Senhores

 

Sejam de esquerda ou de direita: todos vão pagar a conta pelo estado de putrefação econômica, social, política e ética do Brasil. Cada um que escolha o culpado de sua preferência, com base nos indicadores abaixo. 

 

Indicadores macroeconômicos do Brasil, sem ideologia

 

Base: Setembro de 2023

1 - Efeito do Depósito Compulsório e dos Créditos Subsidiados na Taxa de Juros de Mercado (BCB)

Em setembro de 2023, o custo médio de rolagem da dívida interna da União, em poder do mercado, foi de 11,15% ao ano, e ninguém consegue explicar o motivo pelo qual a taxa média de mercado do crédito livre, no mês de setembro de 2023, estava em 43,3% ao ano, ou seja: 3,88 vezes maiores. Ficando a impressão de que os bancos são os ladrões dessa fortuna, quando na verdade é o próprio governo.

2 - Estoque da Dívida Líquida da União (ME)

Em 2010, o estoque da dívida líquida da União (interna mais líquida externa) era de R$ 2.388,0 bilhões (61,46% do PIB). Em dezembro de 2018 era de R$ 5.671,4 bilhões (80,97% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 31,74%, comparativamente a dezembro de 2010. Em dezembro de 2022, migra para R$ 8.106,8 bilhões (81,77% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 0,99%, comparativamente a dezembro de 2018. Em setembro de 2023 migra para R$ 8.347,4 bilhões (79,94% do PIB). Redução real em relação ao PIB de 2,24%, comparativamente a dezembro de 2022.

3 - Estoque da Divida Consolidada do Governo Geral – Governo Federal, o INSS e os governos estaduais e municipais (BCB) 

 

Em 2010 o estoque da dívida do governo geral consolidada era de R$ 2.011,5 bilhões (55,0% do PIB). Em dezembro de 2018 era de R$ 5.272,0 bilhões (76,7% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 39,45%, comparativamente a 2010. Em dezembro de 2022 migra para R$ 7.224,8 bilhões (73,5 % do PIB). Redução real em relação ao PIB de 4,17% comparativamente a 2018. Em setembro de 2023 migra para R$ 7.828,2 bilhões (74,4% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 1,22%, comparativamente a 2022.

 

4 - Taxa de Investimento (IBGE)

No 2º trimestre de 2014, a taxa de investimento foi de 21,1% do PIB. No 2º trimestre de 2023, a taxa de Investimento foi de 17,2% do PIB. Redução de 18,48% em relação ao PIB.

 

5 - Taxa de Poupança (IBGE)

 

No 2º trimestre de 2021, a taxa de poupança bruta foi de 20,5% do PIB. No 2º trimestre de 2023, a taxa de poupança foi de 16,9% Redução de 17,56% em relação ao PIB. 

 

6 - IPCA (IBGE)

Em setembro de 2023, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,26%, 0,03 ponto percentual (p.p.) acima da taxa de agosto (0,23%). No ano, o IPCA acumula alta de 3,50% e, nos últimos 12 meses, de 5,19%, acima dos 4,61% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2022, a variação havia sido de -0,29%.

 

7 - IPP (IBGE)

Em setembro de 2023, os preços da indústria variaram 1,11% frente a agosto, segundo resultado positivo seguido. Houve alta de preços em 13 das 24 atividades industriais. O acumulado no ano foi de -5,43%, o menor para um mês de setembro desde o início da série, em 2014. O acumulado em 12 meses ficou em -7,92%.

 

8 - Saldo de Caixa em Moedas Estrangeiras (BCB)

 

Saldo de caixa em moeda estrangeira em setembro de 2023 era de US$ 340,3 bilhões, e a dívida externa bruta em moeda estrangeira de US$ 712,1 bilhões. Com saldo devedor de US$ 371,8 bilhões. 

 

Caso seja utilizado o saldo de caixa, aumentará a dívida líquida da União. 

 

9 - Pesquisa Mensal de Comércio (IBGE)

 

Em setembro de 2023, o volume de vendas do comércio varejista ficou -1,5% abaixo do nível recorde da série ocorrida em outubro de 2020.

 

Em setembro de 2023, o volume de vendas do comércio varejista ampliado ficou -4,2% abaixo do nível recorde da série ocorrida em agosto de 2012.

 

10 - Variação do PIB (IBGE)

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,9% no segundo trimestre de 2023, ante o trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 3,4%. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho de 2023, o PIB cresceu 3,2%, ante os quatro trimestres imediatamente anteriores. No semestre, a alta acumulada foi de 3,7%.

 

11 - Pesquisa Industrial Mensal (IBGE)

Em setembro de 2023, a produção industrial nacional variou 0,1% frente a agosto, na série com ajuste sazonal. Em relação a setembro de 2022, na série sem ajuste sazonal, houve alta de 0,6%. O acumulado no ano foi de –0,2% e o acumulado em 12 meses apresentou variação nula (0,0%).

 

12 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IBGE)

 

Base: Trimestre encerrado em setembro de 2023

 

Resumo do estudo:

 

1 - A população desocupada (8,3 milhões) recuou 3,8% (menos 331 mil pessoas) no trimestre e 12,1% (menos 1,1 milhão de pessoas) no ano. Foi o menor contingente desde o trimestre móvel encerrado em maio de 2015 (8,3 milhões).

 

2 - A população fora da força de trabalho (66,8 milhões) ficou estável frente ao trimestre anterior e cresceu 3,2% (mais 2,1 milhões) ante o mesmo trimestre de 2022.

 

3 - A taxa de informalidade foi de 39,1% da população ocupada (ou 39,0 milhões de trabalhadores informais) contra 39,2% no trimestre anterior e 39,4% no mesmo trimestre de 2022.

 

4 - A população ocupada (99,8 milhões) chegou ao maior contingente desde o início da série histórica (1º trimestre de 2012), crescendo 0,9% no trimestre (mais 929 mil pessoas) e 0,6% (mais 569 mil pessoas) no ano. O nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) foi estimado em 57,1%, crescendo 0,4 p.p. frente ao trimestre de abril a junho (56,6%) e ficando estável no ano.

 

5 - De um total de 175,0 milhões de pessoas em idade de trabalhar existem apenas 99,8 milhões de pessoas ocupadas, sendo 39,0 milhões de pessoas na informalidade, ou seja: o Brasil possui apenas 60,8 milhões de cidadãos, sendo apenas 36,0 milhões de declarantes do imposto de renda, o resto são miseráveis dependentes de esmolas.

 

13 - Política Fiscal (BCB)

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2022, registrou-se superávit fiscal primário de R$ 126,0 bilhões (1,28% do PIB), No acumulado em doze meses até setembro de 2023, registrou-se déficit fiscal primário da ordem de R$ 101,9 bilhões (0,97% do PIB), Redução real em relação ao PIB de 175,78%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2022. 

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2022, os juros nominais alcançaram R$ 586,4 bilhões (5,96% do PIB). No acumulado em doze meses até setembro de 2023, os juros nominais alcançaram R$ 699,7 bilhões (6,65% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 11,58%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2022.

 

No acumulado em doze meses até dezembro de 2022, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 460,4 bilhões (4,68% do PIB). No acumulado em doze meses até setembro de 2023, o déficit fiscal nominal alcançou R$ 801,6 bilhões (7,62% do PIB). Aumento real em relação ao PIB de 62,82%, comparativamente ao acumulado em doze meses até dezembro de 2022.

 

14 - Política Monetária (BCB)

 

Em setembro de 2023 o volume de operações de crédito foi de R$ 5.575,9 bilhões (53,0% do PIB), sendo: 

            

- 58,89% do total - R$ 3.283,7 bilhões (31,2% do PIB) com recursos livres com juro médio de 43,3 % ao ano. 

 

- 41,11% do total – R$ 2.292,2 bilhões (21,8 % do PIB) com recursos direcionados concedidos por bancos públicos (CAIXA, BB, BNDES) com juro médio de 11,1% ao ano. 

 

A taxa média de juros das operações contratadas em setembro de 2023 alcançou 30,5% a.a.

 

15 - Pesquisa Mensal de Serviços (IBGE)

 

Em setembro de 2023, o volume de serviços no Brasil decresceu 0,3% frente a agosto, na série com ajuste sazonal. O setor de serviços se encontra 10,8% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e 2,6% abaixo de dezembro de 2022 (ponto mais alto da série histórica). Frente a setembro de 2022, na série sem ajuste sazonal, o volume de serviços recuou 1,2%, interrompendo uma sequência de 30 taxas positivas. O acumulado no ano chegou a 3,4% frente a igual período de 2022. O acumulado em 12 meses recuou de 5,3% em agosto para 4,4% em setembro. 

 

16 - Balanço de Pagamentos (BCB)

 

Série história do saldo das transações correntes com base na média/ano foi como segue: Governo FHC (1995/2002) – déficit de US$ 23,4 bilhões = -3,31% do PIB; Governo Lula (2003/2010) – déficit de US$ 6,6 bilhões = -0,52% do PIB; Governo Dilma/Temer (2011/2018) – déficit de US$ 48,2 bilhões = -2,20% do PIB; Governo Bolsonaro (2019/2022) - déficit de US$ 36,8 bilhões = -2,15% do PIB; Governo Lula (setembro de 2023) – déficit de US$ 39,8 bilhões = -1,92% do PIB.

17 - Movimentações Financeiras das Contas Externas do Brasil (BCB)

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até 2022 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 71,4 bilhões. Até setembro de 2023 (Lula) houve entrada líquida (captação) de US$ 20,6 bilhões.

 

18 – Relatório Bimestral de Receitas e Despesas (ME)

 

Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, a previsão de crescimento econômico para o ano era de 2,50%. No 4º bimestre de 2023, a previsão de crescimento econômico migrou para 3,16%.

 

Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, o resultado primário previsto foi de déficit para o ano de R$ 228,1 bilhões. No 4º bimestre de 2023, o resultado primário previsto para o ano migrou para déficit de R$ 141,4 bilhões.

 

19 – Principais indicadores de juros e inflação (IBGE/ME/BCB/FGV)

IPCA nos últimos doze meses, até setembro de 2023, foi de 5,19 % ao ano. 

 

IGPM nos últimos doze meses, até setembro de 2023, foi de -5,97% ao ano. 

 

IPP nos últimos doze meses, até setembro de 2023, foi de -7,96% ao ano (inflação dos produtores).

 

Taxa de juros SELIC, em setembro de 2023, foi de 12,75% ao ano. 

 

Taxa de juros de longo prazo (rolagem da dívida do governo), em setembro de 2023, foi de 10,58% ao ano.

 

Taxa de juros para devedores de segunda classe, em setembro de 2023, foi de 43,3% ao ano. 

 

Taxa de juros para devedores de primeira classe, em setembro de 2023, foi de 11,1% ao ano.

 

20 - Resultado Previdenciário Total da União (RGPS e RPPS)

Em 2018, gerou déficit previdenciário de R$ 287,5 bilhões (4,10% do PIB). Em 2022 migrou para déficit previdenciário da ordem de R$ 375,4 bilhões (3,82% do PIB). Redução real em relação ao PIB foi de 6,83%, comparado ao ano de 2018. Em setembro de 2023 migrou para déficit previdenciário de R$ 390,9 bilhões (3,74% do PIB).  Redução real em relação ao PIB foi de 2,09%, comparado ao ano de 2022.  

21 – Dívidas dos estados e municípios, não pagas, e honradas pela União (ME)

 

Até setembro de 2023, foi honrado pela União o montante de R$ 8,8 bilhões de dívidas, não pagas, dos estados e municípios, conforme quadro demonstrativo abaixo.

 

De 2016 até setembro de 2023, a União teve que honrar pagamento das dívidas, não pagas, dos estados e municípios, constantes do quadro demonstrativo abaixo, no montante de R$ 60,5 bilhões. 

 

Abaixo os quatro estados mais endividados, onde a DC (dívida consolidada) está maior do que a RCL (receita corrente líquida), quais sejam:

 

São Paulo com 162,3%.

 

Minas Gerais com 187,3%.

 

Rio Grande do Sul com 198,7%.

 

Rio de Janeiro com 222,7%.

 

22 - Diferença entre juros SELIC e juros de longo prazo (BCB)

 

Existe a taxa de juros SELIC divulgada periodicamente pelo Banco Central, destinada às operações de mercado de curto prazo, ou seja: é uma taxa de referência para um dia, que em setembro de 2023 estava em 12,75% ao ano.

 

A outra taxa de juros é a de longo prazo negociada, pelo Banco Central, com grandes investidores, que nos doze meses até setembro de 2023 foi de 10,58% ao ano. Sendo de 11,15% ao ano para a dívida interna em poder do mercado, e -1,86% ao ano para a dívida externa. 

 

Nos últimos doze meses, até setembro de 2023, os investidores tiveram um ganho real acima da inflação de 5,39% ao ano em seus investimentos no Brasil, ou seja, dentro da média de 2011/2022 que foi de 4,92% ao ano. 

 

23 -  Saldo da Balança Comercial (BCB)

 

Até setembro de 2023, o Brasil exportou US$ 252,9 bilhões e importou US$ 181,7 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 71,2  bilhões. Cabe lembrar que 44,52 % do saldo positivo foram obtidos com a China.

 

2 – Até setembro de 2023, o Brasil exportou para a China US$ 71,2 bilhões e importou US$ 39,5 bilhões, gerando um saldo na balança comercial positivo para o Brasil de US$ 31,7 bilhões.

 

3 – Até setembro de 2023, o Brasil exportou para os Estados Unidos US$ 26,6 bilhões e importou US$ 28,9 bilhões, gerando um saldo  na balança comercial negativo para o Brasil de US$ 2,3 bilhões.

 

4- Até setembro de 2023, o movimento corrente da balança comercial (exportações mais importações) caiu -5,3% em relação ao ano de 2022. Com redução das exportações em - 0,1% e queda das importações em -11,7%.

 

24 – IGPM (FGV)

 

Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) variou 0,37% em setembro, após queda de 0,14% no mês anterior. Com este resultado, o índice acumula taxa de -4,93% no ano e de -5,97% em 12 meses. Em setembro de 2022, o índice havia caído 0,95% e acumulava alta de 8,25% em 12 meses.   

 

25 - Composição do PIB Brasileiro (IBGE) 

No 2º trimestre de 2023, a composição do PIB foi como segue: R$ 214,0 (8,07%) na agropecuária; R$ 541,3 bilhões (20,42%) na indústria; R$ 1.560,1 bilhões (58,85 %) nos serviços e R$ 335,7 bilhões (12,66%) em impostos. Totalizando um PIB de R$ 2.651,1 bilhões (100,00%)

 

Conclusão: No 2º trimestre de 2023, 15,53% da composição do PIB são: impostos sobre produtos (12,66 %) e inflação pelo IPCA (2,87%).

 

Ricardo Bergamini

www.ricardobergamini;com;br

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Censo do IBGE: Brasil envelheceu - IBGE

 Censo: Brasil envelhece e tem idade mediana de 35 anos; idosos já são 10,9%

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    A população brasileira está ficando cada vez mais velha, com idade mediana de 35 anos. No ano passado, ela atingiu o maior percentual de pessoas com 65 anos ou mais de idade desde 1872, ano do primeiro Censo. É o que indicam os resultados do Censo Demográfico 2022 segundo características de idade e sexo, divulgados hoje pelo IBGE.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  Em 1980, o Brasil tinha 4% da população com 65 anos ou mais de idade. Já em 2022, esse grupo etário representou 10,9% da população total, um crescimento de 57,4% em relação ao Censo Demográfico 2010, quando representava 7,4% da população. A população total brasileira é de 203 milhões de habitantes.

O percentual de crianças até 14 anos de idade, que era de 38,2% em 1980, passou a 19,8% em 2022. Já os brasileiros de 15 a 64 anos passaram de 57,7% para 69,3% no mesmo período.

A comparação das pirâmides etárias ao longo dos últimos 42 anos evidencia o franco envelhecimento da população brasileira, refletido no gradual estreitamento da base da pirâmide (que representa as crianças) e alargamento do seu topo (os idosos) Trecho do Censo 2022

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        O envelhecimento tem como principal indutor a redução do número médio de filhos tidos por mulher. As taxas de fecundidade começam a apresentar redução a partir da década de 1960 devido a fatores como a maior inserção da mulher no mercado de trabalho e maior utilização de métodos contraceptivos. No entanto, o IBGE também atribui o fenômeno do envelhecimento à redução da mortalidade em todos os grupos etários, incluindo os idosos.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      As informações do Censo servem para nortear a alocação de recursos públicos. Previdência Social, assistência a idosos, quantidade de escolas, hospitais e distribuição de vacinas são algumas das políticas públicas para qual o levantamento é usado como base.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             Brasileiro tem 6 anos a mais que em 2010. No Brasil, em 2022, a idade mediana era de 35 anos. Já em 2010, a idade mediana era de 29 anos no país, o que evidencia o envelhecimento da população. A idade mediana — que significa a idade na qual é possível dividir a população entre os 50% mais jovens e os 50% mais velhos — é um indicador que permite acompanhar o envelhecimento de uma população. O aumento da idade mediana ocorreu em todas as regiões do país. A região de maior idade mediana em 2022 é o Sudeste, com 37 anos, e a menor a Norte, com 29.

A população de Roraima é a mais jovem do Brasil, com idade mediana de 26 anos, e a do Rio Grande do Sul a mais velha, com 38.  Embora a idade mediana seja de 35 anos, o principal pico observado é aos 40 anos — são 3,7 milhões de brasileiros. O índice de envelhecimento também avançou e chegou a 55,2 em 2022. Isso significa que há 55 idosos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, o índice de envelhecimento correspondia a 30,7 e em 1980 a 10,5.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             6 milhões de mulheres a mais do que homens: A proporção de homens em relação às mulheres no Brasil caiu 1,9% entre 2010 e 2022. Agora há 94,2 homens para cada 100 mulheres, segundo o Censo. Em 1980, eram 98,7 homens para cada 100 mulheres.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Genocídio racial estatístico - José Murilo de Carvalho (2004, mas ainda muito atual)

 

Genocídio racial estatístico

O Globo (Rio de Janeiro) 27/12/2004

Está em andamento no Brasil uma tentativa de genocídio racial perpetrado com a arma da estatística. A campanha é liderada por ativistas do movimento negro, sociólogos, economistas, demógrafos, organizações não-governamentais, órgãos federais de pesquisa. A tática é muito simples. O IBGE decidiu desde 1940 que o Brasil se divide racialmente em pretos, brancos, pardos, amarelos e indígenas. Os genocidas somam pretos e pardos e decretam que todos são negros, afro-descendentes. Pronto. De uma penada, ou de uma somada, excluem do mapa demográfico brasileiro toda a população descendente de indígenas, todos os caboclos e curibocas. Escravizada e vitimada por práticas genocidas nas mãos de portugueses e bandeirantes, a população indígena é objeto de um segundo genocídio, agora estatístico. A não ser pelos trezentos e tantos mil índios, a América desaparece de nossa composição étnica. Restam Europa e África. 

O problema da cor ou raça persegue nossos demógrafos e estatísticos desde 1849. Haddock Lobo, organizador do censo do Rio de Janeiro desse ano, rejeitou o item cor por considerar essa classificação odiosa, além de inconfiável pela “infidelidade com que cada indivíduo faria de si próprio a necessária declaração”. O primeiro censo nacional, feito em 1872, enfrentou o problema e dividiu as raças (não se diferenciava raça de cor) em branca, preta, parda e cabocla (indígena). Os responsáveis pelo censo de 1890 substituíram pardo por mestiço, argumentando, corretamente, que a cor parda “só exprime o produto do casamento do branco com o preto”. O censo de 1920 eliminou o item raça porque “as respostas ocultavam em grande parte a verdade”, sobretudo as respostas dos mestiços. O registro de cor foi reintroduzido no censo em 1940, quando voltaram os pardos e se estabeleceu o padrão atual, com a única diferença que hoje se separam amarelos (asiáticos) e indígenas. 

Retrocedeu-se a 1872, ignorado o alerta feito em 1890. Os descendentes de indígenas ficaram embutidos na classificação de pardos, da qual são agora definitivamente enxotados. Ora, é óbvio para qualquer um que os 39% de pardos do censo de 2000 se compõem em boa parte de descendentes de indígenas. Aí está, aliás, a razão de ser do tribunal racial da Universidade de Brasília, destinado a apontar entre os pardos os afro-descendentes. A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, de 1998, mostrou que as pessoas classificadas como pardas pelos critérios impostos, quando deixadas livres para se autoclassificarem se disseram morenas e morenas claras em 60% dos casos. Apenas 34% dos pardos concordaram com essa classificação e apenas 2% se disseram mulatos. Pesquisa feita na Região Metropolitana do Rio de Janeiro em 1997 revelou que 50% dos que foram classificados de pardos pelos entrevistadores se disseram morenos ou brancos. Outra pesquisa no Rio, de 2000, mostrou que 48% dos pardos diziam ter antecedentes indígenas. Nos estados do Norte, onde foi fraca a presença da escravidão africana, os descendentes de indígenas formam sem dúvida a grande maioria dos pardos. 

A inspiração do genocídio vem naturalmente dos Estados Unidos. Mas a operação é falaciosa. Para corrigir os males de uma sociedade em preto e branco, os americanos começaram a valorizar todas as etnias. Como se sabe, não existem mais americanos. Lá, as pessoas são euro, afro, latino, nativo, asiático-americanas. Professores brasileiros quando vão dar aulas por lá têm que se autoclassificar racialmente. Eu sou latino. Importou-se essa valorização das etnias. A falácia consiste em ter sido ela importada não para acabar com a polarização, mas para implantá-la num país em que ela não existia. Valorizam-se duas cores, raças, etnias, seja lá o que for, com exclusão das outras. Viramos um país em preto e branco, ou melhor, em negro e branco. 

Deixados livres para definir sua cor, os brasileiros exibem enorme variedade e grande ambigüidade. Essa riqueza foi aprisionada no leito de Procusto das cinco categorias pré-codificadas do IBGE. Os americanizantes querem mutilá-la ainda mais, reduzindo-a à polarização branco-negro. Se é para valorizar as etnias, vamos copiar direito os americanos. Vamos incluir todas as etnias, sem esquecer a dos primitivos habitantes do país, instaurando entre nós a sociedade hifenizada. Para isso, nenhuma das opções dos censos, de 1872 a 2000, é satisfatória. 



quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Balanço de pagamentos e investimentos no Brasil: desafios atuais, desafios à frente - Ricardo Bergamini

 Reservas internacionais e investimentos no Brasil: os dados da conjuntura

 

No Brasil, por deformação cultural, não se debate balanço de pagamentos: acreditamos que a culpa é sempre do resto do mundo (Ricardo Bergamini). 

Saldo de Transações Correntes

Série história do saldo das transações correntes com base na média/ano foi como segue: Governo FHC (1995/2002) – déficit de US$ 23,4 bilhões = -3,31% do PIB; Governo Lula (2003/2010) – déficit de US$ 6,6 bilhões = -0,52% do PIB; Governos Dilma/Temer (2011/2018) – déficit de US$ 48,2 bilhões = -2,21% do PIB; Governo Bolsonaro (2019/outubro/2020) - déficit de US$ 15,3 bilhões = - 1,04% do PIB, nos 12 meses encerrados em outubro de 2020. 

 

Resumo: Governo FHC déficit de transações correntes de -3,31% do PIB, Governo Lula déficit de -0,52% do PIB, governos Dilma/Temer déficit de -2,21% do PIB e, nos doze meses do governo Bolsonaro encerrados em outubro de 2020, déficit de -1,04% do PIB, ou seja, 52,94% menor do que o período de Dilma/Temer.


Estatísticas do setor externo Fonte BCB 

Base: Outubro de 2020

1.    Balanço de pagamentos

  


As transações correntes foram superavitárias em US$ 1,5 bilhão em outubro, ante déficit de US$ 8,1 bilhões em outubro de 2019. Este foi o terceiro mês seguido de superávit e o sexto superávit mensal desde abril. Seguindo a tendência dos meses anteriores, essa reversão ocorreu de forma disseminada, com aumento de US$ 3,0 bilhões no superávit da balança comercial de bens e reduções de US$ 4,5 bilhões e de US$ 2,0 bilhões nos déficits em renda primária e serviços, respectivamente. O déficit em transações correntes somou US$ 15,3 bilhões nos 12 meses encerrados em outubro, equivalentes a 1,04% do PIB. Este déficit foi inferior aos US$ 24,9 bilhões (1,64% do PIB) nos 12 meses terminados em setembro e o menor valor acumulado desde fevereiro de 2018, 0,97% do PIB.

 

As exportações de bens totalizaram US$ 18,0 bilhões em outubro, recuo de 8,6% ante outubro de 2019. As importações de bens somaram US$ 13,1 bilhões, declínio de 26,3%. De janeiro a outubro de 2020 as exportações recuaram 7,8% e as importações, 15,1%. O superávit comercial somou US$ 41,5 bilhões, acima dos US$ 32,5 bilhões observados no mesmo período de 2019.

O déficit da conta de serviços atingiu US$ 1,6 bilhão no mês, recuo de 55,2% ante outubro de 2019, US$ 3,7 bilhões. A conta de viagens internacionais continua a evidenciar os impactos da pandemia, com diminuição do déficit de US$ 1,0 bilhão, em outubro de 2019, para US$ 103,0 milhões, em outubro de 2020 (-90,2%) nas despesas líquidas. Destacou-se também, na mesma base comparativa, o recuo de US$ 745,0 milhões nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, de US$ 1,5 bilhão para US$ 789,0 milhões, e a redução de US$ 450,0 milhões nas despesas líquidas de transportes, de US$ 606,0 milhões para US$ 156,0 milhões.

Em outubro, o déficit em renda primária somou US$ 1,9 bilhão, recuo de 70,6% em relação a outubro de 2019. As despesas líquidas de lucros e dividendos atingiram US$ 919,0 milhões, comparativamente a US$ 4,2 bilhões em outubro de 2019. Esse resultado decorreu da combinação do recuo nas despesas em US$ 2,8 bilhões, para US$ 2,2 bilhões, e do aumento nas receitas em US$ 520,0 milhões, para US$ 1,4 bilhão. Os gastos líquidos com juros somaram US$ 948,0 milhões, redução de 56,0% na comparação interanual, com queda de receita e de despesa. De janeiro a outubro de 2020 o déficit em renda primária totalizou US$ 34,1 bilhões, 27,9% inferiores aos US$ 47,3 bilhões no mesmo período em 2019.

No mês, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,8 bilhão, ante US$ 8,2 bilhões em outubro de 2019. O resultado de outubro de 2020 foi composto por entradas líquidas de US$ 2,8 bilhões em participação no capital e saídas líquidas de US$ 1,0 bilhão em operações intercompanhia. Nos doze meses encerrados em outubro de 2020 o IDP totalizou US$ 43,5 bilhões, correspondendo a 2,94% do PIB, em comparação a US$ 49,9 bilhões (3,29% do PIB) acumulados em 12 meses no mês anterior.  

 

 Em outubro, ocorreram ingressos líquidos de US$ 5,5 bilhões em instrumentos de portfólio negociados no mercado doméstico, resultado de ingressos líquidos de US$ 2,8 bilhões em ações e fundos de investimento e de US$ 2,7 bilhões em títulos de dívida. Nos dez primeiros meses do ano houve saídas líquidas de US$ 21,6 bilhões, comparativamente a saídas de US$ 872,0 milhões entre janeiro e outubro de 2019. Nos doze meses encerrados em outubro a saída líquida de investimentos em portfólio no mercado doméstico somou US$ 27,4 bilhões. 

2. Reservas internacionais

 O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 354,5 bilhões em outubro, redução de US$ 2,1 bilhões em comparação ao mês anterior. O recuo do estoque de reservas internacionais decorreu de liquidação de vendas à vista no mercado de câmbio, US$ 1,6 bilhão, e variações negativas por paridades e por preço, US$ 1,0 bilhão. A receita de juros somou US$ 425,0 milhões.

Arquivos oficiais do governo estão disponíveis aos leitores.

 

Ricardo Bergamini

www.ricardobergamini.com.br

 

domingo, 15 de novembro de 2020

Outras Cartografias: Por uma nova regionalização do Brasil - José Donizete Cazzolato

 Outras Cartografias: Por uma nova regionalização do Brasil

O Maranhão fora do Nordeste? O que seria a Região Noroeste do Brasil? 50 anos após o IBGE definir as Grandes Regiões, país mudou. É preciso reconhecer as novas identidades geográficas. Próximo Censo é oportunidade para isso

MAIS:
Baixe o mapa em alta resolução aqui

Por José Donizete Cazzolato, na coluna Outras Cartografias

Por que este mapa está aqui? A coluna sempre apresenta novas cartografias, e o que esta cartografia tem de novo? São as regiões do Brasil – Centro-Oeste, Norte, Nordeste… Opa! Mas algo está errado, tem duas regiões Norte! Não, uma é NO = Norte, mas e a outra… não é N = Norte também?”

Esta pode ser uma reação esperada de alguém jovem, com algum conhecimento geográfico, mas pouca intimidade com a cartografia e com as siglas das direções cardeais. De fato, à primeira vista o mapa é familiar, por ser diariamente exposto na TV aberta quando o noticiário apresenta a previsão do tempo, por exemplo. Mas há uma importante diferença: em vez das cinco Grandes Regiões do IBGE, adotadas em 1970 e alteradas em 1988 quando se criou o Tocantins, este mapa apresenta o Brasil dividido em seis macrorregiões.

Então mudou a divisão das regiões?”

Não, esta é uma proposta de mudança, buscando adequar a antiga divisão à geografia do Brasil atual. Vale lembrar que, em 1970, o país tinha 90 milhões de habitantes, menos da metade da população atual. Não existiam Tocantins nem Mato Grosso do Sul, Rondônia era um Território Federal com apenas dois municípios, e a cidade do Rio de Janeiro tinha o privilégio de ser o Estado da Guanabara; Niterói era capital do Estado do Rio de Janeiro.

Nesses 50 anos o Brasil cresceu e desenvolveu-se em diversos campos de atividade, atenuando ou aumentando as desigualdades. Suas cidades cresceram como nunca, e grandes áreas quase despovoadas foram ocupadas e incorporadas à economia nacional. Expandiram-se a agricultura, a pecuária, a malha viária e a rede urbana, principalmente na faixa que vai de Rondônia ao Maranhão passando por Goiás.

Especialmente no Centro-Norte – estado do Tocantins, Sudeste do Pará e Sul do Maranhão, houve um grande incremento demográfico e da atividade econômica como um todo. Em decorrência, os fluxos geográficos adensaram-se, estabelecendo também diferentes conexões reforçando novas identidades. Basta lembrar o estabelecimento do estado do Tocantins (31 anos atrás) e o plebiscito de 2011, quando os paraenses do Sudeste do Pará aprovaram a criação do Estado de Carajás.

É inegável a regionalidade que se formou na junção PA-MA-TO. Observe-se a bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia, a rodovia Belém-Brasília, a Estrada de Ferro Carajás – ligando o Sudeste Paraense a São Luís – ou o longo traçado da Ferrovia Norte-Sul, que conecta a EF Carajás aos estados do Tocantins, Goiás e São Paulo. Todos esses elementos estruturantes da geoeconomia local estendem-se no sentido geral Norte-Sul, proporcionando uma nova dinâmica de fluxos na interface entre as atuais regiões Norte e Nordeste. Esta nova realidade regional também se evidencia na evolução da polarização urbana – São Luís, Palmas e Belém, diretamente ou através de Marabá, Imperatriz e Araguaína, estendem sua influência cada vez mais sobre áreas tradicionalmente ligadas a Fortaleza ou Goiânia.

A divisão regional atual, porém, secciona este novo contexto regional, mantendo o Maranhão no Nordeste e o Tocantins como um apêndice da Região Norte. Este fato, por sinal, pode ser considerado o ponto de inflexão do atual arranjo macrorregional. Poucos se lembram, mas até 1988 o atual Tocantins, que pertencia Goiás, fazia parte do Centro-Oeste. Nesse ano promulgou-se a atual Constituição Federal, em cujas disposições transitórias o Artigo 13 criou o novo Estado, transferindo-o simultaneamente para a Região Norte.

Em decorrência, descaracterizou-se o quadro macrorregional do país. A Região Norte ficou ainda maior – em extensão e em número de estados, aproximando-se do número recorde de 9 estados do Nordeste em comparação com o Sudeste e o Centro-Oeste (4) e o Sul, que tem apenas 3 unidades da federação. Além disso, não se justificava, geograficamente, a transferência do Tocantins para o Norte, que se efetivou, por sinal, sem qualquer consulta ou aval do IBGE, IPEA ou quaisquer outras instituições de pesquisa e tradição geográfica.

A proposta de ajuste aqui sintetizada busca reparar e, simultaneamente, atualizar a trama macrorregional do país. Reconhece a nova regionalidade que se consolida na junção PA-MA-TO e recupera o equilíbrio dimensional entre as unidades. Com esta nova cartografia, aprimora-se a percepção da realidade nacional e suas identidades regionais, disponibilizando para a gestão pública e para a sociedade um ferramental seguramente mais eficaz.

A efetivação da proposta requer apenas dois passos: 1. Passa a integrar a Região Norte o Estado do Maranhão; 2. Fica instituída a Região Noroeste, formada pelos estados de Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima. As demais regiões – Sudeste, Sul e Centro-Oeste, permanecem inalteradas.

Entendi… Mas como se faz essa alteração? Tem que criar uma lei? Ou é o IBGE que muda?”

Neste ponto pode surgir uma polêmica. Como foi o IBGE que elaborou e formalizou a atual divisão, caberia a ele mesmo promover quaisquer alterações, como de fato vem alterando e atualizando outras estruturas regionais. Porém, a atual divisão em Grandes Regiões foi instituída também por lei federal, cabendo então, nesse caso, uma ação do Executivo ou do Legislativo.

No entanto, os processos de discussão e votação nas casas legislativas nacionais podem levar um tempo além do razoável, e assim o próprio IBGE – a única instituição governamental federal com geografia no nome – poderia formalizar tecnicamente um ajuste na macrodivisão regional, aproveitando a oportunidade do Censo 2020 (adiado para 2021). O peso do notório saber que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística consolidou ao longo de quase um século é suficiente para que o novo desenho regional seja assimilado e adotado em todas as instâncias do saber e fazer nacionais com aporte espacial: ensino, pesquisa, comunicação, planejamento, logística, políticas públicas, etc.

Além de embasar a gestão pública e apreensão da realidade, outro aspecto fundamental das estruturas regionais ou territoriais é o reconhecimento das identidades geográficas. Nossa cidadania se consolida quando nossos lugares de vida são oficializados. Sejam eles bairros, distritos ou municípios, quando compõem uma trama igualitária de unidades, denominadas e delimitadas por lei, ganha força a ideia da democracia, da igualdade dos lugares – e, por extensão, das pessoas. O mesmo se aplica para outras escalas ou instâncias da vida social – regiões, Estados ou Macrorregiões.

Na proposta aqui exposta, o Maranhão deixa de ser a quarta força econômica e política do Nordeste para ser a segunda da nova conformação da Região Norte. O Tocantins deixa de ser um mero apêndice de uma região gigantesca para ocupar um lugar central no novo arranjo proposto. No outro extremo, o Amazonas assume a liderança da Amazônia Interior – reconhecida na proposta como Região Noroeste, enquanto Rondônia, Acre e Roraima ganham força pela proximidade de Manaus, a nova metrópole regional.

Do ponto de vista ambiental, o arranjo aqui defendido permite ajustar o foco nos grandes biomas, especialmente os dois mais expostos à degradação. Circunscreve uma nova região exclusivamente amazônica (Noroeste) e duas na interface Amazônia/Cerrado (Norte e Centro-Oeste). Paralelamente, este novo arranjo pode levar a estratégias mais eficazes na gestão das faixas fronteiriças, cuja incumbência passa a ser dividida por quatro unidades macrorregionais.

Esclareça-se, por fim, que o intuito deste trabalho é recuperar a operacionalidade das atuais Grandes Regiões do IBGE, cinquenta anos depois de sua última versão tecnicamente consensuada. Foi apresentado em encontros acadêmicos em 2007 e reeditado em 2019 para a Revista Confins – edição de julho de 2020. Sua versão integral está disponível em https://journals.openedition.org/confins/31037